O músico Miguel Guedes foi convidado pela Câmara Municipal do Porto a assumir o cargo de presidente da direção do Coliseu do Porto, um anúncio que esta sexta-feira deixou a atual presidente surpreendida. “Via uma solução distinta que passasse pela continuidade da atual direção até à passagem para o concessionário. Achava que era isso que ia acontecer, apesar de nunca me terem dado indicações disso nem do seu contrário, mas parecia-me razoável que este mandato fosse estendido até à passagem de testemunho para o novo modelo de gestão”, começa por dizer ao Observador.

Músico Miguel Guedes convidado pela câmara a assumir direção do Coliseu do Porto

O anúncio da autarquia, cuja decisão conta com o apoio do Ministério da Cultura e da Área Metropolitana do Porto e que será ainda aprovada no início do próximo ano pela Assembleia Geral da Associação Amigos do Coliseu, acontece na semana de aniversário do Coliseu do Porto, com uma grande intensidade de atividades, um timing que para Mónica Guerreiro é irrelevante. “Em qualquer altura seria uma notícia esperada, era suposto que se soubesse alguma coisa sobre o futuro, se seria ou não reconduzida, o que não me parece razoável ou inocente é ser informada pelos órgãos de comunicação social relativamente a esta matéria. Era escusado.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao Observador, a atual presidente não revela se irá contactar a autarquia do Porto ou o Ministério da Cultura no sentido de procurar esclarecer esta decisão, nem adianta como será o seu futuro profissional. “É ainda tudo muito incerto. Depois de ter passado pelo Coliseu em contexto pandémico, sinto-me capaz de fazer qualquer coisa. Estou muito expectante sobre o que virá no futuro, não estou ansiosa, estou expectante.

O nome de Miguel Guedes não é de todo estranho para Mónica Guerreiro, que recorda ter conhecido o músico dos Blind Zero em setembro 1996, num concerto dos Pearl Jam em Cascais, naquele que foi o primeiro espectáculo que cobriu como jornalista do Blitz. “Nas últimas décadas temo-nos encontrado pontualmente, não somos íntimos, mas trabalhamos num setor comum, é natural que as pessoas se cruzem”, explica, acrescentando que será alguém que dará continuidade aos projetos que implementou nos últimos anos. “Trata-se alguém com excelentes ferramentas e preparação profissional para fazer um bom trabalho, conhece o setor por dentro, trabalha na indústria musical, é uma pessoa atenta às questões da cultura urbana e contemporânea, está bem posicionado para a diversidade de desafios que estas funções implicam. Acredito que será alguém que irá dar continuidade aos projetos que estavam em curso.”

Coliseu do Porto será, afinal, concessionado. Rui Moreira fala em “solução definitiva”

Mónica Guerreiro foi nomeada como presidente do Coliseu do Porto em março de 2020 e desenhou um plano de gestão para cinco anos, sendo que dois foram marcados pela pandemia que obrigou ao encerramento das salas de espetáculos. Em jeito de balanço, garante que se orgulha de ter conseguido realizar exatamente aquilo que se propôs e idealizou, dando relevância à instituição. “A comunidade artística que está à nossa volta que passou a olhar para o Coliseu como uma entidade colaborativa, coisa que não era antes, e com a qual foi possível desenhar outros horizontes, nomeadamente horizontes internacionais que o Coliseu nunca tinha tido.”

Já sobre a equipa “pequena, mas competente” com quem trabalhou, afirma que vive “uma renovada situação de angústia”. “Estes trabalhadores já acompanharam vários processos sucessórios, é sempre com uma renovada angústia que veem que as direções sucedem e o Coliseu ainda não vê a sua reabilitação ao fundo do túnel. Noto as pessoas apreensivas e preocupadas. Têm lhes dado o feedback que serão consideradas num modelo concessionário futuro e, por isso, serão salvaguardadas os seus postos de trabalho.”