A era Portas chega ao fim este fim de semana. Dezasseis anos depois de ter chegado à liderança do CDS e mais de 20 depois de ter deixado o jornalismo para se dedicar à atividade partidária. Quando entrou, a bancada parlamentar democrata-cristã quase cabia num táxi. Não demorou a precisar mesmo de uma frota para circular.

Afinal foi com ele ao volante que o partido voltou a estar num Governo. Primeiro com Durão Barroso, manteve-se com Santana Lopes e, por fim, com Pedro Passos Coelho, numa relação atribulada mas que acabou por ser também a mais duradoura. Escusado será dizer que as histórias, expressões e episódios políticos se multiplicaram ao longo do período Portas-no-CDS e o período Portas-no-Governo, muitas delas ainda cruzando com a era Portas-no-jornalismo. No partido deixará o sentimento de orfandade, com que a sua sucessora terá de lidar; mas ao país deixa toda uma cartilha que fica para a história política.

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“Mostrou determinação, e isso é essencial na política”, janeiro 2016

Assunção Cristas é o nome que se segue no CDS, com a responsabilidade acrescida de ser o nome que se segue a Paulo Portas. Embora seja o futuro do partido, e Portas represente o passado, um nasceu pela mão do outro.

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Foi em 2007, depois de ver o seu desempenho no programa Prós e Contras a defender o “não” à despenalização do aborto, que Portas convidou Assunção a filiar-se no partido. Em 2009 já era deputada e vice-presidente do CDS, em 2011 chega a governante. Uma ascensão meteórica que nem sempre caiu bem entre os

É conhecida a faceta de Portas de valorizar aqueles que lhe caem em graça. E Assunção Cristas caiu. “Mostrou determinação, o que é essencial na política”, disse em janeiro quando, no rescaldo do anúncio da sua não-recandidatura, Cristas e Nuno Melo andavam em plenas negociações sobre quem avançava. Já sobre Melo, que decide não avançar, Portas lembrou a sua “generosidade”. Certo é que Portas não poupa elogios à “nova geração de quadros” que ajudou a criar. Mas todos sabem que Assunção Cristas era a sua preferida para este momento.

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“Catarina é best friend de António, António é best friend de Jerónimo, Jerónimo é best friend de Heloísa. Ficam escolhidos hoje os seus BFF”, dezembro 2015

Podia ser a música dos Onda Choc, Amores Desencontrados – “Eu gosto do João/Que gosta da Inês/Que gosta muito do Miguel” -, mas é mesmo um excerto de uma intervenção de Paulo Portas na Assembleia da República a propósito da recente aliança que António Costa fez com os partidos da esquerda.

Foi em dezembro, no primeiro dia de discussão do programa de Governo do PS, onde Portas fez, como é habitual, umas das intervenções mais sonantes da tarde.

Usou do jargão dos adolescentes nas redes sociais para apelidar os líderes dos partidos que suportam o atual Governo de “BFF”, best friends forever, que é como quem diz “melhores amigos para sempre”. Foi a partir daqui que ficou claro qual iria ser o mote da direita: o acordo de governo à esquerda depende apenas e só dos partidos da esquerda, ou seja, quando esse acordo falhar, o Governo cai. “Dependendo deles [dos BFF], o Governo cairá. É a vida”, disse Portas nessa altura.

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“Manuel Monteiro deu o golpe da caneta”, 1996

Golpe da caneta ou pausa para café é tudo sinónimo da mesma coisa: da tensão entre Paulo Portas e Manuel Monteiro. Em 1996, era Manuel Monteiro o presidente do CDS, Paulo Portas candidata-se internamente a líder da bancada parlamentar dos centristas. Eram 15 no total e fizeram votação secreta no gabinete. Resultado: 7 votos a favor de Portas, 7 em branco (da ala de Monteiro) e uma abstenção. Pormenor: Monteiro sai da mesa de voto de caneta em punho, mesmo depois de, como todos sabiam, ter votado em branco. Portas dá então uma conferência de imprensa onde acusa o presidente do partido de ter dado o “golpe da caneta”.

