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O clube de acesso restrito e sujeito a pagamento de acesso fica por cima do JNcQUOI Asia, na Avenida da Liberdade, em Lisboa
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O clube de acesso restrito e sujeito a pagamento de acesso fica por cima do JNcQUOI Asia, na Avenida da Liberdade, em Lisboa

O clube de acesso restrito e sujeito a pagamento de acesso fica por cima do JNcQUOI Asia, na Avenida da Liberdade, em Lisboa

Surto de Covid depois de evento em clube de luxo em Lisboa

Jantar com DJ no JNcQUOI Club, do Grupo Amorim Luxury, reuniu dezenas de pessoas no dia em que entraram em vigor novas regras do estado de calamidade. Vários participantes testaram positivo.

Tinham passado pouco mais de 24 horas desde o anúncio do regresso ao estado de calamidade pela voz do primeiro-ministro. Com os números de casos positivos de Covid-19 a dispararem, o Governo de António Costa impunha restrições nos convívios familiares, nos ajuntamentos e nos festejos académicos que entrariam em vigor à meia-noite de 15 de outubro. Mas o “jantar com DJ”  marcado para a noite dessa quinta-feira no JNcQUOI Club, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, manteve-se. Dias depois, um surto de Covid-19 levou ao confinamento de vários alunos de, pelo menos, três colégios privados da zona de Cascais. O JNcQUOI Club é um clube de luxo propriedade do Grupo Amorim Luxury, liderado pela mulher mais rica de Portugal, Paula Amorim (presidente do Conselho de Administração da Galp Energia e filha de Américo Amorim), e pelo marido, Miguel Guedes de Sousa. O acesso é exclusivo aos membros, que pagam entre 750 e 2.750 euros por ano.

Uma estudante, que só aceitou falar ao Observador sob a condição de não ser identificada, descreve que estava em casa quando pegou no telemóvel para espreitar o Instagram: “Comecei a ver stories de várias pessoas numa festa como se não houvesse Covid-19″. O que os vídeos mostravam “era uma série de pessoas a dançar sem máscara, todas juntas, ao som de um DJ muito conhecido na linha de Cascais”. Segundo soube através de amigos, alguns dos participantes terão entrado pelo acesso direto ao clube, outros pelo restaurante JNcQUOI Asia, para “não darem nas vistas”. Depois, já de madrugada, “foram saindo três a três pela garagem”. A mãe da estudante também viu as imagens, chocada com a incongruência entre o que o primeiro-ministro tinha anunciado e o que o vídeo mostrava. Estes vídeos — que desaparecem automaticamente 24 horas depois de serem publicados no Instagram — foram também vistos pelo Observador.

Nos vídeos publicados por vários participantes, incluindo pelo DJ convidado, aparecia a localização do evento: o JNcQuoi Club da Avenida da Liberdade, em Lisboa. Este clube pretende ser um local restrito, com regras rígidas de acesso e de confidencialidade, que passam pelo pagamento de um valor para ser membro e pela proibição de tirar e publicar imagens no interior, como explicou a revista Visão na altura em que o espaço foi inaugurado, em 2019. Membros até aos 21 anos pagam 750 euros anuais para poder frequentar o clube, enquanto os restantes pagam 2.750, como explicou o próprio Miguel Guedes de Sousa numa entrevista à revista Visão.

Paula Amorim, filha de Américo Amorim, é chairman do Amorim Luxury Group, a que pertence o JNcQUOI Club

Contactada pelo Observador, fonte oficial do clube garante que essas imagens não correspondem aquilo que se passou. E recusa o uso da expressão “festa”, utilizando outra definição para o evento: “Não se tratou de uma festa, mas antes de um jantar com DJ”. Segundo declarações desta fonte oficial ao Observador, “atualmente o JNcQUOI Club não tem qualquer espaço destinado a dança, os espaços estão ocupados com mesas para servir refeições”. Sobre o facto de muitos convidados estarem sem máscara, garante que as normas contra a Covid-19 são rigorosas, “proíbem a circulação de pessoas sem máscara no estabelecimento” e a própria “equipa do JNcQUOI Club está constantemente a avisar para o uso de máscara se se deslocarem no espaço”.

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Clube de luxo, criado à semelhança dos restritos clubes londrinos, pede aos membros até aos 21 anos que paguem 750 euros anuais, enquanto os restantes pagam 2.750.

