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Corte da inflação deixou os trabalhadores a perder, em média, 4,6% do salário, segundo os dados do INE revelados esta quinta-feira
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Corte da inflação deixou os trabalhadores a perder, em média, 4,6% do salário, segundo os dados do INE revelados esta quinta-feira

Getty Images/iStockphoto

Corte da inflação deixou os trabalhadores a perder, em média, 4,6% do salário, segundo os dados do INE revelados esta quinta-feira

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Quase todos perderam poder de compra, só dois setores escaparam. Quem perde mais e menos com a inflação

Só dois setores resistiram aos efeitos do "imposto" inflação no segundo trimestre, que em conjunto representam 5% do emprego total. Nos outros, perdas reais variam entre 1% e 8%.

A inflação continua a penalizar os salários em Portugal e o segundo trimestre do ano foi espelho disso. Em 20 setores de atividade económica, apenas dois ganharam poder de compra de abril a junho face ao mesmo período do ano anterior. Todos os outros viram o salário real cair devido ao efeito da escalada da inflação, que se fixou em 8% nesse período.

Esse corte da inflação deixou os trabalhadores a perder, em média, 4,6% do salário, segundo os dados do INE revelados esta quinta-feira. As perdas variaram entre os 7,9% no caso da “administração pública e defesa; segurança social obrigatória” e 1% no setor do alojamento, da restauração e similares.

Há, porém, dois setores que conseguiram fugir à razia — e que, em conjunto, representam 5% do emprego. É o caso da eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, que viu o salário subir 13,2% em termos reais (ou seja, contando com o “imposto” inflação). Se não fosse esta força negativa, os trabalhadores teriam tido, em média, subidas expressivas de 21,2%. Esse é, também, o setor que melhores salários paga (3.527 euros, em média).

Mas João Cerejeira, professor de Economia na Universidade do Minho e especialista em mercado do trabalho, chama a atenção para o facto de ser o que menos emprega (11 mil pessoas, ou seja, cerca de 0,25% do total de emprego, um peso “residual”).

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Inflação dita corte no salário médio de 4,6% no segundo trimestre do ano

Além de que há neste setor, nos dados agora divulgados, uma grande diferença entre a variação da remuneração bruta total (21,2%) e a vertente do salário que é variável, e que exclui, por exemplo, o pagamento do subsídio de férias (1,5%). O INE sublinha, numa nota de rodapé, que em maio de 2022 houve um “acréscimo homólogo substancial nas remunerações” do setor devido ao pagamento do subsídio de férias nesse mês. E isso pode estar a distorcer temporariamente a remuneração bruta total.

Outra exceção aos efeitos da inflação foi nas atividades de consultoria, científica, técnicas e similares: aí, a subida dos preços não ditou perda de poder de compra, em termos médios, embora lá tenha ficado perto. Nesse setor, onde o teletrabalho tende a ter maior preponderância — o que pode permitir poupanças em gastos por essa via — de abril a junho os salários médios brutos subiram 0,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mas se não tivesse sido o aumento generalizado dos preços, o ganho tinha sido bem maior: 8,2%. As atividades de informação e de comunicação também viram os salários nominais avançar 6,1%, o que com a inflação significa um corte de 1,9%.

Tanto as atividades de consultoria como as de informação e comunicação “são áreas em que tem havido um significativo aumento da procura por profissionais”, que já vinha antes da pandemia, devido à digitalização da economia e a maior exigência tecnológica por parte das empresas. Além disso, as tecnológicas em território nacional estão a concorrer com companhias estrangeiras que tentam captar trabalhadores portugueses, nomeadamente para trabalharem remotamente a partir de Portugal — uma realidade que saiu reforçada com a pandemia.

Mas as notícias de falta de mão de obra têm chegado a outros setores, como a construção e o alojamento e a restauração (o Governo estima que sejam precisos de 45 mil a 50 mil trabalhadores no turismo), atividades que também podem estar a acenar aos candidatos com melhores salários (e que estão no grupo dos setores com menores perdas reais). Os dados do INE revelam que na construção os salários subiram 5,1% em termos nominais e caíram 2,9% somada a inflação; e no alojamento e na restauração houve um acréscimo nominal de 7% e uma queda real de 1%.

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“A procura está forte nesses setores é isso que tem empurrado os salários para cima”, sintetiza João Cerejeira. Além de que ambos os setores têm um peso forte do salário mínimo ou próximo (o alojamento paga, em média, 907 euros brutos e a construção 1.031 euros), pelo que o aumento determinado pelo Governo em janeiro deste ano, de 6% (de 665 euros para 705 euros) pode pressionar a folha salarial. Isso também se vê nos dados por dimensão de empresa: “As micro empresas cresceram mais os salários e tendem a pagar salários mais baixos, mais próximos do salário mínimo”, afirma.

Função pública perde mais

Segundo os dados do INE, a administração pública, embora tenha remunerações médias superiores ao privado (que se explicam com o maior nível de escolaridade dos trabalhadores e o “tipo de trabalho realizado”, nas palavras do instituto), perdeu mais poder de compra. Com a inflação a 8%, os aumentos salariais de 0,9% de janeiro não foram suficientes para evitar essa quebra.

“Não deixa de ser interessante o papel do Estado, de empurrar para cima os salários mais baixos no setor privado e a conter a subida dos salários daqueles em que o Estado é o empregador."
João Cerejeira, economista e professor na Universidade do Minho

O Governo tem, aliás, descartado a possibilidade de avançar com aumentos intercalares, argumentando que poderiam alimentar a “espiral inflacionista”. Preferiu, ao invés, aumentos apenas dos salários de entrada dos assistentes técnicos e dos técnicos superiores (onde também pagará um bónus aos doutorados), que começam a ser pagos este mês mas apenas abrangem 5% dos funcionários públicos.

No setor do Estado, a remuneração avançou, em termos nominais, 1,4% para 2.180 euros no segundo trimestre do ano, o que com a inflação atual significa um corte médio real de 6,6%. O setor privado, com uma subida nominal de 4,4%, para 1.289 euros, viu o corte da inflação atenuar a quebra salarial, que foi em termos reais de 3,6%.

Não deixa de ser interessante o papel do Estado, de empurrar para cima os salários mais baixos no setor privado e a conter a subida dos salários daqueles em que o Estado é o empregador”, nota João Cerejeira.

Classe política no grupo dos menos afetados

Os dados do inquérito ao emprego publicados pelo INE esta semana também permitem ter uma ideia dos impactos da inflação nos vários grupos profissionais. O mais afetado foi o que junta os especialistas das atividades intelectuais e científicas (-7,4% em termos reais; se não fosse a inflação tinha sido de 0,6%), que inclui trabalhadores do setor tecnológico e professores, mas também profissionais do Estado como médicos (um setor que, como vimos, teve os menores ganhos). Também o pessoal administrativo teve um tombo significativo no salário, de 4,8% em média. Sem a inflação, teria sido de 3,1%.

Só dois grupos escaparam: o dos agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e floresta (mais 0,9%) e dos operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem (0,47%). Entre os menos afetados está também o grupo onde está incluída a classe política: no caso dos “representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, directores e gestores executivos” a perda real ficou pelos 0,8%.

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