Depois da caneta veio o café. No congresso de 1996, em Coimbra, Manuel Monteiro abandona a sala precisamente quando o deputado Paulo Portas está a discursar. A quem estava ao lado disse que ia “beber um café”. Acabaria por se demitir em 1997 dava a tensão interna, e Portas viria a ser eleito presidente do partido em 1998, no congresso de Braga.

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“Quero construir um grande partido de centro direita do século XXI. Demorará tempo, levará paciência, implicará esforço. Vou tentar ter esse tempo, paciência e fazer esse esforço”, março 2007

Acabaria por não conseguir, mas, por três vezes, conseguiu reeditar a Aliança Democrática (AD). A primeira em 1998. Não se chamaria bem AD, mas Portas explicaria na altura que tinha usado o nome para facilitar o entendimento. A Aliança Democrática (PPD/CDS/PPM) de 1980-83, encabeçada por Sá Carneiro, valeria rasgados elogios ao Paulo Portas da atualidade. “Sá Carneiro foi o líder que uniu todo o centro-direita em Portugal”, diria a respeito dos 32 anos da morte do histórico social-democrata, ao mesmo tempo que caracterizava o “arco constitucional” daquela época como “demasiado ideológico e socializante”.

A aliança pré-eleitoral que juntou PSD e CDS em 1999 tinha em vista as eleições europeias, num acordo que foi feito entre os velhos conhecidos Paulo Portas e Marcelo Rebelo de Sousa. Mas viria a falhar antes mesmo de nascer. As listas conjuntas chegaram a ser feitas, sendo encabeçadas por Leonor Beleza, mas houve apenas um comício.

Entre os centristas lembra-se um almoço de campanha que juntou os dois líderes, onde ficariam evidentes os primeiros sinais de que não iria correr bem. Paulo Portas falava, falava, perguntava e respondia, levando Marcelo a dizer a quem estava ao seu lado: “é assim que vai ser, eles falam e nós comemos”. A desconfiança entre os dois partidos era muita, com o caso Moderna no auge, e a coligação acabaria por rasgar-se. Marcelo critica Portas em público e foi o fim da primeira tentativa de reeditar a AD. Os dois acabam por concorrer em separado ao Parlamento Europeu.

Nova tentativa viria em 2002 com Durão Barroso na liderança do PSD, e Paulo Portas na liderança do CDS, e esta sim permitiu ao centro-direita voltar ao Governo. Mas quando Jorge Sampaio dissolve o Parlamento, após a saída de Barroso para Bruxelas, cada partido vai para seu lado. E só em 2011 a direita voltaria a juntar-se, com Passos Coelho, formando-se a única AD da história que consegue levar um mandato até ao fim.

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“Até hoje, o CDS não teve oportunidade de liderar executivos. É uma circunstância arreliantemente teimosa. Mas, com grande humildade, nós também dizemos que não desistimos de ser um partido maior”, julho 2014

Paulo Portas é recordista no que a eleições diz respeito: pelas nossas contas fez um total de 25 campanhas eleitorais, desde legislativas a autárquicas, passando por europeias, presidenciais e referendos. Ainda assim, nunca conseguiu cumprir o seu sonho: tornar o CDS tão grande como PS e PSD.

Entre vitórias e derrotas, o líder centrista chegou ao Governo, mas também tremeu na cadeira pelo menos duas vezes. Só se demitiu uma vez, depois de perder umas eleições: foi em 2005, nas legislativas que deram maioria absoluta ao PS de José Sócrates. Portas saiu, entrou Ribeiro e Castro para a liderança do CDS, mas não se aguentaria nem dois anos; em 2007 Paulo Portas já estava de volta.

Antes de 2005, contudo, houve outros momentos que quase fizeram tremer Paulo Portas. Um deles foi as autárquicas de 2001, onde o próprio Portas era o candidato à câmara de Lisboa e o CDS acabaria por ter um dos seus piores resultados de sempre na capital. Ganhou Santana Lopes (PSD) e os votos dos centristas nem sequer foram determinantes para ajudar à vitória do outro candidato da direita.

