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Mafalda Pombo Lopes

Mafalda Pombo Lopes

Passe a palavra: há segredos por descobrir nas nossas Aldeias do Xisto

Entre curvas e contracurvas, nas serras do Centro do país, será que conhece mesmo a beleza e as atividades que as Aldeias do Xisto oferecem?

Poucos sítios existem como estes. A viagem até às Aldeias do Xisto começa muito antes de caminharmos pelas suas ruas. Montanha acima, montanha abaixo, o trajeto que nos leva até lá, por estradas em ziguezague, abraçadas pela beleza natural da região Centro de Portugal, paisagens deslumbrantes e panorâmicas das serra, fazem-nos entrar numa outra dimensão, que nos convida a conhecer a ruralidade mágica e genuína do país.

Se julga que as casas típicas são o único motivo para uma visita, passe a palavra: as Aldeias do Xisto estão vivas, têm personalidade própria e atividades únicas à disposição dos curiosos. Aperte o cinto, porque vamos conhecer estas Aldeias que fazem parte do Centro de Portugal.

Janeiro de Cima – Um oásis de paz com o rio mesmo ali

Em Janeiro de Cima, o som do rio ouve-se antes de chegarmos até ele. É como uma música de fundo que nos guia por esta pequena aldeia, encostada à margem esquerda do Rio Zêzere, no concelho do Fundão. Mas já lá vamos.

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Assim que entrar na aldeia, repare nas paredes das casas. Não será difícil deslumbrar-se com a beleza que surge da combinação entre o xisto e o calhau rolado, que se fundem na estrutura da casa como um puzzle bem feito, onde todas as peças encaixam. As grandes pedras que vê nas casas chamam-se calhau rolado, são transportadas desde o rio da Aldeia até ao local de construção da casa, daí a sua forma arredondada, devido à erosão provocada durante o arrastamento pelo chão.

E porque não descobrir mais pormenores que contam histórias de outros tempos? Aqui, em Janeiro de Cima, a tradição e a modernidade convivem em harmonia: no centro da Aldeia, procure as portas das casas que ainda mantêm o pequeno buraco, junto ao chão, para os gatos entrarem em casa; ou descubra a passadeira do jogo da malha, junto ao átrio da Igreja velha, e junte-se aos grupos de novos e velhos que nos períodos de menor calor rolam as pedras e divertem-se como antigamente, numa competição saudável.

E, depois, há o Rio Zêzere mesmo ali, onde gente já fez piqueniques em família e divertiu-se entre amigos no bar, junto à margem. Aproveitar este oásis de paz e a serenidade das águas refrescantes do rio é um luxo que não tem preço.

Janeiro de Cima é uma terra de barqueiros: “Ó da barca!”, gritava-se antigamente para chamar o barqueiro e requisitar os seus serviços para atravessar o rio, e chegar à margem onde está localizada a aldeia-irmã, Janeiro de Baixo. 

Temos boas notícias: a tradição foi preservada. Os tempos são outros mas atualmente pode experimentar um passeio de barca no Parque Fluvial da Lavandeira, rio acima. Dirija-se até às escadas da praia fluvial, onde vai encontrar várias barcas atracadas junto à margem. Após combinar previamente com o barqueiro, suba a bordo da restaurada embarcação de madeira e desfrute da doçura do rio. Durante o passeio, não se esqueça de olhar para a margem do rio, onde se vêem pequenas casas com terrenos agrícolas e esconderijos cobertos pela vegetação. Certas áreas do rio não estão expostas ao sol devido à encosta da serra, tornando esta atividade ideal para as horas de maior calor, onde poderá encontrar refúgios à sombra. Aproveite para mergulhar e deixar-se levar pela corrente ou alugue uma canoa e percorra as águas do Zêzere.

Depois de um banho, não há nada melhor do que uma boa refeição e, já que está por aqui, porque não experimentar o Restaurante Fiado com as suas opções que acomodam todos os gostos, desde pratos tradicionais, a opções mais modernas que incluem pratos vegetarianos ou vegan?

Outra dica, e esta é preciosa: visite a Casa das Tecedeiras, um projeto familiar que ainda mantém viva a tradição mãe da aldeia, a tecelagem, e observe antigos teares e artigos típicos como tapetes e mantas, à base de linho.

Fotografia: Mafalda Pombo Lopes

A aldeia tem uma passadeira de mobilidade que percorre os pontos mais importantes e facilita a deslocação de pessoas com menos mobilidade. Aqui toda a gente para para se cumprimentar. Não será difícil sentir-se em casa.

Já que está nesta Aldeia, aproveite para conhecer outras que estão nesta zona, como Álvaro, Barroca, Janeiro de Baixo, Mosteiro e Pedrógão Pequeno, cinco Aldeias deste agrupamento de casas em que o xisto é material dominante e se mantém a harmonia entre o património religioso e o rural. Não se vai arrepender da visita, garantimos.

