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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Suspiros de alívio e gargalhadas nos bastidores de uma novela da vida real. O debate presidencial visto por dentro dos estúdios da Globo

Enquanto os jornalistas se preparavam na sala de imprensa, no estúdio 3 os candidatos faziam os últimos acertos antes do debate. Lula, que foi o último a chegar, não cumprimentou Bolsonaro nem Ciro.

Carlos Diogo Santos e João Porfírio, enviados especiais do Observador ao Rio de Janeiro, Brasil

Pouco passava das 21h. Na entrada do Projac — os estúdios da Globo em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro — havia uma concentração de pessoas com bandeiras de apoio ao candidato do PT, Lula da Silva. Não eram assim tantas, ainda assim mais do que as duas que metros antes seguravam, no separador central, uma bandeira do Brasil e gritavam por Bolsonaro.

Os dois candidatos estavam já por essa hora dentro do complexo da emissora brasileira onde são gravadas muitas das telenovelas que chegam a Portugal, um prenúncio da trama que seria acompanhada em direto por milhões de brasileiros e mais de uma centena de jornalistas e operadores de imagem reunidos numa sala, preparada ao detalhe pela Globo.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre as eleições brasileiras.

Lula poderá vencer à primeira volta?

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Perto de metade eram brasileiros, os restantes de países como Portugal, Rússia, Alemanha, China, Argentina, Finlândia, Japão, Estados Unidos, Itália, Chile e Áustria. As eleições do próximo dia 2 no Brasil — e o que delas resultar — são muito mais do que um assunto de um país e as línguas que se faziam ouvir na sala de imprensa deixavam isso claro.

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Enquanto os jornalistas se preparavam na sala de imprensa, no estúdio 3 os candidatos faziam os últimos acertos antes do debate. Lula da Silva, que foi o último a chegar, cumprimentou apenas alguns candidatos — Bolsonaro e Ciro Gomes, em terceiro lugar segundo as sondagens e que estava acompanhado pela sua mulher — ficaram de fora.

Uma sondagem Datafolha conhecida esta quinta-feira dava conta de que Lula lidera a corrida com 50% dos votos válidos — o que significa que há a hipótese de tudo se resolver na primeira volta. Na mesma sondagem,  Bolsonaro aparece com 36%, seguido por Ciro Gomes, com 6%, e Simone Tebet, com 5%.

Os últimos detalhes da estratégia do Presidente

As maiores indicações eram dadas a Bolsonaro, por dois membros da sua equipa, um deles o filho Carlos Bolsonaro, que defende uma estratégia mais agressiva. Num dos momentos, Carlos chega mesmo a segredar algo ao ouvido do Presidente, enquanto o abraça. Uma das folhas que o candidato tem nas mãos é a impressão de uma notícia de 2016 da Folha de São Paulo com o título: “Empresa de filho de Lula recebeu R$ 103 milhões, aponta laudo da Polícia Federal”.

O momento do tudo ou nada estava prestes a começar. Na sala de imprensa, às 22h14, as televisões ficam de repente com som quando um direto dos estúdios lembra que o debate está para breve. O jornalista completava que teria início logo após acabar a telenovela “Pantanal”.

Bolsonaro e Lula enfrentaram-se no debate

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Foi nesse momento que fotógrafos e operadores de imagem dos vários meios ali presentes puderam entrar no estúdio onde estavam os candidatos. Os redatores e jornalistas de televisões tiveram de continuar na mesma sala — a sessão fotográfica durou exatamente 7 minutos.

Às 22h30 em ponto começava o debate, com o moderador, o jornalista William Bonner, a explicar as regras aos candidatos: Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Felipe D’Ávila (Novo), Lula (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União).

“Ciro, você está nervoso”. A agitação entre os jornalistas

Ciro Gomes foi o primeiro a ir ao púlpito e a fazer uma pergunta a Lula da Silva — foi isso que ditou o sorteio — e começou por encostar Lula da Silva à parede: “Como o senhor explica que após 14 anos de governo do PT os cinco brasileiros mais ricos acumulavam o que possuem os 100 milhões mais pobres”. Ao que o líder do PT respondeu, dizendo que a pergunta deveria ter sido feita de outra maneira e lembrando que Ciro Gomes fez parte do governo PT.

Na sala onde estavam os jornalistas, a primeira reação forte surgiu quando Lula da Silva fixou os olhos no oponente e contra-atacou: “‘Tô achando você nervoso, Ciro. Estou achando você nervoso”.

O candidato do PT foi mais longe e afirmou: “Quando você cita o governo do PT, você se esquece que o atual presidente herdou o governo não da Dilma, mas de um Presidente golpista [referência a Michel Temer].”

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“A Globo foi uma que acabou com a mamata”. Bolsonaro é cortado por ter expirado o seu tempo

O candidato seguinte a fazer uma pergunta foi o Padre Kelmon (PTB), que chamou Jair Boslonaro. O que deveria ser um escrutínio, mais não passou do que palavras de apoio ao atual Presidente, com ferozes ataques à esquerda, que disse querer calar a Igreja: “Sabemos que a esquerda quer calar a voz dos padres, da igreja, que denigre aqueles que querem fazer o bem”.