O slogan de Portas nessa campanha era “Eu fico”, mas foi por um triz que ficou. A verdade é que, fechadas as urnas e contados os votos, Paulo Portas fecha-se no gabinete a escrever o discurso da demissão, pedindo a um dos seus mais próximos para ligar ao socialista Jorge Coelho para informar Guterres (primeiro-ministro da altura) de que se iria demitir. Mas o telefonema não chegou a ser feito e quem se demite é o próprio António Guterres. O caso muda de figura com a perspetiva de novas eleições legislativas, e Portas “fica”, de facto.

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“Não tínhamos um tostão e eu perguntei ao responsável pela campanha do partido onde poderia encontrar pessoas sem gastar dinheiro. Então resolvi ir para as feiras, e acabei por tomar-lhe o gosto”, 1999

“Paulinho das Feiras” viria a tornar-se alcunha, mas a verdade é que foi uma daquelas alcunhas que o próprio quis que pegasse. Costuma-se dizer “no money, no funny” e foi com base nessa velha máxima que em 1999, na campanha para as eleições europeias, a equipa de Portas decidiu ir imediatamente e em força para todas as feiras do país. O pensamento foi: não temos um tostão furado e precisamos de pessoas, onde é que há pessoas? Ou nos centros comerciais ou nas feiras. Voilà, feiras it is.

Depois, Paulo Portas fez o resto. Como peixe na água, rapidamente criou empatia com as feirantes, sobretudo do sexo feminino, e as televisões adoraram a imagem do candidato a distribuir beijos e abraços. Certo dia em Espinho um feirante atirou: “Você já foi a mais feiras do que eu, você é o Paulinho das feiras”. A própria equipa de Portas gostou da alcunha e chamou a atenção dos meios de comunicação social.

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“Não é bem um governo, é uma geringonça”, novembro de 2015

Uma frase curta – deixada no debate do programa do governo PSD/CDS que caiu nesse dia – mas que se entranhou com facilidade. Foi assim que Paulo Portas batizou o acordo da esquerda e a coisa colou até entre os socialistas, prevendo-se que sobreviva, no meio político, ao seu criador.

Mas o que é seu a seu dono. A expressão fora cunhada por Vasco Pulido Valente num artigo de opinião escrito no Público e intitulado simplesmente “A Geringonça“, ainda que mais de um ano antes e aplicada ao PS que sairia da contenda interna das primárias que opuseram António José Seguro a António Costa. Portas acabaria por aproveitar a palavra, adaptando-a como cognome da aliança de esquerda. Uma “geringonça” a ziguezaguear tal é a “bebedeira de medidas, tudo [feito] a correr e de preferência ao mesmo tempo. Mas as bebedeiras têm um problema: chama-se ressaca”, foi dizendo Portas.

António Costa, que de início não terá ficado muito satisfeito com a alcunha, agora até já a inclui na picardia política. O entendimento de esquerda é “uma verdadeira geringonça triplo A”, assegurou o primeiro-ministro numa entrevista ao Expresso.

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“Ao fim de 16 anos, não me podem pedir mais. Chegou a hora de uma nova geração”, dezembro 2015

Se a vida política portuguesa coubesse num passeio da fama hollywoodesco, Paulo Sacadura Cabral Portas teria direito à sua estrelinha da fama. O centrista esteve 16 anos à frente do CDS, com um interregno de dois anos pelo caminho.

Neste Hall of Fame de longevidade, Paulo Portas só é batido aos pontos por um outro líder: Álvaro Cunhal, que esteve 31 anos à frente do PCP. Em 2011, em entrevista à Sábado, o histórico líder do CDS chegaria mesmo a descartar qualquer comparação com o comunista. “Não sou o Álvaro Cunhal da direita”. De resto, ultrapassa também Soares (12), Louçã (12) e Cavaco Silva (10 anos) em longevidade.

