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Adversários internos hesitam em forçar uma candidatura alternativa ou deixar Montenegro a cozer lentamente
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Adversários internos hesitam em forçar uma candidatura alternativa ou deixar Montenegro a cozer lentamente

Adversários internos hesitam em forçar uma candidatura alternativa ou deixar Montenegro a cozer lentamente

Procura-se alternativa a Montenegro. Moedas pode ser a chave

Moedas está a ser muito pressionado para avançar. Pinto Luz esfriou. Paulo Rangel terá uma palavra a dizer. Moreira da Silva reúne argumentos. Alternativa é cozer lentamente Luís Montenegro e esperar.

Entregar as chaves a Luís Montenegro ou ensaiar uma alternativa séria. Deixar cozer lentamente ou fritar já e antes que se torne um caso mais sério. Apostar tudo numa estratégia conservadora ou arriscar. É este o dilema em que vivem muitos dos adversários internos do antigo líder parlamentar, mais do que provável candidato ao trono do PSD. Existe espaço, existe vontade, existe aparelho. Só não existe o protagonista. Com duas palavras e doze letras se escreve o nome do favorito Carlos Moedas. Mas falta um pormenor: convencer o próprio.

“Se for a jogo contra Montenegro, ganha. Não há qualquer dúvida sobre isso”, diz ao Observador um influente social-democrata e um dos muitos que tem tentado convencer o presidente da Câmara de Lisboa a avançar. “Há muitas pressões e movimentações nesse sentido. Tem uma gravitas própria, que teria total liberdade para montar a equipa que quisesse”, concorda outra figura de primeira linha do partido. Mesmo alguns dos putativos candidatos a líderes do PSD admitem que sairiam da corrida se Moedas avançasse. “Valores mais altos se levantam”, antecipa ao Observador uma das figuras apontadas à liderança do PSD.

Os exemplos de Sampaio e Ayuso

De resto, no Observador, Ângelo Pereira, líder da poderosa distrital do PSD/Lisboa, lançou Moedas sem ambiguidades: “O PSD precisa de ‘novos tempos’”. As declarações do vereador e dirigente social-democrata, que tem um peso importante dentro do partido, foram apenas a face pública de uma estratégia que começou a ganhar corpo logo na ressaca da noite eleitoral.

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Desde aí, têm sido muitas as figuras do partido a tentar convencer um reticente Moedas. Além da sua natural base de apoio, o autarca foi sondado por setores ligados ao passismo, convence uns tantos que orbitam em torno de Marcelo Rebelo de Sousa, tem ligações ao que resta do cavaquismo e a uma parte relevante do rioísmo que nunca cairá para Luís Montenegro.

Os argumentos dos que querem empurrar Moedas são muitos e para todos os gostos. O autarca tem tudo o que os outros não têm – palco mediático, vitórias eleitorais e um reconhecimento generalizado do partido – e tem ainda o precedente simpático de Jorge Sampaio, que era líder do PS quando decidiu ser candidato a Lisboa (um movimento arrojado, que surpreendeu o próprio partido) e que de lá saiu para a Presidência da República.

“Se for a jogo contra Montenegro, ganha. Não há qualquer dúvida sobre isso”, diz ao Observador um influente social-democrata e um dos muitos que tem tentado convencer o presidente da Câmara de Lisboa a avançar. Mesmo alguns dos putativos candidatos a líderes do PSD admitem que sairiam da corrida se Moedas avançasse. “Valores mais altos se levantam”, antecipa ao Observador uma das figuras apontadas à liderança do PSD.

Aqui ao lado, em Madrid, Isabel Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid e estrela da direita espanhola, tinha tudo para chegar à liderança do partido até à autodestruição do PP – ela que é uma das grandes referências de Moedas e até se juntou, em vídeo, à campanha autárquica do português.

O autarca está em reflexão e tem repetido a todos que o procuram que este tempo não é o dele. No partido, há quem lembre que era exatamente isso que o ex-comissário europeu repetia antes de deixar a Gulbenkian para ser candidato à Câmara de Lisboa. “Está a refletir. Ainda temos muito tempo”, insiste um dos apoiantes de Carlos Moedas. A menos que venha a público dizer taxativamente que não está interessado, a pressão vai continuar.

Moedas tem o precedente simpático de Jorge Sampaio, que era líder do PS quando decidiu ser candidato a Lisboa

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Sem Moedas, adversários de Montenegro vão jogar na roleta

Qualquer candidatura alternativa que não a de Carlos Moedas – assumida como difícil e improvável nesta altura do campeonato – implica um sentido tático muito mais apurado. Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz seriam hipóteses, mas não se podem dar ao luxo de perder outra vez. Jorge Moreira da Silva teria espaço, mas tem de cumprir as expectativas que alimentou. Ribau Esteves está com muita vontade, mas falta-lhe dimensão nacional para fazer mossa. Há outros nomes – o de Miguel Poiares Maduro também circula, por exemplo –, mas sem condições reais para travar Montenegro.

