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Nuno Baltazar aqueceu a passerelle no último dia de ModaLisboa com uma crítica social à Igreja e um paralelismo com comunidade LGBTQIA+
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Nuno Baltazar aqueceu a passerelle no último dia de ModaLisboa com uma crítica social à Igreja e um paralelismo com comunidade LGBTQIA+

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Nuno Baltazar aqueceu a passerelle no último dia de ModaLisboa com uma crítica social à Igreja e um paralelismo com comunidade LGBTQIA+

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Sessões de desporto, uma procissão de críticas e um final a todo o gás: os destaques da ModaLisboa

Tivemos judo, cycling, performances criativas, desassossego e datas redondas para celebrar. Sim, estamos a falar da ModaLisboa que, durante quatro dias de evento, prometeu e surpreendeu em Marvila.

Nuno Baltazar fez com o seu desfile uma crítica à Igreja. HIBU e Duarte deram aulas de cycling e de judo. Nuno Gama, Carlos Gil e, novamente, HIBU, puseram o público a bater palmas não só pela nova coleção como também pelos aniversários das sua marcas. A passerelle da ModaLisboa aqueceu, e não só com as tendências para o próximo outono/inverno 2023/24. Pelo meio houve boas doses de criatividade. Ora vejamos, os tutus de Dino Alves, as esculturas de Valentim Quaresma e Olga Noronha, designers que  trocaram os desfiles pela performance e as coleções que atraem multidões de Luís Carvalho e Gonçalo Peixoto.

Isto é apenas um resumo. A edição número 60 da ModaLisboa voltou a ocupar a Lisboa Social Mitra, na Rua do Açúcar, espaço da Santa Casa da Misericórdia, de 9 a 12 de março. O público encheu o espaço e até o tempo deu uma ajuda, como bem nos referiu Eduarda Abbondanza. “Estou muito agradecida por não termos tido chuva.”, comentou ao liveblogue que seguiu tudo a par e passo nos últimos dias.

Cruzámo-nos também com  Plim, personagem de Salvador Martinha que serve de paródia ao mundo das agências de comunicação, que deixou o primeiro recado sobre os escândalos na Igreja Católica: “Se fosse uma empresa, fechava.” Mas não foi o único. Ao terceiro dia, Nuno Baltazar ressuscitou com uma linha cheia de referências à religião e marcou, em entrevista ao Observador, a sua posição: “Como é que é possível que, na comunidade católica não exista uma revolta? Eu, por mim, pegava nos cartazes e ia para a porta da Igreja.”

Caros Moedas, Eduarda Abondanza, Salvador Martinha e Nenny. Algumas caras que marcaram esta edição

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Acabou tudo em festa, com um concerto surpresa de Nenny, muito black power e um triunfo da comunidade LGBTQIA+ no Big Bang de Call Me Gorgeous (Luís Borges). Mas, vamos ao início. O primeiro dia de desfiles arrancou com os 5 finalistas do concurso Sangue Novo, que sagrou duas vencedoras: Niuka Oliveira, que levou o prémio Tintex Textiles, e Inês Barreto, que foi convidada para um mestrado em Fashion Design no IED Milão. Esta edição ficou ainda marcada por uma série de aniversários. Béhen celebrou três anos de existência, HIBU regressou depois de uma breve paragem para o décimo aniversário, Carlos Gil assinalou as bodas de prata e Nuno Gama levou os manequins com flutes de espumante para a passerelle em honra ao seu 30.º aniversário.

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Streetstyle. Um desfile de óculos escuros, transparências arriscadas e a chegada dos néons à ModaLisboa

E como não há ModaLisboa sem streetstyle, não se esqueça de espreitar os mais de 90 looks apanhados pela lente atenta de Melissa Vieira. Antes de começar a ler todos os destaques desta edição abaixo, aproveite também uma banda sonora feita à medida no Spotify, composta pelas músicas que marcaram o ritmo na sala de desfiles ao longo destes dias.

