Paulo Rangel confessou que, desde setembro, há uma “máquina discreta” nos corredores europeus a trabalhar na hipótese de António Costa poder ocupar um cargo europeu em 2024. Numa emissão especial do programa Vichyssoise, que quatro anos depois voltou ao Parlamento Europeu a Estrasburgo, o vice-presidente do PSD e do PPE diz com grande convicção que o partido vai ganhar as eleições europeias.
O cabeça de lista do PSD nas últimas três eleições para o Parlamento Europeu não quer falar sobre possíveis candidatos e diz que um independente como candidato não é a “solução natural”, mas que até pode vir a ser “ótima solução”. Sobre a sua disponibilidade para voltar a integrar a lista, opta por não comentar.
Paulo Rangel defende ainda Rui Rio, que diz ter uma “integridade à prova de bala” e que é difícil distinguir o trabalho parlamentar do trabalho partidário, questão que está na base da investigação judicial que levou a buscas na casa do antigo presidente do PSD.
O vice-presidente do PSD critica ainda o atual ministro da Cultura pelo ataque ao Parlamento, acusa-o de ser um novo “ministro da propaganda”, que está “já nos limites orbanianos, isto para falar de um amigo do primeiro-ministro.” Ao mesmo tempo, desafia Augusto Santos Silva a vir condenar as declarações do ministro e defender o Parlamento.
[Ouça aqui a emissão especial da Vichyssoise no Parlamento Europeu, em Estrasburgo:]
“Leiam os meus lábios: vamos ganhar as Europeias”
Falta menos de um ano para os Europeias. O PSD ainda não tem candidato. Qual é o tempo certo para apresentar esse nome?
Julgo que se olharmos para o histórico dos vários partidos ainda é bastante cedo. As eleições serão mais tarde, a 9 de junho, e seguramente só em 2024 é que isso será relevante.
O facto de ser numa véspera de feriado e no verão pode provocar uma abstenção que favoreça os partidos mais pequenos e prejudique o PSD?
A abstenção é sempre um problema, nunca é bom sinal. Foi um grande infortúnio a circunstância de esta ser a data de último recurso, por não ter havido acordo entre os Estados quanto às outras duas alternativas. É uma data muito má, que vai aumentar muito a abstenção, e isso pode baralhar sondagens, por exemplo. Agora as eleições espanholas vão ser no pico do verão, imagino que também possa haver algumas surpresas.
E a abstenção pode beneficiar ou prejudicar algum partido em particular?
Pode, mas só vamos saber depois quem sofreu com isso. Mas a democracia e o país sofrem sempre. Era muito importante fazermos tudo ao nosso alcance para limitar os danos resultantes desta data, fixada contra a vontade do Estado português — o único que estava desconfortável.
O PSD está obrigado a ganhar as eleições europeias?
Ninguém está obrigado a nada, mas estou absolutamente confiante de que vai ganhar e de que é importante ganhar, para consolidar a sua alternativa, que hoje é clara na opinião pública portuguesa. Houve um ponto de viragem interessante nesta semana para Saúde, só simbólico, porque o PSD tem este ano apresentado sistematicamente propostas e princípios programáticos alternativos. A fiscalidade talvez seja a área em que tem havido um trabalho mais de formiga. As medidas de apoios às famílias e empresas, apresentadas na festa do Pontal do ano passado; as propostas para a Habitação, altamente sustentáveis; e agora na Saúde acho que isso teve um eco público tão grande e obrigou tantos partidos a virem a jogo — curiosamente o único que não veio foi o Governo, que não sabe o que fazer com a Saúde, onde falhou em toda a linha e é a situação mais caótica para os portugueses. Mesmo o novo ministro e a sua equipa estão totalmente incapazes. O conjunto de propostas do PSD teve grande visibilidade pública e mostra que a alternativa está totalmente consolidada. As europeias serão um momento importante para reforçar essa perceção de que a alternativa está no terreno.
Se o PSD tiver um mau resultado isso obriga o líder a demitir-se para dar tempo a uma nova alternativa nas legislativas?
Não vou sequer contar com esse cenário, porque o PSD tem todas as condições para ganhar.
É inconcebível que o PSD não ganhe?
A minha confiança é tal que acho melhor não pôr esses cenários, porque acho que pode ter um efeito contraproducente.
Não foi isso que Montenegro fez quando veio dizer que perder por dois ou três pontos não seria um mau resultado?
