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Da esquerda para a direita, Carlos, Luís, João, Maria, José Carlos e António. Os Pinto Coelho ao leme do grupo Onyria, fotografados em semana de aniversário no hotel da Quinta da Marinha

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Da esquerda para a direita, Carlos, Luís, João, Maria, José Carlos e António. Os Pinto Coelho ao leme do grupo Onyria, fotografados em semana de aniversário no hotel da Quinta da Marinha

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ronaldo, Alice Cooper, Alcaraz e um hole in one no dia de Natal. A aventura dos Pinto Coelho na Quinta da Marinha

Há 40 anos, José Carlos Pinto Coelho comprava 100 hectares do exclusivo reduto para expandir o turismo em Cascais. Hoje com o clã em peso a bordo, o resort de golfe do grupo Onyria celebra 25 anos.

Se quiserem encontrá-los na manhã de Natal, basta seguirem a direção do campo de golfe “Jogamos sempre todos no dia 25”, diz-nos Carlos Pinto Coelho, no rescaldo da foto de família, que aos cinco dos seis filhos, entre os 40 e os 51 anos, poderia juntar ainda os 24 netos, dos zero aos 25. Desde logo, dois conselhos à navegação: a partir da Signature Suite do Onyria confirma-se que o desafiante buraco 10 é mais bonito visto da varanda do que ao nível do green. E vai ser difícil bater a proeza do patriarca em plena quadra festiva: “um dia o pai fez um hole in one, brilharete tanto maior em buracos de par quatro, como é o caso.

Instalados num dos 198 quartos do hotel da Quinta da Marinha, ou a partir do driving range, por aqui já desfilaram estrelas com maior ou menor talento para a modalidade. Quando os motores da F1 rugiam no autódromo do Estoril, Ayrton Senna e Alain Prost mediam forças à margem do circuito. “Jogavam muito bem. Vinham um pouco antes do grande prémio, era mais para relaxar. O mais sério passava-se na pista”, recorda João Pinto Coelho, que adianta a celebridade com prestação exemplar. “Há uns anos tivemos cá o Alice Cooper, que vinha a Lisboa para um concerto; o concerto foi cancelado mas ele veio jogar na mesma. E joga muito, muito, bem. Diz que o golfe o acalma”.

Desde o arranque da unidade, que esta terça-feira celebra 25 anos, que José Carlos Pinto Coelho distribui jogo pelos seis filhos – cinco já a bordo da empresa familiar que se rege pela disciplina nórdica, pontualidade obrigatória, e um protocolo familiar aconselhado pelo amigo e companheiro de longa data Luís Todo Bom, para respeitar à risca. “São as regras e requisitos que os membros da família devem ter para ocuparem um lugar. Por exemplo, se trabalha marido, não trabalha mulher, e vice versa. Só trabalham se a posição está vaga, e se forem melhores que os outros, e não mais caros. E obrigamos a curso e experiência de três a cinco anos antes de entrarem.”, descreve o fundador.

Já vivia na Quinta da Marinha quando em 1985 não deixou escapar estes 100 hectares destinados a exploração turística, um plano a longo prazo que à época não passava de uma miragem ainda no horizonte de Cascais e arredores, região pontuada apenas pela existência do hotel Palácio, Estoril Sol e Atlântico. “Isso parece-me ainda mais atrevido do que o habitual”, temiam os amigos de José Carlos, que aqui selava a partida para mais um contrarrelógio rumo à construção do resort. “Tenho a mania de que faço as coisas todas.”

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Hotel oficial do Iron Man Cascais, costumam deixar os atletas treinarem aqui no lago (até as dez da manhã, quando começam a chegar os golfistas)

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Terra na estrada, cadeiras de um lado para o outro, e uma visita ao hospital para levar pontos. Que o diga o então diretor-geral Manuel Tamagnini, que nesse lufa lufa ao cair de 1999, para que tudo ficasse pronto a tempo da inauguração, chocou a correr contra uma porta de vidro e abriu a cabeça. “Ainda nem tinham aquelas fitas nas portas.”

