Foi um discurso marcado por um grande improviso e desvios em relação ao texto que tinha sido preparado — e marcado por uma palavra: “Todos.” A Igreja tem lugar para todos, insistiu o Papa Francisco perante cerca de 500 mil jovens reunidos no Parque Eduardo VII para a cerimónia de acolhimento da Jornada Mundial da Juventude. Foi o primeiro grande discurso do Papa em frente a uma multidão nesta viagem a Portugal e serviu para o Papa apelar a cada um dos jovens para que sejam protagonistas das suas vidas e do mundo que querem transformar. A partir do texto oficial distribuído pelo Vaticano, adaptado com base no improviso do Papa Francisco, aqui fica o essencial do discurso do Papa.

António Costa destaca “capacidade de acolhimento” e “vitalidade” dos jovens. JMJ tem sido “absolutamente extraordinária”, diz primeiro-ministro

“Queridos jovens, boa tarde!

Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico feliz por vos ver e por escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É bom estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca, a quem agradeço as suas palavras, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas e animadores. Agradeçamos-lhes por isso com uma grande salva de palmas! Mas foi sobretudo Jesus quem vos chamou: agradeçamos-Lhe, a Jesus, com o nosso forte aplauso!

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Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Sim, Ele chamou-vos pelo nome. Escutamos na Palavra de Deus, chamados pelo nome: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido do que sois: tu és chamado pelo teu nome — tu, tu, tu, nós, todos vós —, tu és chamada pelo nome, não chamado automaticamente, sou chamado pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas no coração.

Fui chamado pelo meu nome, fui chamado pelo meu nome. Ninguém é cristão por casualidade.

[Nesta fase do discurso, o Papa Francisco pediu aos jovens que repetissem, juntamente com ele, as palavras “todos, todos, todos”.]

Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, das sombras e feridas que carregamos dentro de nós, recebemos um chamamento. Chamados, porque amados. Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar e encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original, cuja beleza mal conseguimos vislumbrar.

Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos a reconhecer esta realidade: sejam estes dias ecos vibrantes dessa chamada amorosa de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem, enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias em que o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas e nações — vemos tantas bandeiras — que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados tal como somos. Este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo da vida. (…)

Somos amados como somos! Sem maquilhagem. Entendem isto? (…)

Chamados pelo nome: não é um simples modo de dizer, é Palavra de Deus. Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós é um número, mas um rosto, é uma cara, é um coração. Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. São as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que nos atraem e prometem felicidade mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam o vazio interior. Digo-vos isto: Jesus não é assim! Ele tem confiança em ti, em cada um de nós, porque para Jesus, cada um de nós conta.

Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas perguntas. E perguntar, é bom; aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, pois quem pergunta permanece ‘inquieto’ e a inquietude é o melhor remédio contra a habituação, aquela normalidade rasteira que anestesia a alma. (…)

Deus ama-nos como somos, não como a sociedade gostaria que fôssemos. Com os nossos defeitos. (…) Porque Deus é pai, que nos ama. Não tenham medo, tenham coragem. Deus ama-nos! Obrigado, adeus!”