As polícias alemã, inglesa e portuguesa estão a trabalhar juntas na investigação ao desaparecimento da pequena Maddie, a menina inglesa desaparecida da aldeia da Luz, no Algarve, em 2007. Neste momento têm já um suspeito, um homem que se encontra preso na Alemanha a cumprir pena por outro crime, mas precisam de mais elementos para provar que ele possa estar relacionado com o caso. Por isso, esta quarta-feira, lançaram um apelo com um número de telefone para conseguirem mais informações sobre dois números de telemóvel portugueses e duas viaturas que seriam usadas pelo suspeito na zona da Praia da Luz, confirmou o Observador junto de fonte da Polícia Judiciária.

O suspeito em causa, de 43 anos de idade, tem antecedentes criminais, residiu em Portugal entre 1996 e 2007 e está atualmente a cumprir pena de prisão na Alemanha, confirma a PJ em comunicado. No  comunicado das autoridades alemãs, a polícia diz mesmo que o suspeito está a ser investigado por homicídio — enquanto a polícia inglesa continua a falar em desaparecimento e acalentar a esperança que que a menina esteja viva. “A nossa investigação leva-nos a crer que a criança está morta e que este homem a matou”, reforçou o inspetor Hoppe, em entrevista ao programa Crimewatch, segundo o Expresso, da estação de televisão alemã ZDF.

Quem ligou para (00351) 912 730 680 a 3 de maio de 2007?

Num vídeo publicado na rede social Twitter, a Polícia inglesa, pela voz do detetive Mark Cranwell, anunciou que foram conseguidos “desenvolvimentos significantes” na investigação. E que o suspeito foi identificado. Trata-se de uma homem que agora tem 43 anos, mas que à data do crime teria 30 anos. “É branco e tinha cabelo loiro”.

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Tinha à data duas viaturas: uma caravana da Volkswagen, modelo t3, de cores branca e amarela, e um Jaguar XJR dos anos 90, de cor escura. A polícia diz saber que o suspeito tinha estes dois veículos na zona do aldeamento da Luz quando Madeleine McCann desapareceu.

A polícia alemã acrescenta um pedido, no comunicado divulgado na sua página oficial: se tiver fotografias de férias naquele período da Aldeia da Luz, reveja-as, não vá encontrar nelas estas viaturas. Estas imagens podem ser úteis à investigação. Pode enviar fotos e vídeos através do portal: www.bka.hinweisportal.de

Um dos carros usados pelo suspeito sobre o qual a polícia procura mais informações

Além de pedir informações a quem possa ter visto algum movimentação destas viaturas à data, em 2007, os investigadores pedem também informações sobre dois números de telefone: um deles é o 00351 912 730 680, o telefone que o suspeito estava a usar na noite de 3 de maio, quando Maddie desapareceu. O outro é o número 00351 916 510 683 que lhe ligou entre as 19h32 e 20h02 de 3 de maio, de 2007, na zona da Praia da Luz. Quem fez esse telefonema poderá ser uma “testemunha altamente significativa”. “Conhece este número? Sabe de que número estou a falar?” pergunta a polícia.

O suspeito também usava esta caravana e a polícia precisa igualmente de informações

Ao que o Observador apurou, as operadoras em Portugal já não terão registos deste período, por isso optaram pela prova testemunhal para cruzar esta informação.

Caso tenha informações, pode ligar para o número 02073219251 (o indicativo do Reino Unido é 0044 e deverá retirar o primeiro 0 do número caso esteja a ligar de outro país). Ou enviar um e-mail para operation.grange@met.police.uk. Pode também ligar para a Polícia Judiciária portuguesa, que também está envolvida na investigação, para qualquer um dos números disponíveis na página da PJ.

O Sub-Comissário Adjunto da Metropolitan Police, Stuart Cundy, disse que o suspeito passou a interessar aos investigadores na sequência de um apelo público em 2017, no âmbito do 10.º aniversário do desaparecimento.

“O nome deste homem era conhecido da nossa investigação. Não vou dar detalhes sobre como era conhecido, mas já era conhecido antes de recebermos informação nova em 2017. Desde então temos continuado a trabalhar de forma muito próxima com colegas em Portugal e na Alemanha”, afirmou.

Uma informação que ao Observador a PJ portuguesa não confirma. “Em 2017 ainda não havia esta informação”, garante fonte da PJ. No entanto, na entrevista, ao canal alemão, o inspetor Hoppe diz que a polícia recebeu uma informação sobre este suspeito em 2013, mas que era insuficiente. Quatro anos depois, pelo décimo aniversário do desaparecimento, houve uma nova pista “sobre o mesmo suspeito”, que também se revelou escassa. O Ministério Público de Brunswick abriu então um processo e agora o principal objetivo é “saber qual era o paradeiro do suspeito no dia 3 de maio de 2007”.

Este homem é também a atual linha de investigação da polícia britânica, que chegou a identificar 600 “pessoas de interesse” e outros quatro suspeitos, que foram descartados após serem interrogados buscas realizadas em terrenos em Portugal.

“Temos boas relações com os colegas em ambos os países. E sei que estamos todos determinados em saber o que aconteceu e ver se este homem esteve envolvido no desaparecimento da Madeleine ou não”, vincou.

