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TIAGOCOUTO/Observador

TIAGOCOUTO/Observador

Rosa Cullell em entrevista após o anúncio de saída da TVI: “O segundo lugar às vezes faz bem"

Era para ter vindo por quatro anos e vender a TVI. Acabou por ser presidente executiva da Media Capital durante oito e não vender a estação. Agora sai de Queluz, mas não de Portugal.

A CEO da Media Capital está de saída, ao fim de oito anos. Veio de Barcelona para vender a TVI, que é detida pelo grupo espanhol Prisa, mas abandona a empresa sem cumprir o objetivo. A administradora demissionária revela que a Prisa mudou de opinião várias vezes e outras exigiu demasiado pelo negócio. Neste momento, garante, não está à venda.

Assume que deixa o canal de televisão com as audiências em baixo, depois de a TVI ter liderado o mercado durante 14 anos, e que a saída de Cristina Ferreira teve “um impacto muito grande” nos números. Para a catalã, que já foi jornalista, e não pretende regressar de vez a Espanha, “o segundo lugar às vezes faz bem”.

Sobre a sucessão, Rosa Cullell, entrevistada por Ricardo Conceição (editor executivo da Rádio Observador) e Judite França (que trabalhou na TVI e é agora co-host das Manhãs 360) elogiou Luís Cabral, presidente-executivo da Media Capital Rádios, entretanto confirmado. Mas disse que José Eduardo Moniz também seria uma boa solução e sugeriu ainda outra pessoa, uma mulher, que trabalha como diretora financeira e operacional, a quem tece rasgados elogios.

[Veja no vídeo a entrevista completa a Rosa Cullell]

O que nos pode dizer deste momento que a TVI está a atravessar? Vai ou não vai ser vendida?
É a pergunta que me fazem há 8 anos. A primeira pergunta é sempre: foi vendida? Vai ser vendida? Realmente, não foi vendida, já sabem disso. Acho que neste momento não está à venda. Mas também digo sempre o mesmo: uma empresa boa com saúde financeira tem sempre comprador. Se calhar o preço não é o adequado, mas sempre tem comprador.

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Mas não vai ser vendida? Não está para ser vendida?
Na minha opinião, não. Mas não sou acionista. A Prisa é o acionista e é o acionista que decide. Mas não está à venda e não há caderno de venda.

Há interesse? Potenciais compradores?
Potenciais compradores da Media Capital há sempre. Desde que estou cá, ouço um ouço outro, mas depois não acontece…

Porque a Prisa pede de mais?
Ou porque a Prisa pede de mais ou porque a Prisa de repente muda de opinião… Durante algumas alturas, em que eu já era administradora-delegada, a Prisa decidiu não vender, durante muitos anos.

Mas foi escolhida pela Prisa para vender a TVI. Foram 8 anos e sai sem vender….
A verdade é que já tenho dúvidas por que fui contratada pela Prisa.

Não foi para vender a TVI?
Está a ver que não. Não foi vendida. Durante oito anos não foi vendida.

Há sempre interessados? Muitos interessados ao longo destes anos?
Muitos… não.

Quais?
Também não vou aqui estar a fazer contabilidade analítica.

Mas não podemos saber quais? Só soubemos alguns nomes. Outros não terão chegado aos jornais?
O único comprador real e verdadeiro foi a Altice, que pôs uma oferta em cima da mesa.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Uma oferta muito generosa…
Uma oferta muito boa, efetivamente. A TVI também tem valor.

Por que é que o negócio não se fez?
Acho que por vários motivos. Nunca é apenas por um motivo. A Autoridade da Concorrência não pôs condições fáceis. As condições que a autoridade queria eram condições que a Altice não quis avaliar…

Estamos a falar da questão da monopólio…
Sim, mas não há monopólio na televisão neste país. A realidade é que não há. E ultimamente na Europa, nos Estados Unidos, muitas televisões free to air privadas têm sido vendidas a operadores. Mas, anyway, a Autoridade da Concorrência não estava aberta a aprovar a operação nas condições que colocava a Altice.

Mas teria sido bom para a TVI ter sido vendida à Altice?
Nunca sabes… Vou ficar com essa incógnita na cabeça. Achei que o modelo de plataforma, com a Altice ou com qualquer outra – portuguesa ou não -, com uma televisão e um grupo de rádio fazia sentido para ter o tamanho certo e poder concorrer inclusive fora das fronteiras portuguesas. Neste momento, se tinha sido melhor ou pior, é verdade é que sou incapaz de dizer.

"Achei que o modelo de plataforma, com a Altice ou com qualquer outra - portuguesa ou não -, com uma televisão e um grupo de rádio fazia sentido para ter o tamanho certo e poder concorrer inclusive fora das fronteiras portuguesas. Neste momento, se tinha sido melhor ou pior, é verdade é que sou incapaz de dizer".

