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É branco, magro, tem cabelo louro, mede cerca de 1,82 m e tem 43 anos. Estes foram os dados mais pessoais que as polícias de três países diferentes — Inglaterra, Alemanha e Portugal — divulgaram esta quarta-feira sobre o novo suspeito do desaparecimento de Madeleine McCann do aldeamento da Aldeia da Luz, no Algarve, onde passava férias com os pais e os irmãos gémeos, a 3 de maio de 2007. Soube-se ainda que se trata de um cidadão alemão e que está preso, a cumprir uma pena longa. Mas houve muitos outros dados que acabaram por ser conhecidos e até uma série de pedidos das autoridades. Incluindo o nome, que foi divulgado esta quinta-feira: Christian Brueckner.
Num apelo público feito em vários meios de comunicação, em Inglaterra, país onde a família de Maddie continua a viver , a polícia prometeu oferecer uma recompensa a quem pudesse ajudar a trazer mais provas contra este homem. Já os responsáveis da investigação alemã, o país onde nasceu e onde se encontra preso, afirmou mesmo que ele é o suspeito do homicídio da menina britânica, dando assim a entender que a criança estará morta. Já a Polícia Judiciária (PJ) em Portugal, local do crime, foi parca nas palavras, mas confirmou a investigação.
Treze anos depois, com vários suspeitos identificados ao longo do tempo mas que nunca foram acusados, incluindo os próprios pais da menina, estas três polícias, que vão trabalhar em conjunto na investigação, acreditam agora ter chegado ao caminho certo para desvendar o caso. A pista para este suspeito, segundo a polícia alemã, surgiu pela primeira vez em 2013, mas de forma pouco consistente. Voltou depois de novo a revelar-se em 2017, por volta do 10.º aniversário do desaparecimento de Maddie e agora terá ganho grande relevância com os dados que terão sido encontrados.
A polícia alemã admitiu ainda que possam existir outras pessoas além do suspeito que têm conhecimento concreto da possível cena do crime e, se for o caso, que saibam mesmo onde estará o corpo da criança. Ou seja, que terá havido um homicídio.
Ao longo da investigação, as autoridades conseguiram reconstituir a imagem de um suspeito que teria sido visto naquela noite na Praia da Luz. Mas seria este o alemão de 43 anos? Será que ao fim de 13 anos o mistério do desaparecimento de Madeleine McCann vai ser finalmente resolvido? Será definivitivamente esta a pista certa?
Polícia identifica suspeito do rapto de Maddie e lança apelo para ter mais informações
Viveu numa casa no Algarve e saiu de repente. Mas terá ficado por perto a viver numa carrinha
O suspeito residiu em Portugal entre 1996 e 2007 — à data do desaparecimento de Maddie tinha 30 anos, mas “parecia ter entre 25 a 32 anos”, escreve a polícia. De acordo com a Sky News, o alemão vivia numa casa a pouco mais de três quilómetros do Ocean Club, o aldeamento turístico na Praia da Luz onde a família McCann estava a passar férias. Durante esses onze anos de vida no Algarve, passava “alguns curtos períodos na Alemanha”, adianta a polícia em comunicado.
Uma antiga vizinha, em declarações à Sky News, explicou que o proprietário da casa era um inglês que a alugou ao alemão nos anos 90. “Houve uma altura que ele foi à Alemanha e pediu a um outro alemão para tomar conta da casa. Depois, voltou e mandou-o embora”, explica. A vizinha, que descreve o suspeito como alguém que estava “sempre um pouco zangado” e que costumava “acelerar” quando conduzia, adiantou ainda que em 2006, o homem “desapareceu sem dizer uma palavra”. “Acho que ele deixou umas rendas por pagar”, acrescentou.
Terá sido um ano antes de Maddie desaparecer — portanto, em 2006 — que o suspeito “de repente” deixou a tal casa que tinha alugado, avança ainda a Sky News, acrescentando que, apesar disso, a polícia acredita que o homem continuou a viver na área até 2007, ano do desaparecimento da criança. A polícia revelou que passou, então, a viver numa carrinha, onde, segunda detalha o inspetor-chefe Mark Cranwell — passava “dias a fio”, num estilo de vida que seria “transitório”, de acordo com a BBC.
Seis meses depois de o alemão ter desaparecido, relata a vizinha que falou com a Sky, pediram-lhe ajuda para limpar a casa que estava, descreve, num estado “nojento”. “Estava destruída, com coisas partidas, como computadores por todo o lado. Encontrámos um saco do lixo e, lá dentro, havia perucas e roupas exóticas”.