Sim. Como é evidente, depois de cada eleição há uma análise. Não há consequências automáticas, o que não quer dizer que não haja consequências. Mas a consequência pode ser a pessoa achar que tem todas as condições, menos com um resultado menos bom, ou que não é o melhor possível, estar totalmente legitimado para continuar e até julgo que será o cenário natural. Até é melhor não equacionar esses cenários e aí até tenho uma ligeira diferença com o líder, e comuniquei-lhe na altura que embora fosse um ato de grande honestidade política, é um cenário que vai estar fora da equação e não valia a pena falar nele. Fiz esse reparo lateral ao Luís.
“Independente não é solução natural, mas pode ser ótima solução”
É possível ganhar as legislativas sem ganhar as europeias?
Perfeitamente possível. Os ciclos são diferentes. Não sabemos que tempo vai mediar e as coisas podem alterar-se muito. Vou usar uma expressão que não tem grande fama na política, não vou dizer ‘leiam os meus lábios’, mas vamos ganhar e essa é a mensagem que quero deixar.
E estaria disponível para ser cabeça de lista pela quarta vez, ou para integrar a lista?
Sobre a minha disponibilidade tenho ideias muito claras mas não vou falar sobre elas: sou vice-presidente do PSD e tenho uma obrigação de reserva que noutros casos não teria e talvez até pudesse já falar nesta altura. Muitas vezes falando com os outros mudamos de ideias e essas conversas ainda não tive, nem com família.
O facto de ser o primeiro vice-presidente dá-lhe uma responsabilidade acrescida? Se houver esse desafio, sente mais responsabilidade para dizer que sim?
Ser vice-presidente do PSD é uma responsabilidade enorme, mas para tudo. E também para isso. Essencialmente é para a disponibilidade de servir o partido e isso muitas vezes não é onde nós gostaríamos ou da maneira que gostaríamos ou seria a nossa primeira inclinação. É a pessoa fazer uma reflexão sobre a situação objetiva e aquilo que os colegas pensam, o que os companheiros do PSD ao nível da mais alta direção política pensam do assunto. Vai ser uma coisa conversada mas embora tenha ideias claras — que podiam ser alteradas após discussão com o presidente e a direção do partido — não tenho hipótese nenhuma de partilhar isso com a Rádio Observador nem com mais ninguém por causa da responsabilidade institucional.
Tem circulado nomes para cabeça de lista do PSD, nomeadamente o de José Pedro Aguiar Branco. Podia ser um bom nome?
Não vou fazer nenhuma avaliação de nenhum nome ou currículo de um militante do PSD. Neste caso é, naturalmente, um militante de primeira água. Não vou dizer que não. É uma pessoa que foi ministro da Justiça e da Defesa e ainda por cima conheço muito bem e aprendi imenso com ele. Obviamente que é uma figura de proa do PSD mas isso não tem nada a ver com a questão que está a pôr. Isto era o que eu diria sempre.
Um partido como o PSD, que conhece bem, aceitaria um cabeça de lista independente?
Acho que depende muito das pessoas do perfil da ocasião da lista no seu todos. É uma coisa que não excluiria in limine. Não é a solução mais natural, mas não quer dizer que não possa ser uma ótima solução. Depende das circunstâncias. Mais uma vez é extemporâneo e estamos num terreno especulativo. Não façam nenhuma leitura implícita ou explícita do que eu estou a dizer porque eu rigorosamente não disse nada sobre isso. Qualquer resposta abstrata ou concreta será sempre para levar à conclusão que foi uma perda de tempo estarem a fazer essas perguntas porque eu não disse nada.
“Há uma máquina discreta em Bruxelas a trabalhar para Costa”
Conhece bem os corredores europeus, há ou não reais possibilidades de António Costa ocupar um alto cargo europeu, em particular o do presidente do Conselho?
Quando as pessoas diziam que ‘é só ele querer que já está’, sinceramente nunca achei isso. Há factores que António Costa é natural que esteja a tentar remover, mas há obstáculos e não é tão linear como em Portugal se diz. Em primeiro lugar é preciso que o Partido Socialista Europeu tenha um resultado que permita isso e tenha líderes de governo no Conselho Europeu. Depois é preciso que o PSE não queira apresentar uma mulher. Falam, falam, falam na igualdade, teve duas Altas Representantes, mas esse é um cargo menor. O PPE hoje tem a presidente da Comissão, a presidente do Parlamento e a Christine Lagarde, no BCE. Só tem mulheres nos lugares de topo e, aliás, todas elas tão reconhecidamente competentes que até o primeiro-ministro António Costa e o primeiro-ministro Sanchez, que são socialistas, achem como eu acho que Ursula Von der Leyen devia continuar como presidente da Comissão. Eu acho que o PS Europeu vai ter esse desafio de apresentar uma mulher. Outro aspecto importante é a questão dos países eslavos. Se Ursula Von der Leyen ficar na presidência da Comissão, os países eslavos, que hoje em dia não têm ninguém em estados relevantes, e o Leste vai exigir isso.