A teoria do “Big Bang”, segundo Luís Borges

Começou tudo com Eubrite a patinar sala de desfiles fora e a multidão foi à loucura. Pudera, pois este “Big Bang” segundo Luís Borges fez explodir a ModaLisboa com força e muita festa. Foi o black power a fechar o último dia da 60.ª edição, com um verdadeiro desfile de estrelas da comunidade LGBTQIA+. O modelo tornado criador faz a festa, lança os foguetes e apanha as canas. Depois de Eubrite deslizar pela sala, um grupo de bailarinos levanta-se do público e põe-se a dançar, antes de Nenny entrar com um estrondo e se por a cantar alguns dos seus grandes êxitos, “Bússula” e “Tequilla” incluídas.

Luís Borges: “As críticas magoavam-me, mas eu metia Rihanna nos phones e achava-me uma estrela em Lisboa”

Menções honrosas que passaram também pela sala de desfiles: Jéssica Silva, o seu irmão Ivandro (seria propositado ele estar com batom e ela sem?), Cyber Tokyo, Lexa BlacK e Lola Herself. No meio de tanta festa, convém não esquecer o motivo da nossa visita: ver as novidades da nova coleção Call Me Gorgeous, de seu nome Big Bang. Aqui, os brilhos não faltaram, como esperado. Destacam-se a cor e a introdução do acetato entre as grandes novidades. Já agora, aproveite para espreitar também a entrevista que Luís Borges deu ao Observador em antecipação do evento.

A ModaLisboa a fechar com chave de ouro

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As silhuetas surrealistas de Dino Alves

Quase a fechar a ModaLisboa (nesta altura faltava apenas o Call Me Gorgeous de Luís Borges), Dino Alves apresentou a linha Trans-Forma. Depois das referências de Nuno Baltazar à comunidade trans, em Transverse, o penúltimo criador da noite focou-se noutro tipo de transformação, neste caso referente à “vontade constante que o ser humano tem de mudança”. As silhuetas surreais, por vezes bizarras, nos cós de calças e saias, conviveram com peças drapeadas, transparências e tulles, numa explosão de cores que, em boa verdade, é exatamente o que se espera de Dino Alves.

As cores e silhuetas de Dino Alves em Trans-Forma

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Nuno Baltazar: “Como é que é possível que na comunidade católica não exista uma revolta? Eu, por mim, pegava nos cartazes e ia para a porta da Igreja.”

Começou com nuances de ritual religioso (“Avé Maria” e velas incluídas), mas esteve longe de o ser. Na noite de domingo, Nuno Baltazar fez com a apresentação de Transverse uma crítica social à Igreja Católica, mas quis também expor as suas semelhanças a outro mundo, da qual se distancia diametralmente. O da comunidade LGBTQIA+. “Quis contar a história de uma avó e de um neto que coexistem nas suas diferenças, ela muito religiosa e ele um rapaz queer”, explica ao Observador, antes de acrescentar que “é um abraço entre os dois” mundos, que têm mais em comum do que possa parecer. A coleção foi o reflexo desse contrastes, a austeridade do preto a chocar com os padrões leopardo; vestidos mais clássicos a bater de frente com bombers e transparências. De lágrimas pintadas nas caras, as maquilhagens inspiraram-se nas santas de roca das procissões. “Elas são preparadas para uma procissão como um rapaz queer se prepara para uma festa, ou um show de transformismo”, explica. Houve intenção de criticar a Igreja? “Houve”, responde prontamente. “As pessoas religiosas, os católicos, deviam manifestar-se contra o que está a acontecer. Ninguém se manifesta. Como é que é possível? Como é que é possível que na comunidade católica não exista uma revolta? Eu, por mim, pegava nos cartazes e ia para a porta da Igreja.”