Ferraria de São João – Um portal mágico para a vida comunitária

Fátima conhece o nome de todos os seus animais. “Anda cá, Mafalda! Anda tirar leitinho.” Mais à frente está a Chica. Jatos de leite caem num púcaro, enquanto Fátima, uma moradora da aldeia, faz a ordenha do leite para, posteriormente, produzir queijo de cabra artesanal. É essa uma das atividades que poderá fazer junto da associação de moradores da Aldeia do Xisto de Ferraria de São João, no concelho de Penela, que promove vários workshops para ensinar visitantes curiosos a fabricar queijo.

Fátima conhece o nome de todos os seus animais. “Anda cá, Mafalda! Anda tirar leitinho.” Mais à frente está a Chica. Jatos de leite caem num púcaro, enquanto Fátima, uma moradora da aldeia, faz a ordenha do leite para posteriormente produzir queijo de cabra artesanal.

O processo é simples e tudo acontece na sede da associação. Os materiais estão dispostos em cima de uma mesa: o púcaro com o leite, o alguidar, um grande coador, uma panela, um trapo e o assincho, uma forma arredondada em inox, com pequenos buracos, onde a massa do queijo é colocada na fase final do processo.  E há ainda o cardo, uma flor violeta que tradicionalmente é utilizada para coagular o leite, ao invés da alternativa sintética, as gotas de coalho.

Fátima já faz queijo há muitos anos e é ela quem conduz esta experiência com os visitantes. É uma experiência única para aprender esta arte e, no final, provar e experimentar o queijo que ajudou a produzir com as suas mãos. Pode optar, se preferir, aprender a fazer pão no forno a lenha, numa atividade também promovida pela associação de moradores da aldeia.

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Ferraria de São João é uma pérola escondida no fundo de uma encosta muito verde da Serra da Lousã, e é lá que se encontra o curral de Fátima e os históricos currais comunitários, construídos com madeira e ordenados lado a lado onde, em tempos, se guardavam as cabras dos habitantes de Ferraria de São João.

“Ferraria é uma pérola escondida no fundo de uma encosta muito verde na serra da Lousã, e é lá que está curral de Fátima e os históricos currais comunitários, construídos com madeira e ordenados lado a lado, que em tempos guardaram as cabras dos habitantes da aldeia”

É uma experiência para os sentidos caminhar pelas poucas ruas de Ferraria de São João, onde as fachadas das pequenas casas refletem a arquitetura popular, com o primeiro piso destinado à habitação, pintado de branco, e o rés do chão, empedrado com xisto e quartzito, a servir de curral. Procure tomar atenção à sinfonia dos animais, onde o cantar das cabras e dos pássaros e dos galos, e o som dos chocalhos, se ocupam do silêncio, e criam um concerto digno de aplausos.

Atividades que pode realizar em Ferraria de São João

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Amante de BTT? Fique a saber que existem vários percursos, a partir da aldeia, não fosse Ferraria de São João conhecida por “aldeia de grande pedalada” e uma referência para os apaixonados desta modalidade, com um centro de BTT à disposição dos visitantes.

Adepto de caminhadas? São vários os trilhos que pode percorrer enquanto aprecia as paisagens amplas, rodeadas de árvores. Os mais pequenos não são esquecidos, podem divertir-se no TREK Fun Trail, um percurso de destinado a principiantes.

Sugerimos, depois de conhecer Ferraria de São João, uma visita à famosa Aldeia de Talasnal, na Serra da Lousã, que encanta com o seu xisto em tons escuros e decorações exteriores com ramos de videira. Esta Aldeia do Xisto é uma das mais conhecidas e pode explorá-la de várias formas: a pé, de carro ou, até, de bicicleta. Pode percorrer o Caminho do Xisto – Rota das Aldeias do Xisto da Lousã, que passa pelo Castelo da Lousã, Talasnal e Praia Fluvial da Senhora da Piedade, enquadrada entre a ermida de Nossa Senhora da Piedade e o Castelo da Lousã. Uma muito boa ideia é também conhecer a Aldeia Casal de São Simão, que tem uma particularidade: é formada por uma só rua. Faz também parte da zona da Serra da Lousã e tem um templo que merece uma visita descontraída: a Ermida de São Simão. Para a conhecer, pode partir a pé por um de dois percursos pedestres, o de Grande Rota até à aldeia de Ferraria de São João ou fazer o Caminho do Xisto de Casal de S. Simão Descida às Fragas.

Aproveite, ainda, para conhecer Aigra Nova, Casal Novo, a altitude de Aigra Velha, o casal de habitantes do Chiqueiro, as praias fluviais perto de Comareira, as pedras de Gondramaz e, ainda, a Pena.

Cerdeira – Uma aldeia de artistas onde todos somos bem-vindos

O charme desta Aldeia artística de xisto, escondida num mágico vale na Serra da Lousã, é de postal, mas garantimos: há mais do que beleza e vistas deslumbrantes por aqui. O projeto Cerdeira – Home for Creativity colocou-a no roteiro dos locais no Centro de Portugal que tem mesmo de conhecer.

