“Este vai ser mais um dos eventos da nossa família que é para partilhar com toda a gente que queira.” Quem o diz é a duquesa de Bragança, que em 1995 se casou com Dom Duarte Pio perante um Mosteiro dos Jerónimos com centenas de convidados e uma multidão que se juntou na rua para a ver. Agora, 28 anos depois, prepara o casamento da única filha, Maria Francisca, duquesa de Coimbra. A noiva e a mãe abriram as portas da casa da família, no Chiado, em Lisboa, e sentaram-se à conversa com o Observador. Falaram dos preparativos desta celebração ao longo de meses, do encontro de gerações e da relação entre mãe e filha. Revelaram pormenores, surpreenderam-se uma à outra e chegaram à conclusão que havia ainda muito para fazer e decidir.
A infanta Maria Francisca ocupa o lugar do meio entre os três filhos dos duques de Bragança, tem 26 anos e estudou Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica. O noivo, Duarte de Sousa Araújo Martins, tem 31 anos é licenciado em Direito também na Católica e mestre em Direito (Bancário e Financeiro) pela Queen Mary University, em Londres. Atualmente é advogado na Uría Menéndez-Proença de Carvalho, especializado em mercado de capitais e fusões e aquisições.
O pedido de casamento aconteceu em Timor, mas rapidamente a notícia chegou a Portugal. A 15 de dezembro de 2022 os duques de Bragança anunciaram que a filha estava noiva. O pedido de casamento foi feito com uma joia criada especialmente para a ocasião e cheia de simbolismo. Com a cumplicidade dos pais da noiva, a pedra central do anel foi retirada de um par de brincos que pertenceram à mãe de Dom Duarte, também de seu nome Francisca. O noivo substituiu as pedras dos brincos por duas esmeraldas dando-lhes uma nova vida e estes serão usados por Maria Francisca na festa que irá suceder ao casamento. “Tanto no anel, como nos brincos, tenho a minha avó Francisca e o Duarte representados.” A boda, marcada para 7 de outubro, data escolhida pelo noivo e pela mãe da noiva, será na Basílica de Mafra e está planeada uma grande festa popular no exterior do monumento.
Duques de Bragança anunciam o noivado da filha, a Infanta Dona Maria Francisca
Como foi o pedido de casamento?
Infanta Maria Francisca (MF): O pedido de casamento foi muito original. Tive de ir para o outro lado do mundo para ser pedida em casamento e subir uma montanha gigantesca. No fim, valeu a pena. Foi em Timor, no Monte Ramelau. Eu fui direta de Lisboa para Dili, depois alugámos um carro e fizemos uma viagem de mais ou menos cinco horas para Ramelau, descansámos num género de uma paróquia e às 3h00 da manhã começámos a subir. Eu sou igual à minha mãe, a partir das dez da noite fico cheia de sono, e, não sei porquê, estava com imensa adrenalina. Também tinha acabado de chegar a Timor, que eu adoro. Chegámos às cinco e tal da manhã, mesmo na hora precisa, o sol estava a nascer, via-se a ilha toda. De um lado havia trovoada, do outro estava o sol a nascer. Foi espetacular.
Havia indícios de que o pedido ia acontecer?
MF: Nós não queríamos ficar noivos muito tempo, por isso achei que ele não ia pedir logo. Sabia que queríamos casar este ano, mas não sabia quando iria acontecer o pedido. Os meus pais tiveram três meses de noivado. E eu pensei, “era mesmo isto que eu queria, três meses”, mas temos um ano.
Como foi contar aos pais esta novidade?
MF: Os pais sabiam de tudo. O Duarte já tinha ido falar, primeiro com a minha mãe, depois com o meu pai e, pelo que o Duarte me contou, foram espetaculares, deram imensa ajuda e estavam muito contentes.
Depois do pedido de noivado, como se começou a planear o casamento?
Isabel Herédia (IH): O primeiro passo foi avisar algumas pessoas, e algumas dessas pessoas já não foram muito a tempo, porque têm agendas mais complicadas. Fizemos uma espécie de save the date para o máximo de pessoas poderem vir. Primeiro tínhamos pensado fazer [o casamento] nos Jerónimos, entretanto apareceu a ideia de Mafra e acho que tem tudo para ser em Mafra. Até é mais feminino. Não desfazendo dos Jerónimos. Se calhar um dia quando o Afonso casar, os Jerónimos são um espaço mais institucional. E foi lá que eu casei, por isso é que pensei logo, mas surgiu esta oportunidade em Mafra e calhou tudo bem.
Como foi a primeira vez que foi à Basílica de Mafra, já sabendo que era ali que ia ser o casamento?
MF: Eu fiquei sem palavras. [O espaço] é enorme, é muito impactante, é uma beleza. Quando cheguei e entrei estava com a minha mãe e duas das minhas madrinhas, que estavam cá de férias e eu disse-lhes “têm de vir comigo porque isto é um bocado arrebatador”. Cheguei e passou-me tudo, porque é tão bonito. Eu só imaginava aquela igreja cheia, toda a gente a querer o nosso bem e o bem da minha futura família com o Duarte. É um ambiente que acalma.