Este sábado, voltaram a fazer a festa entre amigos, alguns deles resistentes da celebração original, como Francisco Pinto Balsemão, cujo cão se passeia descontraidamente no exterior, diante da câmara do fotojornalista, ou Humberto Coelho, antigo selecionador nacional e eterno parceiro de golfe. Na segunda-feira, a passadeira vermelha voltou a desenrolar-se, agora para os 500 funcionários do grupo, que conheceu o atual organograma quando a pandemia trocou as voltas e viagens que José Carlos Pinto Coelho planeara no final de 2019, sem desconfiar do que aí vinha. “Apetecia-me imenso passar seis meses fora”. Ficou em terra, sentou-se na cadeira de chairman e confiou à prole a escolha de um novo CEO. “A única coisa a fazer bem numa empresa familiar é não ser eu a escolher, mas eles. Por unanimidade escolheram o António”. Tudo certo, mas da próxima vez que aparecer um miúdo com borbulhas na Quinta da Marinha lembrem-lhe que o ilustre desconhecido pode vir a liderar o ranking ATP.

[Já saiu o primeiro episódio de “A Caça ao Estripador de Lisboa”, o novo podcast Plus do Observador que conta a conturbada investigação ao assassino em série que há 30 anos aterrorizou o país e desafiou a PJ. Uma história de pistas falsas, escutas surpreendentes e armadilhas perigosas. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube.]

José Carlos Pinto Coelho, Chairman. “De repente, eu que já tinha dado três voltas ao mundo, estava sentado num gabinete a telefonar para casa a perguntar onde é que se compravam lençóis!”

Não há volta a dar. Esta não é só uma casa de golfistas. É uma casa verde e branca. E se o treinador László Bölöni pede, o treinador László Bölöni tem. “Foi uma das grandes alegrias ter aqui o Sporting. No defeso costumávamos fechar algumas alas do hotel mas ele era muito supersticioso e insistia que queria os quartos 17, 19, etc, porque tinham lá ficado no ano anterior. Tivemos que modificar o plano todo de inverno para poder ter os mesmos quartos abertos para eles”. Entenda-se: na viragem do milénio, ainda sem Academia em Alcochete, os leões chegaram a instalar-se no Onyria, e o triunfo de 2000 justificava o título de “hotel talismã” em plena Quinta da Marinha – e as visitas assíduas do clã em peso, que vinha ver os jogadores.

Talvez a sorte tenha sorrido aos audazes que se foram sempre metendo numa “grande confusão”, em tempos em que havia pouco ou nada. Que é como quem diz ir colecionando projetos e investimentos desde 1972, quando José Carlos começou como engenheiro nos estaleiros da Lisnave, onde chefiava um departamento anti-poluição. Já no pós-Revolução, lançou um projeto de betoneiras com um grupo de amigos, que ainda hoje existe. “Vendia-se para construção clandestina, que era o que se fazia na altura. Começavam a casa na sexta-feira e na segunda estava de pé.” Arrancou também, já como sócio, com o projeto do Terminal de Líquidos de Porto Brandão. Pelo caminho, foi como se cumprisse uma lista de tarefas: trazer a Repsol de Espanha, erguer uma fábrica de blending em dez meses, desenvolver a engenharia base das minas de Neves Corvo, e comprar a Sacavenauto. Check, check, check, check. “Não havia quase nada. Com um certo atrevimento era simples fazer coisas. Com o negócio ligado a petróleo e shipping produzia alguma liquidez”.

José Carlos Pinto Coelho

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Certo dia, a caminho do aeroporto, cruza-se com um cunhado que é mensageiro de boa nova: preparavam-se para vender a Guia, esses 100 hectares com o futuro todo à espreita, que se esticavam até ao mar, e sobravam 24 horas para ponderar a compra. “Já vivia na Quinta da Marinha. Claro que é mais simples negócios entre pessoas que se conhecem. Há quarenta anos não havia as diligências de hoje e acreditávamos na palavra, o que vai sendo mais complicado.”

Em 1984, o campo de golfe esboçado por sir Trent Jones ainda cheirava a fresco, bem como as primeiras 40 casas do aldeamento, e complementava a oferta isolada do não muito distante velho campo do Estoril. De resto, apenas casas antigas de famílias. Só os locais se arriscavam no mar bravio do Guincho, a costa estava reservada a pequenas tascas, e a ousadia possível ensaiava-se mais a sul, na região do Algarve. “Repare que isto é 10 anos depois da Revolução. Não havia nada, incluindo dinheiro. Foi um impulso de dizer que isto era um plano a longo prazo, onde se podia pôr a liquidez existente.”