Do “jantar com DJ” aos casos positivos

Certo é que, nos dias seguintes, os mesmos jovens que tinham publicado estes vídeos no Instagram começaram a anunciar nas redes sociais estarem em confinamento por terem testado positivo. Quase como se fosse uma medalha, o que chocou mais ainda os pais que viram os vídeos e que, depois, começaram a receber informações de confinamentos em, pelo menos, três colégios de Cascais, como contou uma mãe ao Observador.

Num primeiro e-mail que esta mãe recebeu do colégio, a 21 de outubro, foi informada que “treze alunos, de núcleos familiares distintos, que frequentam o 1.º, 2.º, 3.º ciclos e ensino secundário” ficaram a partir daquele dia, “por prevenção, em isolamento profilático, por terem tido contacto de risco com familiares próximos”. A turma da sua filha, soube já este sábado, acabou por ir toda para casa.

No evento estariam jovens na casa dos 18 anos — mas também haveria menores. Sobre este ponto, a mesma fonte oficial diz ao Observador  que “apenas podem ser membros do Clube pessoas singulares maiores de 18 anos” — no entanto, como cada membro pode levar uma pessoa que não seja sócia, admite que, “à semelhança de outros estabelecimentos similares, a entrada é permitida a maiores de 16 anos”.

Testemunhas garantem ter havido grupo que entrou depois das 22h00

De acordo com três outros testemunhos ouvidos pelo Observador, naquela noite, no interior do clube, enquanto o DJ Half Meter punha música, havia ambientes diferentes: adultos e jovens que ali foram jantar, mas também um grupo de jovens que chegou já depois das 22h00 e que, mesmo sem jantar, consumiu álcool — o que é proibido a partir das 20h00, segundo as regras que tentam controlar a pandemia.

O DJ Half Meter (que o Observador tentou contactar sem sucesso) tinha este sábado 3.163 seguidores na rede social Instagram e em 2017 participou no festival Meo Sudoeste, como se pode concluir pelas suas publicações. É muito conhecido na linha de Cascais e é habitual ser chamado a animar festas de finalistas ou mesmo festas privadas promovidas por estes jovens.

“É falso o número de presenças que mencionam. O JNcQUOI CLUB tem quatro espaços de restauração com ambientes distintos. As pessoas que entraram depois das 22 horas ainda tinham reserva para jantar"
Fonte oficial do Jncquois Club

O evento tinha sido comunicado dias antes por WhatsApp e assinalava a reabertura do clube de luxo depois do período de confinamento. Neste clube exclusivo, os sócios só entram por convite e após uma série de procedimentos prévios, muito à semelhança do que acontece em clubes em que os empresários se inspiraram para o conceito, como os londrinos 5Herford Street, de que são membros George Clooney, Mick Jagger e Leonardo DiCaprio; o Annabels, fundado por Mark Birley; e o The Arts Club, criado por Charles Dickens, Anthony Trollope e Lord Leighton.

“Apesar de o jantar ter suscitado muito interesse por parte dos membros,  o Club enviou previamente mensagem aos seus membros informando que o acesso ao clube seria exclusivo para quem reservou lugar previamente, cumprindo assim todas as recomendações”, garante o clube.

O site do Amorim Luxury Group tem imagens do clube privado (http://www.amorimluxury.com/brand/jncquoi-club/)

D.R.

Foi com quatro amigos: teve teste negativo, os outros não

Uma das testemunhas ouvidas pelo Observador juntou-se ao evento com quatro amigos e diz que, apesar de ter testado negativo, os restantes amigos com quem foi estão todos infetados com o novo coronavírus. Este participante  garante que estavam várias dezenas de pessoas no evento a dançar, sem máscara e sem distanciamento social.

O Observador falou com dois participantes que ficaram infetados, ambos na casa dos 20 anos, que confirmaram apenas ter estado no jantar, garantindo que só algumas pessoas dançaram e que não seria um grupo muito grande, evitando dar mais pormenores. Trata-se de uma versão dos acontecimentos que é contrariada pelos vídeos colocados no Instagram — e que acabaram por desaparecer daquela rede social por serem apenas temporários.

