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ESA/NASA

ESA/NASA

Qualquer um de nós pode ser astronauta. O difícil é receber uma missão espacial

Quem quiser tentar ser astronauta só precisa de falar bem inglês e ter um curso superior. E depois treinar muito e adquirir várias competências diferentes. Mas nem todos chegam a ir ao espaço.

Qualquer um pode ser astronauta. Só precisa de treinar, treinar, treinar. Aprender ciências, tecnologias espaciais, línguas e primeiros socorros. E depois continuar a formação até lhe ser atribuída uma missão espacial. Isto se chegar a ser. Se não, é astronauta com os pés bem assentes na Terra, mas dedicado de alguma forma à investigação espacial.

Com os pés na Terra está, por exemplo, Vladimir Pletser, mas só quando não está a fazer voos parabólicos. “Desde criança sempre quis ser astronauta. E fiz todos os meus estudos nesse sentido”, conta ao Observador o engenheiro físico, que já foi pré-selecionado algumas vezes, mas ainda não lhe foi atribuída nenhuma missão espacial. “Sou teimoso. Acredito que um dia vou ser capaz.” Enquanto não consegue cumprir o sonho, o seu trabalho na Agência Espacial Europeia (ESA) consiste em otimizar os equipamentos que estarão a bordo dos voos espaciais.

“Para ser astronauta não é preciso ser engenheiro”, diz ao Observador Ruediger Seine, responsável pelo treino de astronautas na ESA. “Mas precisa de ter um grau académico, ter alguma experiência de trabalho e falar inglês fluentemente.” As restantes competências serão treinadas até que todos os astronautas tenham um nível de conhecimentos e desempenho equivalente.

“Para ser astronauta não é preciso ser engenheiro.”
Ruediger Seine, instrutor de astronautas

A seleção de astronautas é complexa e morosa. Para cada candidato são analisados critérios académicos, psicológicos e de saúde. “[E] o número de candidatos selecionados depende das necessidades do momento e das missões que estão previstas”, explica Ruediger Seine. Antes de receberem o diploma de astronautas terão de passar por um período de formação básica de 18 meses.

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O centro de treino de astronautas da ESA está localizado em Colónia, na Alemanha, mas os futuros astronautas também recebem formação nos centros de treino dos Estados Unidos, Canadá, Rússia e Japão. “O treino é definido com os parceiros para que todos adquiram as mesmas competências”, nota o instrutor. São introduzidos aos objetivos e conceitos fundamentais da exploração espacial e adquirem as competências técnicas para viajar numa nave espacial ou a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI). Fazem voos parabólicos (voos na atmosfera terrestre que simulam a ausência de peso) e treinam mergulho. Aprendem suporte básico de vida e técnicas de sobrevivência.

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Além disso aprendem russo. Porquê russo? “Porque a única nave com capacidade para levar astronautas para a Estação Espacial Internacional é a nave espacial russa Soyuz. E está toda em russo”, refere Ruediger Seine, acrescentando que para alguns astronautas esta é a parte mais difícil da formação. “A aprendizagem do russo não é unicamente feita em sala, os astronautas vão para a Rússia para usarem a língua diariamente.”

Com o diploma na mão podem passar-se apenas alguns dias ou vários anos até lhes ser atribuída uma missão espacial. Mas o treino continua sempre, para os recém-formados ou para quem voltou de uma missão espacial e aguarda por uma nova. Todas as tarefas que vão desempenhando em Terra funcionam como treino, inclusivamente fazer parte da equipa de controlo que se mantém em contacto com os astronautas na EEI. “Ajuda os astronautas a ganhar mais experiência sobre o que se vai passar na Estação Espacial Internacional”, nota Ruediger Seine.

Centro de controlo da NASA, no Johnson Space Center, em Houston (Estados Unidos)

Stephane CORVAJA/ESA

Desde que entrou para a ESA em 1985, Vladimir Pletser dedica-se a reduzir as estruturas e o peso dos equipamentos que vão a bordo das naves espaciais ou da EEI, mas que não são essenciais para o voo (payload), muitos deles são experiências que vão ser desenvolvidas no espaço. “Cada quilograma de equipamento custa de cerca de 20 mil euros para enviar para o espaço”, refere o engenheiro físico. Além desta função também é responsável pelos voos parabólicos que servem para o treino de astronautas e para realizar experiências com “gravidade zero” (simulação).

Com 6.716 parábolas feitas até setembro de 2014, já esteve mais de 36 horas em “gravidade zero”, o que equivale a 24 órbitas completas à volta da Terra ao ritmo da EEI, conta com orgulho Pletser. Também já esteve 14 minutos em gravidade equivalente à de Marte (0,4G) e 42 minutos e 55 segundos em gravidade equivalente à da Lua (0,16G).