Igreja e comunidade LGBTQIA+. Dois mundos colidem em Nuno Baltazar

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Os aniversários de Carlos Gil e Nuno Gama. Um brinde a 25 e 30 anos de marca

“Esta coleção tinha de ser apresentada com reflexos das coleções anteriores. Com pensamentos, com intimidade, com sabedoria”, explicou Carlos Gil. Sempre em busca de criar uma coleção prática e elegante, esta foi ainda mais especial porque o designer está a celebrar 25 anos da sua marca. “É uma coleção que transmite alma, muita cor, porque alma é cor, muita nobreza de espírito de bem estar, mas um reflexo do passado.” A coleção Alma começou em preto, “porque nós, quando começamos, temos sempre medo, somos uns pássaros e por isso é que os dois bustiers começaram com penas”. Mas depressa a paleta se encheu de cores vibrantes, como o laranja, o roxo ou rosa. Contudo a presença mais forte da coleção foi um padrão floral que Carlos Gil explicou ter sido concebido com fotografias de flores que foi recebendo ao longo da sua carreira.

O designer conta que já está a trabalhar com a terceira geração, ou seja, com as netas das suas primeiras clientes. Ao longo dos anos diz ter acumulado “a sabedoria de saber lidar com os problemas, a sabedoria de saber esperar, a sabedoria de não falar, não comentar, não desabafar”, mantendo sempre o foco em fazer o que tem no pensamento. No fim, Carlos Gil deixa-nos uma mensagem quase em jeito de balanço de mais de duas décadas  de trabalho: “Temos de limar o nosso pensamento, a nossa forma de ser e a nossa forma de estar, para conseguirmos fazer aquilo que queremos. E eu consigo sempre fazer aquilo que quero.”

As celebrações continuaram no domingo com o 30.º aniversário da marca Nuno Gama, que fechou o desfile levando todos os manequins para a passerelle com flutes de espumante. Isto, claro, depois de apresentar a sua Catrineta, uma linha de vestuário masculino cheio de cor inspirada no seu país, do azul do mar aos tons areia das praias portuguesas. Esta coleção de Nuno Gama trouxe propostas para a primavera/verão de 2023.

Carlos Gil: “É uma coleção que transmite alma, muita cor, porque alma é cor". Do azul do mar, aos tons areia das praias portuguesas. Assim foi Nuno Gama

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HIBU Studio celebrou 10 anos com uma festa (e uma aula de cycling)

Depois de fazer uma pausa de uma temporada, HIBU Studio protagonizou mais um regresso a esta ModaLisboa — e foi em grande. Primeiro, com uma aula de cycling no meio da sala de desfiles, enquanto os manequins passavam com as propostas para a nova estação, organizada por uma equipa de professores do Studio Rise; depois, acabou tudo com uma grande festa ao som de Santamaria, para a qual a própria designer, Marta Gonçalves, convidou o público a participar. Como é celebrar 10 anos? “É todo um trabalho difícil, mas sinto-me concretizada, com muito mais auto-estima em relação ao meu trabalho.” E o conceito da coleção, “1000 MG”, com o trocadilho “Hibuprofeno” estampado em T-shirts? “Acho que é importante falarmos sobre isto, porque não é uma coisa que seja muito falada na moda, o bem-estar físico e psicológico”, explicou ao Observador, recordando a pausa de um ano. “ Comecei a sentir que já não estava a dar. Andava doente constantemente. Os comprimidos passam um bocadinho por essa fase.” O importante é que agora está melhor e de volta.

A grande festa de Marta Gonçalves no final do desfile.

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“Hajime” e que comece a coleção de Duarte

“Hajime”, a palavra japonesa que significa “início” e que dá o arranque nas artes marciais japonesas. Deu também o mote para a coleção de Duarte. “Fazia judo de competição e foi uma palavra que cresceu muito comigo”, explica Ana Duarte. “Achei que era bom voltar às minhas raízes”. A designer conta que o desporto é uma das suas principais inspirações e desta vez foi àquilo que considera ser mesmo o seu “core”, o judo. Atualmente já não pratica, mas mantém o seu cinto preto e o desporto no coração. “O judo é uma das minhas maiores fontes de inspiração porque pratico desde os quatro anos.”