Os relatos ouvidos pelo Observador de quem esteve presente e de quem viu os vídeos nas redes sociais apontam para um evento que parecia uma festa "pré-Covid, com pessoas a dançar sem distanciamento e sem máscaras".

O clube, nas respostas que enviou ao Observador, mantém que “a capacidade do Club foi cumprida segundo as novas regras”. O número de pessoas presente, segundo esta fonte oficial, foi entre 50 a 60 pessoas, e em horários diferentes, quando a capacidade é de 140. “É falso o número de presenças que mencionam. O JNcQUOI CLUB tem quatro espaços de restauração com ambientes distintos. As pessoas que entraram depois das 22 horas ainda tinham reserva para jantar. Nos termos da legislação em vigor, a última admissão terá ocorrido até à meia-noite. O estabelecimento observou sempre a capacidade permitida pelo regime da situação de calamidade declarada no passado dia 14/10″, garante o clube na segunda resposta enviada por e-mail.

Quanto à hora de saída das pessoas do evento, esta fonte oficial garante que o clube encerrou à 1h00 da manhã. Mas acrescenta: “Naturalmente que as pessoas não terão saído todas ao mesmo tempo”.

8 fotos

Os relatos ouvidos pelo Observador de quem esteve presente e de quem viu os vídeos nas redes sociais apontam para um evento que parecia uma festa “pré-Covid, com pessoas a dançar sem distanciamento e sem máscaras”, e também com o DJ a dançar, como costuma fazer, próximo das pessoas e sem máscara. Mas a direção do clube defende que o que ali aconteceu foi completamente diferente.

Num primeiro contacto, fonte oficial do clube recordou que “o Grupo Amorim Luxury foi o primeiro grupo empresarial a encerrar temporariamente, e de forma preventiva, todas as suas unidades de negócio”, logo no início da pandemia, a 13 de março, ainda antes de ser declarado o estado de emergência (o que viria a acontecer cinco dias depois). “Após a reabertura, o grupo tem implementado, de forma rigorosa, todas as recomendações da Direção-Geral de Saúde tendo em vista o bem-estar de todos, nomeadamente colaboradores e clientes”, lê-se na resposta enviada ao Observador.

"Apesar de o jantar ter suscitado muito interesse por parte dos membros,  o Club enviou previamente mensagem aos seus membros informando que o acesso ao clube seria exclusivo para quem reservou lugar previamente, cumprindo assim todas as recomendações"
Responsável pela comunicação do Jncquois Club

Esta fonte oficial garante apenas ter conhecimento de uma pessoa que esteve presente e testou positivo para o novo coronavírus. “Por isso, o Club tem mantido contacto com todos os que estiveram presentes para recolher informação sobre o seu estado de saúde”, disse. A pergunta sobre qual foi o feedback dessas pessoas e se lhes foram reportados outros casos positivos não teve resposta. O clube garante apenas que no estabelecimento não existe qualquer funcionário infetado.

O Observador aguarda ainda uma resposta da Administração Regional de Saúde de Lisboa (ARS) sobre o possível número de casos positivos que terão passado pelo evento no JNcQUOI Club, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Clube garante que membros são todos amigos ou familiares e que também estão juntos fora dali

Fonte oficial do clube refere que todas as unidades de restauração do grupo possuem o selo “Safe & Clean” atribuído pelo Turismo de Portugal e o JNCcQUOI Asia, no primeiro piso, tem ainda o Selo Verde da ASAE, apenas atribuído a espaços que apresentam condições consideradas de excelência.

Na primeira resposta enviada ao Observador, o clube escreve mesmo que, além de estes membros se juntarem naquele espaço, também se juntam fora dele por serem todos amigos ou familiares. “Sendo uma realidade que, infelizmente, se propaga a uma velocidade galopante em todo o mundo, não podemos deixar de assinalar que o JNcQUOI CLUB é um Clube privado reservado a membros, na sua grande maioria familiares e amigos próximos, que se relacionam regularmente dentro e fora do clube”, lê-se.

Para já, garante o clube, não há nenhum evento ou festa prevista e todos os dias são recusados jantares com mais de cinco pessoas.”O Grupo Amorim Luxury não hesitará em voltar a encerrar portas caso avalie que essa medida se revela necessária face à propagação da doença em Portugal e nomeadamente em Lisboa e Vale do Tejo, para proteção dos seus colaboradores e clientes”, acrescenta.

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