910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pedro Nuno promete ser o bom herdeiro de Costa, mas diferente. E acena com novo diabo

Eleito líder do PS com 62% dos votos, Pedro Nuno Santos entra em cena a jurar fidelidade à herança que recebe. E a avisar que é preciso "proteger" esse legado de quem possa vir do outro lado.

Muito pouco tempo depois de começar o seu discurso de vitória, Pedro Nuno Santos disse à sala cheia de apoiantes seus: “Não se acanhem, podem bater palmas à vontade. Hoje é para isso”. A longa espera da sua mais do que anunciada ambição tinha terminado e não estava ali para dizer muito mais do que vinha dizendo nos dias de luta interna. Ou seja: não esperassem ideias muito mais concretas. Sabendo que é um candidato bicudo, quis aproveitar antes o tempo de antena perante o país (além partido) para deixar a imagem do bom herdeiro de António Costa (na contas certas, nas pensões, nos salários e também nas soluções de governação) que a direita (o novo diabo) pode destruir, mas diferente dele (nas decisões e nos afetos).

Na tentativa deste equilíbrio, Pedro Nuno acabou por aparecer algo enredado entre esse passado e o futuro que quer trazer. Neste momento diz muito pouco, mas há uma coisa que vai já tentando descolar da sua pele: a ideia do candidato que no dia seguinte às eleições se agarrará de imediato ao PCP e ao BE. Assume que a solução é boa e já deu provas de “estabilidade” — “de geringonça não teve nada, aquilo funcionou bem, foi estável e sólido” — mas mostra que já percebeu que agarrado a essa ideia pode progredir pouco ao centro. Por isso agora atira-se a uma “grande vitória para que a solução de governo tenha estabilidade, que depende de um PS forte“. E até diz que, se assim não for, pode vir lá quem coloque em perigo o que foi conquistado.

O trabalho que foi feito precisa de ser protegido e preservado, mas também queremos dar um novo impulso para realizar o projeto social democrata que o PS tem para o país”

O perigo está à direita. “Há trabalho na saúde e na habitação que começou a ser feito e só produz resultados com tempo. Há muito trabalho para fazer mas são os socialistas os melhores para o fazer“, afirmou sem deixar de acabar esta mesma ideia apontando ao PSD, não fosse passar despercebida a intenção: “Não inventamos grupos de trabalho em cima de comissões. Nós decidimos”. Afinal foi o PSD que veio propor um grupo de trabalho para estudar o relatório da comissão técnica independente que estudou a localização do novo aeroporto de Lisboa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O novo diabo espreita à direita?

A luta é com essa frente e foi para lá que seguiram todos os ataques do líder do PS que foi eleito este domingo (com 62% dos votos, contra 36% de José Luís Carneiro e 1% de Daniel Adrião) . Começou logo por atirar ao PSD e ao seu histórico de 19 líderes até hoje, a “estabilidade que caracteriza a liderança do PS”, que tem nele apenas o seu nono secretário-geral. Depois lembrou o voto contra da direita à criação do Serviço Nacional de Saúde, nos primórdios da democracia, para contrapor a defesa socialista de um “SNS público, universal e tendencialmente gratuito”. “Não está tudo bem, mas a nossa solução não é privatizá-lo“, afirmou.

Mais adiante pegou nos “cortes nos salários e pensões” do período da troika, para mostrar que mesmo assim a direita saiu do poder “com uma dívida pública maior em percentagem do PIB” do que aquela que herdou. Ou seja, o PS foi capaz de “ter as contas públicas certas, continuar a reduzir a dívida pública” sem aplicar a receita dos cortes. “Não estivemos a cortar salários, nem pensões, nem a reduzir a despesa social do Estado em nome da redução da dívida pública”, acenou como quem avisa para o que poderá vir.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E por fim, os pensionistas. O tal eleitorado que foi alvo dos cortes da direita e que aparece empenhado em proteger, ciente que já não tem nada de novo a prometer-lhe. “Um líder do PS não tem de prometer fazer uma coisa diferente do que o PS fez quando se apresenta perante os pensionistas. Só precisa de dizer que quer continuar o trabalho que tem sido feito”, afirmou sobre este ponto. Aqui, apela à memória de “oito anos em que o PS atualizou pensões e fez seis aumentos extraordinários nas pensões mais baixas” e atira a estes mesmo pensionistas uma expressão totalmente nova no vocabulário mais recente do PS, ao prometer “com amor e carinho estar ao lado de quem fez o país”.

Pedro Nuno Santos sublinhou logo no início do discurso que nesta campanha tinha já tido o “prazer de abraçar, agarrar, tocar” nos militantes socialistas. A prometer um estilo de proximidade diferente da linha de António Costa.

Coloca-se como o candidato a primeiro-ministro que tem convicções, para sacudir a ideia de um radical. Diz mesmo que “o país não se divide entre radicais moderados” mas sim “entre quem tem convicções e quem não tem. Eu cá tenho convicções“. Também garante que os portugueses não olham para a política na perspetiva de “esquerda e direita”, essa é uma questão da bolha, garante. Diz antes que “procuram respostas para os seus problemas”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Na parte das perguntas dos jornalistas, tentou de todas as formas evitar falar do futuro. Da mercearia das listas, de intenções para um eventual governo que venha a formar e de acordos de governação — na campanha expôs de forma clara que é à esquerda que os procurará e por isso não é de estranhar que agora sinta necessidade de declarar o PS como “europeísta”, a sublinhar que os compromissos com a União Europeia são sagrados para o partido. Na abertura do discurso fez questão de homenagear o pai fundador, Mário Soares, reclamando para si o papel de seu herdeiro também.

Também jurou lutar pela unidade, depois de uma luta pela liderança que teve as suas quezílias. Mas começou por não fazer grande distinção entre o seu principal adversário, José Luís Carneiro, e o candidato Adrião que apenas conquistar 1% dos votos. Disse que os dois tinham sido “circunstancialmente adversários”, mas que o que quer agora é “um partido inteiro” — numa referência também ao seu lema de campanha “Portugal inteiro”. Mais adiante, já quando questionado sobre o futuro político de Costa e disse que o quer ter em campanha, acrescentou que também quer José Luís Carneiro na mesma campanha.

Quanto a Costa para lá do legado: “Contamos sempre com ele e ele vai contar connosco.” Não disse o que já falou com o líder a quem sucede no PS, mas diz que vai “aproveitar” os seus conselhos no futuro: “Não aproveitar a experiência, inteligência e sagacidade de António costa seria tonto da minha parte.” Ao ex-líder destaca ainda a “experiência nacional”, mas também a “internacional”, numa altura em que António Costa não afasta um futuro político — depois de fechado o capítulo judicial — que pode passar por Bruxelas. Este domingo encontram-se para o primeiro aperto de mão para Pedro Nuno, o último para Costa.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.