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Manfred H. Vogel

Manfred H. Vogel

Primeiro prémio Mariano Gago para exposição que junta democracia e tecnologia

A Rede Europeia de Centros e Museus de Ciência já tinha decidido implementar o prémio Ecsite em 2015. Depois da morte de Mariano Gago em abril deste ano, decidiram homenageá-lo com o nome do prémio.

Mariano Gago, o prestigiado físico e político português, foi homenageado internacionalmente pela Rede Europeia de Centros e Museus de Ciência (Ecsite) durante a reunião anual da mesma. O prémio com o nome do cientista falecido em abril deste ano foi atribuído ao Museu de Ciência e Tecnologia Norueguês, em Oslo, destacando a criatividade da exposição que submeteram a concurso.

Instituir este prémio anual, era um dos objetivos de Rosalia Vargas, presidente da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica – Ciência Viva e diretora do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, que terminou esta semana o mandato de dois anos na presidência da Ecsite. A presidente cessante explicou ao Observador que a proposta de dar o nome de Mariano Gago veio de um dos ex-presidentes e atual membro honorário, Per-Edvin Persson, e foi aceite unanimemente.

“Foi natural reconhecer a importância que Mariano Gago teve depois de sabermos da sua morte”, disse ao Observador Per-Edvin Persson, presidente do centro de ciência finlandês Heureka. “Eu penso nele realmente como um campeão dos centros de ciência na Europa. Sempre reforçou a importância da boa comunicação de ciência e do trabalho que os centros de ciência fazem”, continuou falando não só de um colega, mas de um amigo. “Mariano Gago tinha muito a dizer em termos de política de ciência a nível europeu.”

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Rosalia Vargas e Per-Edvin Persson na conferência anual da Ecsite, em Trento – D.R.

Mariano Gago pôs a ciência em destaque em Portugal durante os mandatos no Governo – foi duas vezes ministro da Ciência e da Tecnologia, entre 1995 e 2002, e duas vezes ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, entre 2005 e 2011. Tendo a agência Ciência Viva sido um dos mais importantes legados que deixou.

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Defensor da promoção da cultura e educação científica, chegou a ser um dos oradores convidados para os encontros anuais da Ecsite, como o que decorreu de 11 a 13 de junho em Trento, Itália. Per-Edvin Persson ressalva a importância da perspetiva do decisor político que trouxe a esta conferência. “Ele era um exemplo de um decisor político muito bem formado e literato que compreendia a importância do trabalho que fazemos [em comunicação de ciência]”, disse o presidente do Eureka. “Entendia que precisamos de levar a ciência até à sociedade. E reconhecia a importância do trabalho que fazemos nesse sentido.”

O prémio Mariano Gago Ecsite Awards que esta quinta-feira foi atribuído durante o jantar de gala da conferência pretende exatamente distinguir o trabalho feito por uma instituição desta rede internacional. “É muito importante o reconhecimento do trabalho que os nossos membros têm desenvolvido”, referiu Rosalia Vargas.

Votar com um cubo em cima de uma mesa redonda

Houve 14 candidaturas para o prémio que este ano tinha como mote: criatividade. A exposição vencedora, da instituição norueguesa, escolheu juntar ciência e democracia, promover a discussão e o poder do voto. Apesar do sucesso que foi conseguido no país de origem, Jan Alfred Andersson, diretor do Centro de Ciência, admitiu ao Observador que nunca pensou que uma instituição tão pequena, quando comparada com outros membros concorrentes, pudesse ganhar este prémio tão importante.

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“É enorme!”, respondeu Jan Alfred Andersson quando o Observador lhe perguntou quão importante era ter recebido este prémio. “Nem tenho palavras para descrevê-lo.” O diretor do centro considera que com o prémio Ecsite para esta exposição e o prémio da Associação de Centros de Ciência e Tecnologia norte-americana (ASTC) que recebeu com outra exposição podem mostrar a nível nacional a importância que têm enquanto centro e museu de ciência.

Jan Alfred Andersson acha que o segredo do sucesso está exatamente no tema: “O tema em si mesmo é muito atual: liberdade de expressão, democracia, conflitos étnicos. Atingimos o centro de discussão da Europa moderna.” O diretor do Centro de Ciência não esconde o orgulho que tem na concretização dos objetivos que tinha para a exposição. “Primeiro mostrar que é possível combinar o melhor do mundo museológico com as ideias tecnológicas e visões pedagógicas de um centro de ciência. Depois pôr a ciência e tecnologia em contexto.”