E agora? Depois de deixar a vida política ativa, que emprego terá Portas? O ainda líder centrista recusa-se, para já, a desvendar o futuro. “A seu tempo revelarei”, disse em entrevista à Renascença. Espera-se que Portas diga mais sobre o seu futuro no congresso deste sábado.

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“Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer”, julho de 2013

Era o ponto dois do famoso comunicado através do qual Paulo Portas deu conta da sua demissão do governo saído da coligação PSD/CDS, no verão de 2013, logo depois da demissão do ministro das Finanças e em desacordo absoluto com a escolha de Maria Luís Albuquerque para suceder a Vítor Gaspar.

Seguiram-se dias de crise política e o líder do CDS acabou por recuar na decisão, revogando o irrevogável e ficando como vice-primeiro-ministro. O “irrevogável” de Paulo Portas foi, até ao final do mandato, uma arma de arremesso nas mãos dos adversários.

Numa entrevista mais recente reconheceu o impacto: “Disse que era irrevogável e revoguei. Hoje pago o preço em termos de compreensão por ter feito essa revogação”.

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“Eu não preciso concordar com um jornal, preciso é que o jornal seja inteligente”, maio de 2014

Paulo Portas saiu do jornalismo em 1995, para se candidatar pelo CDS à Assembleia da República. Deixou o jornalismo e o jornal que fundou (em 1989), “O Independente”. Vinte anos depois da saída, juntou-se numa sessão pública com Miguel Esteves Cardoso (o outro fundador do jornal), falou de jornalismo, fez mea culpa (“fizemos coisas que não estavam certas”) e pediu perdão (“magoámos pessoas injustamente e pedimos desculpa por isso”).

Mas continua a defender o jornalismo que faziam: “Era muito claro aquilo de que gostávamos e aquilo que não gostávamos e isso”, o que “permite às pessoas fazer uma escolha boa”. E vaticina que “os jornais em papel não têm um longo destino, mas não é só em Portugal”.

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“Quando eu chamo lavoura à agricultura, digo-o porque a terra é lavrada e não se agricula”, setembro de 2007

Paulo Portas introduziu a palavra no léxico da política nacional, pouco depois de chegar à liderança do CDS. A lavoura (ou a Agricultura) passou a ser uma das bandeiras do partido nas campanhas eleitorais que se seguiram, com Portas a aparecer até de chapéu de palha sempre que era esse o assunto do dia. Foi sempre reclamando para si o feito de ter colocado na agenda a lavoura que, disse mesmo, “já era moda [no CDS] mesmo antes de ser moda”.

Mas passaram anos até o partido pôr as mãos na massa (ou deitar mãos à terra) e dedicar-se à lavoura a partir de um Ministério. Aconteceu em 2011, quando Assunção Cristas (a futura líder) foi escolhida por Portas para ficar à frente do super-Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, no governo PSD/CDS.

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“Tinha tido uma vida política curta, mas bastante intensa. Ia entrar num centro de sondagens. Havia o risco de cair sobre mim as suspeitas de criar qualquer instrumento de pressão”, 2003, ouvido em tribunal

Ao longo de 16 anos, Portas foi perseguido por dois casos de justiça que afetaram a sua reputação embora não tenha chegado a ser acusado em nenhum dos processos. O caso Moderna estalou em 1999, pouco tempo depois de Portas ter sido eleito líder do CDS. Envolveu corrupção, gestão danosa e associação criminosa na Universidade Moderna e envolveu Portas numa altura em que era diretor do centro de sondagens Amostra.

Entre as informações alegadamente descobertas deu-se especial destaque ao facto de Paulo Portas e a mãe, Helena Sacadura Cabral Portas, terem supostamente recebido ofertas da Moderna para que esta ganhasse notoriedade e visibilidade na sociedade.