Com condições e circunstâncias diferentes, cada candidato a candidato vai pensando se valerá a pena ir a votos agora. O cálculo é complexo e tem uma elevada dose de risco. Como existe a convicção de que o próximo líder do PSD se vai estampar já depois das europeias (maio de 2024), na cabeça dos adversários internos de Montenegro pode não ser desprovido de senso deixar que o poder caia nas mãos do antigo líder parlamentar e desgastá-lo durante dois anos para colher mais à frente. Seria a estratégia da cozedura lenta.

“Ir a votos sozinho ou com um candidato de nicho é o pior que pode acontecer a Luís Montenegro. Ficará sempre com o anátema de líder deslegitimado. Mesmo as pessoas que podem estar interessadas em encontrar uma alternativa estão a fazer esse cálculo”, concede ao Observador um barão social-democrata. “Estaríamos a entregá-lo à morte lenta.”

Mas há um risco óbvio que ninguém, nem os mais calculistas, ignora: se Luís Montenegro estiver à altura do desafio, se superar a barreira das europeias – que podem servir de cartão amarelo ao PS e relançar o PSD –, será muito mais difícil derrotá-lo no futuro. “É uma roleta”, assume um dos putativos candidatos à liderança, ciente do risco. Quem não comprar agora o bilhete para entrar arrisca-se a ficar de fora do carrossel durante largos anos. No limite, de forma irremediável.

Miguel Pinto Luz está a fazer fade out. Candidatura cada vez menos provável

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Pinto Luz (quase) fora. Rangel desafiado. Jorge Moreira da Silva reúne argumentos

O tempo, para já, está a ser usado para medir a temperatura da água. Miguel Pinto Luz, que chegou a alimentar a hipótese de entrar nesta corrida, moderou as expectativas. A entrevista de Carlos Carreiras (a lançar Marques Mendes), as declarações de Ângelo Pereira (a apontar Moedas), o facto de ter ido ao Conselho Nacional defender um congresso de reflexão e não eleições diretas o quanto antes, a pressão de alguns dos seus apoiantes mais próximos para que deixe o caminho desimpedido para Montenegro, tudo isto são sinais de que o vice-presidente de Cascais está a fazer fade out.

Descartada está a hipótese de fazer qualquer aliança formal com Luís Montenegro, como aconteceu nas últimas eleições diretas em que o número dois de Carlos Carreiras foi peça instrumental no arranque da candidatura de Paulo Rangel. Mesmo assim, é natural que grande parte da base de apoio que foi construindo ao longo dos tempos (Lisboa, Setúbal, Coimbra, Porto, Madeira, Castelo Branco) e que cresceu também à custa do que eram os apoiantes de Luís Montenegro, regresse com naturalidade à casa mãe e volte a apoiar a candidatura do antigo líder parlamentar.

Paulo Rangel está num estágio diferente. O eurodeputado continua a ser pressionado para avançar e não fechou por completo a porta. Aos que o procuram, vai mantendo tudo em aberto. Saiu ferido das últimas diretas, a base de apoio que tinha perdeu dimensão, há o natural desgaste de ter sido derrotado há cerca de três meses, mas teria, mesmo assim, condições para se bater de igual para igual contra Luís Montenegro.

Mais a mais, depois de ter sentido na pele que o apoio das estruturas (e ele tinha o apoio da larga maioria das estruturas distritais e concelhias) não tem um peso absoluto na hora de votar. O resultado seria imprevisível e mais renhido do que se julga, acreditam os mais próximos de Rangel. Mas perder pela terceira vez seria um preço demasiado alto a pagar.

Paulo Rangel ainda não fechou qualquer porta e está a receber incentivos para avançar

José Fernandes

Ao contrário de Miguel Pinto Luz e Paulo Rangel, Jorge Moreira da Silva seria um neófito nestas andanças, o que lhe daria margem política para ir a votos, perder mas ter um resultado interessante, e ficar como quadro para o futuro. Nunca apoiou ativamente qualquer candidato à liderança do PSD, logo não tem anticorpos junto de outras fações do partido. Além disso, alertou há muito para os riscos estratégicos que o partido estava a assumir, tem perfil executivo, projeção internacional e percurso político e académico.

Falta-lhe tração no partido, mas os que estão desencantados com a hipóteses de ter Montenegro como líder até admitem olhar para ele como último recurso. Com um pormenor: depois de tanto ameaçar ir a votos, se recuar mais uma vez, ficará “desacreditado”, comenta um alto dirigente e potencial aliado com o Observador.

E ainda existe Ribau Esteves. O presidente da Câmara de Aveiro ainda não esclareceu se vai mesmo a votos – chegou a ameaçar fazê-lo no passado e recuou –, mas tem potencial para baralhar algumas contas na região de Aveiro e no Norte do país. Dificilmente terá condições políticas para impedir que a caminhada de Luís Montenegro seja um passeio no parque. Mas pode condicionar a campanha interna e tornar tudo mais caótico.