A PJ emitiu, entretanto, um comunicado em que confirma que a investigação ao desaparecimento de Maddie continua continua e que neste momento aponta para um suspeito alemão.

“Em estreita articulação com as Autoridades Alemãs (BKA) e Inglesas (Metropolitan Police), na partilha de informação, na realização de atos formais de investigação e de perícias, em Portugal e no estrangeiro, foram recolhidos elementos que indiciam a eventual intervenção, no desaparecimento da criança, de um cidadão alemão”, lê-se.

“A família da criança desaparecida foi informada destes desenvolvimentos investigatórios, pelas Autoridades Inglesa”, adianta a PJ.

Segundo a TVI, o suspeito está a cumprir pena de cadeia na Alemanha pelo crime de violação de uma mulher que se encontrava alojada na Praia da Luz por altura do desaparecimento de Maddie.

Suspeito terá praticado pequenos crimes no Algarve

Já o Departamento Federal de Policia Criminal da Alemanha, confirmou, em comunicado, estar a investigar um cidadão de 43 anos, acusado de vários crimes de abuso sexual de menores, pelo desaparecimento de Madeleine McCann. O suspeito foi já acusado de vários crimes, entre eles abuso sexual de crianças, estando atualmente a cumprir pena “por outras causas”, sem especificar quais, e em nada a ver com Maddie.

“No passado, o suspeito já tinha sido condenado a pena privativa de liberdade, duas vezes por abuso sexual de crianças do sexo feminino”, diz a polícia alemã.

O homem viveu “mais ou menos permanentemente no Algarve durante períodos entre 1995 e 2007, inclusive por alguns anos numa casa entre Lagos e a Praia da Luz” e teve vários trabalhos.

“Durante esse período, exerceu vários biscates na área de Lagos, entre outros, na restauração. Há também indícios que ele também ganhou a vida a cometer crimes como roubos em complexos de hotéis e apartamentos de férias, além de tráfico de drogas”, relata a polícia.

“As autoridades investigadoras conhecem alguns dos veículos que ele usava na época, vários pontos de contacto e um número de telemóvel português”, acrescenta o Departamento Federal de Polícia Criminal.

Pais de Maddie já reagiram

Os pais de Madeleine McCann já fizeram uma declaração a dizer que “nunca perderão a esperança” de encontrar filha que desapareceu há 13 anos, avança o The Mirror.

“Tudo o que sempre desejámos foi encontrá-la, descobrir a verdade e levar os responsáveis ​​à justiça”, disseram Kate e Gerry McCann, que dizem nunca perder a esperança de encontrar a filha com vida. “Seja qual for o resultado, precisamos saber para encontrar a paz”, diz.

Desapareceu do quarto onde dormia com os dois irmãos gémeos

Madeleine McCann desapareceu poucos dias antes de fazer 4 anos, em 03 de maio de 2007, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, no Algarve.

A polícia britânica começou por formar uma equipa em 2011 para rever toda a informação disponível, abrindo um inquérito formal no ano seguinte, tendo até agora despendido perto de 12 milhões de libras (14 milhões de euros).

A Polícia Judiciária (PJ) reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República em 2008, ilibando os três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.

Suspeito alemão noticiado em 2019 não é o suspeito de agora

Em maio foi noticiado que Martin Ney, um homem de 48 anos, seria o suspeito do rapto de Maddie há 13 anos. O suspeito está a cumprir pena de prisão perpétua pelo homicídio de três crianças, tendo sido condenado em 2011, e avançou-se que teria sido ele o homem que levou Maddie naquela noite.

No entanto, nem a PJ confirmou o caso na altura, nem confirma agora. O suspeito agora identificado como possível raptor de Maddie está de facto preso na Alemanha, mas não é Martin Ney.

Martin Ney, o pedófilo e assassino alemão é um dos suspeitos no caso Maddie

Carlos Anjos: divulgação pode ter impedido linha de investigação

O presidente da Comissão de Proteção de Vítimas de Crimes, Carlos Anjos, ex-inspetor da Polícia Judiciária, disse esta quinta-feira à Rádio Observador não estar otimista e acreditar até que a divulgação destas informações tenha impedido a possível linha de investigação.

“O facto de se tornar esta informação pública agora pelas autoridades inglesas — fizeram uma conferência de imprensa a divulgar uma mão cheia de nada — pode até complicar investigação”, disse Carlos Anjos.

O ex-inspetor lembrou que um dos carros já foi vendido e a probabilidade de encontrar algo nas buscas à carrinha 13 anos depois do crime “é mínima”. Ao mesmo tempo, a casa foi vendida em 2011 por uma imobiliária e o casal inglês que a comprou “renovou a casa toda”, pelo que “naquela casa já não vamos encontrar nada”.

“Parece-me a mim que se deu um passo maior do que a perna com a divulgação de tudo isto”, afirmou o ex-inspetor. “Não sei até que ponto é que as conferências de imprensa vieram trazer luz sobre o caso ou se vieram impedir uma linha de investigação. Vamos perguntar ao indivíduo que está preso se foi ele que matou ou se raptou Madeleine McCann?”, questionou.