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A história por trás do projeto tem mais de 30 anos, quando o casal de namorados Kerstin Thomas e Bernard Langer, ambos artistas e estudantes da Universidade de Coimbra, descobriram a aldeia por puro acaso, num dos seus passeios pela serra.

Quer dar um impulso à sua criatividade? Fique a saber que atualmente a aldeia integra a rede das Aldeias do Xisto e além de acomodar artistas nas suas residências artísticas e Casa das Artes, recebe anualmente hóspedes curiosos com o projeto, que podem ficar alojados numa das nove casas tradicionais de xisto, remodeladas de forma sustentável, e usufruir de várias experiências criativas à disposição.

E porque a arte se cria fazendo, prepare-se para se divertir enquanto aprende várias técnicas artísticas inspiradas em métodos tradicionais. É o caso da experiência de Iniciação à Roda do Oleiro, inventada há cerca de 3000 anos: experimente trabalhar o barro com as suas mãos, focando o pedaço de barro amassado previamente no centro da roda, centrando o material para que consiga puxá-lo e dar-lhe a forma que entender, sempre sob a orientação do artista que conduz o workshop. As peças são suas e poderá levá-las para casa.

Experimente trabalhar o barro com as suas mãos, focando o pedaço de barro amassado previamente no centro da roda, centrando o material para que consiga puxá-lo e dar-lhe a forma que entender, sempre sob a orientação do artista que conduz o workshop.

Dê largas à sua imaginação e construa brinquedos na Oficina de Brinquedos de Madeira. Aviões, comboios, bonecos, esta é uma atividade para miúdos e graúdos onde se aprende a trabalhar e a moldar a madeira.

E porque estamos numa Aldeia do Xisto, nada melhor do que entender como são construídas de raíz este tipo de casas, utilizando as suas próprias mãos e materiais verdadeiros para erguer uma casinha de xisto em miniatura. Mais do que um workshop, esta é uma oportunidade divertida para conhecer verdadeiramente a história destas aldeias.

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O Figurado em Cerâmica é outra das experiências criativas oferecidas aos hóspedes: o artista responsável por esta atividade ajudá-lo-á a conceber pequenas esculturas invulgares, geralmente associadas à vida quotidiana, que serão cozidas no forno de cerâmica.

Gastronomia também é arte. Junte-se em família ou com um grupo de amigos e deixe o cozinheiro que existe dentro de si expressar-se no workshop de cozinha tradicional, onde aprenderá a cozinhar Chanfana, o prato mais típico desta região, ou a fazer compota caseira com fruta da época. Tudo isto numa galeria a céu aberto que privilegia a sinergia única entre artistas e hóspedes.

Enquanto caminha pelas ruas estreitas desta pequena aldeia, deixe-se envolver por este cenário romântico e procure os seus segredos, como as pequenas colunas esculpidas em madeira por Kerstin, uma das mentoras do projeto, que se encontram em vários locais da aldeia. Tome atenção ao nome das casas e descubra a Casa das Artes, a única casa que mantém a sua fundação original, é lá dentro que poderá encontrar um pedaço da construção original da casa de xisto, com quase 500 anos.

Se valoriza o contacto com a natureza e a tranquilidade da vida do campo num ambiente artístico, é este o seu lugar. Não existe nada como acordar de manhã cedo, inspirar o ar fresco da serra na grande varanda de madeira da aldeia, apreciando o santuário natural que abraça a Cerdeira, e descer pelas escadas íngremes de ardósia, até à pequena ribeira da aldeia. Experimente a água pura da serra, valerá a pena.

Fotografia: Mafalda Pombo Lopes

Nenhuma aldeia é igual a outra. Continue a sua viagem pelo Centro de Portugal e conheça mais Aldeias do Xisto cheias de vida, onde abundam a simpatia e características que as tornam únicas.  Uma muito boa ideia é também conhecer a Aldeia Sobral de São Miguel, na Covilhã, considerada o coração das Aldeias do Xisto, com o maior número destas casas tradicionais em Portugal e três pontes antigas que cruzam a ribeira no interior da aldeia. Em Proença-a-Nova, está localizada a Figueira, conhecida pelo cheiro do pão e broa quentes acabados de cozer no forno comunitário da aldeia. Visite, ainda, Água Formosa, a Aldeias que fica mais no centro de Portugal; Martim Branco, onde também o cheiro do pão é único e Sarzedas, a única aldeias distinguida com título nobiliárquico.

Caso queira conhecer todas as Aldeias do Xisto, recomendamos que comece pelas Aldeias mais a norte, que são cinco e onde podemos encontrar a Aldeia das Dez, a Benfeita e a sua tão icónica torre sineira da paz, Fajão, com os seus penedos de quartzito que fazem lembrar castelos, Sobral de São Miguel, Aldeia considerada o “o coração do xisto” e, ainda, Vila Cova de Alva, uma Aldeia com inúmeros monumentos para conhecer de forma mais aprofundada a história do nosso país.

Agora é a sua vez de passar a palavra.

Saiba mais sobre este projeto
em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/

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