A mulher explicou ainda que foi contactada, no ano passado, pela polícia britânica que lhe pedir informações sobre o alemão. E que este ano, inspetores portugueses já lhe foram fazer mais perguntas, tendo mesmo mostrado-lhe fotografias do suspeito.
Carro deixou de estar no nome do suspeito um dia depois de Maddie ter desaparecido
A carrinha onde terá vivido é, aliás, uma das duas viaturas cujas fotos foram divulgadas pela polícia por acreditar que o suspeito as terá usado no período do desaparecimento. Trata-se de uma caravana da Volkswagen, modelo t3, de cores branca e amarela, e de matrícula portuguesa, que o alemão usou “pelo menos desde abril de 2007 até um pouco para além de maio” desse ano. “Ela foi usada dentro e em redor da área da Praia da Luz”, lê-se no comunicado. A polícia acredita que o alemão “esteve a viver nessa carrinha durante dias, possivelmente semanas, e pode tê-la usado a 3 de maio de 2007” — dia do desaparecimento de Maddie.
A polícia alemã esclarece contudo em comunicado que o suspeito não era o proprietário da carrinha e que, por isso, o dono da mesma não é suspeito.
A outra viatura é um Jaguar de modelo XJR 6, de anos 90, vermelho escuro/beringela, com matrícula alemã e registado na Alemanha. Segundo informa a polícia no comunicado, o carro foi originalmente registado no nome do suspeito, mas a 4 de maio de 2007, um dia depois de Maddie ter desaparecido, passou para o nome de outra pessoa — este novo registo foi feito em Augsburgo, cidade no sul da Alemanha. A polícia lembra que “para registar novamente o carro na Alemanha” era necessário que ele estivesse nesse país, mas a investigação acredita que, nessa data, “o carro ainda estava em Portugal”.
Os dois carros foram apreendidos e estão agora nas mãos das autoridades alemãs, provavelmente para possíveis perícias. A polícia britânica apela a que qualquer pessoa que tenha visto “estes carros juntos ou individualmente durante a primavera e o verão de 2007” que a informe. Pode ser uma das chaves da investigação.
O telefonema misterioso de meia hora na noite do desaparecimento
Além de pedir informações a quem possa ter visto alguma movimentação destas viaturas à data, em 2007, os investigadores pedem também informações sobre dois números de telemóvel. Um deles é o (00351) 912 730 680. Este era o que o suspeito estava a usar na noite de 3 de maio, quando Maddie desapareceu, e através do qual recebeu uma chamada do número (00351) 916 510 683 — o segundo sobre o qual a polícia pede informações.
A chamada recebida pelo suspeito iniciou-se às 19h32 e terminou às 20h02 desse 3 de maio de 2007. Foi recebida na zona da Praia da Luz, mas a pessoa que ligou e cuja identidade se desconhece não estava na área da Praia da Luz, esclarece a polícia britânica no comunicado. E o telemóvel era descartável, ou seja, não estava registado em nome de ninguém.
Não há informações sobre a identidade da pessoa que fez a chamada, mas a polícia acredita que poderá ser uma “testemunha altamente significativa”. “Conhece este número? Sabe de que número estou a falar?” pergunta a polícia, que pede para as pessoas verificarem as suas velhas listas telefónicas e tentarem perceber se alguns destes contactos fazem parte delas. Em caso positivo, que forneçam as identidades às autoridades.
Está a cumprir pena e tem cadastro por abuso sexual de menores
Os comunicados policiais dizem todos que o suspeito tem cadastro, mas só o comunicado alemão revela que foi já acusado de vários crimes, entre eles abuso sexual de crianças, estando atualmente a cumprir uma pena longa “por outras causas”, sem especificar quais. “No passado, o suspeito já tinha sido condenado a pena privativa de liberdade, duas vezes por abuso sexual de crianças do sexo feminino”, especifica mesmo a polícia alemã.
Em Portugal o suspeito estaria referenciado por pequenos furtos e roubos. Há jornais que falam na possibilidade de ter violado uma mulher no Algarve, mas essa informação não foi confirmada por nenhuma das polícias.