Mas [esse representante do Leste] não tem de ficar necessariamente a presidência do Conselho.
Pode não ter. Por isso é que digo que há obstáculos que existem. Não quer dizer que sejam intransponíveis. Depois há dois competidores grandes para esses lugares. Um é Sanchez, que, claro que se perder as eleições será muito difícil, porque o PP espanhol não deverá apoiar uma candidatura de Sanchez — numa cultura diferente da nossa. E depois porque se Sanchez estiver fora do Governo… nunca aconteceu um presidente do Conselho não ser um primeiro-ministro em funções. Mas há aqui um dado que aconteceu há duas semanas que pode alterar isto tudo e pode introduzir um factor de ruído: provavelmente os liberais vão ter um bom resultado eleitoral e vão ter bastantes governos e Rutte vai deixar o Governo holandês a partir de novembro. Portanto, se se quebrar essa regra informal de que o presidente do Conselho só pode ser um primeiro-ministro em funções, Rutte é um candidato fortíssimo a presidente do Conselho. Portanto, passa a haver aqui um competidor de outra família política.
Que contactos diplomáticos atribui a António Costa nesta altura e como esse objetivo europeu?
Diria que até ao verão do ano passado não se sentia aqui nos corredores nenhuma pressão, ao contrário do que se dizia em Portugal, para que se estudasse essa hipótese. Aqui nem se falava disso.E nem hoje tem a acutilância que tem em Portugal. Mas a verdade é que hoje se sente claramente que há uma máquina discreta a trabalhar para, pelo menos, pôr essa hipótese em cima da mesa. Uma das razões porque dizia que achava improvável é porque não via nenhum trabalho nesse sentido até setembro do ano passado. A partir daí as coisas mudaram. Não tenham dúvidas nenhumas que a hipótese está a ser equacionada. Depois o primeiro-ministro diz o que quer, faz declarações que dizem umas coisas, mas depois no artigo põem-se lá umas reservas e umas hipóteses em que afinal aquilo pode já não ser assim. É como as apólices de seguro: garantem tudo pela frente e tiram tudo por trás. As declarações do primeiro-ministro sobre a sua vontade para vir para um cargo europeu são uma espécie de apólice de seguros: pela frente está tudo, mas depois há umas letras pequeninas que põem umas cláusulas de exclusão que afinal fazem com que seja tudo possível outra vez.
Não acredita naquela ideia da boa reputação que António Costa tem? Os potenciais bloqueios que enumerou não têm propriamente a ver com essa eventual reputação…
Mas a boa reputação é uma coisa que muita gente tem. E na Europa e na diplomacia em geral, a antiguidade é sempre um posto. E ele tem antiguidade. É um posto porque a pessoa tem a rede, o network, todo feito. Conhece todas as pessoas. E, nas relações internacionais, é mais fácil a pessoa ser mais simpática do que nas relações nacionais. Essa reputação existe, de facto, mas não como a ideia de um D. Sebastião que sem ele a Europa não pode funcionar. Essa ideia de que é uma das grandes referências da política europeia… bom, isso, não é propriamente um Helmut Khol nem a Angela Merkel, isso não é.
“Ao fim de um ano de liderança de Luís Montenegro, os resultados são excecionais”
Voltando a Portugal, dizia há pouco que estava a sentir-se um ponto de viragem para o PSD. Mas, apesar da sucessão de crises no PSD, nas sondagens ainda não se vê um PSD a descolar, o que falha aí?
Há agora aquele estudo da Universidade Católica que dá uma liderança muito clara ao PSD.
Dois, três pontos.
Não é assim tão pouco. E não é sequer num patamar baixo, é num patamar dos 35%. Portanto, estamos a falar já de uma situação diferente dessa que está equacionada. Sobre isto sou muito claro: se alguém dissesse há um ano — já depois da crise do aeroporto em que Pedro Nuno Santos, esse sim já agora feito Dom Sebastião, mas vivo, que é uma coisa um bocado paradoxal — que o PS estava abaixo, às vezes taco a taco com o PSD, ninguém se acreditaria nisso. Portanto, ao fim de um ano e meio de maioria absoluta e um ano de liderança de Luís Montenegro, os resultados são excecionais. Se comparar o histórico: as pessoas já nem se lembram, mas em 2011, quando José Sócrates se demitiu, Pedro Passos Coelho estava atrás de Sócrates. E depois num mês e meio teve um resultado francamente bom. Neste momento os portugueses não põem as eleições legislativas como uma perspetiva imediata.