Foi com o chefe, amigo, e sócio João António Belo que apontaram à ideia de um projeto turístico forte, sabendo que estava previsto um hotel, e desenvolver mais área residencial. Chegados a 1989, dividiram as pastas. José Carlos Pinto Coelho ficou com o bloco da Quinta da Marinha e com o Serviço Médico Permanente, que arrancara entretanto com Francisco Pinto Balsemão e Germano de Sousa. Para trás, ficava a indústria. “De repente, eu que já tinha dado três voltas ao mundo, passei de um mundo enorme, de milhões, para estar sentado à secretária num gabinete pequenino, a telefonar para casa a perguntar onde é que se compravam lençóis!”

Com traquejo de globe trotter e faro de scouter, foi ao sul de Espanha buscar referência para a nova empreitada. Em Sancti Petri, para lá de Cadiz, existiam dois hotéis sobre a praia, com campo de golfe, cuja estrutura haveria de replicar na Quinta da Marinha, contando com os arquitetos Juan Morro e João Sousa Meneses.

A renovação mais recente, terceira em 25 anos, contou com a intervenção artística de Kruella d'Enfer, visível nos quartos e áreas comuns

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

A primeira pedra foi lançada no fim de 1997, benzida pelo Padre Raul, à época pároco de Cascais. Em um ano e nove meses, com “grande luta”, ergueram o edifício. “Aquilo era um disparate, tudo aos gritos, Mas eu dizia, vai abrir antes do ano 2000. Na Lisnave era assim. Não se admitia errar nem no orçamento nem no timing, senão morria-se.” Na véspera da inauguração de pouco servia o conselho que uma previdente mãe deu a um determinado “José Carlinhos”: “Não tem importância nenhuma. Abre amanhã, faz-se a festa, depois fechas tudo outra vez”. O que não sabia é que no dia a seguir à festa estava prevista a chegada de um grupo que lotava o hotel. “Claro que abrimos”. Umas semanas depois, a 31, o hotel voltou a engalanar-se, agora para celebrar o primeiro réveillon.

António Pinto Coelho, CEO. “Emprestei os meu tacos a um miúdo de 17 anos que veio bater umas bolas. Não lhe liguei nenhuma. Pouco depois o Alcaraz vencia Miami”

Não é só uma questão de afinamento para evitar atrasos em reuniões. Um mecanismo de luxo tanto vive de engenharia como de filosofia. “Enquanto empresa somos marcadamente familiares, como um anúncio que vimos da Patek Philippe. Nunca somos donos verdadeiramente do relógio, apenas tomamos conta dele para a próxima geração. Enquanto gestores, a nossa lógica é essa. Não é de forma inocente que eu e o Carlos dividimos escritório com o pai.”, resume António, com vista para a secretária hoje partilhada por três.

Foi uma serena decisão entre manos: o cargo de CEO é agora seu. Quanto às tarefas, estão bem definidas. A descendência ocupa-se da gestão do dia a dia, sendo certo que o fundador não deixa passar nenhum pensamento estratégico. Talvez um dos maiores desafios correntes seja fintar confusões com o seu gémeo, João, ainda que um circule por estes corredores quase sempre de fato e o outro raríssimas vezes adira a esse uniforme. “Na festa de sábado não vinha de fato. A minha mulher é que me mandou voltar para trás. A minha desculpa é que era para não ser confundido. E lá fui confundido com o João por toda a gente. Já aconteceu estar de muletas, pedir um café, ir a casa de banho e depois aparece o António a andar muito rápido.”

António Pinto Coelho

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Na lista de episódios caricatos, não é fácil bater a corrida solidária em estafeta que chegaram a realizar desde Cascais a Palmares, em Lagos, um intenso desafio sem pausas, com dezenas de colaboradores. Rodado em maratonas e Iron Man, João já levava 40 quilómetros nas pernas quando se rendeu ao descanso. Mas quando António se fez à estrada para fazer um dos derradeiros troços, a energia de quem arranca deixou perplexos os incautos. “Quem ia no carro cronómetro começa a olhar para mim com ar incrédulo, e eu sem perceber. Até que uma pessoa do carro estafeta grita: as tuas pilhas não acabam!!” Aí é que percebi, comecei a rir imenso”.