A vida no Algarve: dos biscates aos roubos em hotéis
Segundo o comunicado do Departamento Federal de Polícia Criminal alemã desta quarta-feira, o homem que agora está a ser investigado pelo desaparecimento de Maddie viveu “mais ou menos permanentemente no Algarve durante períodos entre 1995 e 2007. Ou seja, não esteve ali durante todo o tempo. Durante alguns anos viveu mesmo numa casa entre Lagos e a Praia da Luz e teve vários trabalhos.
“Durante esse período, exerceu vários biscates na área de Lagos, entre outros, na restauração. Há também indícios de que também ganhou a vida a cometer crimes como roubos em complexos de hotéis e apartamentos de férias, além de tráfico de drogas”, relata a polícia alemã.
Questionado se no caso de Maddie o suspeito terá tentado assaltar o apartamento onde dormia com os irmãos gémeos, o líder da investigação alemã, Christian Hoppe admitiu que essa pode ter sido a sua primeira intenção, tendo-se depois alterado ao ver a criança e passando a existir motivação sexual. “Não podemos excluir essa possibilidade. É possível que o suspeito tenha tido inicialmente a intenção de roubar e sido levado depois para uma motivação sexual.”
O que pode saber que pode ajudar a polícia
Há três polícias a investigar o caso: a inglesa, a portuguesa e a alemã e, apesar de algumas contradições entre elas, há algo em comum que procuram e, por isso, disponibilizam contactos telefónicos e, até, avançam com recompensas a quem puder ajudar na investigação. A polícia quer informação sobre:
- As duas viaturas usadas pelo suspeito, o carro e a autocaravana: se alguém viu estes carros em maio de 2007 e sabe onde estariam estacionados a 3 de maio?;
- Informações sobre os números de telefone identificados;
- Informações sobre as casas, salas ou outros pontos de contacto mostrados nas imagens;
- Alguém que tenha estado no Algarve nessa altura e que possa ter fotografias úteis à investigação;
- Alguém que tenha sido vítima de um crime por parte deste suspeito e que não tenha apresentado queixa;
- Alguém que saiba alguma coisa do crime e que nunca tenha falado, poderá fazê-lo mesmo que de forma confidencial.
No Reino Unido o número disponibilizado para informações é o: 02073219251 (o indicativo do Reino Unido é 0044 e deverá retirar o primeiro 0 do número caso esteja a ligar de outro país). Ou pode enviar um e-mail para operation.grange@met.police.uk.
#MadeleineMcCann | Significant Investigative Update
Suspect identified as 43yo German man. We reveal 2 vehicles suspect is known to have used around the time of Madeleine’s disappearance & phone numbers relevant to investigation.
????️ | DCI Cranwell appeals for public assistance
— Metropolitan Police (@metpoliceuk) June 3, 2020
As informações que levarem à condenação do suspeito, segundo a polícia inglesa, poderão valer uma recompensa de 20 mil libras.
Na Alemanha, as autoridades dão uma recompensa de 10 mil euros a pistas que possa ajudar na investigação. O número para o qual deve ligar é o + 49 (0) 611/55 -18444.
Em Portugal não é prática oferecer recompensas, e os pedidos de colaboração são raros. Por isso a PJ não colocou no comunicado qualquer número, mas pode ligar para qualquer um disponível no site desta polícia.
Este suspeito é o mesmo que tinha sido anunciado há um ano?
Não. O Observador confirmou junto da PJ que o homem que agora é o principal suspeito no caso Maddie não é Martin Ney, um homem de 48 anos cujo nome foi noticiado há cerca de um ano como sendo o suspeito do rapto de Maddie. Ney está a cumprir pena de prisão perpétua pelo homicídio de três crianças, tendo sido condenado em 2011, e avançou-se que teria sido ele o homem que levou Maddie naquela noite.
Martin Ney, o pedófilo e assassino alemão é um dos suspeitos no caso Maddie
No entanto, nem a PJ confirmou o caso na altura, nem confirma agora. O suspeito agora identificado como possível raptor de Maddie está de facto preso na Alemanha, mas não é Martin Ney.
Também nos primeiros anos da investigação, um alemão chegou a ser apontado como suspeito do desaparecimento. Pelo que consta no processo, o homem tinha entre 55 e 60 anos na altura e estaria envolvido em crimes de tráfico de seres humanos e relacionados com pedofilia. No entanto, o suspeito atual, tem agora 43 anos pelo que também não será o mesmo.
[Artigo atualizado às 13h11 de dia 4 de junho com o nome do suspeito, Christian Brueckner]