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André Ventura anunciou um confederação sindical promovida pelo Chega e ambiciona que esteja nas ruas no verão
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André Ventura anunciou um confederação sindical promovida pelo Chega e ambiciona que esteja nas ruas no verão

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

André Ventura anunciou um confederação sindical promovida pelo Chega e ambiciona que esteja nas ruas no verão

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Sindicato do Chega está a encontrar "resistência" nas ruas, mas deve ser oficializado no verão

André Ventura quer o "Solidariedade" nas ruas ainda este verão, com uma primeira manifestação a marcar o arranque da confederação sindical apadrinhada pelo Chega. Mas existem obstáculos no terreno.

Sete meses depois do anúncio, o “Solidariedade”, a grande confederação sindical sonhada por André Ventura para mimetizar o que o Vox fez em Espanha, continua na gaveta. Entre os sindicatos, admite o próprio líder do Chega, tem existido resistência a uma eventual ligação do movimento ao partido, mas a ambição mantém-se: Ventura quer ter uma estrutura montada e oficializada até ao início do verão (fim da sessão legislativa é o limite), com uma primeira grande manifestação agendada para essa altura.

O contexto político do país acelera a vontade de o Chega ter o movimento que idealizou e apadrinhou nas ruas o mais rapidamente possível. O objetivo é competir com os tradicionais sindicatos — que depois de tempos mais calmos durante a geringonça estão a voltar para dar força à contestação social inflamada pela crise — e competir com os partidos à esquerda pela captação do descontentamento. Para se assumir naquele que é tendencialmente um terreno explorado pela esquerda, o “Solidariedade” pretende que a primeira ação nas ruas seja focada nos direitos dos trabalhadores e no combate aos efeitos da inflação (e a forma como tem afetado os portugueses).

A ambição não é segredo: competir com a UGT e com a CGTP e colocar o Chega como grande agregador da contestação social ao Governo socialista. Se conseguir afastar a ideia de que as ruas são da esquerda — “as ruas são da direita desde o aparecimento do Chega”, vai repetindo várias vezes André Ventura — o Chega acredita que vai tornar ainda mais alargada a sua base de apoio.

A “resistência” a integrar um “produto Chega”

A entrada de um partido de direita num mundo sindical historicamente associado à esquerda não tem sido tarefa fácil para o Chega, já que a ligação do “Solidariedade” ao nome do partido gerou “resistência” em vários setores. “No caso de alguns sindicatos há resistência por ser o Chega, porque há uma ideia de que o “Solidariedade” é um produto do Chega”, confessa André Ventura ao Observador.

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A Administração Pública é um dos terrenos assumidamente mais difíceis de penetrar. Ainda assim, o Chega não abdica de tentar entrar nesse feudo. O líder do Chega reconhece que tem sido feito um “esforço bastante grande” nesta área, sendo óbvio que o setor não só tem uma dimensão e relevância significativas, como representa uma franja do eleitorado que interessa ao Chega conquistar.

O Observador sabe que a “resistência” em diversas áreas, motivada pela ideia de que o “Solidariedade” é um “produto do Chega”, está a levar o movimento a investir nas comissões de trabalhadores de várias empresas, possibilitando a criação de novos sindicatos através desses trabalhadores que não são afetos a nenhuma estrutura ou que estão dispostos a abraçar uma nova.

Ou seja, mesmo nos casos em que o “Solidariedade” está a ser anulado pelos sindicatos já existentes, existe um esforço ativo para tentar abrir portas laterais e procurar criar novas estruturas, particularmente através de trabalhadores, alguns deles até militantes e simpatizantes do Chega, que, não estando integrados nas estruturas mais tradicionais — CGTP ou UGT –, tenham vontade de se juntar a um movimento de direita.

O objetivo é contar com “sete a dez setores iniciais de atuação”, com destaque para as áreas da saúde (com médicos, enfermeiros e restantes profissionais da saúde separados), polícias, oficiais de justiça, o ramo da hotelaria, restauração e turismo e o setor empresarial, nomeadamente com a parte do patronato.