Faz sentido essa lógica de grandes grupos ou vamos regressar a tempo mais primitivos, com empresas mais pequenas, de rádio, de jornal. O que faz sentido?
Tudo faz sentido, se for bom. Se for mau, nem pequeno, nem grande. Cheguei a dirigir uma editora de livros há muitos anos. E nessa altura, Espanha e Portugal tinham muitas médias empresas. Não somos países de ter grandes empresas. Quando fui para lá trabalhar, nesta empresa mediana, uma editora média, comecei a olhar para os livros e a pensar: “Isto não vai funcionar nunca. Porque o mundo é das grandes editoras que têm mais de uma língua e vendem em muitos países. E das muito pequenas que são quase boutiques de edição. É um mercado de nicho, com uma língua, a escolher muito bem o que editar, com 2, 3, 4 pessoas a trabalhar.

Sendo o jornalismo um dos pilares da democracia, para a Rosa faz mais sentido ter grupos fortes que consigam prestar esse serviço?
Vou sempre estar a favor de grupos fortes que consigam ser independentes sobretudo se fazem informação. Grupos pequenos e com dificuldades económicas é muito difícil.

E grupos grandes com dificuldades económicas?…
Em grupos grandes com dificuldades económicas também é muito difícil fazer informação independente. Dependes de financiamento, de uma série de coisas, e portanto tens de encontrar o tamanho certo e dentro da realidade. E a realidade atual é que tudo tem de ser digital. E é preciso transformar empresas que não eram digitais. A televisão free to air não era digital. Viviam da publicidade, ponto. Agora temos que transformar e a publicidade virá de outras coisas.

Na questão da independência, Portugal está melhor ou pior do que em Espanha?
Aqui acho que há mais regulação.

Mas em Espanha há mais frontalidade.
Há mais frontalidade, sim. Porque em Espanha podes dizer que o teu jornal tem uma linha editorial de direita, centro ou esquerda…

Aqui não é bem visto. 
Aqui não é bem visto! Todos sabemos quem é o quê, porque o leitor não é burro. Mas em Espanha é tudo mais frontal. E tudo é muito mais investigado.

Que peso tem a TVI na Prisa?
É importante em cash flow e em resultado líquido.

É uma boa fonte de rendimento?
É um boa fonte. Mas a verdade é que a Prisa não comprou a TVI por isso. Compraram porque queriam estar em Portugal.

Mas compraram caro…
Isso já não posso dizer.

A Rosa sai porquê?
Acabei uma etapa. Pensei, quando cheguei cá em 2011, em plena crise, que ia ficar por quatro anos, no máximo. Fiquei oito. A minha mãe vive em Barcelona, a minha filha também. O meu filho já ninguém sabe onde vive (risos). Neste momento está no México, portanto não é um problema porque saiu à mãe.

"Acabei uma etapa. Pensei, quando cheguei cá em 2011, em plena crise, que ia ficar por quatro anos, no máximo. Fiquei oito. A minha mãe vive em Barcelona, a minha filha também. O meu filho já ninguém sabe onde vive (risos). Neste momento está no México, portanto não é um problema porque saiu à mãe".

Quer voltar para Espanha?
Quero voltar a estar mais em Espanha. Não vou deixar Portugal.

Apaixonou-se por Portugal?
Completamente. Um dia acordei e pensei: “E agora vou para Espanha? O que é que vou fazer?”. Os espanhóis gritam muito, zangam-se mais. São muito diretos. O que é verdade é que quando falas diretamente e dizes a um português que não gostas de alguma coisa, acham que estás a ser muito duro. Em Espanha, fazemos isso com tranquilidade e ninguém se incomoda.

Como vê a investigação da IURD, o arquivamento do processo por parte do Ministério Público e as notícias publicadas pelo Expresso?
A IURD ainda não é igreja em Portugal, mas vai ser em breve, imagino (Ndr: para ser igreja radicada em Portugal, uma confissão religiosa tem de ter 30 anos em território nacional). Mas no Brasil já é. Tem muito poder no Brasil. Tem muitos seguidores e aliados políticos e uma importância que vai além da religião.

Mas acha que é uma resposta de poderosos?
Acho que é uma resposta de poderosos.

Acha que conseguem influenciar o Ministério Público?
Acho que não. Acho que não vai conseguir. Mas a reação é sempre a reação de alguém que tem muito poder: com ameaças, com muitas cartas, muitos advogados, colocam muitos processos contra os jornalistas…

Já que estamos a falar de processos difíceis, está arrependida de ter visto sair Cristina Ferreira?
Não é um processo judicial…

Não, é só um processo difícil…
A Cristina estava lá há muitos anos. Eu percebo: quando se está há muitos anos a fazer a mesma coisa quer-se mudar, mesmo que seja de empresa ou acionista. A realidade é que foi embora e depois já não quis mais falar.

Imaginava este rombo nas audiências?
Uma pessoa como ela, que é uma influencer importante, sempre faz a diferença. Depois também acho que encontras outros e as coisas têm um tempo na televisão.

Mas tem tido um impacto grande.
Também tinha um impacto grande quando estava na TVI. Durante muitos anos fomos líderes e ninguém me dizia “olha, ainda são líderes”, nem ninguém me perguntava “vocês são líderes”… Oito anos a ser líderes e já eram antes. 14 anos a ser líderes. Venho de outros países onde a liderança muda. E onde o segundo (lugar) faz bem. E se calhar temos de pensar que modelo queremos fazer. Porque o modelo que a Cristina faz lá é muito parecido ao que fazia connosco.