Chegados a 2024, quem não reconhecerá de ginjeira o rosto do legítimo sucessor de Nadal na invencível armada espanhola do ténis? Bom, mas tempos houve em que era só mais um aspirante com acne a bater umas bolas na Quinta da Marinha, enquanto o anfitrião vislumbrava sempre melhor programa para fazer.

“Há três ou quatro anos liga-me um grande amigo do Porto, o João Ferreira da Silva, que me diz que está com o Juan Carlos Ferrero, antigo número 1, e com um miúdo, que estava no Jamor, e que se ganhasse o torneio qualificava-se para o qualifying de Roland Garros”. O miúdo em questão queria descontrair um pouco no campo de treinos mas acabou ofuscado pelo mestre, e nem quando ensaiou o ás de um convite para jantar se livrou da nega. “Adoro ténis, prestei muita vassalagem ao Juan Carlos e nenhuma ao outro. Perguntaram se eu queria jogar golfe com eles, disse que não, emprestei os meus tacos ao miúdo de 17 anos, que me respondeu ‘gracias señor”. Batia muito bem na bola. Deixei-os ir para ir despachar uns emails que não serviam para nada. A seguir ainda me ligam para ir jantar ao Monte Mar. Deixaram o lugar vago para mim e eu não fui para dar banho ao meu miúdo. Já não consigo jogar golfe nem jantar com o Carlos Alcaraz”. Muito pouco tempo depois, ganhava Miami. E o resto é história (e algum arrependimento).

João Pinto Coelho, Diretor Comercial e Marketing. “Fala-se muito de uma reunião que mudou a história do futebol. Foi ali no lobby”.

Muito mudou desde os primeiros passos do hotel, ainda a leste de smartphones, redes sociais e outros instrumentos de avaliação prévia a uma reserva. “O cliente viaja hoje muito e sabe muito mais. Antes de chegar já sabe tudo. Entrei há vinte anos e nessa altura passávamos muito tempo nas reservas a descrever tudo. Como era a vista, como era o quarto. Hoje os telefonemas são sobre um pequeno detalhe. Às vezes o telefone quase não toca e as reservas sobem muito.”

Responsável pela área comercial, João Pinto Coelho recorda o nervoso criado pelo acolhimento aos grandes grupos, de conferências de diferentes segmentos a um casamento indiano de cinco dias, sem esquecer o protocolo imposto pela visita da presidente da Comissão Europeia, ou a receção a equipas de futebol. O guião leva-nos de novo até ao Sporting, agora para estacionar em 2003, ano de inauguração do novo estádio e do convite ao Manchester United, que se alojou no Onyria, capitaneado por Alex Ferguson. “Foi o tal jogo em que os ingleses repararam no Cristiano Ronaldo e a seguir se desenrolou a sua transferência. Fala-se muito de uma reunião aqui no hotel em que a coisa ficou mais ou menos acertada e mudou a história do mundo do futebol. Foi ali no lobby”, aponta João, guiando-nos pelos corredores onde se reflete o impacto da terceira renovação no edifício: estão atapetados com o trabalho artística de Kruella d’Enfer, a mesma que deixou a sua marca nas cabeceiras dos quartos.

Carlos, Luís, Maria e João Pinto Coelho

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O projeto concretizou-se aliás pouco antes de um dos capítulos mais duros no trajeto recente, o da Covid-19. “Demorou muito a ficha a cair. Numa semana passámos de um volume interessante de reservas para zero, sem saber quando iríamos retomar, o que foi muito lento. Foram muitos os dias em que tivemos só um ou dois clientes. Festejámos com champanhe na primeira semana em que voltámos a ter 10 quartos.”

Carlos Pinto Coelho, CFO. “Para ter espaço de antena nas questões difíceis, começo sempre assim: ‘já sabemos que é o pai que decide, mas já que estou aqui….’”