Bolsonaro cavalgou na onda do aliado naquele debate e disse considerar que o país não pode “voltar à fase que era até pouco tempo, em que era realmente uma cleptocracia”. E o atual Presidente também lançou farpas à própria estação em que estava a falar, dizendo que “a Globo foi uma que acabou com a mamata”. Nesse momento, o  moderador lembra que o candidato já expirou o seu tempo. A coincidência entre o corte da palavra e a farpa à Globo geram uma gargalhada generalizada na sala de imprensa.

Jair Bolsonaro ouve conselhos do filho Carlos

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A partir deste momento, seguiram-se vários pedidos de resposta por ofensa à honra, um mecanismo previsto no debate e que foi levado ao extremo pelos candidatos que estão mais bem colocados nas sondagens. O sentimento na sala de imprensa era o de que o debate poderia arrastar-se por muito tempo, caso não houvesse um ponto de ordem. Até Lula, a determinada altura, afirmou já se estar a sentir mal de não deixar os outros candidatos falarem.

Nesse período, Bolsonaro falou em “quadrilhas” durante a administração de Lula, que não se deixou ficar e retorquiu com as polémicas do governo Bolsonaro, como o chamado caso rachadinha. O ambiente estava tenso e ficou ainda mais quando o último pedido de resposta de Boslonaro de uma série deles acabou por não ser aceite. Houve um certo alívio nos bastidores, que foi ainda maior quando William Bonner pediu expressamente alguma elevação nas intervenções.

As duas candidatas mulheres chamaram a atenção

Tanto Simone Tebet (MDB) como Soraya Thronicke (União) foram elogiadas aqui e ali entre os jornalistas. A primeira pelas propostas e pela forma como sempre tentou direcionar o debate para os problemas do Brasil, a segunda pelas tiradas mais cómicas e menos ortodoxas com que ia respondendo sobretudo ao Padre Kelmon.

Thronicke chegou mesmo a questionar Kelmon sobre quantas extremas unções teria dado durante a pandemia e se não teria medo de ir parar ao inferno depois de tudo o que defende. Na sala poucos contiveram o riso, que passou a estupefação quando a candidata afirmou que o padre está ali não como candidato, mas sim como cabo eleitoral de Bolsonaro.

A candidata Simone Teber

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No intervalo seguinte, às 23h18, entre os jornalistas brasileiros presentes, havia quem considerasse que Tebet estava a conseguir com êxito que a sua mensagem passasse — sendo muito hábil a contornar a tentativa de Bolsonaro em vincular Lula ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP). Mas atambém achavam que o candidato do PT estava a acusar os ataques e, por isso, estaria “meio atordoado” por estar a “apanhar de todo o lado”. Outros consideravam que o ex-Presidente, ainda assim estava a defender-se bem. Eram os comentários por entre bebidas quentes e frias, pratos de comida ou doces acompanhados por cafés, numa sala em que atrás de tudo estavam os operadores de imagem, depois havia quatro filas de cadeiras e à frente um púlpito enquadrado entre dois postes, onde no fim do debate os candidatos viriam dar uma conferência de imprensa — os que aceitassem vir até aos jornalistas, porque houve quem não aceitasse.

A candidata Soraya Thronicke

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Lula e Bolsonaro foram os únicos a esquivar-se à conferência final

O certo é que até aí o debate estava forte. E assim havia de continuar — no terceiro bloco, uma discussão entre Lula e o Padre Kelmon levou o moderador ao desespero, mas reanimou o ambiente na sala de imprensa, onde a cada interrupção irregular dos candidatos havia sorrisos pelas caras feitas pelo apresentador e quem sugerisse que era preciso acabar com o que se estava a passar, neste caso as interrupções constantes de Kelmon.

O jornalista teve mesmo de usar expressões como “vamos respirar” ou “o senhor instituiu as suas regras”. O auge da impaciência de Bonner parece ter sido atingido quando Bolsonaro fez um novo pedido de resposta por ofensa à honra. Foi negado, porque “o seu nome nem sequer foi citado”, afirmou já impaciente.

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Ainda faltava algum tempo para o fim do debate, que só aconteceu às 1h50 do Rio, mais quatro horas em Lisboa. Depois disso vieram as conferências de imprensa na sala onde estavam os jornalistas. E às 2h39 surge um aviso da organização: “Os candidatos Lula da Silva e Jair Bolsonaro foram convidados para a coletiva, mas decidiram não participar.”

Na sala ouve-se um “ohhhhh”, fica a dúvida se foi de deceção, de ironia ou simplesmente por finalmente todos poderem ir para casa. Foi o fim: assim que os candidatos saíram das instalações, o esquema de segurança da TV Globo desmobilizou e deixaram de estar seguranças e grades a bloquear a entrada do Projac.

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