A bomba Moderna cai quando o PSD de Marcelo Rebelo de Sousa está a coligar-se com o CDS de Portas, preparando-se para uma campanha eleitoral. Marcelo não diz nada publicamente em favor do aliado, que está a ser acusado pela justiça, e, com medo de que a bomba rebentasse em cima de Portas mesmo no meio das eleições, Marcelo rompe a coligação.

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“Eu acho que Portugal, na crise do Prestige, foi muito ajudado por aquilo que eu, que sou crente, acho que foi uma intervenção de Nossa Senhora”, fevereiro 2003

É católico praticante e não o esconde. Em 2003, quando o petroleiro Prestige tem um acidente em alto mar e provoca um enorme derrame de petróleo, o então ministro da Defesa afirma numa entrevista que a maré negra só não afetou a costa portuguesa por causa da intervenção divina de Nossa Senhora de Fátima. Por isso e por uma combinação de “decisões firmes”, disse na altura.

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“Senti-me uma espécie de Oliveira da Figueira. Lembram-se de uma personagem do Tintim que vendia tudo nos mercados externos, tinha uma pasta e vendia uma série de produtos?”, setembro 2015

Pois esse Oliveira da Figueira é Paulo Portas, segundo o próprio. A comparação com a personagem de animação foi feita quando, na qualidade de vice-primeiro-ministro, Portas fazia uma das suas habituais visitas ao estrangeiro para promover Portugal e os produtos portugueses. Desta vez foi em Moçambique, durante a inauguração da Feira Internacional de Maputo.

O nome pegou, até porque a imagem de vendedor da banha da cobra não teve muita resistência a colar-se à imagem de Paulo Portas.

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“Sou politicamente incompatível com a TSU dos pensionistas”, maio de 2013

Um ano antes, em 2012, a redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas, acompanhada por um aumento da TSU para os trabalhadores abria a primeira grande crise no Governo PSD/CDS e levava milhares de pessoas para a rua. O Executivo de Passos acabaria por recuar na medida, mas, em 2013, avançava com outra propostas polémica: a introdução de uma contribuição de sustentabilidade sobre as pensões, a chamada TSU das pensões. Mas, isso, Paulo Portas não podia aceitar.”Sou politicamente incompatível com a TSU dos pensionistas. Esta é a fronteira que não posso deixar passar”.

Depois de muitos avanços e recuos, o CDS acabou por aceitar “excecionalmente” para que fosse possível fechar a 7ª avaliação da troika, mas com a condição de encontrar uma medida alternativa que evitasse a aplicação da “TSU dos pensionistas”.

A 3 de outubro de 2013, um Paulo Portas triunfante celebrava o fim da medida. O “espetro da ‘TSU sobre os pensionistas’ estava “definitivamente afastado”. Salvavam-se os pensionistas com pensões mais baixas, justificava Portas. Mas mantinham-se os cortes médios de 10% – que seriam chumbados pelo Tribunal Constitucional (TC) em dezembro de 2014 -, o aumento da idade legal de reforma, a contribuição extraordinária de solidariedade e os cortes no Complemento Solidário para Idosos (CSI).

Em janeiro de 2014, Catarina Martins acabaria por personalizar as críticas aos centristas: “O CDS era o partido dos pensionistas e agora é o partido do ataque aos pensionistas. Havia linhas vermelhas sobre os pensionistas, mas o que teve de ser teve muita força e as linhas vermelhas desapareceram”.

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“Foi uma infração grave dos três deveres de todo e qualquer militante”, 2000

Foi um golpe duro no CDS liderado com pulso firme por Paulo Portas, que nunca dava espaço para grandes desvios. O queijo Limiano viria a dar nome aos Orçamentos do Estado de 2001 e 2002, durante o governo minoritário de António Guterres. Com o PS em dificuldades para aprovar o documento (115 contra, 115 a favor), o deputado do CDS Daniel Campelo seria o trunfo de última hora dos socialistas.

