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Ao fim de três dias as autoridades não encontraram qualquer vestígio biológico de Maddie McCann na barragem do Arade — e mesmo o que foi encontrado não terá qualquer relevância acrescida, apurou o Observador junto de fonte próxima da investigação.
A mega operação de buscas na barragem do Arade foi pedida pelas autoridades alemãs, no âmbito da investigação ao desaparecimento de Maddie McCann e terminaram ao início da tarde desta quinta-feira. Ao fim de cerca de 72 horas desde a mobilização dos meios e equipamentos para aquele local, as grandes tendas azuis da Judiciária começaram a ser desmontadas após a hora de almoço e são vários os carros que saíram do local com material e homens.
Oficialmente a Polícia Judiciária anunciou esta tarde em comunicado o fim das diligências e a entrega do material recolhido às autoridades alemãs, sem prejuízo da investigação de corre em território nacional.
Caso Maddie. Buscas na barragem do Arade terminam ao fim de três dias
Afinal, qual a importância da diligência para a investigação?
Ao longo das últimas horas foram usados georadares — equipamentos não invasivos que permitem identificar alterações no solo, incluindo elementos enterrados, até uma certa profundidade que depende do tipo de solo — , roçadoras, motosserras e destroçadores de mato, para limpar e passar a pente fino várias partes do terreno em redor da barragem.
Nessas diligências os operacionais e peritos da Judiciária, sempre acompanhados pelos colegas alemãs e ingleses, foram encontrando alguns vestígios, mas que pela sua natureza não deverão ter grande relevância. Ao que o Observador apurou a análise do material encontrado serve apenas para descartar qualquer dúvida, não havendo qualquer ligação clara ao caso.
Maddie. Novas buscas, o mesmo mistério. O que se sabe até agora?
A recolha do material começou logo no primeiro dia de buscas. Na terça-feira, conforme noticiado, chegaram a ser recolhidos alguns elementos que agora serão analisados na Alemanha. No segundo dia de trabalhos, não houve sinais de que algo tivesse sido encontrado pelos inspetores da Judiciária — que estão a ser apoiados pela GNR, Proteção Civil e bombeiros. Durante a tarde de quarta-feira, aliás, os trabalhos levados a cabo no terreno, pelo menos nos locais que a vista dos jornalistas alcançava, foram reduzidos.
As buscas foram pensadas para decorrer ao longo de dois dias, mas a forte chuva de terça-feira ao fim do dia levou a que as operações se prolongassem ao longo da manhã desta quinta-feira.
O informador dos alemães nunca apontou crime na barragem
As autoridades alemãs investigam a possível ligação de Christian Brueckner, um alemão que está preso naquele país por violação de uma idosa no sul de Portugal, ao desaparecimento da menina inglesa.
Brueckner, que conta com vários crimes violentos e de natureza sexual no seu cadastro, viveu durante vários períodos no Algarve, estando na noite do desaparecimento da pequena Maddie estado próximo da Praia da Luz. Esta barragem era, aliás, um dos locais preferidos do alemão em Portugal.
E para se chegar a essa conclusão, as autoridades alemãs analisaram um conjunto de informações, que resultam de inquirições, de recolha de prova, de análise de dispositivos, como telemóveis e computador.
Foi isso mesmo que um importante informador das autoridades alemãs revelou, sabe o Observador, contando que era ali que Brueckner para algumas atividades que lhe dariam muito prazer, conhecendo cada recanto do braço da barragem onde se concentraram as buscas do último dia.
O à-vontade do alemão com o terreno e o poder conhecer todos os recantos poderiam fazer daquela barragem o local escolhido para se desfazer do corpo da menina britânica, caso tivesse sido ele o responsável pelo seu desaparecimento, como acredita a polícia e o Ministério Público alemães.
Ao contrário do que foi já noticiado, o informador das autoridades germânicas, sabe o Observador, nunca terá afirmado que aquela barragem em concreto teria sido palco de qualquer crime relacionado com Maddie McCann.
