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Rio não esconde que prefere a Foz do Douro ao estuário do Tejo, mas em tempo de campanha tem de defender aquele a que Maquiavel chamaria o seu “príncipe”. Nem de propósito, Rio (com maiúscula) fez uma visita pelo rio (com minúscula) ao lado de Paulo Rangel e veio defender o seu candidato a bordo barco “Príncipe Perfeito“. Se Costa saiu em defesa de Pedro Marques na noite de terça-feira, o presidente do PSD fez o mesmo com Paulo Rangel. Rui Rio não só defendeu o cabeça de lista do PSD como atacou o PS em duas frentes: no caso do helicóptero e com Joe Berardo, que diz ter sido instrumentalizado pelo PS.
O presidente do PSD não é propriamente o entusiasta das ações. Esta, uma visita de barco que saiu da doca do Espanhol, tinha demasiado espalhafato para o gosto de Rio. Organizado pela expansiva Lina Lopes, presidente das Mulheres Sociais Democratas (MSD), o barco saiu perto das 18h00. Rio meteu-se uns minutos na cabine enquanto Lina dizia ao microfone que era ele o “timoneiro” do PSD. Rio lá saiu, mas continuou indiferente ao discurso da presidente das MSD e seguiu para a proa na companhia de Paulo Rangel e Maria da Graça Carvalho.
Como bom portuense que vem à capital, não dispensou as comparações e enquanto apontava para a Ponte 25 de Abril disse: “Na Ponte da Arrábida caiu uns pedaços, desta parece que ainda não“. O “ainda” não é inocente, e remete para a falha do governo na manutenção das estruturas. Ao passar pelo Terreiro do Paço, Rio — militante do combate ao centralismo — comentou que a praça não parece assim tão impactante vista do Tejo. “Tem mais impacto vista de perto“, comenta.
O microfone estava aberto e houve quem do exército de Lina, Isabel Faustino, militante há mais de 30 anos, aproveitasse para gritar PSD. A viagem prosseguia sem grande emoção. Paulo Rangel chegou a estar uns minutos à conversa com Nuno Morais Sarmento e Rui Rio com Teresa Leal Coelho. O diretor operacional da campanha, Maló de Abreu, e a diretora de comunicação Florbela Guedes, foram os reis das selfies.
Também Nuno Miguel Henriques, que em 2012 chegou a anunciar ser candidato à liderança, foi ao “open mic” declamar poesia. Rangel ainda avançou para o microfone num palanque improvisado. Como estava perante uma plateia com mais mulheres, lembrou que “se o PSD eleger 9 deputados, cinco serão homens e quatro mulheres”. O cabeça de lista lembrou ainda, indiretamente, a desastrosa campanha de Marcelo em Lisboa em 1991, quando o agora Presidente da República deu um mergulho no Tejo. E, mesmo lembrando que o momento pedia mais poesia que política, atirou: “Este é um mergulho seco no estuário do Tejo“.
Mas todos sabiam que a política tinha de vir aí. Rio não queria falar ao vento, no exterior. Preferiu a cabine, resguarda só para os jornalistas. Mas aproveitou o momento para defender Rangel dos ataques do PS e de António Costa. Rio destacou que “dizer que Paulo Rangel, que andou no helicóptero, tirou partido da morte de pessoas, isto não tem nada a ver “. Para o presidente do PSD, Paulo Rangel “foi ver o estado em que se encontram as terras que arderam e, portanto, o primeiro-ministro em vez de estar preocupado com o helicóptero em que Paulo Rangel andou, devia estar preocupado com os helicópteros que não estão disponíveis para levantar para ir apagar os incêndios“.
Rui Rio, à semelhança do que Rangel disse horas antes, disse que este “é um problema que o Governo tem de resolver, de forma a que de todas as aeronaves necessárias estejam em condições de funcionar a partir de 15 de maio, que é hoje”. E acrescentou: “As coisas deviam estar prontas e o Governo mais uma vez se atrasou e não estão prontas. Os helicópteros com que [António Costa] deve estar preocupado é com os que não saem do chão”.
O presidente do PSD comentou ainda que é incontornável falar de assuntos nacionais nas Europeias e que o próprio primeiro-ministro pediu que isso acontecesse. E, como “é normal” discutir “as questões nacionais”, Rio introduziu uma bucha, mesmo sem os jornalistas lhe perguntarem e usou Berardo contra o PS: “Também posso falar, que assistimos àquela declaração incrível do Joe Berardo e depois vemos diversos membros do Governo chocados com o desplante do Joe Berardo, mas não estão chocados com a decisão do Governo socialista liderado pelo engenheiro Sócrates, onde estavam muitos ministros que hoje voltaram a ser ministros”.