Jorge Moreira da Silva fora da corrida ao PSD

Jorge Moreira da Silva criou expectativa. Se faltar à chamada, espaço fica mais curto

REINALDO RODRIGUES

A fragilidade (teórica) de Montenegro

Apesar do reconhecido favoritismo, Luís Montenegro está longe de ser um candidato unânime no PSD. De resto, à exceção de Aveiro, de onde é natural e onde goza do apoio de Emídio Sousa, futuro líder da estrutura, e com a bênção de Salvador Malheiro (bênção que tem procurado negar nas últimas semanas apesar do empurrão inequívoco dado na ressaca eleitoral), o antigo líder parlamentar tem pontos frágeis noutras estruturas.

Em Lisboa, o sinal dado por Ângelo Pereira ao lançar Carlos Moedas não deixa grande margem para segundas e terceiras leituras: Montenegro é um nome a considerar (Ângelo Pereira apoiou-o na segunda volta, em 2020), mas não é um sonho de candidato, nem enche as medidas. Não que exista qualquer objeção de princípio; só não é a figura de que o partido precisa neste momento, sugeriu o alto dirigente social-democrata.

No Porto, Alberto Machado continua à espera que a situação fique mais clara antes de escolher um lado. O líder da distrital esteve ao lado de Rui Rio em vários momentos (até romper) e convictamente com Paulo Rangel nas últimas diretas. Foi um dos grandes derrotados das últimas diretas – apesar do apoio maioritário das estruturas, Rangel foi derrotado sem apelo nem agravo no distrito – e está numa posição frágil para se envolver numa disputa fratricida. Ainda assim, o facto de existir gente do grupo de Montenegro a querer tomar conta da distrital do Porto – Paulo Rios de Oliveira está a ponderar entrar nesse jogo – pode atirar Machado para os braços de outro candidato.

Em Braga, as lógicas regionais também podem complicar as aspirações do antigo líder parlamentar. Paulo Cunha, líder da distrital e grande apoiante de Montenegro em 2020, está entre os dinamizadores da candidatura, tal como Hugo Soares e João Granja. Mas há dois grupos que (ainda) escapam à influência de Montenegro: o de Carlos Eduardo Reis (rival de Paulo Cunha) e André Coelho Lima (Barcelos e Guimarães) e o de José Manuel Fernandes (Vila Verde). Se estes três se juntarem em torno de uma candidatura alternativa, a distrital de Braga pode fugir a Montenegro.

E mesmo o distrito de Aveiro pode virar um caso bicudo: se Ribau Esteves entrar numa corrida a três (dois contra o favorito Montenegro), a base de apoio do antigo líder parlamentar sofrerá natural desgaste. O candidato mais forte (Rangel, por exemplo) poderia aproveitar a confusão para ganhar vantagem noutros pontos do país.

“Ir a votos sozinho ou com um candidato de nicho é o pior que pode acontecer a Luís Montenegro. Ficará sempre com o anátema de líder deslegitimado. Mesmo as pessoas que podem estar interessadas em encontrar uma alternativa estão a fazer esse cálculo”, concede ao Observador um barão social-democrata. “Estaríamos a entregá-lo à morte lenta.”

Da Madeira também vieram sinais de rejeição clara ao montenegrismo. “O PSD não teria vergonha na cara se fosse eleger as pessoas que nos últimos quatro anos perturbaram o partido”, disse Alberto João Jardim ao “Novo Semanário”. Semanas antes, no semanário “Sol”, Miguel Albuquerque foi desafiado a comentar as várias proto-candidaturas (incluindo a de Luís Montenegro) e deixou tudo menos palavras simpáticas.

“Há vários centros de poder do PSD em Portugal, e esses protagonistas também devem ter um papel. Estou a falar de Braga, com Ricardo Rio, Lisboa, com Carlos Moedas, Cascais, com Carlos Carreiras. Acho que estas pessoas também têm de intervir num debate interno. Os próprios presidentes de Governo da Madeira e dos Açores devem ser ouvidos. Estou farto de políticos de capoeira que nunca ganham eleições. Aliás, há alguns que passam a vida a falar dentro do nosso partido que nem o condomínio ganham. Temos de ver quem tem experiência, quem ganhou eleições, quem sabe lidar com os eleitores e temos de falar com essas pessoas”, sublinhou o presidente do Governo Regional da Madeira.

Com uma atenuante: Pedro Calado, secretário-geral do PSD/Madeira e presidente da Câmara do Funchal, liderou a lista patrocinada por Montenegro ao Conselho Nacional e deverá apoiar o antigo líder parlamentar nesta corrida.

Só nestas cinco estruturas – as maiores do partido – estiveram 60% dos eleitores das últimas diretas. Montenegro está longe de as ter a blindadas. Mas só correrá riscos sérios se houver alguém disposto a entrar na corrida. Os vazios ocupam–se: sem alternativas sólidas a Montenegro, as estruturas adaptar-se-ão ao novo dono e senhor do PSD.

Luís Montenegro, antigo líder parlamentar, discursa durante o segundo dia do 39.º Congresso Nacional do Partido Social Democrata, no Europarque, em Santa Maria da Feira, 18 de dezembro de 2021. ESTELA SILVA/LUSA

Em teoria, Luís Montenegro parte em vantagem para a corrida à liderança do PSD. Mas tem pontos fracos

ESTELA SILVA/LUSA

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