Ser astronauta, viajar até à Estação Espacial Internacional, sujeitar-se a forças gravitacionais superiores às que se sentem na Terra e ficar em órbita durante seis meses com a sensação de que não se está sujeito à força da gravidade, é exigente fisicamente. Os astronautas têm um plano de treino contínuo para garantir que se mantém em forma. São também ensinados sobre como devem treinar quando estiverem na EEI. As pessoas que passam muito tempo em “gravidade zero” tendem a perder massa muscular e a sofrer uma diminuição no tamanho do músculo cardíaco.

“Desde criança sempre quis ser astronauta. E fiz todos os meus estudos nesse sentido.”
Vladimir Pletser, engenheiro físico

Quando a missão é atribuída têm dois anos e meio para aprenderem tudo o que vão precisar de saber durante os seis meses que estão na Estação Espacial Internacional. Mais uma vez, os astronautas viajam pelos vários centros de treino, mas é nos Estados Unidos e na Rússia que se encontram a maior parte dos equipamentos. Ruediger Seine explica que o treino é composto por uma parte teórica e uma prática e que no final a formação consiste sobretudo em simulações daquilo que terão de fazer enquanto estiverem na EEI, incluindo como vestir um fato espacial.

“Preparamo-los para uma grande variedade de situações. Procuramos garantir que adquiram todas as competências que poderão precisar no espaço”, garante o instrutor. “Num caso inesperado, damos treino [à distância] enquanto estão em órbita.” Em Terra fazem também treino de emergência e treino médico, para o caso de terem de se socorrer uns aos outros no espaço.

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Nesta situação, os astronautas designados para a missão fazem treino em conjunto, mas a maior parte das vezes estão acompanhados apenas do duplo. “Cada astronauta treina sempre acompanhado de um substituto, que assumirá a missão caso lhe aconteça alguma coisa antes do lançamento”, explica Laura André-Boyet, instrutora de astronautas no centro de treino da ESA. “Ambos têm de adquirir exatamente as mesmas competências.” Parte da formação que Laura André-Boyet recebeu para ser instrutora teve-a com astronautas. Não vinha das ciências espaciais por isso tinha muitas competências para adquirir.

“Ser selecionado para instrutor não é difícil, porque também são treinados para o trabalho específico”, diz Ruediger Seine. Os requisitos neste caso são: um curso universitário, experiência profissional em ambiente multinacional e experiência no ensino. Enquanto instrutores da ESA ficam sempre em Colónia, mas “durante os seis a nove meses de formação viajam para ver o que os outros instrutores da mesma área fazem”.

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Depois de passar cerca de quatro anos na agência espacial francesa (Centro Nacional de Estudos Espaciais, CNES) como orientadora de experiências em fisiologia, Laura André-Boyet está há mais de quatro anos na ESA onde dá formação específica em equipamentos para investigação científica, particularmente de neurociências e fisiologia, que serão enviados para a Estação Espacial Internacional. Um dos últimos astronautas a receber formação num destes equipamentos foi Samantha Cristoforetti, que embarcará no Soyuz em direção à EEI em novembro. As experiências científicas decorrem normalmente no laboratório Columbus – um módulo da EEI -, lançado na altura em que a instrutora chegou à equipa.

Queria ser criadora de cavalos e não pensava sequer no espaço, mas o interesse em aliar medicina e tecnologia levaram-na por acaso às ciências espaciais. E aí se manteve, sobretudo pelas pessoas. “Os apaixonados pelo espaço são incríveis. São movidos por algo louco, como nunca vi. É isso que adoro”, conta Laura André-Boyet. Ruediger Seine também considera que “trabalhar com astronautas e prepará-los é muito estimulante e interessante”.

"Os apaixonados pelo espaço são incríveis. São movidos por algo louco, como nunca vi. É isso que adoro."
Laura André-Boyet, instrutora de astronautas

E o trabalho dos astronautas não termina quando regressam de uma missão. Para começar têm de habituar o corpo a estar de volta à Terra e à influência constante da força gravitacional de 1G, por isso treinam para recuperarem a massa muscular e o desempenho físico normal. Nos meses seguintes participam em reuniões sobre como correu a missão e se a preparação foi suficiente e dão palestras. Faz parte do treino básico aprender a falar com o público e com a comunicação social e os astronautas, recém-chegados de uma missão espacial, são a melhor forma de entusiasmar a audiência em relação ao espaço.

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