O governo de Sócrates, recorda Rio, teve “o desplante de nomear a administração da CGD que fez o assalto político ao BCP e foi isso que determinou em larga medida a dívida de Joe Berardo”. Rio diz que “é preciso ser cínico” para os socialistas dizerem que estão chocados com o que aconteceu, quando “culpados são todos aqueles que emprestaram o dinheiro”. E lembra que “não emprestaram dinheiro para dinamizar a economia, mas para comprar ações no outro banco para fazer um assalto político a esse outro banco”.
Rio disse ainda que concorda com a ideia do CDS de retirar a condecoração da República Portuguesa a Joe Berardo. “Evidente, que acho muito bem. E devíamos alargar um bocadinho a lista porque de certeza que há lá mais alguns que também se deveria retirar a condecoração porque as condecorações não devem ser dadas ao metro”, atirou Rio, naquilo que também pode ser entendido como uma farpa a Marcelo (conhecido por ser mãos largas em condecorações). O presidente social-democrata não quis, no entanto, dizer a quem se referia:” É melhor não dar, mas vem-me à cabeça uns quantos.”
‘Helicoptergate’. Rangel diz que o problema são os helicópteros que não voam
Paulo Rangel esteve a ler os jornais de manhã e diz ter percebido qual era o problema de António Costa e Pedro Marques com os helicópteros. Antes do almoço nos Bombeiros Voluntários de Dafundo, o cabeça de lista do PSD às Europeias insistiu no caso e na temática da Proteção Civil: “Li que mais de metade da frota, incluindo helicópteros, que deveria estar disponível neste dia 15 para o combate aos incêndios, não está por razões burocráticas e procedimentais”, começou por dizer. Rangel vê nos discursos de António Costa e Pedro Marques “falta de elevação, nervosismo exagerado” e denuncia que “dos muitos helicópteros que faltam no terreno, o único helicóptero que falaram foi aquele que foi ao terreno”. Está oficialmente criado o ‘helicoptergate‘ como caso de campanha.
Rangel parecia querer arrumar o assunto na Fundação Champalimaud, mas logo se percebeu que ia voltar à carga. Enquanto o presidente dos bombeiros e uma bombeira lhe mostravam como funcionava a plataforma de elevação de um tanque dos bombeiros, Rangel explicou porque não ia andar pelos ares vários metros acima do chão: “Acha que vou subir? Não. Depois ainda dizem que só sobrevoo“. Estava a preparar o terreno para o que aí vinha minutos depois.
Tal como tinha dito de manhã, Rangel insistiu que a reação socialista o deixou “atónito” por ser “desproporcional” e “desmesurada” e num “tom violento e duro”. Essa violência, insiste, é porque “os helicópteros eram tabu, porque no dia a seguinte toda a gente ia ficar a saber” que faltam meios para o combate aos incêndios.
Sobre as acusações de o PSD estar a fazer um aproveitamento do tema, Rangel lembra que no “debate quinzenal um dia antes, com o tema escolhido pelo primeiro-ministro, foi ele que escolheu falar de incêndios e pôs o tema na agenda”. Sobre esse quinzenal, em que António Costa prometeu resolver “em poucas horas” a questão do SIRESP, Rangel apontou: “Isto é como a questão do SIRESP que ia ser resolvida em poucas horas, mas já passaram 48 e ainda não foi”.
Apesar de pedir elevação, Rangel avisou os socialistas: “Não pensem que ficam sem resposta. Não podem tentar fazer uma gracinha com uma visita técnica, que por ter substância, incomoda o PS”.
As pazes com uma distrital anti-Rio
A acompanhar as ações da manhã têm estado Pedro Pinto e Ângelo Pereira. Pedro Pinto foi um dos principais players na tentativa da destituição de Rio, mas não falhou às ações. Já Ângelo Pereira, o vice-presidente da distrital, chegou a ser um dos alvos das boas contas de Rio. O PSD chegou mesmo a ter preparada uma ação judicial contra Ângelo Pereira pelos gastos na campanha de 2017. Acabaram por chegar a acordo. Sem paz na estrutura, não há mobilização em campanha. E foi Ângelo Pereira quem ajudou a encher a sala dos Bombeiros Voluntários de Dafundo, em Oeiras. Desde logo, o presidente dos bombeiros, Armando Soares, era o principal assessor de Ângelo Pereira nas autárquicas de 2017. E, na anterior legislatura, foi deputado do PSD. Estão consumadas as pazes das estruturas anti-Rio, num almoço que contou com a direção da distrital.