"Venho de outros países onde a liderança muda. E onde o segundo (lugar) faz bem. E se calhar temos de pensar que modelo queremos fazer. Porque o modelo que a Cristina faz lá é muito parecido ao que fazia connosco".

Está a dizer que é uma oportunidade para a TVI repensar…
Mesmo as mudanças, mesmo as mais duras, e esta foi dura para as pessoas da TVI e para as audiências, são uma oportunidade de acelerar a mudança. E acho que o grupo vai acelerar a mudança agora. Quando tudo corre bem é mais difícil fazer mudanças.

Não sente que sai na mó de baixo, com as audiências em queda?
Não é uma questão de sentir… vou sair com as audiências em baixo. É uma realidade. Sou uma pragmática. Saio com as audiências em baixo, mas acho que vão crescer. Já vi audiências que cresceram. Ou então vão chegar a outros patamares. É verdade que as audiências do free to air estão em queda de maneira geral.

Que televisão vamos ter daqui a 20 anos? Os miúdos já não veem televisão?
Veem algumas coisas. Mas escolhem muito mais. Não ficam frente ao ecrã.

Veem na Internet.
Na netAudience de junho, a TVI é a mais vista. Há três meses que somos líderes. Superamos o JN e o Correio da Manhã e somos líderes. A partir de 2016, investimos para ter vídeo digital e somos os maiores produtores nacionais de vídeo digital. Irá por este caminho e por outras plataformas: plataformas pagas, plataformas que juntam diferentes televisões free to air europeias, que vão entregar produto televisivo.

Foto: TIAGO COUTO/OBSERVADOR

TIAGOCOUTO/Observador

Agora quando sair, vai ficar quanto tempo sem ver televisão?
Há coisas que não vou ver. Não digo quais, mas muitos programas acabava por ver porque era trabalho. Mas vou continuar a ver o Jornal das 8. Está a crescer muito no digital. A televisão, como os jornais, já ninguém vai querer saber onde estarás a ver. Vais ver na plataforma que seja melhor, que tenha o melhor conteúdo e o melhor preço. E só vais pagar por aquilo que queres ver e que consideras muito importante. Nos jornais isso é muito evidente. O El País ainda não tem conteúdos pagos, mas agora está a pensar que tem de ser por subscrição. Às vezes pergunto-me: “Tu comprarias o El Pais?” Eu compraria. Mas é o único jornal que compraria porque é o meu jornal.

E o Observador?
Eu vejo o Observador. Fazem aquelas ofertas… e aproveito as ofertas. Faço o mesmo com o Financial Times. Depois abandono. E de repente percebo que tenho de voltar e volto a pagar, mas só o que é importante.

Vai ter alguma palavra a dizer na escolha do seu sucessor? Sugeriu alguém à Prisa?
Sugeri algumas pessoas da minha equipa que acho que estão preparadas para liderar o grupo e já não foi agora, mas no início do ano.

Vou dizer um nome: Luís Cabral (atual presidente executivo da Media Capital Rádios, confirmado já depois da entrevista ser feita).
Diga mais… Tretas, não… (risos) Acho que o Luís Cabral é um grande diretor.

José Eduardo Moniz?
Também é uma pessoa muito boa. E foi um grande diretor da TVI. Há outras pessoas fantásticas: Olívia Mira, diretora financeira e operativa da TVI; uma pessoa de um nível enorme. Se temos aumentado no digital também é por causa dela.

Não é preciso ir buscar fora?
Acho que não. Não vai ser uma pessoa de fora.

Vai sentir saudades?
Vou ficar por aqui. Tranquila. Vou continuar em Serralves, se eles quiserem. E vou escrever mais. Estou numa etapa do caminho em que já não quero mandar em pessoas. Quero estar a fazer o que quero. E sobretudo quero escrever; vou escrever mais para o El País. Vou mais a Barcelona, também para tomar conta da minha mãe. Ir à ópera. Vou ter tempo para ir à ópera.

"Vou ficar por aqui. Tranquila. Vou continuar em Serralves, se eles quiserem. E vou escrever mais. Estou numa etapa do caminho em que já não quero mandar em pessoas. Quero estar a fazer o que quero. E sobretudo quero escrever; vou escrever mais para o El Pais. Vou mais a Barcelona, também para tomar conta da minha mãe. Ir à ópera. Vou ter tempo para ir à ópera".

Bela vida…
Não é? Espero que seja assim. É wishful thinking. É um sonho que tenho há muitos anos. Comecei a trabalhar aos 18 anos com ordenado e tudo. E nunca parei de trabalhar. Nem quando tive os meus filhos. E agora parar um bocado e fazer o que quero sem perguntar a ninguém. Sem ter um acionista a ligar para saber o que aconteceu. Nem vocês a ligarem a perguntar se vamos vender a TVI… (risos).

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