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Sessão solene comemorativa do 48º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República. Contou com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, do primeiro-ministro, António Costa, do Governo, dos deputados e de vários convidados. Lisboa, 25 de Abril de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR
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Nome de Santos Silva começou a ser testado em sondagens depois de ter começado embates públicos em série com o Chega

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Nome de Santos Silva começou a ser testado em sondagens depois de ter começado embates públicos em série com o Chega

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

PS evita precipitações nas presidenciais e calcula riscos de Santos Silva

Socialistas avisam que falta muito tempo para as presidenciais -- tempo em que o ciclo político pode degradar-se e bipolarizar-se. Costa "esmagaria", mas há quem fale em Ana Catarina Mendes e Seguro.

Um candidato a candidato quase “perfeito”, não fossem as sondagens que não descolam — e os ventos políticos que podem trocar as voltas ao PS. Faltam quatro anos para as eleições presidenciais, mas entre os socialistas já se fazem contas às hipóteses de voltar a Belém depois de um jejum de 20 anos (que podem passar a 30 se a aposta de 2026 não for certeira), assim como aos pontos fracos que podem prejudicar a hipótese Augusto Santos Silva — incluindo a perspetiva de um governo de direita (com Chega) no horizonte.

No partido, segue-se com atenção os primeiros sinais e reações ao nome do Presidente da Assembleia da República, o protocandidato — que numa sondagem recente aparecia atrás de André Ventura — mais falado nesta altura. Se, em teoria, muitos apontam a Santos Silva o perfil ideal para uma corrida a Belém, na prática a popularidade e capacidade de conseguir uma margem ampla de apoio social preocupam.

Nessas contas entrarão outras variáveis: à cabeça, o ciclo político, que será nessa altura bem diferente do que se perspetiva agora. Quatro anos é muito tempo, recorda-se no PS. Tempo que incluirá umas eleições europeias em que a performance de uma longa temporada de governos socialistas (na altura, se nada mudar, serão quase já dez anos) será avaliada pelo eleitorado, e uma campanha para eleições legislativas que, se tudo correr dentro do calendário normal, já estará então em plena marcha. E, por fim, tempo para surgir a ameaça de um governo de direita que inclua o Chega — o que, no entender dos socialistas, ajudará a definir o perfil do candidato de que a esquerda precisará para fazer de contrapeso em Belém.

Enquanto esse tempo não chega, fazem-se listas de prós e contras e lançam-se nomes, num espetro amplo que vai de Ana Catarina Mendes a António José Seguro, passando pelo inevitável Carlos César. Então e António Costa? O partido ouviu o líder dizer que não está interessado no cargo e interiorizou a mensagem — mas não perde uma oportunidade para garantir que, se Costa mudasse de ideias e concorresse a Belém, teria a esquerda aos seus pés. Just in case.

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Perfeito no papel, sondagens “poucochinhas”. E o fator empatia

O frenesim em redor do nome de Santos Silva começou com os constantes embates entre o Presidente da Assembleia da República e André Ventura no Parlamento, mas foi alimentado pelo próprio, com as recusas em autoexcluir-se de uma eventual corrida a Belém. Em outubro até deu uma entrevista à CNN com apontamentos pessoais, um lado que o discreto Santos Silva sempre tem preservado e que nesse momento entendeu mostrar.

“Houve contextos em que teve maior visibilidade no início do mandato, mas está a haver um descontrolo nesse foco mediático“, assume um dirigente ao Observador. Não que no PS alguém duvide de que Santos Silva tem, no papel e não só, todas as condições para vir a ser candidato: entre os políticos que estão no ativo, a sua experiência (e transversalidade) governativa só rivaliza com a do próprio António Costa, somando-se a isto o novo cargo senatorial na Assembleia da República. Tem estatuto, percurso e conta com o respeito de grande parte do partido, e disso poucos duvidam: “Seria uma candidatura interessante”. “Preenche todos os requisitos para ser um candidato, em teoria é perfeito”, comentam vários dirigentes.

Santos Silva recusou excluir-se de uma eventual corrida a Belém. "Não rejeito nada em absoluto, porque se o fizesse não tinha procurado servir o meu país onde era necessário como mais útil"

O que não significa que o PS não esteja atento aos riscos dessa eventual candidatura. Desde que a hipótese começou a surgir, surgiram também as sondagens — e nestas Santos Silva não parece conseguir descolar. Na primeira sondagem da Intercampus, em julho, ficava atrás de Gouveia e Melo, Paulo Portas, Luís Marques Mendes e empatava com Mariana Mortágua, convencendo 7,8% dos inquiridos.