Na coleção isto traduziu-se numa série de referências nipónicas. Os fatos de judo inspiraram saias e calças com pregas, com as texturas almofadadas à volta de golas e no calçado. Quanto à cor menta, que já se tornou uma assinatura da marca, mantém nesta coleção uma presença forte. “Como é algo que representa a minha infância, usei a minha cor preferida, que é menta.” Já que estava num mood de regresso às origens, foi do antigo clube de Ana Duarte, Judo Lusófona, que vieram quatro judocas a quem coube a tarefa de começar o desfile com uma performance do seu desporto.

Juana Duarte começou a praticar judo aos 4 anos. A referência marcou fortemente a coleção

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João Magalhães lançou a sua loja online na ModaLisboa

No terceiro e último dia de desfiles, João Magalhães deu o pontapé de saída pelas 14 horas com uma performance que misturou vídeo (realizado por Leonor Bettencourt Loureiro) e uma performance ao vivo de um grupo de manequins. Tudo isto para lançar, finalmente, a sua loja online, acompanhada por uma coleção cápsula com sete coordenados que esteve para não acontecer. “Lá me convenceram”, confessa ao Observador. Uma das peças-chave da linha é a T-shirt com a frase “shitty clothes for shitty people”, com um desenho de Rui Major, artista e tatuador que acabou por, numa tarde em que tinham os dois uma hora livre, tatuar a mesma frase na perna esquerda do designer. “Tem a ver com a minha revolta em relação a uma série de coisas”, conta sobre o lema. “A crise climática, que estamos sempre a ser convencidos que vamos resolvê-la com palhinhas biodegradáveis e não, é uma coisa estrutural, que tem de ser mudada.”

Os manequins/performers de João Magalhães e a nova tatuagem

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Gonçalo Peixoto, de manhã à noite

Para o último desfile de sábado a sala estava ao rubro e a coleção de Gonçalo Peixoto deu uma ajuda ao mood de festa. Vimos vestidos de gala, peças em lantejoulas, padrões florais, transparências atrevidas e um pouco de sportswear. “É isto que eu quero criar: conseguires ser Gonçalo Peixoto desde que acordas até ao deitar”, disse o designer ao Observador. Esta estação assistimos a uma continuação do conceito começado da coleção anterior de não ter um tema para a coleção. “A mulher Gonçalo Peixoto é uma mulher poderosa, firme, consciente, feliz, sexy… é este o fio condutor da coleção.” O designer decidiu trazer o preto como novidade para a coleção e resolveu equilibrar com uma paleta a que chama “as cores Gonçalo Peixoto”, como por exemplo o roxo e o rosa choque. “É quase como ir ao teatro, só que não há atores e atrizes a falar, mas a maneira como as peças aparecem no desfiles é como as falas, é a minha maneira de contar esta história.”

Gonçalo Peixoto
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Gonçalo Peixoto
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Béhen. Foi a mãe de Joana Duarte quem amassou as carteiras em forma de pão

Joana Duarte, aka Béhen, não tinha apresentado na última edição da ModaLisboa, em outubro passado, por estar a enfrentar um outro desafio: desenhar figurinos para o Teatro Nacional D. Maria II. “Não deu para fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas é bom regressar”, conta ao Observador. De regresso, trouxe as técnicas e tecidos portugueses ao conceito O Deus das Pequenas Coisas que, em parte, foi a escolhido num momento de luto e reflexão sobre a perda do pai. Esta estação, a marca completou três anos e a criadora recuperou conversas com as avós Maria e Fernanda, o legado de bordadeiras que lhe deixaram, e um extra: as carteiras em forma de pão, que foram amassadas pela própria mãe. Já os vários estampados com imagens de gentes e festas tradicionais portuguesas saíram do arquivo fotográfico de Jorge Barros, com quem colaborou para desenvolver a coleção.