Campelo era presidente da câmara de Ponte de Lima e, em troca do seu voto para viabilizar o orçamento, pediu vários investimentos públicos no distrito, nomeadamente estradas e a devolução ao concelho da fábrica do queijo Limiano, que tinha sido adquirida pela multinacional Lacto Ibérica. Paulo Portas não digeriu o facto de o deputado ter furado a disciplina de voto e suspendeu a sua militância. Mais tarde, contudo, Portas e Campelo fazem as pazes. O autarca viria a ser chamado para secretário de Estado das Florestas em 2011.

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“Reformar não é cortar, é tornar o Estado melhor”, janeiro 2014

Era grande bandeira de Paulo Portas. Conduzir uma verdadeira reforma do Estado que ajudasse a dar um novo impulso país. A apresentação do guião foi adiada várias vezes até conhecer a luz do dia em outubro de 2013.

Ainda assim, acabou por convencer pouco: a oposição em peso criticou o conteúdo e a forma: “letra de tamanho 14, espaçamento duplo e muito espaço entre parágrafos” e falta “de ideias novas” e “repetição de propostas velhas sobre a destruição do Estado democrático”, chegou a dizer João Oliveira, líder da bancada parlamentar do PCP.

A tão aguardada reforma do Estado acabaria por ficar a meio-gás, como analisava o Observador em janeiro de 2015, mais de um ano depois de apresentado guião.

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“Quando há eleições os submarinos emergem, passam as eleições, submergem. É assim há dez anos”, fevereiro 2014

É uma nuvem negra no currículo político de Paulo Portas. O caso dos submarinos tem a ver com alegadas luvas que terão sido pagas no concurso público para aquisição de dois submarinos da classe Tridente ao Germain Submarine Consortium. A compra foi feita em 2004 quando Portas era ministro da Defesa. O centrista foi ouvido como testemunha mas o caso acabou por ser arquivado.

A investigação arrastou-se cerca de dez anos. Em 2014 o PS propôs mesmo a criação de uma comissão parlamentar de inquérito ao processo de aquisição pelo Estado de submarinos e de viaturas blindadas Pandur, o que levou o então líder do CDS a afirmar que os submarinos emergem sempre que há eleições à vista, e submergem quando passa o período eleitoral.

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“Acabou o táxi. Se Deus Nosso Senhor permitir, vai começar uma frota”, 1995

Em 1995, Paulo Portas gabava-se por o CDS ter deixado de caber num táxi (4 deputados), como acontecia no tempo das maiorias absolutas de Cavaco Silva. Passaram a ter cinco parlamentares em 1991, mas a fasquia colocava-se sempre mais alta e nesse ano, aquele em que Portas entrou na política, o CDS conseguiu eleger 15 deputados. A partir daí ficaram sempre acima dos 14 eleitos, exceto no ano da maioria absoluta do PS de Sócrates, em que Paulo Portas ficou com um grupo parlamentar reduzido a 10 elementos.

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“Eu sou um eurocalmo…”, fevereiro de 2003

Passou de eurocético para europeísta, com uma paragem no eurocalmo. Longe vão os tempos d’O Independente e da adesão de Portugal à União Europeia, com Cavaco Silva aos comandos, mas ficam os textos. E Paulo Portas escreveu vários onde se mostrava eurocético, a condenar a “germanização da Europa”. O referendo ao Tratado de Maastricht foi mesmo uma das bandeiras do CDS de Manuel Monteiro.

Em 2003, contudo, quando o Governo era liderado pelo PSD de Durão Barroso em coligação com o CDS de Paulo Portas, Portas já se considerava um “eurocalmo”. No congresso desse ano em Matosinhos, um delegado centrista viria mesmo a sintetizar o estado de espírito: “Ser eurocalmo é não fazer ondas porque agora estamos no Governo”. Foi mais ou menos isso.

Recentemente, com a intervenção da troika e os ditames da Comissão Europeia, Portas sempre manteve, por um lado, o discurso de que o resgate transformou Portugal num “protetorado”, mas, por outro, fazia tudo por apelar ao cumprimento das regras europeias, como “bom aluno” que Portugal queria ser.

