Tira máscara, põe máscara… esta lengalenga já a sabe de cor. Atire a primeira pedra quem não está cansado do mundo virado do avesso, e atire a segunda pedra quem não se entusiasma com a ideia de aproveitar a vida em segurança, num reencontro com a natureza, depois do período de confinamento que nos obrigou a permanecer dentro de quatro paredes, ora dia, ora noite.
Não sabemos se estamos a dar-lhe uma novidade, e nem queremos maçá-lo com factos científicos, mas sabia que o contacto prolongado com a natureza fortalece o sistema imunitário, baixa a pressão arterial e reduz o stress? Agora que começamos a pensar em tempos mais felizes, façamos escolhas acertadas: além de todas as especificidades descritas acima — que podiam ser lidas de uma forma muito rápida como se faz nos anúncios em que ninguém percebe nada —, escolha aproveitar o melhor que Portugal tem, longe do ruído e da confusão das grandes multidões, e mais perto das paisagens que nos acrescentam anos de vida, em harmonia com a natureza.
Tire o pó das botas e encha os pneus da sua bicicleta, coloque a mochila às costas e prepare-se descobrir o melhor que o Centro do país tem para lhe oferecer: existem mais de 70 percursos pedestres e trilhos de bicicleta, espalhados pelas oito regiões do Centro, com paisagens e trilhos encantadores que nos permitem descobrir a beleza natural do nosso país. Vamos conhecê-los?
Desperte os seus sentidos na Ria de Aveiro
Quando começamos este parágrafo dizendo que na Ria de Aveiro poderá despertar os seus sentidos, não é mentira: a Grande Rota da Ria de Aveiro permite que explore 11 concelhos da região com recurso da bicicleta — Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos —, ao longo de três percursos de longa rota. Se estava à espera de um sinal, este é o motivo ideal para descobrir as paisagens da Ria.
Ora, existem três percursos independentes que perfazem um total de 600 quilómetros de extensão, sendo que cada itinerário tem as suas próprias características. Considerado “algo difícil”, o que corresponde ao nível três de dificuldade, percorra o percurso azul (130,8 km) ao longo de seis dias; se procura um itinerário mais desafiante, compre remendos suficientes para os seus pneus (nunca se sabe) e aventure-se pelo percurso verde, considerado “difícil”, deixando-se levar durante 10 dias pelas paisagens muito verdes que o acompanham ao longo de 194 km. Este último é para os campeões da bicicleta: arrisquem no percurso dourado e fiquem a conhecer os caminhos do interior desta região: são 233,9 km.
É como ver um filme bonito. Ao passo que vai pedalando, verá praias, rios, zonas montanhosas, assim como a fauna (há flamingos, há garças, há guarda-rios, há ouriços-cacheiros) e flora típica da região. Agora, é arrancar.
Passo a passo, conheça Viseu Dão Lafões
É nesta região que também poderá encontrar os percursos pedestres mais bonitos do Centro de Portugal — lembra-se da tal conversa das paisagens que nos acrescentam anos de vida e diminuem as rugas de preocupação? Na região Viseu Dão Lafões, que inclui 14 concelhos, tem à sua disposição (e das suas escapadinhas) uma Rede de Percursos de natureza com efeitos certamente terapêuticos (dizemos nós).
Encha os pulmões de ar puro e deixe levar-se pela leveza própria associada ao turismo de natureza: conheça a Rede Percursos Natureza que inclui percursos para todos os gostos, capacidades físicas e interesses, tais como os 41 percursos pedestres de pequena rota, três percursos de grande rota e um terceiro de interpretação ambiental, nos quais poderá aventurar-se a fazer ciclismo de montanha ou cicloturismo.
O destaque nesta região vai para a Ecopista do Vale do Vouga, que atravessa cinco túneis e uma ponte centenária (Ponte do Poço de Santiago), que é o ex-libris da identidade local, por caminhos envolvidos em zonas florestais e agrícolas, sempre com o Rio Vouga ali ao lado.
Na Região de Coimbra, conecte-se com a natureza no Mondego
Da Serra da Estrela até ao Oceano Atlântico, a Grande Rota do Mondego é um convite para descobrir a tranquilidade a duas rodas, à beira do maior rio português. O percurso de 142 km de extensão cruza vários pontos de interesse entre a Figueira da Foz e Oliveira do Hospital.
Vamos por partes: descubra a história da região pedalando pela Figueira da Foz — onde o Mondego se cruza com o Oceano —, explore os campos de arroz do Baixo Mondego e a tradição de cultivo já mais perto de Coimbra, onde terá a oportunidade de conhecer as vilas de Montemor-o-Velho e Pereira. Prossiga, depois de uma paragem em Coimbra (que merece sempre a nossa atenção), para Penacova e deixe as preocupações de lado enquanto aprecia as montanhas. Por fim, sugerimos que termine o percurso nos concelhos de Tábua e Oliveira do Hospital. Espera-o grandes aventuras.
Serra da Estrela em todo o seu esplendor
É pela região mais alta de Portugal que prosseguimos, e o leitor estará a perguntar-se porquê, tendo em conta que uma das características mais óbvias deste território é a presença de baixas temperaturas e muita neve, durante o período do inverno. Ora, se no inverno é muito bonito, imagine no verão, quando o clima permite caminhadas com menos roupa e a dificuldade dos trilhos decresce, devido à ausência de neve ao longo das rotas assinaladas. Considerada a região com a paisagem natural mais bonita do país, aqui poderá encontrar florestas que parecem de postal, águas muito cristalinas em lagoas e rios no meio da serra, praias fluviais e piscinas naturais, sem esquecer a qualidade das estruturas que estão devidamente preparadas para recebê-lo.