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Xadrez, riscas e a artista Caroline Walls encontram-se na coleção “Touch” de Luis Carvalho

Dos micro-vestidos às saias de baile e do verde caqui aos tons terra, a coleção de Luís Carvalho teve sala cheia e muitos aplausos. Importa ainda referir a maquilhagem como acessório/joia e a obra da artista Caroline Walls como ponto de partida da coleção. Mas afinal o que une o xadrez à artista plástica? Luís Carvalho diz que é precisamente esta a sua maneira de trabalhar. “É o meu ADN, eu trabalho riscas, xadrez, mistura de padrão.” A estética da artista traz outro dos temas que o designer gosta de trabalhar, o patchwork, e as peças de roupa traduzem-se num puzzle de formas unidas entre si para abraçar o corpo.

A coleção “Touch” teve como base o “toque, na pele e nas formas do nosso corpo”, com as peças de roupa a  transformarem-se em homenagens à obra da artista Caroline Walls, cujos quadros interpretam a silhueta feminina num puzzle de formas em cores neutras. Luís Carvalho continua a apostar em linhas retas, silhuetas oversize e traz uma coleção para ambos os géneros ou mesmo sem género.Esta coleção recebeu de herança das coleções anteriores cortes de peças que o designer achou que correrem bem e quer reinterpretar, assim como alguma modelagem, criando um fio condutor entre estações que Luís Carvalho acredita ser fundamental para a identidade da marca.

Looks do desfile de Luís Carvalho

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Regresso ao ponto de partida e tons improváveis em Buzina

O ponto de partida para esta coleção foi a própria Buzina. Vera Fernandes explica que o ano passado foi “de loucos, caótico, cheio de novidades e coisas a acontecer”, além disso diz que a comunidade à volta da marca cresceu bastante e, por isso, decidiu fazer um “ponto de situação” e mostrar “onde tudo começou”. A própria fundadora foi inspiração da coleção, desde logo, com o seu cabelo a servir de mote para os penteados das modelos.

Resolveu “Buzinificar” e, para tal, pegou em peças que já existiam e reinterpretou-as. As girafas regressam a uma coleção da marca porque “representam muito a mulher Buzina”. Os néons eram tonalidades “muito improváveis” para Vera Fernandes, mas sentiu-se atraída por eles e tornaram-se mesmo a grande novidade desta coleção. “As peças hoje, reinterpretadas como estão, transmitem coisas diferentes do que na altura transmitiram.” Para as fãs estão lá todos os símbolos do ADN da marca, dos volumes amplos aos grandes laços.

Os néons eram tonalidades “muito improváveis” para Vera Fernandes

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A simplicidade dos anos 90 celebrada com muitos casacos e joias especiais

Casacos e mais casacos, será esta a peça estrela desta coleção? “Nos meus invernos eu acho que é costume isso acontecer”, diz Luís Buchinho. “É sem dúvida a peça que, numa coleção de inverno, me dá mais gozo desenhar. Pode fazer-se tudo.” A coleção chama-se “Primal” e na sua origem “está um conceito muito ligado a uma energia pura, uma energia que seja muito chamativa”, explica Luís Buchinho. “A partir das cores primárias e do corte minimal, um pouco inspirado na década de 90, consegue transmitir imediatamente, com relativamente poucos elementos, um grande poder de atração para quem está a ver”.

Os materiais são, acima de tudo, confortáveis. Jerseys, lãs e algodões com misturas de elastano, “lanifícios muito leves que se fundem entre si” para criar padrões. “Há uma reutilização de tecidos que já usei em várias coleções, mas que ganha uma linguagem completamente nova, diferenciada e muito mais gráfica do que quando foram apresentados nas suas versões originais.” Destaque para os estampados criados digitalmente com um efeito “psicadélico” e peças ricas em bolsos. Luís Buchinho tem em curso uma parceria com a joalheira ALCINO. A coleção pega na ideia do princípio da criação, chama-se “A ave e o Ovo” e traduz-se em peças com ovos e pormenores de penas, segundo conta o designer. É uma coleção “bastante ambiciosa e grande” e neste desfile foi apresentada uma parte.

