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O sindicato que representa mais de 160 mil atores está em greve

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O sindicato que representa mais de 160 mil atores está em greve

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Salários, streaming e Inteligência Artificial. Que greve é esta que ameaça parar Hollywood por tempo indeterminado?

Os atores norte-americanos juntaram-se aos argumentistas numa greve que coloca em risco a produção de filmes e séries. É a primeira paralisação total da indústria de Hollywood em 63 anos.

O sindicato que representa mais de 160 mil atores que participam em programas de televisão e filmes, radialistas e modelos, juntou-se esta semana à paralisação dos argumentistas, que estão em greve há mais de 70 dias para reivindicar melhores condições de trabalho e melhores salários. É a primeira paralisação total da indústria de Hollywood em 63 anos.

Para recordar a última vez que atores e argumentistas estiveram em greve em simultâneo é preciso recuar a 1960, quando Ronald Reagan, que viria a ser Presidente dos Estados Unidos, era o líder do Sindicato dos Atores de Hollywood. Agora, esse papel pertence a Fran Drescher, atriz que ganhou nome na indústria com o papel principal na série dos anos 90 “The Nanny” (na televisão portuguesa passou com o título “Competente e Descarada”).

Separadamente, segundo o The New York Times, não havia uma greve de atores desde 1980, ano em que pararam durante três meses, e uma de argumentistas desde 2007, sendo que essa durou 100 dias. As consequências da atual paralisação conjunta, que levou à suspensão da quase totalidade das produções de Hollywood, já se fazem sentir. O elenco de “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, abandonou o evento de estreia mundial e não deverá promover o filme nos próximos tempos. O mesmo acontece com Ryan Gosling e Margot Robbie, que, no futuro próximo, não deverão voltar a falar publicamente sobre “Barbie”.

Atores e argumentistas estão em greve. Porquê?

Melhores salários, a ascensão do streaming ou as preocupações com o impacto da Inteligência Artificial. São algumas das preocupações que levaram os argumentistas e os atores, com foco particular naqueles que têm estatutos mais baixos e não recebem milhões de dólares pelos filmes em que participam, a avançar para a greve que ameaça paralisar Hollywood.

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A greve do Sindicato de Atores de Hollywood (SAG-AFTRA) foi convocada esta semana após as negociações com a Associação de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) — que representa os estúdios de televisão e cinema e que tem como membros a Paramount ou a Universal Pictures — não terem sido frutíferas. A paralisação é apoiada por grandes nomes da indústria cinematografia, desde Meryl Streep a Jennifer Lawrence ou Jamie Lee Curtis, Joaquin Phoenix e Charlize Theron.

De acordo com o The Guardian, também George Clooney mostrou apoiar a greve ao caracterizá-la de “ponto de inflexão” na indústria e ao dizer que a mudança é necessária para que esta sobreviva. O jornal britânico acrescenta ainda que, até ao momento, não existem resistências ou vozes do meio que estejam contra a paralisação dos atores.

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Os atores juntaram-se aos argumentistas ao iniciar uma greve esta semana

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O que pretendem os sindicatos?

Mais dinheiro e mais direitos. Tanto os argumentistas como os atores pretendem aumentos na remuneração e lutam contra a redução por parte das plataformas de streaming dos “residuals”, que na prática são a compensação que recebem sempre que o produto em que participaram volta a ser transmitido. O pagamento que recebem pela transmissão dos filmes e programas de televisão é um dos principais pontos de discórdia.

Nos serviços de streaming, os conteúdos encontram-se disponíveis permanentemente, sem que existam as tais repetições, o que torna difícil, nota o The Guardian, avaliar a compensação a que os atores e os argumentistas têm direito. À medida que os programas e filmes são mais vistos e ganham mais fama, as potenciais compensações podem ser cada vez mais significativas.

  • Os argumentistas, indica o The Washington Post, que cada vez mais são contratados para escrever séries com menos episódios e com salários que são pagos num período de tempo mais alargado, querem mais proteção e compensações. Há uns anos as séries mais conhecidas eram longas: só a última temporada de “Friends”, transmitida pela NBC, teve 18 episódios. Em 2020, Bridgerton, um dos maiores sucessos da Netflix, contou apenas com oito.
  • Os atores querem lutar contra esta realidade em que existem cada vez mais séries com menos episódios e com pausas mais longas entre temporadas. O SAG-AFTRA considera que este cenário “torna cada vez mais difícil” para os seus membros “alcançar e manter um estilo de vida de classe média” ao trabalharem como artistas.

As preocupações com a Inteligência Artificial. A Associação de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) garantiu ter oferecido uma proposta “inovadora” para fazer face às preocupações relacionadas com esta tecnologia. O sindicato dos atores negou essas declarações, declarando que essa proposta pretendia que os artistas “pudessem ser digitalizados e receber um dia de pagamento”, enquanto os estúdios ficavam na posse dessa imagem e conseguiriam “usá-la para o resto da vida em qualquer projeto que quisessem, sem consentimento e sem compensação”.

  • A Associação de Argumentistas da América (Writers Guild of America) pretende que a utilização da Inteligência Artificial seja limitada para preservar o número de oportunidades que chega aos guionistas. E pretende garantias de que a tecnologia não possa ser usada para criar conteúdos não pagos a partir de trabalho original.
  • No caso dos atores, o sindicato que os representa quer que as suas imagens, vozes ou atuações anteriores não possam ser utilizadas sem o seu consentimento e sem que sejam compensados por isso.
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A atriz Fran Drescher é a presidente do Sindicato dos Atores de Hollywood

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Quem é a atriz que lidera o Sindicato dos Atores de Hollywood?