Tendo em conta que para a criação de uma confederação sindical é necessária a junção de dois ou mais sindicatos do mesmo setor numa federação e a aliança de várias federações de diferentes setores, o “Solidariedade” vai mesmo ter de criar estruturas em diversas áreas. Haverá, portanto, agregação de sindicatos e, nos casos em que não é possível ou não há interesse dos movimentos já existentes no setor, serão “sindicatos criados de raiz”.

Os setores refletem diferentes desafios para o Chega. Enquanto no caso das autoridades, por exemplo, o partido liderado por André Ventura não terá qualquer dificuldade em atrair sindicatos para a causa, nos setores do alojamento ou da restauração, por exemplo, será importante promover a criação de sindicatos de raiz — as estruturas que já existem dificilmente se juntarão a algo que tenha qualquer relação com o Chega.

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Uma confederação construída pelo telhado

Sete meses após o anúncio de que o Chega iria avançar e dar apoio à criação de uma confederação sindical, e apesar de todas as expectativas geradas, a estrutura do Solidariedade ainda não está criada. Entretanto, foi constituído um grupo de trabalho para que se decida que modelo a seguir e para tratar de todo o contacto com os sindicatos.

Apesar de o Chega ser o promotor da ideia, não haverá membros da direção do partido nos órgãos da confederação sindical. Diogo Pacheco Amorim, deputado e uma das figuras mais influentes do partido, faz parte do grupo que está responsável por colocar a ideia em prática. A equipa é composta por pessoas ligadas à atividade política, sindical (do presente ou do passado), e especialistas em Direito e Economia.

Os esforços do Chega são encarados com algum ceticismo, para dizer o mínimo. Em declarações ao Observador, um antigo dirigente sindical defende que o processo está a ser feito “ao contrário” por parte do Chega. Normalmente as estruturas sindicais surgem primeiro e decidem, mais tarde, convergir. “Aqui é ao contrário, estão a tentar criar uma confederação.”

O mesmo sindicalista deixa um alerta: “O que está em causa é a representação”. Isto porque, explica, é relativamente “fácil” criar um sindicato, sendo precisas “apenas 30 ou 40 pessoas” para assegurar os estatutos. Consequentemente, será igualmente fácil multiplicar estas pequenas estruturas e alcançar a tal confederação que o Chega ambiciona. “Mas que representação e influência têm?”, questiona o antigo dirigente sindical.

O presidente  do CHEGA, André Ventura, durante o "cerco ao largo do Rato, contra a corrupção e a impunidade do PS", que decorreu junto da sede do Partido Socialista (PS), no Largo do Rato, em Lisboa, 13 de maio de 2023. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Das grandes manifestações às expectativas defraudadas

Nas últimas semanas e meses, André Ventura e demais dirigentes do Chega têm-se desdobrado em promessas sobre combater a esquerda em todo lado e até nas ruas. No verão de 2022, Diogo Pacheco Amorim assumia que “a luta na rua é fundamental”, assegurava que “a rua não é exclusivamente da esquerda” e prometia que o Chega estaria na rua “sempre que necessário”, com “grandes, médias ou pequenas manifestações”.

De resto, o esforço para captar o descontentamento de trabalhadores dos vários setores faz parte de uma estratégia de reconversão do partido. Em 2019, quando apresentou o seu primeiro programa eleitoral em legislativas, o Chega defendia, por exemplo, “o fim dos vários privilégios dos sindicatos”, uma “maior flexibilização da legislação laboral a vários níveis” ou “a flexibilização dos salários”

“Cada um deve ser livre de contratar o que quiser, com quem quiser e da forma que quiser. Esta é uma condição essencial da liberdade, no sentido da possibilidade de cada um dispor de si próprio – e de tudo o que é seu – como muito bem entender”, lia-se nesse mesmo documento, com um cunho marcadamente liberal do ponto de vista económico — pulsão que foi praticamente varrida do ADN do partido.