A coleção chama-se “Primal” e na sua origem “está um conceito muito ligado a uma energia pura", explica o criador

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Constança Entrudo: “Este monstro vai atrás das pessoas que estão infelizes”

O segundo dia de desfiles levou um mar de gente até à porta do Pavilhão 1 para ver a apresentação da colaboração entre Constança Entrudo e Ema Gaspar. Aqui, as roupas da designer estão estampadas com desenhos da artista, desenhos do monstro que dá conceito à coleção. “Toda a técnica e toda a filosofia da marca é realmente sair do tear, como se os tecidos estivessem vivos e livres. Este monstro representa a liberdade, o futuro, a desconstrução. Ele vai atrás das pessoas que estão infelizes. É a angústia moderna”, explica ao Observador. Além das roupas, apresentou um livro com apenas 10 exemplares, para já (mais serão lançados), que conta toda a narrativa, inspirada numa moira da mitologia grega. “Foram enrolados nos tecidos da coleção, tudo feito à mão e enrolados inicialmente até por mim.”

As musas de Constança Entrudo

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Os escultores de sexta à noite

“São tantos anos de conceitos, temas e trabalhos… pensei que poderia fazer sentido agora começar à procura de temas que me inspiravam quando comecei.” E assim o tema escolhido por Valentim Quaresma foi a mitologia. Os labirintos foram o tema da coleção passada e o ponto de partida para esta. Na passerelle vimos uma série de peças em patchwork com pedaços de pele em cores variadas, seguiram-se franjas e tecidos manipulados e depois apareceram as peças de joalharia, impactantes e em dourado vibrante. Quanto aos materiais, o designer conta que “70% [dos materiais] da coleção é tudo recuperação têxtil”, as peles e os tecidos foram dados ou comprados, à exceção dos estampados que foram criados pelo designer, e depois acontece a manipulação com diferentes técnicas no atelier. As coleções de Valentim Quaresma contam com cada vez mais roupa e menos joias, mas o designer tem uma explicação. “Estou a contrabalançar. Foram muitos anos de joalharia e a roupa neste momento está a dar-me alguma adrenalina.”

Olga Noronha encerrou o calendário de sexta-feira. Antes do desfile deixou uma pista na sua conta de Instagram:  “Pelas sombras, o espaço ressignifica-se na plenitude dos 5 elementos japoneses — terra, água, fogo, ar e éter.” Na passerelle teve lugar uma performance com cinco modelos, cada uma usou um vestido/escultura em metal lacado a negro com diferentes formas e recortes. As modelos assumiram lugares fixos ao longo da passerelle e, quando as luzes da sala se apagaram, outras luzes coloridas nos vestidos se iluminaram.

Valentim Qaresma
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Olga Noronha
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ARNDES Workstation

Ana Rita de Sousa deixou os tecidos de deadstock que tinha em casa falarem primeiro e, a partir do que lhe disseram, desenhou esta coleção. “Foi muita espontaneidade, olhar para os materiais e perceber o que eles pediam”, explicou ao Observador no final do desfile. Chamou-lhe Random 12 (ou “12 aleatórios”, em tradução livre) por isso mesmo, foram 12 looks desenhados com alguma liberdade, sem um conceito propriamente dito. Mas não foi tudo feito ao calhas nesta linha com malhas, transparências, tons neutros e um padrão tie-dye com linhas azuis. “Tentei repetir alguns detalhes em vários looks, para existir alguma coerência.” Com “muitos cafés em cima”, encontrámo-la bem disposta, embora tivesse estado a trabalhar na coleção até às 3 da manhã. Aliás, os Random 12 acabaram por ser, como revelou, plus 1. “É uma história caricata, mas acho que não posso divulgar”, ri-se. “Mas à última hora arranjei mais uma modelo, então em vez de cancelar, adicionei mais um look.” Esse look foi feito em dois dias e terminado cerca de 15 horas antes de apresentar na ModaLisboa.

Os Random 12 de Ana Rita de Sousa foram feitos em pouco tempo, como revelou a designer

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