Esta sugestão é para os mais aventureiros: o Trilho do Maciço Central é uma experiência imperdível para quem tem interesse em conhecer o coração da serra. Entre descidas e subidas mais e menos abruptas, este percurso feito em altitude — acima dos 1400 metros —, põe à prova a condição física de quem arrisca fazê-lo. Contudo, uma coisa é certa: está para vir alguém, que tendo a capacidade de o percorrer, se arrependa de algum dia tê-lo feito. Espera-o um silêncio conciliador e harmonioso, profundamente alinhado com a paisagem muito verde que o acompanha ao longo dos quase 20 quilómetros de rota. Para este percurso, leve o conselho mesmo a sério: tire o pó das botas e comece já a treinar.
Já conhece as relíquias naturais de Leiria? De bicicleta sabem melhor
Sabemos que depende das suas preferências: há quem se sinta bem a caminhar quilómetros sem fim, há quem prefira andar à boleia da bicicleta, mas a sugestão que lhe trazemos da região de Leiria é a duas rodas. Primeiro, o combustível, não para a bicicleta, para si que vai conduzi-la: a primeira paragem sugerimos que seja logo em Leiria, para ganhar energia. Por isso, petisque um dos doces mais típicos da região: as Brisas do Lis. Barriga feliz, faça-se à estrada (ou aos passadiços, neste caso). Depois prossiga até ao primeiro centro de BTT a ser reconhecido pela Federação Portuguesa de Ciclismo: o Centro de BTT da Batalha, na aldeia de Pia de Urso. O nosso destino tem uma rede de percursos devidamente sinalizados que perfazem um total de 265 quilómetros, que se distribuem ao longo de 7 rotas com diferentes níveis de dificuldades (por aqui, acautelamos as necessidades físicas e técnicas de todos os leitores).
Percorra os concelhos da Batalha, de Porto de Mós e de Leiria, através da enorme oferta de percursos à sua disposição, conhecidos pela qualidade das infraestruturas — há balneários, há instalações sanitárias, há zona de lavagens e até uma área destinada a pequenas reparações de bicicletas —, pela beleza da paisagem e conservação ambiental. Na mochila, leve os seus pés de gato: porque não aproveitar a oportunidade de experimentar escalada?
Médio Tejo, uma região para descobrir a duas rodas
São 370 quilómetros de aventura: convencemo-lo? Vamos às coordenadas (ou às descrições): a Grande Rota do Zêzere atravessa uma das zonas de maior diversidade ambiental do país, sempre muito verde, sempre perto do rio Tejo, ao longo de 13 estações (e concelhos). Dizem que é um dos segredos mais bem guardados de Portugal (sim, esta Rota), porque este percurso conhecido por GRZ permite-lhe conhecer vários cenários ao longo do mesmo trajeto. Não queremos maçá-lo com nomes dos troços/etapas, mas vamos arriscar, porque também eles ajudam a criar o imaginário desta aventura — não escreveremos todos, só alguns para aguçar-lhe o apetite aventureiro. Ora, existe: o “Selvagem Início”, com 30,1 km; “Sob o signo do Cabril” (62km); “Só tu e o rio”, com uma extensão de 22,9 km; “O regresso à serenidade”, com 28,4 km. Ao todo são nove etapas: vamos a isso?
Oeste, percursos à beira-mar
Sempre com o oceano Atlântico a acompanhar-nos, a região do Oeste é para os amantes da brisa fresca do mar e da paisagem natural perto dele. É aqui, bem junto ao litoral, que encontrará trilhos e percursos pedestres em cima de arribas com uma biodiversidade singular, como os Passadiços da Foz do Arelho, localizados nas dunas da praia da Foz do Arelho. Este — e porque também precisamos — é um programa mais light, como se costuma dizer: o percurso é relativamente curto, são 800 metros de passadiços de madeira, mas não se deixe enganar pela extensão; quem os faz quer sempre regressar, porque, especialmente em dias de céu limpo, a paisagem arrepia (vê-se, ao largo, as Berlengas, Peniche e São Martinho do Porto) e torna-se mística com o som das ondas e das gaivotas a sobrevoar a área.
Beira Baixa e as suas paisagens naturais (com um twist)
Comecemos pelo menos óbvio, pelo twist que confere aos percursos pedestres da região da Beira Baixa características únicas que não se encontram noutras coordenadas geográficas: é que aqui, mais precisamente na localidade de Vila Velha de Ródão, no meio da qual se atravessa o Rio Tejo, encontramos a Rota das Invasões, um percurso que adquire grande importância na história de Portugal. Perceberá melhor quando o caminhar, mas podemos dizer-lhe que encontrará vários monumentos militares construídos estrategicamente ao longo do trilho, por este ser considerado uma das entradas naturais no território português, e, portanto, a necessidade de ser protegido no passado, contra os invasores, era enorme (daí o nome da Rota). Este é um percurso de oito quilómetros, onde a cada passo se desbravam momentos-chave da história militar no nosso país. Já está entusiasmado? Faça-se à estrada em segurança!
Não é preciso ir para longe para apreciar o melhor da natureza: no Centro do país existem dezenas de percursos pedestres à espera de serem explorados. Prefere ciclismo? Neste artigo há roteiros para todas as preferências. A referência final deste texto vai para o projeto “Project walking & cycling”, que posiciona o país como destino internacional neste tipo de experiências intermodais e turísticas: entre caminhar ou pedalar, encontre no site deste projeto as melhores rotas de norte a sul do país, arquipélagos incluídos também.
No fundo, basta isso (isso e toda a disponibilidade para aproveitar o tempo que é nosso, no país que é nosso, agora que reconhecemos, acima de tudo, o valor da liberdade e do descanso ao ar livre). O desafio é este: vamos explorar?
Saiba mais sobre este projeto em
https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/