A data do casamento dos pais teve um grande simbolismo, foi a 13 de maio. Agora o 7 de outubro é muito próximo do 5 de outubro, data da fundação do reino de Portugal. Em que pensaram quando escolheram esta data?
IH: A primeira data que tínhamos pensado para os Jerónimos era 30 de setembro, porque é o Dia de S. Jerónimo. Eu gosto muito de ver quais são os santos [associados às datas], para mim é importante. Mas uma amiga nossa também vai casar a filha nessa data e já nos tinha convidado. Quando foi para 7 de outubro, que é o dia de Nossa Senhora do Rosário, e calhou ser também Dia de Nossa Senhora do Ramelau, foi engraçado.
Uma festa para partilhar
Quando D. Duarte e Dona Isabel se casaram, a 13 de maio de 1995, houve apenas três meses para preparar a boda e a celebração contou com cerca de três mil convidados. Desta vez, no casamento da filha, há diferenças, mas também muitas semelhanças e Dona Isabel diz mesmo que será “um bocadinho cópia” do seu. “Este é o seguimento. Queremos fazer como nós fizemos, simples mas com dignidade, que seja uma festa alegre e vivida. Nesse sentido, estamos em sintonia com o que aconteceu com o meu casamento.”
Dona Isabel lembrou que, no dia do seu casamento, quando chegou ao Mosteiro dos Jerónimos e saiu do carro, ao ver tanta gente na rua achou que as pessoas que estavam à espera mereciam ser as primeiras a ver a noiva, por isso levantou o véu e acenou a quem se deslocou a Belém para fazer parte da celebração. Agora confessou que gostava que a filha fizesse o mesmo. “Fica uma tradição da nossa família.”
A festa não se vai limitar ao interior do templo, uma vez que todas as pessoas estão convidadas a participar numa festa popular que se prepara no terreiro em frente à basílica com dois ecrãs gigantes que não deixarão, quem estiver na rua, perder nada da cerimónia.
O que já podem revelar sobre a cerimónia?
IH: Quem vai celebrar é o cardeal D. Manuel Clemente. Vão estar outros padres e bispos amigos nossos. Vamos ter os seis órgãos a tocar, um concerto de carrilhões, um coro e um soprano ótimo, que é filha de um primo meu. No princípio, quando escolhemos as músicas, de repente, dava 46 minutos só de músicas e tivemos de cortar. As leituras foram os noivos que escolheram. Temos de conjugar isso tudo e não fazer uma cerimónia muito extensa, também para as pessoas que estão lá fora não terem de esperar tanto tempo. Estamos ainda a tratar da parte de protocolo, que é a parte mais difícil. Temos pessoas bastante competentes e que sabem o que estão a fazer, mas dá muito trabalho. Aprende-se imenso, eu estou sempre a aprender.
Há um papel especial para os irmãos nesta cerimónia?
MF: O Afonso vai ser padrinho do Duarte. Eles dão-se muito bem e gostam muito um do outro. O Dinis estou a ver se vai ler ou não, mas ainda não falei com ele.
É a senhora Dona Isabel que está ao comando das operações?
IH: Somos várias pessoas. Em primeiro lugar não faço nada sem perguntar ao meu marido. Primeiro falámos os dois e também com a Francisca e com o Duarte, porque eles é que vão casar.
MF: Mas nós pomos tudo nas mãos dos meus pais.
IH: Há coisas que nos ultrapassam e têm de ser pessoas que percebem de logística, de segurança… Esta equipa toda e também amigos que trabalharam connosco no nosso casamento e têm experiência, tem sido uma equipa divertida, bastante profissional e com imensa vontade que tudo corra bem. No fundo esta festa, como disse no outro dia à Francisca, este casamento não é nosso, é para todos, é para Portugal. Quando eles eram pequeninos perguntavam-me “como é que estão os nossos meninos?”. A nossa família é nossa, mas é de todos também um bocadinho. E estamos a fazer tudo para que corra bem e para que as pessoas gostem e que possam estar connosco neste momento tão importante.
Enquanto fala dá a ideia de que se trata, realmente, de uma festa para quem quiser aparecer.
IH: O meu marido, eu e os nossos filhos, de certa maneira sempre fomos assim. Tudo o que nós fizemos foi sempre para promover Portugal, para promover os portugueses. Eu tenho imenso orgulho em ser portuguesa e acho que nós temos qualidades extraordinárias e nestas ocasiões também se vê um bocadinho do que somos. Os estrangeiros ficam deslumbrados. Este vai ser mais um dos eventos da nossa família que é para partilhar com toda a gente que queira.
A nova vida dos noivos
Há uma equipa nuclear de cerca de 20 pessoas e uma mais alargada de quase 40 a trabalhar na preparação deste casamento. Inicialmente foi avançado o número de 1200 convidados como referência, mas Dona Isabel garante que serão menos e acrescenta que de fora deverão vir entre 250 a 300 pessoas. “Infelizmente houve muitas pessoas que gostávamos de ter convidado e não pudemos porque não há capacidade para mais.”