Aterrou em Portugal na véspera da inauguração do hotel. Tinha acabado de concluir o programa Erasmus na Dinamarca e o curso de Gestão a 16 de dezembro de 1999. “Cheguei, vi isto ainda tudo em obras. E com a minha ingenuidade…”. Talvez pensasse que a leitura e conselho da avó paterna vingariam, mas a red carpet desenrolou-se mesmo no dia a seguir.

Na altura, mal chegou a aquecer a presença na Quinta da Marinha. Em janeiro de 2000, o atual CFO foi trabalhar para o BPI, para o departamento de corporate finance, onde tinha estagiado desde o terceiro ano de faculdade. Com o Palmares a juntar-se ao portfolio Onyria, ingressou no grupo de família para ficar a cargo do planeamento financeiro a longo prazo a partir de janeiro de 2004. Em 2008, rumou ao MBA em Barcelona, e quando regressou, em 2011, a crise das dívidas soberanas deixava o seu lastro. “Tivemos aqui grande trabalho de reestruturação da dívida.”

Por um lado, o sonho permanente do fundador anima a equipa. Por outro, Carlos Pinto Coelho não esquece a necessária água na fervura que o homem das contas tem que despejar de quando em vez. “É interessante conciliar a visão muito conservadora de alguém que o é responsável financeiro com o otimismo de um empresário. É por isso que somos três, eu, o meu pai e o António, que está sempre no meio para contrabalançar”. No fim de contas, Carlos bem sabe que a palavra final emana da cadeira do chairman, mas não custa ensaiar a deixa. “Para ter espaço de antena nas questões difíceis, começo sempre assim: ‘já sabemos que é o pai que decide, mas já que estou aqui….’”

No eufórico ano do Europeu de futebol em solo nacional, viu a seleção da Suécia instalar-se no hotel, daqui levando o postal turístico para os países nórdicos. “Penso que foi aí que ficámos conhecidos na Escandinávia como destino de golfe”.

Entre pais, filhos e netos, muitas e muitas horas de convívio pessoal e profissional, só faltava alcançar a fórmula certa para uma sã convivência. “Passamos muito tempo juntos mesmo fora do hotel. E quando estamos fora daqui tentamos não falar do nosso trabalho, é algo que tem sido feito com sucesso. Ao princípio falávamos muito de trabalho nas férias em família, ou quando jantávamos todos juntos ao domingo. Uma coisa que temos conseguido mais é dividir muito o trabalho do plano familiar. ”

Maria Pinto Coelho, Restaurantes e compras. “Fingíamos que o hotel já não estava em obras mas ainda estava. Eram convidados a entrar por uma porta e homens das obras a sair por outra”

Do que se serve à mesa (neste hotel, no vizinho hotel boutique ou no restaurante Monte Mar) à compra de areia para os bunkers de golfe – quando o assunto são as compras do grupo a tarefa fica nas mãos de Maria Pinto Coelho, incluindo os lençóis que o pai mal imaginava onde arranjar quando esta história deu os primeiros passos. “Vivemos todos na Quinta. É quase vir aqui quando precisamos de ovos”, desabafa a primogénita.

Maria era a única da prole que já trabalhava no grupo quando o hotel abriu portas. Campeã nacional de golfe aos 12 anos, quando “só havia seis pessoas” a disputar a prova, domina um território até hoje reservado a um nicho no país. Há um quarto de século, o número de praticantes em Portugal não iria além dos 5 mil, e atualmente os sócios da Federação, rondarão os 16 mil, apontam, uma fasquia modesta quando comparada com as cifras de Espanha, na ordem das centenas de milhar. Quando o Onyria encontrou forma de operar o pequeno campo de nove buracos que o Estoril Sol mantinha junto ao Penha Longa, a mana mais velha, então com 21 anos, ficou ao leme. Em 1999, de forma natural, assumia pasta semelhante no novo hotel do clã. “Havia grupos grandes de suecos que vinham na época baixa, em março e abril, jogavam todos os dias no mesmo campo, tipo colégio interno, jogavam de sol a sol. Já os ingleses gostam de estar no centro de Cascais para poder ir aos pubs.”