E porque é que o PSD não pede eleições se está com resultados excecionais neste momento, se vê o Governo tão degradado?
Não disse excecionais, só disse que não eram esses resultados medíocres que estavam mais ou menos implícitos na sua interpretação.
Até agora, estamos a falar de tendências.
Há um Governo que tem uma maioria absoluta sólida em janeiro de 2022 e esse partido, ao fim de um ano, está a ser ultrapassado pelo principal partido da oposição, se isto não é um bom resultado não sei o que é um bom resultado. Nos outros países nem vejo nenhum partido liderante a ter 30%. Esse resultado é normal para uma subida e uma afirmação gradual que o PSD está a fazer. Se vamos ter eleições em 2026 não adianta nada estar agora com 48% ou 40%.
Mas nessas eleições é melhor um cenário em que o PSD enfrente Pedro Nuno Santos do que António Costa?
Não faço ideia do que vai acontecer. O PSD está preparado para ter eleições com qualquer um.
Mas se calhar há um candidato com quem é mais fácil marcar diferenças.
Luís Montenegro já disse mais do que uma vez que até gostaria de concorrer com António Costa, e eu acho que valia a pena. Costa precisa de ser confrontado, como aconteceu neste debate entre Pedro Sánchez e Alberto Feijóo, por alguém que pusesse os pontos nos is. Era um desafio interessante, mas o PS é que tem de escolher. Temos de ganhar a seja quem for. O melhor até é pensar no pior cenário: pensar no que em tese é mais difícil e estar preparado para isso.
“Pedro Adão e Silva é um ministro da propaganda já nos limites orbanianos”
A Comissão de Inquérito à TAP é um assunto que tem marcado as últimas semanas. O ministro Pedro Adão e Silva tem dito que os deputados foram longe demais. Concorda?
Não concordo nada. O ministro transformou-se naquilo que já era como comentador: um ministro da propaganda. Houve outra pessoa que fez isto enquanto ministro, Augusto Santos Silva, e lamento mesmo que estas duas figuras, duas pessoas muito inteligentes e cultas, se prestem a fazer uma propaganda barata. Um ministro não pode referir-se ao Parlamento daquela maneira, tem algumas obrigações de reserva institucional. E ele dirigiu-se ao Parlamento, não falou de uma pessoa, mas da instituição. Isto não é de um democrata, mas de uma propaganda já nos limites orbanianos, para falar de um amigo de António Costa. É o bullying democrático.
Mas um ministro não pode ter opinião política?
Pode, e no Parlamento até pode responder de forma mais de fação. Não deve é dizer que uma comissão de inquérito, o Parlamento, os deputados, não se comportam. Quem não se está a comportar é Pedro Adão e Silva. E estamos a discutir isto aqui e é mau, porque isto não foi feito por acaso: foi para nos distrair da gravíssima crise que existe no Ministério da Defesa e dos problemas que tem o ministro dos Negócios Estrangeiros como antigo ministro da Defesa [João Gomes Cravinho]. Isto é só uma distração. Há um percurso consolidado de Adão e Silva enquanto comentador de fazer um conjunto de afirmações que iam neste sentido de condicionar a opinião pública, de usar até alguma insídia. E eu estou à espera de que o Presidente da Assembleia da República venha defender o Parlamento. Percebo que a Santos Silva, que fazia o mesmo papel, lhe custe, mas ela tem de defender a instituição — não é um ataque político, é institucional. Valia a pena voltarmos ao caso do ex-secretário de Estado e às explicações que não foi dar ao Parlamento. É uma manobra de diversão e mais grave: é o ministro da Cultura, que tem de ter muito cuidado, porque é normalmente o mais exposto a poder ser associado a essa lógica da propaganda. Em qualquer Governo os ministros da Cultura e que tutelam a Comunicação Social têm de ter cuidado especial, e infelizmente não teve.
“A integridade de Rui Rio e Hugo Carneiro é à prova de bala”
Estas buscas da PJ à casa de um ex-líder do PSD prejudicam a imagem do partido?
O PSD fez aquele comunicado muito claro de que, como muita tranquilidade, decorreram buscas, são relativas a esse período [da anterior liderança] e há uma total cooperação e abertura. A integridade pessoal, seja de Rui Rio, seja de Hugo Carneiro, é à prova de bala. É uma opinião pessoal que vale o que vale.
Concorda com o embaixador Seixas da Costa que diz que o nome de Rui Rio se “confunde com honestidade”?
