Pentacampeão (cinco vezes, tantas quantas o Brasil venceu Mundiais de Futebol). Hexacampeão (seis vezes, tantas quantas o Brasil vai tentar vencer Mundiais de Futebol, já este inverno). Mas sete vezes campeão? A resposta correta seria heptacampeão, mas por ser demasiado complicado (e só ter acontecido em campeonatos nacionais) são poucos o que se lembrariam de usar a palavra. Em Portugal, é isso que acontece. Há sete anos consecutivos que as vagas para o ensino superior não param de aumentar. E se houvesse um troféu para dar a quem se supera a si próprio, o concurso nacional de acesso levaria o hepta para casa. Este ano, há mais 1.398 vagas para o concurso nacional de acesso ao ensino superior (53.640), a que se somam os habituais 721 lugares para concursos locais. No total, são 54.361 vagas, mostrando que a tendência de subida, que começou há sete anos, mantém-se.
Para o ano letivo 2022/23, o aumento é de 2,6% quando se compara com as vagas inicialmente disponibilizadas no ano anterior (foram 52.963). Acontece que, numa segunda fase, em 2021, o Governo permitiu o reforço de vagas, que cresceram mais 3 mil lugares, mesmo assim deixando de fora muitos dos 63.878 candidatos. Dois anos antes, tinha acontecido o mesmo. Dado o número elevado de candidatos, abriu-se essa porta pela primeira vez.
Uma curiosidade: este ano, as 721 vagas para concursos locais, espalhadas pelo país, são praticamente todas da mesma área científica. Há 691 vagas para Artes do Espetáculo (cursos de Música, Dança e Teatro) e 30 para Áudio-Visuais e Produção dos Media (curso de Cinema).
Já o número de vagas em Medicina “volta a crescer, sendo disponibilizadas 1.534 vagas”, lê-se na nota de imprensa do Ministério do Ensino Superior (a subida é de cinco lugares). Consideradas todas as vias de ingresso, nos últimos três anos, o número de lugares para formar médicos “cresceu 5% (1.782 vagas em 2019 e 1.873 vagas em 2022)”, frisa o comunicado do gabinete de Elvira Fortunato.
No entanto, e apesar de esta ter sido uma bandeira do anterior ministro da tutela, Manuel Heitor, a subida tem sido inexpressiva já que os diretores das faculdades de Medicina não têm aumentando o número de vagas que poderiam. Este ano há uma exceção: na Universidade da Beira Interior passa-se de 140 para 145 vagas e é apenas esse acréscimo de cinco lugares, em relação ao ano passado, que se encontra quando se olha para a oferta total dos cursos de Medicina (incluindo os ciclos básicos das universidades da Madeira e dos Açores que não mexeram na oferta).
A atual ministra, Elvira Fortunato, apostou noutra área, um caminho que o ministro da Educação, João Costa, já tinha avançado que estava a ser negociado entre os dois ministérios. No despacho orientador para as vagas deste ano, a tutela dava indicação às instituições de ensino superior para que abrissem mais vagas nos cursos de formação de professores — uma tentativa de tentar salvar o futuro das escolas (e dos alunos), já que Portugal está a braços com uma falta expressiva de docentes, cenário que irá piorar com as aposentações dos próximos anos numa classe muito envelhecida.
As licenciaturas em Educação Básica — seguidas por quem quer ser professor do 1.º e do 2.º ciclo do ensino básico — passam a ter o carácter de exceção que já era dado às áreas de Competências Digitais e Ciências de Dados e podem aumentar o número de alunos. Além disso, a tutela proíbe as instituições de cortar vagas, à semelhança do que faz com os cursos de Medicina. O resultado? O número cresce 7%, sendo disponibilizados mais 56 lugares.
Nos cursos com maior concentração de alunos com médias elevadas foram fixadas mais 153 vagas.
O Plano de Recuperação e Resiliência deu frutos já neste concurso de acesso. “São disponibilizados 25 cursos novos apoiados pelo PRR, orientados para reforçar a formação superior inicial e o aumento do número de graduados em áreas STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics) e atingir as metas de graduação fixadas pelo PRR até 2026″, avança a tutela.
Estes cursos representam 642 vagas: 365 em Lisboa e no Porto, e 217 no resto do país.
O número de vagas disponibilizadas nas instituições localizadas em regiões com menor pressão demográfica continua a ser uma aposta do atual Governo, tal como tinha sido nas anteriores legislaturas. Nestas regiões, as vagas crescem 3,8%, nas restantes 2,5%. A instituição com maior variação é a Universidade da Beira Interior, que cresce 13%.
A candidatura, tal como é habitual, deverá ser apresentada online, no site da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), através de autenticação com o cartão de cidadão ou chave móvel digital. A 1.ª fase do concurso nacional decorre de 25 de julho a 8 de agosto.