Peter Welter Soler, produtor alemão de 52 anos, mudou-se para Lisboa há pouco mais de um ano. Viveu nos Estados Unidos, estudou, trabalhou e afirmou-se em Espanha, um “golfinho” na indústria audiovisual internacional, a nadar num lago de tubarões desde os anos 90 do outro século. Ajudou o cinema espanhol a criar um sistema atrativo de incentivos fiscais para se tornar no top de países que recebem produções internacionais. Hoje basta olhar para a sua Fresco Film para perceber o peso que tem: “Westworld”, “Guerra dos Tronos”, “Uncharted”, “Killing Eve”. E claro, “House of The Dragon”, que esteve em Monsanto a rodar através da Sagesse Productions de Sofia Noronha que, além de “parceira de crime”, é sua mulher.
Encontramo-lo num café da Praça das Flores. Mesmo com o boom turístico português e o crescente número de estrangeiros a viver na capital, não é habitual encontrar com tanta facilidade um nome que Hollywood tenha nas suas relações mais próximas. Sentámo-nos com ele durante duas horas, à conversa sobre os bastidores da indústria, sobre o que é afinal ser um services producer, de como é possível fugir aos paparazzi numa das maiores séries de todos os tempos e de como Portugal corre o risco de deixar fugir a mão de grandes estúdios de cinema. “O cash rebate está uma grande trapalhada cá. Não há nada que os norte-americanos odeiem mais do que a incerteza. Vocês puseram o motor a trabalhar e agora não metem gasolina. Portugal está a perder grandes produções porque nada é claro. O processo não está a ser nada transparente”, confessa ao Observador. É por isso que a hipótese da segunda temporada de “House of The Dragon” voltar ao país está cada vez mais distante.
Peter foi ator, fez teatro, rumou ao outro lado do Atlântico para pôr a mão na massa das curtas-metragens. De Nova Iorque a Málaga, cedo percebeu que preferia movimentar-se nos bastidores. Perdeu dinheiro em produções, conseguiu garantir muito investimento noutras, aprendeu, falhou, recuperou, sentou-se à mesa com políticos e tentou (conseguindo) convencer parte da indústria espanhola a entrar no barco para colocar o país no mapa. Em 2021, dos 400 milhões de euros investidos por parte de grandes produções, 200 milhões serviram para pagar salários. Não nega a existência de cinema de autor, mas sabe que, tal como noutras áreas, o cinema é um produto. Ou é apelativo ou não é. Números, falemos sempre de números, que quer apresentar ao governo português a propósito da redefinição do programa de cash rebate. Para isso, é preciso tempo e vontade.
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