O presidente do centro de ciência finlandês Heureka, Per-Edvin Persson, concorda que “os museus de tecnologia têm de se reinventar, que têm de integrar a perspetiva de museu com a de centro de ciência”.

Em 2014, o Centro de Ciência de Oslo teve de enfrentar um desafio: arranjar uma forma de assinalar os 100 anos do Museu de Ciência e Tecnologia Norueguês localizado na cidade, mas também os 200 anos da constituição norueguesa. O facto de o centro de ciência pertencer ao museu permitiu-lhes vencer alguns potenciais obstáculos. O museu tinha nas coleções os objetos que viriam a ser usados nesta exposição e o conhecimento de curadores e historiadores de ciência que lá trabalhavam.

"O tema em si mesmo é muito atual: liberdade de expressão, democracia, conflitos étnicos."
Jan Alfred Andersson, diretor do Centro de Ciência

À chegada cada visitante recebe um cubo de madeira com cinco centímetros de lado que lhes permitirá participar na parte mais interativa da exposição. No espaço principal têm 100 objetos tecnológicos expostos numa estante curva de 25 metros de largura por cinco de altura. Os objetos são de vários tamanhos e têm funções diversificadas, todas relacionadas com a democracia, desde uma peça que representa o caminho-de-ferro e o transporte de pessoas, à máquina de waffles.

“Mas a parte mais interessante e mais interativa é quando esse espaço se torna um centro de discussão, uma arena de debate”, afirmou Jan Alfred Andersson. Um de oito temas tecnológicos presentes ou futuros é discutido em cada uma dessas sessões, desde os drones, aos sequenciadores de ADN ou às impressoras 3D.

Este modelo de grande fórum, de uma exposição que tem uma grande relação com o público, em que as pessoas são convidadas a intervir, é defendido por Rosalia Vargas, presidente cessante do Ecsite. “Os cidadãos devem pronunciar-se sobre temas horizontais a toda a sociedade. E para se pronunciarem devem ter conhecimento mais profundo sobre estes temas que cruzam necessariamente ciência e tecnologia.”

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A estante está coberta com uma tela que tanto pode deixar ver os objetos como servir de tela de projeção. A sessão começa com um filme de dois minutos para introduzir o tema em debate. Depois de criada uma atmosfera dramática que pretende envolver os participantes no tema, o moderador do debate começa a fazer as perguntas (cinco no total). As pessoas, reunidas à volta da mesa de quatro metros de diâmetro, vão respondendo às perguntas colocando o cubo na resposta mais adequada: sim, não ou não sei. Cada cubo, um voto.

A primeira pergunta é mais pessoal. “Gostava de usar uma impressora 3D?”, exemplificou Jan Alfred Andersson. “Ao longo das cinco questões muda-se de uma perspetiva mais pessoal, de como nos sentimos, para uma perspetiva de sociedade e de como devemos lidar com isso.” E deu exemplos para isso, mas desta vez usando os drones: “O que acha da utilização dos drones pelos meios de comunicação social? E se for em situações de catástrofe? Qual a posição perante o uso de drones em situações de conflito armado?”

“Os cidadãos devem pronunciar-se sobre temas horizontais a toda a sociedade. E para se pronunciarem devem ter conhecimento mais profundo sobre estes temas que cruzam necessariamente ciência e tecnologia.”
Rosalia Vargas, presidente cessante Ecsite

Os votos de cada pessoa com o cubo de madeira são mostrados na tela sob a forma de gráficos e esse é o ponto de partida para a discussão com a colaboração de um mediador treinado para o efeito. “E geram-se conversas muito interessantes à volta da mesa”, contou o diretor do Centro de Ciência. “Alguns alunos disseram que era a primeira vez que realmente prestavam atenção ao que os outros estavam a dizer. Outras pessoas afirmaram que era a primeira vez que tinham tido conversas sobre estes tópicos com pessoas que lhes eram totalmente estranhas.”

A exposição que estava principalmente desenhada para um público escolar adolescente acabou por também ser aproveitada por crianças mais novas. “As crianças mais pequenas deram um novo uso a estes blocos, usaram-nos para fazer construções”, disse Jan Alfred Andersson. Acrescentando satisfeito que: “o mesmo bloco que dá às pessoas o poder para votar, que é a base da democracia, serviu para as crianças construírem casas como uma imagem da construção da democracia com os mesmos blocos [votos].”

O Observador esteve presente na conferência anual da Ecsite a convite da própria rede.

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