Aliás, o Solidaridad promovido pelo Vox tem feito toda a sua afirmação através da luta contra a “agenda globalista”, responsável pela “pobreza, destruição de empregos, perda de tecido social e incerteza”, com um pendor fortemente protecionista, contra a imigração ilegal e contra aquilo a que chama “fanatismo climático”, que aumenta os custos de produção e esmaga os salários, e, claro, contra os sindicatos clássicos, cúmplices da esquerda e reféns da luta de classes. De resto, o Solidaridad tem feito um esforço para se juntar aos seus homólogos europeus e já ensaiou aproximações a sindicatos italianos, romenos, húngaros e britânicos.

Ventura que juntar-se a esta onda e tem procurado usar as ruas para catapultar o partido. Aliás, o Chega tem feito questão de o mostrar de várias formas nos últimos tempos: aproveitou a visita Lula da Silva a Portugal para fazer uma manifestação no 25 de Abril, quando o Presidente do Brasil estava dentro da Assembleia da República; e cancelou a cimeira das direitas pela ausência de Jair Bolsonaro, mas usou a agenda livre desse dia para realizar aquilo a que chamou um “cerco ao Largo do Rato” — que acolhe a sede do PS.

Manifestação após manifestação, o Chega vai prometendo grandes protestos (“será a maior manifestação de sempre contra um chefe de Estado”, atirava-se sobre Lula), mas as expectativas têm saído defraudadas. O “grande cerco” ao Largo do Rato não juntou mais de cem pessoas. Olhando para anteriores e atuais protestos, as manifestações organizadas pelo Chega parecem estar a perder fôlego.

O Chega quer voltar às primeiras grandes manifestações do partido, bem mais mobilizadoras (e até mediáticas). E é por essas que se suspira — e que o partido pretende replicar no futuro, algo que acredita ser possível com um Solidariedade forte. Em abril de 2021, quando Ventura era ainda um deputado único, conseguiu uma mobilização considerável contra a manifestação contra a ilegalização do partido. É considerado o maior protesto desde a fundação do partido e uma manifestação que deu a Ventura a certeza de que tinha capacidade para mobilizar centenas de pessoas para as ruas.

Antes dessa, em agosto de 2020, o líder do Chega tinha liderado um protesto com o mote “Portugal não é racista”. De tempos a tempos, com mais ou menos adesão, o Chega foi continuando a deixar marcas nas ruas do país, tentando aproveitar-se (também) de movimentos mais ou menos orgânicos. A maior prova disso foi o “Movimento Zero”, que representou uma marca no crescimento e uma das maiores demonstrações do apoio das forças de segurança (uma das bandeiras do partido) nas ruas.

Na altura, André Ventura vestiu uma t-shirt do movimento por cima da camisa; colocou uma pulseira no braço com o nome do grupo; subiu ao carro e discursou, perante o apoio, com aplausos e gritos, de centenas de elementos das forças de segurança — ainda que a organização nada tivesse a ver com o Chega. Tentou fazer o mesmo com os “Coletes Amarelos”, mas sem a expressão anterior.

Usou o mesmo esquema com os professores, particularmente nos recentes protestos do STOP (Sindicato de Todos os Profissionais de Educação), sem sucesso. A própria estrutura sindical acusou o partido de “aproveitamento” político e criticou “a tentativa torpe de obter ganhos políticos com a justa luta iniciada pelo STOP”.

Com mais ou menos apoio, mais ou menos resistência, o Chega recusa perder mais tempo e deixar a esquerda sozinha a liderar manifestações, principalmente num momento em que o terreno é fértil e tendo em conta a contestação social crescente e o aumento dos protestos na rua. Ainda assim, os meses continuam a passar, há uma data que Ventura reconhece ser “ambiciosa” e o Solidariedade mantém-se apenas como um esboço.

LUSA

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