Mas na mesma sondagem em novembro, que Gouveia e Melo continuava a liderar mas seguido por novos nomes — no caso, os de Pedro Passos Coelho e António Costa –, o atual Presidente da Assembleia da República perdia gás, ficando-se pelos 5,8%, atrás de André Ventura. No estudo da Pitagórica, em julho, era colocado como o sexto candidato com maior “potencial” para ganhar as eleições — e no do ISCTE, em setembro, ficava atrás dos nomes da mesma área política (António Costa e a ex-candidata Ana Gomes).

No PS, vários dirigentes recordam ao Observador que as sondagens são, neste momento, um retrato ainda muito “desfocado” da realidade, uma vez que quem responde aos inquéritos ainda nem sequer está com essas eleições em mente. Mesmo assim, vão-se retirando algumas conclusões — e preocupações: “As sondagens que dão poucochinho e a falta de empatia com os portugueses”, resume um socialista.

O regresso do papão Chega

A questão da base de apoio não será, no entanto, só uma questão de empatia. É que, como recorda outra fonte ao Observador, “ainda estamos no início deste ciclo político” — daqui a quatro anos estará a arrancar outro. Se tudo correr como é esperado e o Governo de maioria absoluta de Costa chegar ao fim, as presidenciais acontecerão meio ano antes das legislativas de 2026 — ou seja, na prática, já em pleno clima de pré-campanha.

E é desse clima que poderá depender também a eficácia da mensagem dos candidatos presidenciais. Por outras palavras: no PS, há quem entenda que, se o clima político estiver muito polarizado — o que pode ser natural, no final de uma maioria absoluta, com a direita a querer agarrar o poder e a esquerda a agitar o papão do Chega — o candidato que representar o PS poderá contar menos com o centro e mais com a esquerda.

“Montenegro fará o que for preciso para garantir que chega ao poder. As presidenciais vão ter essa tónica de blocos”, antevê um socialista. “O diapasão para a política, nessa altura, vai ser a geringonça à direita. As pessoas vão sentir-se ameaçadas por um Governo PSD/Chega”, antecipa, recorrendo a um argumentário semelhante, de resto, ao que garantiu ao PS a sua maioria absoluta.

O presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro, intervém durante a posse da Comissão Política Distrital do Porto, em Penafiel, 19 de novembro de 2022. MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA

Socialistas acreditam que, se essa hora chegar, Montenegro se aliará com facilidade ao Chega para chegar ao poder

MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA

Nesse cenário, ter uma base social de apoio grande e que vá buscar eleitorado à esquerda será “fundamental”, com o PS a frisar que, com um possível governo do PSD que incluísse Ventura no horizonte, mais premente será a necessidade de conseguir eleger um candidato de esquerda para Belém, como forma de “contrapeso”. O próprio Santos Silva dizia há meses, em entrevista à CNN: “Acho que é responsabilidade de todos, incluindo de mim próprio, que a grande área política do centro-esquerda e dos milhões de portugueses que nela se reconhecem, esteja unida na próxima eleição presidencial. Foi, infelizmente, uma coisa que não sucedeu nem em 2006, nem em 2011, nem em 2016 e mesmo em 2021″.

Só que Santos Silva, mesmo tendo em conta as guerras que tem comprado com o Chega, “não é o nome mais óbvio à esquerda”, admite um socialista, lembrando até os artigos de opinião que o senador socialista chegou a escrever no Público para se posicionar ao centro, por oposição aos artigos mais à esquerda assinados por Pedro Nuno Santos, como antecipação do congresso do PS de 2018, na Batalha.

Outra fonte frisa a importância de ter em conta a evolução do ciclo político antes de o partido se fechar em redor de um ou outro nome: “A degradação do governo está a ser tão rápida que não sabemos em que estado o PS estará nas europeias e o que isso significará para ciclo político…”.

Os avisos de César. “Costuma usar palavras sábias”

A necessidade de pôr gelo nos pulsos e não afunilar as hipóteses do PS (“não convém começarmos a lançar nomes”) foi, de resto, colocada primeiro por um nome de peso — o próprio presidente do partido, também apontado ao cargo. Estávamos em setembro, no arranque do primeiro ano parlamentar completo de Santos Silva enquanto Presidente da Assembleia da República, quando Carlos César decidiu usar a sua intervenção na Academia do PS para disparar um aviso claro ao próprio partido, lembrando o calendário eleitoral “exigente” que o PS tem pela frente.