A poucas semanas do casamento algumas decisões ainda estão em aberto. Por exemplo, ainda não está decidido se Dona Maria Francisca se vai preparar na casa da família em Sintra, para que as pessoas da zona que a viram crescer possam ver a noiva sair para o seu casamento ou se vai terminar de se arranjar na Câmara Municipal de Mafra. Decidido está que a noiva irá sair deste edifício municipal num carro de cavalos para percorrer o percurso de cerca de 800 metros que a levará à igreja.
Quando perceberam que o casamento ia acontecer, que conselhos é que a mãe deu à filha?
MF: Um dos grandes conselhos foi que toda a gente vai ter uma opinião, portanto para me limitar a ouvir duas pessoas e a minha própria opinião e ficar por aí, senão perco-me. Foi o que eu fiz e, realmente, tenho tido um noivado muito calmo. Eu ouço a minha mãe em tudo, o que é ótimo, porque normalmente, a minha mãe tem razão. Confio e sei que a minha mãe quer o melhor para mim. Mesmo em termos de vestido, sei que fiz o que queria, mas que a minha gostou porque era muito eu. E, se não fosse assim, diria. Tenho tido a minha mãe muito perto e tem sido uma ajuda enorme e muito boa.
É uma noiva fácil?
IH: Há noivas mais interventivas. O que eu quero é que ela se sinta bem, feliz e como ela quer estar. Eu sei que ela tem bom gosto e não tenho grandes preocupações. Mas a Francisca diz “a mãe decida” e eu acho que há coisas que tem de ser ela a decidir. Quando não tenho resposta assumo o sim e ando para a frente.
No dia do casamento, o que é que vai levar as pessoas próximas de si a pensar “isto é mesmo a cara da Maria Francisca”?
MF: Apesar do protocolo, apesar de se calhar parecer um ambiente pesado, vai ser muito descontraído. É bom que as pessoas descontraiam e se sintam à vontade. É o que eu quero. Como noiva é ótimo saber que está tudo a querer o meu bem e a rezar por mim e pelo Duarte.
IH: A Francisca surpreende sempre. No meio do protocolo, ela arranja sempre maneira de descontrair o ambiente.
O que é que vai mudar na sua vida daqui para a frente?
MF: Soubemos há pouco tempo que o Duarte vai para fora trabalhar. Agora vai ser a mudança de tudo e em janeiro vamos para Londres. O Duarte vai com o escritório e eu até lá tenho que arranjar trabalho. Nós adoramos Londres, mas eu não consigo estar parada muito tempo. Gosto de comunicação e tenho muito interesse por arte, mas não tenho formação e Londres tem imensos cursos e mestrados ligados à arte. Agora estou dividida entre ir estudar ou trabalhar.
Quanto tempo vão ficar em Londres?
MF: Pelo menos um ano.
Onde vai ser a lua de mel?
MF: Decidimos tirar uma semana depois do casamento para descansar. Escolhemos Marrocos e agora, infelizmente, houve um terramoto.
IH: Quando vocês forem, já as coisas podem estar melhor e acho muito bonito vocês apoiarem. Calhou, já tinham escolhido.
MF: E vamos manter Marrocos. Vamos uma semana e estaremos ocupados com a mudança para Londres. Se fizermos mesmo uma lua de mel grande, vai ser mais para a frente. Gostávamos de fazer o Médio Oriente e o Mar Cáspio. Somos os dois muito ativos e curiosos. Queremos ir a sítios que achamos que no futuro vai ser mais complicado ir.
É uma grande mudança para a mãe também.
IH: Pois é, mas eu estou habituada porque há sempre algum [filho] que entra e outro que sai. O Afonso esteve um tempo em Londres, depois voltou e a Francisca foi para Roma, depois voltou e o Dinis foi para a Bélgica, agora voltou. Agora o Afonso vai para a Suíça e a Francisca vai sair. Isso é que vai ser mais difícil, porque normalmente tenho dois e sai um, agora vão sair dois e fico com um. Faz parte da vida, os filhos crescem. Acho que a coisa mais importante é nós sabermos deixá-los crescer e deixá-los seguir a vida deles e não os prendermos connosco.
Destes meses em que prepararam o casamento juntas, o que aprenderam uma sobre a outra que ainda não soubessem?
IH: Eu aprendi que a Francisca é muito parecida comigo. Ela sabe o que quer e é uma pessoa equilibrada e tem bom gosto. São momentos intensos, começa a haver uma pressão de coisas que temos de fechar para estar tudo organizado. Agora começo a estar mais em pressão sobre a Francisca. Agora é que eu vou aprender mais sobre a Francisca.
MF: Eu aprendi que a minha mãe tem muito estofo, é muito resiliente.
IH: Nesta organização eu aprendi a delegar mais, a confiar mais nas pessoas. Não centralizar tanto, é impossível. Há sempre alguém que sabe mais do que nós. Graças a Deus temos pessoas que se prestaram para nos ajudar e que sabem de certeza mais do que eu em certas coisas. Eu estou bastante calma por causa disso. Se eu tivesse de fazer tudo sozinha, como as pessoas pensam que eu estou a fazer, não conseguia.