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O projeto do arquiteto penafidelense Hélder de Carvalho inclui um auditório com capacidade para 414 lugares, onde se destaca o detalhe da madeira tabuca
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O projeto do arquiteto penafidelense Hélder de Carvalho inclui um auditório com capacidade para 414 lugares, onde se destaca o detalhe da madeira tabuca

André Rolo / Observador

O projeto do arquiteto penafidelense Hélder de Carvalho inclui um auditório com capacidade para 414 lugares, onde se destaca o detalhe da madeira tabuca

André Rolo / Observador

Ponto C. Em Penafiel nasceu uma sala de espetáculos para preencher uma “lacuna” na região e “alavancar uma nova cidade”

É o novo centro de cultura da região do Tâmega e Sousa e abre portas a 27 de setembro com teatro, dança, música e ópera. Investimento ronda os 12 milhões de euros.

Pode um equipamento cultural transformar uma cidade? Uma nova sala de espetáculos abre este mês no coração de Penafiel com essa ambição. “Além de preencher uma lacuna na oferta de atividades culturais, lúdicas, no concelho e na região, o Ponto C vem também para ser uma alavanca para o crescimento de uma nova cidade”, ousou o presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Antonino de Sousa, esta terça-feira na apresentação à imprensa do centro cultural que abre portas a 27 de setembro com uma programação dedicada às artes do espetáculo.

Verde como o vale, o edifício imponente instalado diante do rio Cavalum é a face mais visível de um investimento total de cerca de 12 milhões de euros nos quais se inclui os custos de aquisição de terrenos pela autarquia e uma área de quatro hectares numa zona central da cidade, junto à praça São Martinho — batizada à conta de ser ali que há muito acontece a feira homónima e histórica para o município.

O complexo, projetado pelo arquiteto Hélder de Carvalho, contempla um anfiteatro com capacidade para 414 lugares, e uma pequena sala para apresentações de menor dimensão, um anfiteatro natural no exterior, uma zona de exposições, além de uma cafetaria que funcionará diariamente.

O Ponto C surge a partir da reabilitação da antiga Quinta da Caturra, na zona de Puços, em Penafiel, na encosta voltada para o Rio Cavalum

André Rolo / Observador

“Era o ponto que faltava num circuito de património que tem monumentos, que tem Rota do Românico, que tem imenso património religioso, que tem um museu, que tem um [festival literário] Escritaria. Não faltam manifestações culturais [em Penafiel], mas um espaço para as práticas artísticas contemporâneas, desde teatro, dança, ópera, circo, não existia”, diz Mónica Guerreiro, diretora artística da nova sala de espetáculos que, depois de uma saída conturbada da presidência do Coliseu do Porto, chegou a Penafiel através de um concurso público para chefiar a recém-criada Divisão Municipal de Artes e Criatividade e, por consequência, assumir a direção artística do Ponto C — Cultura e Criatividade, por um mandato de três anos. Guerreiro não esconde a satisfação de “olhar para um equipamento cultural como estratégico, no âmbito de uma política que está a ser desenhada, como uma espécie de tela em branco”, e que se prevê que dê resposta a uma necessidade não só da cidade de Penafiel, mas também de toda a região do Tâmega e Sousa.

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Da “cidade da risco ao meio” a pólo cultural

“Penafiel durante muitos anos era conhecida como a cidade da risca ao meio”, aponta Antonino de Sousa referindo-se à avenida que atravessa a cidade e que concentra comércio e principais serviços. “Vimos neste projeto a oportunidade de a cidade se expandir para uma das suas vertentes mais bonitas, que é aqui esta vertente do [rio] Cavalum”, conta o social-democrata que está no terceiro e último mandato à frente da autarquia. “Quisemos aproveitar esta oportunidade de ter aqui uma âncora para esse desenvolvimento, para essa expansão da nossa cidade.”

Sublinhando a cultura como uma das prioridades nas políticas do município, assume que o “o orçamento comunitário ficou aquém das expectativas”, e que, por isso, o investimento “teve um impacto bastante significativo para o orçamento municipal”, na ordem do milhão e meio de euros. “Infelizmente a cultura não tem tido prioridade nos quadros comunitários de financiamento e continua a ser o parente pobre”, lamenta ao Observador. “Aliás, o financiamento que tivemos foi no âmbito da reabilitação urbana, e não no facto de estarmos a criar um equipamento cultural para a região.”

O piso -1 do edifício alberga a zona de exposições e a cafetaria, que a partir de dia 27 vai funcionar diariamente. No exterior, revela-se um anfiteatro natural que também será palco para espetáculos

André Rolo / Observador

O planeamento do “sonho” começou há seis anos e as obras arrancaram em 2020. Por cumprir ficou apenas a reabilitação de um edifício no terreno que o autarca espera conseguir converter num “espaço de criação artística” até “ao final deste mandato”, esperançoso na atribuição de uma verba comunitária dedicada, precisamente, a espaços de criação artística.

A Barraca, Sara Barros Leitão e Rodrigo Amarante no Ponto C até dezembro

“O auditório tem 414 lugares, não é nada do outro mundo, mas tem um palco, esse sim, do outro mundo, porque permite acolher todo o tipo de artes de palco”. As palavras do autarca parecem ter sido levadas à letra pela diretora artística do Ponto C, Mónica Guerreiro, que em quatro meses ergueu uma programação diversificada que se espraia por diferentes expressões artísticas, do teatro à dança, da performance à música.