"Temos de ser os melhores, não basta sermos os que mais atacam a direita, a extrema direita ou outra corrente política qualquer”, avisou César em setembro

Foi, de resto, especificamente sobre as presidenciais que lançou um “aviso”: “Não é colocando o carro à frente dos bois que ultrapassamos com êxito essas eleições”. E depois, se dúvidas houvesse de que o alerta tinha destinatário, pareceram dissipar-se quando acrescentou um segundo aviso: “Temos de ser os melhores, não basta sermos os que mais atacam a direita, a extrema direita ou outra corrente política qualquer”. A picardia parece estar lançada.

Os alertas — de um dos nomes mais falados como opção também para uma candidatura presidencial — foram claros e têm eco, nesta altura, na direção do PS. Entre os dirigentes socialistas há quem aconselhe calma — “veremos” as hipóteses de Santos Silva — ou comente entre risos as palavras de César: “O presidente do partido costuma usar palavras sábias na análise política…”.

O próprio César tem usado o seu papel de senador, mas em sentido diferente: na academia do PS, fez avisos sobre democracia e governação; entretanto, chegou a contrariar publicamente o Governo sobre a necessidade de taxar lucros extraordinários (decisão que Bruxelas acabaria por impor); e no aniversário da governação de Costa deixou avisos claros ao próprio Executivo, “exigindo” a Costa e companhia “um mais apurado sentido de orientação e, simultaneamente, um maior entusiasmo e o maior rigor nas condutas e na concretização das tarefas que nos cabem na ação governativa”. Resta saber se quererá voar dos Açores para Belém e aplicar a partir de lá o seu sistema de contrapesos.

Sete anos de PS no poder. O copo meio cheio de Costa e os avisos de César (até para as “condutas”)

PS acredita que Costa não quer — mas seria “esmagador”

Depois, há sempre a hipótese António Costa — embora o próprio tenha prometido autoexcluir-se dessas contas logo em 2019, quando garantiu à Lusa querer matar um possível “tabu” e não querer ser candidato “nem nas próximas presidenciais, nem outras. Cada um tem vocação para o que tem e a minha vocação não é essa”.

Mesmo assim, perante as hipóteses fracas que as sondagens apontam, para já, a Santos Silva — com Costa a aparecer mais bem colocado nessas corridas hipotéticas — o comentador e antigo líder do PSD Luís Marques Mendes dizia na semana passada acreditar que entre em 2024 e 2025 Costa acabará por ser pressionado a concorrer, uma vez que é “o candidato mais forte da esquerda”. No PS, vários dirigentes garantem que o partido ouviu com atenção o líder e interiorizou a nega de Costa — embora lembrem sempre que, em caso de necessidade, seria um nome forte, mesmo depois de tantos anos como primeiro-ministro.

"Não tenho a mais pequena dúvida de que se Costa quisesse ser candidato teria um apoio esmagador, do PS e de amplas franjas da esquerda", comenta um dirigente, embora no PS não se alimente este cenário

“Estamos bem servidos de primeiro-ministro porque dá para tudo. Ele adapta-se ou a situação adapta-se a ele. As circunstâncias trabalham bem com ele“, graceja um dirigente, elogiando o facto de Costa ainda poder ser considerado, “ao fim de sete anos” de governação, “um ativo” forte para o partido. “Não tenho a mais pequena dúvida de que se quisesse ser candidato teria um apoio esmagador, do PS e de amplas franjas da esquerda”, completa outro dirigente, embora convicto de que as probabilidades de esse cenário se concretizar serão diminutas.

Enquanto no PS se aconselha cautela e paciência, ainda há quem não resista no partido a começar a pensar em nomes. Em setores mais associados a uns e a outros, testam-se hipóteses. Há quem fale em Ana Catarina Mendes como uma “solução disruptiva”, “pela idade (49 anos) e por ser mulher”, para “dar um abanão na forma como se olha para a presidência e para o exercício do cargo”: “Não faz parte do armário com naftalina dos habituais candidatos”, diz um defensor desta solução. “Primeiro estranha-se, depois…”.

Seguro regressa com tiro ao Governo: “Nos últimos meses o princípio da separação de poderes foi beliscado”

Noutros setores, fala-se de Francisco Assis ou até do antigo secretário-geral António José Seguro, que esta semana reapareceu na vida pública e logo com farpas duras ao atual Governo de António Costa, o homem que o destronou na liderança do PS. Para uns, hipóteses que são apenas cortinas de fumo ou até “armas de arremesso” contra o atual primeiro-ministro. Para outros, alternativas a considerar numa altura em que o PS tem quatro anos de maioria, mas também de incerteza, pela frente.

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