Não o vou secundar. Até concordo muitas vezes com ele embora às vezes também pareça um pouco o ministro da propaganda, ou pelo menos embaixador da propaganda. Esta é uma questão delicada, mas há aqui algo que as pessoas podem não estar a perceber bem. Muitas vezes a definição do que é a atividade estritamente parlamentar e a atividade partidária não é fácil. Não estou a dizer que não haja casos limite em que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra, mas por exemplo: é absolutamente normal e não pode deixar de ser assim, que um vice-presidente do partido, que não está no Parlamento, peça muitas vezes a assessores que estão no Parlamento para lhe mandarem memorandos sobre a atividade legislativa, sobre o pacote de habitação. Para preparar esta entrevista, pedi que me mandassem notas que foram feitas para deputados, e não para o partido, sobre o nosso pacote da habitação ou para a saúde. Portanto, é perfeitamente possível que haja pessoas que estão numa sede partidária a acompanhar os trabalhos parlamentares.
Então o que houve aqui? Excesso de zelo?
Pode haver aqui uma grande confusão. E há outra coisa que me chocou bastante neste contexto que é o espetáculo. Não é só filmar a varanda, é os meios de comunicação social acompanharem este tipo de coisas. Como é que de repente podem acompanhar este tipo de coisas? E também não vejo qual a relevância — com certeza o Ministério Público saberá — de ir a casa das pessoas neste caso e se não há aí uma desproporção.
Não é o Ministério Público que deve agir?
É o Ministério Público que deve agir, mas não deve ir a casa das pessoas. Em princípio essa documentação existe toda no PSD e na Assembleia da República.
Rui Rio tem dado a ideia de que há aqui um ataque pessoal. É isso?
Não. Eu sou totalmente a favor da independência da Justiça e da autonomia do Ministério Público, mesmo na classe política sou das pessoas que mais tenho defendido o Ministério Público — aliás contra, por exemplo, algumas visões de Rui Rio. Estou à vontade para falar. Fui sempre muito zeloso e escrupuloso na defesa da autonomia do Ministério Público. Agora, há um lado espetacular, de trazer a comunicação social, que é desproporcional num Estado de Direito. E em vez de prestigiar a Justiça, mancha a sua imagem. Porque depois o mesmo MP que faz estes atos espetaculares depois não é capaz de fazer a acusação do tempo útil, ou um arquivamento. Isso é desfuncional.
E como fica a imagem dos partidos e a do PSD, em particular quando o líder em causa passou uma campanha a falar no “banho de ética”?
Nesta questão não está em causa nenhuma apropriação pessoal de nada, aparentemente. Portanto, é diferente de muitos outros casos. Em termos jurídicos e de estatuto de cada órgão, o grupo parlamentar do PSD é um órgão do partido e tem responsabilidades dentro do partido. Em casos limite até pode haver razão para dizer que um trabalho é estritamente partidário e outro estritamente parlamentar, mas situações que não são assim. No dia em que acharmos que isto não é assim, vamos confundir tudo.
“Pedro Nuno Santos daria mais luta”
Vamos ao segmento Carne ou Peixe, em que o convidado tem de escolher uma de duas opções. Com quem bebia um café no bar das flores no Parlamento Europeu: Rui Moreira ou Miguel Poiares Maduro?
Nunca bebo café, porque no Porto o café não se bebe: toma-se. Tomava com os dois, porque me dou otimamente com ambos.
Preferia ser o consultor de assuntos europeus da casa civil do presidente Passos Coelho ou do Presidente Marques Mendes?
É uma pergunta extremamente difícil porque tenho muita admiração pelos dois. Sei que não podemos ter uma co-presidência, nem uma rotativa. O que nunca seria era consultor dos assuntos europeus, nem estou a ver outro cargo no Palácio de Belém para uma pessoa com uma carreira política partidária tão ativa…
Quem convidaria para apresentar um livro seu no edifício do palácio da bolsa: Francisco Assis ou Rui Rio?
Para apresentar um livro meu, e não tem nada a ver com a relação com cada um, escolheria Francisco Assis. O perfil de formação, que é um filósofo, é diferente do de um economista. Se os meus livros fossem sobre Economia — que não seriam de certeza — Rui Rio seria com certeza mais apropriado, mas são normalmente mais sobre valores ou geopolítica. Rio estaria com certeza na plateia ou até podia fazer uma nota introdutória. Neste caso sou omnívoro!
Se fosse primeiro-ministro preferia ter como líder da oposição Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina?
Tenho uma relação cordial com os dois. Penso que Pedro Nuno Santos daria mais luta, mas Fernando Medina talvez fizesse uma oposição mais substantiva.
[Os jornalistas do Observador deslocaram-se a Estrasburgo a convite do Parlamento Europeu]