Se o material foi recolhido em Portugal, porque não é analisado pela PJ?
Ao que o Observador apurou junto de uma fonte conhecedora da investigação, todo o material que foi apreendido nos últimos dias, será analisado em território alemão, pelas autoridades daquele país. Em causa não está a incapacidade para que as perícias sejam feitas em Lisboa, mas apenas o facto de se ter entendido que é o mais correto de se fazer ao abrigo de uma Decisão Europeia de Investigação em Matéria Penal.
Este mecanismo consiste numa “decisão emitida ou validada por uma autoridade judiciária de um Estado membro da União Europeia para que sejam executadas noutro Estado membro uma ou várias medidas de investigação específicas, tendo em vista a obtenção de elementos de prova”.
E, por isso, apesar de Brueckner também ser, desde o ano passado, o principal suspeito no inquérito aberto em Portugal relativo ao desaparecimento de Maddie, caberá à Alemanha a análise do material encontrado.
Recorde-se que, em abril de 2022, o Departamento de Investigação e Ação Penal de Faro (secção de Portimão) constituiu Brueckner como arguido.
“No âmbito do inquérito onde se investigam as circunstâncias que rodearam o desaparecimento, em 2007, de Madeleine McCann foi […] constituído um arguido”, começava o comunicado, adiantando que “o arguido foi constituído pelas autoridades alemãs em execução de um pedido de cooperação judiciária internacional emitido pelo Ministério Público de Portugal”.
Já na altura era referido que a investigação estava a ser feita “com cooperação das autoridades inglesas e alemãs”.
Porque foi montada uma mega operação na barragem?
As autoridades portuguesas definiram como essencial respondera ao pedido dos alemães, com a montagem de várias tendas e até um conjunto alargado de meios, até pelas características do local. As tendas montadas, por exemplo, terão sido essenciais para que operacionais e material fosse abrigado das fortes chuvas do primeiro dia de buscas.
Nas imediações da barragem do Arade foi montada uma base logística, a cerca de um quilómetro, onde foram colocadas várias tendas de triagem que, apesar de não serem muito utilizadas pelas autoridades portuguesas no dia a dia, permitem, por exemplo, fazer triagem de fragmentos encontrados. Segundo fonte próxima deste caso, as tendas serviram ainda para guardar material para que não tivesse exposto a conmdições climatéricas extremas.
No local, como o Observador já tinha explicado, esteve ainda uma carrinha de operações e comando, que serve como base de comunicação com os operacionais que estão no terreno.
O que disse oficialmente a PJ após as buscas no terreno?
Em comunicado, a Policia Judiciária informou esta tarde que foram “dadas como cumpridas as diligência solicitadas pelas autoridades alemãs”, através de um pedido de cooperação internacional, “de que resultou a recolha de algum material que irá ser sujeito às competentes perícias”.
Na mesma nota é sublinhado que “a operação decorreu sob coordenação da Polícia Judiciária, que envolveu investigadores, peritos de criminalística e pessoal da segurança”. Isto, apesar de os trabalhos terem tido “a participação das autoridades alemãs (BKA)” e presenciados pelas “autoridades britânicas (MPS)”.
Além disso, é referido que a polícia contou “com a extraordinária colaboração do Comando de Faro da Guarda Nacional Republicana em várias valências, bem como do Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve e do Município de Silves, no que respeita à logística necessária ao desenvolvimento dos trabalhos”.
O comunicado termina, dando conta de que, “salvaguardados que foram os interesses da investigação ainda em curso em Portugal, o material recolhido será entregue às autoridades alemãs, de acordo com as regras da cooperação judiciária internacional”.
Madeleine McCann desapareceu em maio de 2007 de um complexo turístico junto à Praia da Luz, que fica a cerca de 50 quilómetros da barragem do Arade.