“Podia dizer que o prioritário será a dança, a ópera, ou o circo, porque são expressões que Penafiel nunca teve. Contudo, é interessante haver uma área de diálogo em que justamente se evite a criação de guetos e de lógicas de preferência”, explica ao Observador, numa visita pelo espaço onde se ultimam os últimos detalhes antes de uma série de visitas guiadas gratuitas que arrancam na próxima segunda-feira. Se é certo que não haverá áreas destacadas, a diretora artística reconhece que, “apesar de a concha acústica ser imponente, não quis que a música fosse prioritária”. “Émuito fácil ancorar um equipamento, em termos de ocupação de sala, em grandes nomes da música. É uma receita que vejo muitos equipamentos seguirem, e que acho que não faz justiça ao fantástico trabalho dos nossos criadores nacionais, aqueles que faz falta primeiro dar a conhecer em Penafiel.”

O presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Antonino de Sousa, lamenta que a cultura continue "a ser o parente pobre” no âmbito do financiamento dos quadros comunitários

André Rolo / Observador

O que passará pelo Ponto C até dezembro é antes uma variedade de propostas que vão da música ao teatro, passando por exposições, circo, dança, ópera e conferências. A primeira peça a ocupar o auditório será De Mary para Mary, de Paloma Pedrero, a produção d’A Barraca com encenação de Maria Do Céu Guerra e interpretação de Rita Lello (27 de setembro). Nos próximos três meses, também por ali passaram artistas como Maria Rueff e Joaquim Monchique (5 de outubro), espetáculos como Guião para um País Possível, de Sara Barros Leitão (15 de dezembro), ou a performance SWEAT, SWEAT, SWEAT (Um conjunto de pequenos afrontamentos), de Sónia Batista (19 de outubro), fenómeno na última edição do festival Alkantara. Na música, o cantautor Rodrigo Amarante (13 de outubro), cujas três datas em Lisboa estão há muito esgotadas, ou o concerto do duo estónio Puuluup (29 de setembro), que, depois da participação na final da Eurovisão da Canção 2024, trazem a Penafiel o seu som neo-zombie-post-folk, impõem-se como destaques do primeiro trimestre de funcionamento do Ponto C, que também vai receber o festival literário Escritaria (21 a 27 de outubro), numa edição em que homenageia a obra e o percurso do músico brasileiro Arnaldo Antunes.

Mónica Guerreiro é, desde maio, a diretora artística do Ponto C - Cultura e Criatividade. No espaço de quatro meses ergueu a programação do equipamento municipal, que abre portas a 27 de setembro

André Rolo / Observador

Para a temporada 2024/2025, os pilares da programação assentam nas temáticas: “Cultura de Comer e de Beber”, com obras que convidam, por vezes de forma literal, à degustação, “Viagens na Minha Terra”, com uma aproximação às culturas brasileira, argentina ou cabo-verdiana, e “Igualdade, Liberdade, Sororidade”, com propostas ligadas aos direitos humanos.

“A programação temática surge da intenção de criar um espaço pertinente em que os problemas de todos os dias são discutidos e debatidos em comunidade”, justifica. “Queremos que as pessoas sintam realmente que isto vai passar a fazer parte das suas vidas, do seu quotidiano. Não é um sítio onde se vai uma vez com uma roupa especial, separado da vida comum e com a ideia de que se vai lá prestar culto e depois vir embora. Não, é um sítio mesmo para usar nesse sentido de utilidade. Queremos fazer disto um serviço público, como é um hospital ou uma escola. Que seja parte das infraestruturas básicas que qualquer cidadão merece, tem direito e deve exigir.”

Depois do fim-de-semana de abertura, de 27 a 29 de setembro, em que todos os eventos são de entrada livre, o Ponto C terá uma política de bilheteira assente na valorização da programação cultural e na criação de hábitos de frequência. “Quando fazemos coisas gratuitas não estamos a valorizar o trabalho profissional em cultura. Aqui não vamos ser adeptos dessa linha de pensamento. Achamos que como tudo o resto que consumimos nesta vida, também o trabalho cultural deve ter um valor e deve ser pago”, frisa Guerreiro.

O preçário será alinhado com o custo de vida médio, sustenta, argumentando que Penafiel é “um território muito assimétrico entre contexto rural e contexto urbano”. “As 28 freguesias quase todas são rurais e muitas das pessoas vivem do trabalho no campo”, sinaliza. O intervalo de preços para todos os espetáculos da programação será entre quatro e 12 euros, preços sobre os quais se aplicam descontos (50% para estudantes, desempregados, menores de 25, maiores de 65, pessoas com necessidades específicas, acompanhantes e cuidadores, formais ou informais, portadores do cartão de famílias numerosas, funcionários do município e profissionais do espetáculo). Apenas a programação participativa, complementar, como conversas, um clube, as oficinas, será de caráter gratuito.

A semanas de abrir portas, a expectativa é grande. “É difícil saber se as pessoas vão gostar e se vão querer vir”, admite Mónica, que espera instigar a “discussão”. “Quero que as pessoas possam dizer ‘não queremos este espetáculo, queremos outro’. Isso significa que estou a contribuir para uma comunidade mais crítica, mais conhecedora, mais assertiva, de pessoas mais emancipadas. É esse o objetivo, de termos também uma programação com cada vez mais artistas locais. Que ver tantas coisas crie nas pessoas o estímulo e a vontade de também seguirem uma carreira nas artes e não terem que ir para Lisboa, para o Porto, para que isso aconteça.”

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