Um regresso a 1999 e às páginas das revistas de então, para um retrato da grande festa de inauguração do hotel

Se a famosa inauguração passou à história, a viragem para 2000 não lhe ficou atrás. “Fingíamos que o hotel já não estava em obras mas ainda estava. Eram convidados a entrar por uma porta e homens das obras a sair por outra, ainda se esticavam tapetes pelos corredores. A 31 fizemos outra grande festa, e quando vemos as fotos são quase as mesmas pessoas, mas numas estão de smoking e noutras não.”

É raro os Pinto Coelho dormirem no hotel mas não faltam almoços no club house – e quando algum dos netos faz anos é provável vê-los a tomar o pequeno-almoço por aqui, uma novidade vivida como se não fizessem parte da casa.

Luís Pinto Coelho, Serviço Médico Permanente. “Até louça trouxemos do Monte Mar. Quando os restaurantes ainda não podiam abrir os clientes vinham aqui comer os filetes”

Num dia reservado à festa dos 500 funcionários, o hotel encontra-se atipicamente vazio de hóspedes, um cenário despido que evoca memórias menos agradáveis dos tempos da Covid-19. À semelhança de outros alojamentos, não foi fácil recuperar o ritmo pré-pandemia, mas apesar de tudo as restrições geriam-se de forma mais maleável que num restaurante. E foi assim que a lacuna à beira mar foi colmatada com este pequeno sucedâneo numa das zonas exteriores do hotel da Quinta da Marinha. “Não me lembro como surgiu a ideia mas a nossa equipa do Monte Mar é a mais antiga, temos ali pessoas há 30 anos, estavam desejosos de vir trabalhar. Juntámos as duas equipas, trouxemos para aqui até alguma louça, e começaram a aparecer clientes de sempre desejosos de se sentarem na esplanada só para voltar a comer os filetes, para ter uma refeição à mesa.”

Aos 40 anos, há seis anos a bordo da empresa, o benjamim da família recorda como a melhor forma de fintar limites, em tempos de confinamentos e portas cerradas, foi importar a clássica para dentro de portas do resort. Por contraste com os longos períodos em casa, o verão de 20 e 21 foram muito bons. “Os restaurantes recuperaram melhor que os hotéis. Na altura ainda tínhamos restaurantes em Troia, houve picos.” Pelo caminho, em contrapartida, ficaram muitas reservas de golfe, meetings e incentivos, que forçaram devoluções e renegociações. “O João é que vinha cá todos os dias porque não tinha filhos na altura. Ao longos dos 25 anos fizemos três grandes remodelações, 2007, 2014, e 19/20. Abrimos um mês antes do lockdown da Covid. Tínhamos um grupo de americanos a vir, tinha que estar tudo pronto, vinham ocupar quase o hotel inteiro e uma semana antes cancelaram.”

O clã reunido para a foto (só falta a filha Teresa)

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Da Jerónimo Martins à Sonae, por fim já no Onyria, primeiro ligado ao Monte Mar, hoje ligado em exclusivo ao setor da Saúde do grupo, Luís lembra outro hábito que concorre diretamente no grau de dificuldade e lição. “Se algum de nós queria ir de férias, e isso já está a passar para os filhos da Maria, o pai nunca nos dava dinheiro, dava trabalho. Na altura do Euro 2000 eu estava a trabalhar no bar da piscina, sempre foi uma rotina”. Uma tarefa digna de ver o copo meio cheio quando comparada com aquele agosto em que chegou de férias e o campo estava completamente seco e a falta de água exigiu uma alvorada coletiva organizada em turnos. “Todos os greens tinham que ser regados à mão. Fizemos uma escala entre nós para aquele mês. Era acordar ao nascer do sol, agarrar num buggy e ir regar todos os greens com mangueira, ainda meio a dormir. A melhor coisa que podia acontecer nesse agosto era chover.” Para a posteridade fica a relação com alguns dos mais antigos empregados da casa, como o senhor Bacalhau. E a certeza que se deve moderar a noite quando no dia seguinte se pode ser confrontado por alguém que faz hole in one a 25 de dezembro. “Muitas vezes fazíamos diretas, chegávamos de manhã e o pai dizia que precisava de um parceiro para o golfe, e lá íamos nós.

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