O próprio presidente dos bombeiros, Armando Soares, ajudou no combate ao primeiro-ministro, sugerindo que muitas das falhas que existem na Proteção Civil podem ser imputadas a António Costa como ministro da Administração Interna no primeiro governo de Sócrates.
A rima dedicada a Costa
Pela manhã, Paulo Rangel visitou a Fundação Champalimaud para levantar uma das suas principais bandeiras eleitorais: a criação de um programa europeu contra o cancro. No fim da visita, quando apareceu junto às câmaras não estava acompanhado da presidente da instituição, Leonor Beleza. O candidato explicou que mais importante é a visita, e não a pose para a fotografia com Beleza (que também as tem) e até sugeriu que a ex-ministra de Cavaco o apoia. Mas, além da manhã, era preciso arrumar as lutas da noite anterior, em que foi fortemente atacado por António Costa e Pedro Marques por ter sobrevoado as zonas ardidas nos incêndios de 2017 de helicóptero.
Para o primeiro-ministro, Paulo Rangel fez uma rima: “Para se combater a abstenção é preciso serenidade e elevação“. A todas as perguntas sobre as farpas de Costa, repetia: “É só o que tenho a dizer. Para combater a abstenção, serenidade e elevação”. Depois acrescentou que o debate em torno do seu voo é “infantil” e registou que o primeiro-ministro é passageiro frequente desse tipo de veículo: “Olhe que ele já andou muito mais vezes do que eu.”
Já quanto a Pedro Marques — que Costa disse ser capaz de fazer mais em seis meses de Parlamento Europeu do que Rangel em dez anos –, Paulo Rangel diz que “o caso dele fala por si“. O candidato do PS, regista, “como ministro deixou tudo por fazer. Foi assim na Ferrovia, foi assim com o Aeroporto do Montijo, foi assim nos fundos europeus e na execução.”
Paulo Rangel apareceu perante os jornalistas ao lado de cientistas que estão a promover ações de sensibilização junto dos vários candidatos às Europeias e Legislativas e que exigem mais “respeito” pelo seu trabalho e exigem “estabilidade, carreiras, desburocratização e transparência” na comunidade científica. Mas de Leonor Beleza nem sinal no exterior da Fundação, embora tenha acompanhado a visita. Rangel explicou que a ex-ministra do PSD estava ali na “qualidade de presidente da Fundação Champalimaud, não deve ser associada a nenhuma candidatura” e que não se pode confundir planos. E depois não resistiu, após a pergunta de um jornalista: “Até temos fotos com ela, se é isso que quer.”
Além disso, Rangel sugere que Leonor Beleza apoia o PSD, ao dizer que “toda a gente conhece qual é a sua filiação”. E voltou a atirar a bola para o lado dos jornalistas: “Se tiver alguma dúvida, pode perguntar-lhe, mas tenho a certeza qual é a resposta”.
Sobre o cancro, que ocupou a maior parte dos dez minutos de intervenção matinal do candidato do PSD, Rangel explica que apresentou “o grande programa que PSD e PPE desenharam” na luta contra o cancro “que significa um investimento maciço na luta contra o cancro, que o principal objetivo é fazer a ligação entre a investigação fundamental e o tratamento clínico”. Explicou também que “a Champalimaud” não foi escolhida ao acaso, embora ainda não faça parte do esboço desse programa. O objetivo da direita europeia é ambicioso: “Na próxima década queremos reduzir a mortalidade do cancro para metade.”
Sobre os potenciais avanços na investigação, Rangel lembra o exemplo do “programa espacial, não é apenas para ir à Lua ou a Marte”, havendo uma “quantidade de coisas” dessa investigação que são aproveitadas para o dia do cidadão que é “colossal”.
Três outros cabeças de lista (Pedro Marques, Marisa Matias e João Ferreira) tinham acusado Rangel de estar a propor um programa (contra o cancro) que já existe. O candidato justificou que “o que existe é uma linha de financiamento. Mas uma linha de financiamento também existe para o Alzheimer, não tem nada a ver com um plano para combate a uma doença. É apenas alguns fundos para investigação para determinadas áreas, como há para 500 mil coisas, não tem nenhuma diferenciação”.