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“Perguntei-lhe: ‘Então o que é que jantaram’? E ele disse-me: ‘Vichyssoise”’, abril de 1999

É o nome da sopa que se serve fria, como a vingança que Paulo Portas infligiu a Marcelo Rebelo de Sousa quando se cruzaram como líderes dos partidos da direita. Portas deu uma entrevista televisiva a deitar por terra a reedição da AD, sem pré-aviso e apanhando Marcelo fora do país. Anos antes, quando ainda era jornalista de “O Independente”, Portas tinha sido enganado por Marcelo sobre a existência de um jantar de constitucionalistas em Belém, do qual até a ementa o professor de Direito descreveu: vichyssoise.

Num programa de Herman José (“Parabéns”), na RTP, o ainda jornalista Portas revelou ter descoberto a tempo que era mentira – “os nomes, as pessoas, o que tinha cada um dito e até a ementa”. E contou também como a seguir a isso cortou relações com Marcelo – “Lealdade não é o forte dele. Costumo dizer que ele é filho de Deus e do Diabo. Deus deu-lhe a inteligência, o Diabo a maldade”. Voltaram a aproximar-se enquanto líderes do PSD e do CDS, mas foi sol de pouca dura. A desconfiança entre os dois estava instalada há muito e a reedição da AD acabou por não dar mais do que os primeiros passos.

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“Fotocopiei, sim senhor, e paguei do meu bolso”, novembro de 2007

A uma semana das eleições legislativas de 2005 – que acabariam por coroar José Sócrates – Paulo Portas mandou copiar 61.893 papéis do Ministério da Defesa. Um caso estranho, que o líder centrista acabaria por esclarecer: era “apenas notas pessoais”, assegurou.

No entanto, os funcionários da empresa responsável pela digitalização dos documentos acabariam por revelar ao Ministério Público que alguns desses documentos tinham escritas a palavra “Confidencial”, “Iraque” e “Submarinos”.

O “caso das fotocópias” acabaria por ficar intimamente ligado ao “caso dos submarinos”. Em julho de 2012, o procurador responsável pelo processo, João Ramos, explicava, em despacho, que “apesar de todos os esforços e diligências levadas a cabo pela equipa de investigação, o certo é que grande parte dos elementos referentes ao concurso público de aquisição dos submarinos não se encontra arquivada nos respetivos serviços [da Defesa], desconhecendo-se qual o destino dado à maioria da documentação”.

E o que é que isto tem que ver com as fotocópias de Paulo Portas? Foi Francisco Louçã quem fez pública e politicamente essa relação: “Talvez lho pudessem pedir [o contrato]” a Portas, que “levou para casa 61 mil fotocópias de documentos confidenciais”, disse o então coordenador do Bloco em 2009.

Portas acabara por considerar estas afirmações ofensivas e por dizer que o caso do alegado desaparecimento de documentação da compra dos submarinos era “uma história mal contada”.

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“Se uma versão qualificada do Rato Mickey, que podia ser eu (da Minnie neste caso), se candidatasse, poderia ganhar”, Maria José Nogueira Pinto, 1998

Maria José Nogueira Pinto, carinhosamente conhecida por Zézinha, foi concorrente de Portas na corrida pela liderança do partido em 1998, na era pós-Manuel Monteiro. No congresso de Braga que viria a ficar literalmente para a história, começou por garantir que ganharia a todos, até ao “Rato Mickey” (uma comparação que viria a justificar depois, dizendo que na América quando não se gosta dos candidatos vota-se no Rato Mickey), mas acabaria por perder para Portas. Antes tinha ficado ainda célebre a sua discussão com António Lobo Xavier, a quem disse a partir do palco do Congresso a enigmática frase: “Você sabe que eu sei que você sabe que eu sei”.

A partir daí entra em rutura com Portas. Maria José Nogueira Pinto voltaria a ser candidata do CDS à Câmara de Lisboa em 2005, quando Portas tinha abandonado a liderança, mas acaba por romper de vez com o partido em 2007, depois do regresso do eterno líder.