Diante de dezenas de câmaras, Fran Drescher deu esta semana nas vistas ao acusar os estúdios de televisão e de cinema de serem “nojentos” e de estarem do “lado errado da História”. O discurso marcou o início da greve do Sindicato dos Atores de Hollywood, mas, dias antes, um outro acontecimento já tinha colocado a atriz de 65 anos no centro da atenção mediática.

No fim de semana antes de a força sindical ter votado, unanimemente, para entrar em greve, a atriz apareceu numa fotografia partilhada no Instagram de Kim Kardashian, com quem se encontrou em Puglia, em Itália, por ocasião de um evento da marca Dolce & Gabbana. As críticas por ter viajado enquanto as negociações para evitar uma paralisação decorriam fizeram-se sentir nas redes sociais. E mereceram uma resposta de Fran Drescher, que garantiu só ter conhecido a socialite “segundos antes” de a fotografia ter sido tirada e que rejeitou ter estado a “festejar”.

Foi trabalho absoluto. Tenho a certeza de que a Kim também preferia ter estado em casa, em Malibu, com os seus filhos. Mas nós trabalhamos. É isso que fazemos”, argumentou, segundo o Deadline.

O Sindicato dos Atores de Hollywood reagiu à polémica através de um comunicado, citado pelo The New York Times, onde dizia que a sua presidente se encontrava em Itália a trabalhar como “embaixadora” da Dolce & Gabbana e que o compromisso profissional era “totalmente conhecido pelo comité de negociação”.

Por sua vez, Maya Dunbar, candidata à presidência do SAG-AFTRA e “rival” de Fran Drescher, deixou críticas à viagem: “Enquanto a maioria dos membros [do sindicato] está a pensar se vai haver uma greve e em como vão pagar a renda, as suas quotas e sustentar as suas famílias durante a pior estabilidade económica dos últimos anos, ela [a presidente da organização] está a tirar fotografias com celebridades amplamente conhecidas”.

Fran Drescher tornou-se líder sindical em 2021 ao vencer as eleições contra o ator Matthew Modine. Mas o ativismo político nem sempre foi o seu principal foco. A sua primeira oportunidade em Hollywood chegou em 1977, com uma pequena participação no “Febre de Sábado à Noite”, protagonizado por John Travolta. Nesse filme, a sua personagem questionava a do ator: “Serás tão bom na cama como és na pista de dança?”. O reconhecimento e a fama chegaram com “The Nanny”, série que criou (em conjunto com o marido) e onde interpretava uma fashonista que se tornava ama dos filhos de um viúvo britânico.

A série, que foi transmitida pela CBS entre 1993 e 1999, valeu à atriz duas nomeações para os Emmy e outras duas para os Globos de Ouro. No ano em que “The Nanny” terminou Fran Drescher anunciou o divórcio de Peter Marc Jacobson, que, mais tarde, assumiu a homossexualidade. Ainda assim, os dois continuaram a trabalhar juntos para criar a série “Felizmente Divorciada”, onde Drescher interpretava uma atriz que descobre que o marido é gay.

Foi em 2008 que começou a mostrar estar envolvida na vida política norte-americana. Nesse ano, indica a BBC, Fran Drescher apoiou Hilary Clinton, à época senadora, para representar os democratas nas eleições presidenciais (Barack Obama acabou por ser o eleito pelo partido). Chegou ainda a considerar candidatar-se para substitui-la como senadora de Nova Iorque, mas acabou por não o fazer.

A terceira temporada de Euphoria foi adiada e só sairá, no mínimo, em 2025

Que consequências poderá ter a greve?

A maioria dos filmes que estão programados para sair este ano já foram rodados, por isso, à partida, os espectadores conseguirão vê-los sem quaisquer problemas. Contudo, enquanto a greve estiver a decorrer, os membros do Sindicato dos Atores de Hollywood estão proibidos de promover as produções em que participam, não podendo dar entrevistas, aparecer em podcasts, comparecer a eventos de entregas de prémios ou ainda ir a festivais.

O The Guardian indica que os festivais de cinema que se realizam no outono, como o de Veneza, de Telluride e de Toronto, podem sofrer com a potencial ausência das estrelas de Hollywood. No caso do evento que se realiza em Itália, o jornal britânico escreve que a organização terá de decidir se mantém o filme “Challengers” a ser exibido na noite de abertura se a sua cobertura mediática se tiver de concentrar apenas no diretor Luca Guadagnino e não nos protagonistas, como Zendaya.

A atual greve também já se ressente na indústria do streaming. A produção da quinta temporada de “Stranger Things”, da Netflix, teve que ser interrompida após o início da greve dos argumentistas. A terceira temporada de Euphoria foi adiada e só sairá, no mínimo, em 2025 não só por causa da paralisação, como também pelo facto do seu criador, Sam Levinson, ter estado focado na série “The Idol”, que é protagonizada por The Weeknd e Lily-Rose Depp.

Para aqueles que ainda se mantêm fiéis à televisão, os programas late night são, na sua maioria, repetição e não episódios originais. Além disso, quando as novidades de programação forem anunciadas no outono, os espectadores deverão notar em algumas diferenças, nomeadamente na aposta em formatos que não precisam de um guião. A Fox deverá apostar em “A Máscara” e a ABC em “Dança com as Estrelas” e repetições de “Abbott Elementary”.

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