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A aproximação a Vladivostok faz-se de comboio. Não num comboio qualquer, mas num blindado, equipado com alta tecnologia para que Kim Jong-un possa emitir qualquer ordem, mesmo longe de Pyongyang. A bordo serve-se lagosta e espumante francês. Nada falta na viagem de cerca de 20 horas que leva o Líder Supremo norte-coreano até à Rússia, a uma cidade portuária no Pacífico, que é também a estação final da Linha Transiberiana. Se, para se encontrar com Kim, Vladimir Putin decidisse usar o mesmo meio de transporte, a viagem duraria sete dias. Afinal, de Vladivostok a Moscovo são mais de 9 mil quilómetros (10 vezes o comprimento da costa portuguesa).
Tudo indica, segundo as mais recentes informações oficiais, que o encontro entre os dois chefes de Estado vai mesmo acontecer, e que uma aliança importante sairá da reunião, defendem vários especialistas ouvidos pelo Observador. Troca de armas, de tecnologia e de alimentos deverá ser o saldo final, numa aliança em que ambos têm a ganhar.
Para o Ocidente, saber que Putin pode receber munições para usar na guerra contra a Ucrânia é preocupante, mas ainda mais preocupante é o cheque em branco que o Presidente russo poderá estar disposto a entregar à Coreia do Norte, um Estado pária, com um líder capaz de violar diretivas internacionais sem pensar duas vezes.
Kremlin confirma: Kim visita Vladivostok
A fuga de informação partiu dos Estados Unidos. Os serviços secretos anunciaram, na passada semana, que o Presidente russo e Kim Jong-un se encontrariam em Vladivostok a 13 de setembro, à margem do 8.º Fórum Económico Oriental, que arrancou no domingo. Silêncio foi tudo o que se ouviu do Kremlin e da Residência Ryongsong nos dias seguintes.
Só uma semana depois a viagem do líder norte-coreano foi confirmada: a convite de Putin, “Kim Jong-un fará uma visita oficial à Federação Russa nos próximos dias”, avançou o Kremlin em comunicado. Na península da Coreia, foi o Sul quem falou: Kim terá embarcado no seu comboio blindado esta segunda-feira de manhã (11 de setembro). Horas mais tarde, o Norte confirmava a informação.
EUA avisam Coreia do Norte: vai “pagar preço” se fornecer armas à Rússia
A única vez, até à data, que Kim e Putin se encontraram pessoalmente foi em 2019, depois de vários encontros do norte-coreano com Donald Trump, então Presidente dos EUA, terem corrido mal. Esse primeiro encontro foi exatamente em Vladivostok, a 200 quilómetros da fronteira dos dois países, um local considerado relativamente seguro para Kim. Nessa altura, a Rússia fez o anúncio com seis dias de antecedência, e Pyongyang apenas confirmou a viagem na véspera. No final, não houve comunicado conjunto dos dois líderes, embora, desta vez, se espere um desfecho diferente, com mais pompa e circunstância.
O que Vladimir Putin quer? Munições de artilharia, obuses e mísseis de curto alcance
“Kim e Putin estão atualmente a reforçar os seus laços porque precisam um do outro”, começa por explicar Ramon Pacheco Pardo, especialista em assuntos coreanos e professor da King’s College London, ao Observador.
Os benefícios para o Presidente russo estão ligados ao esforço de guerra na Ucrânia. “No caso de Putin, poderá ter acesso a armas norte-coreanas de que necessitará para prosseguir a invasão russa. Além disso, a Coreia do Norte tem sido um dos poucos países a apoiar abertamente a Rússia, apoiando a sua invasão”, argumenta o professor de relações internacionais, autor do livro “Coreia: Uma breve história do Norte e do Sul”.
Segundo o New York Times, o primeiro jornal a avançar com a notícia do encontro, é esse o objetivo de Vladimir Putin: conseguir munições para alimentar a guerra e travar a contraofensiva ucraniana.
Este encontro, para o historiador Bruno Cardoso Reis, é um sinal claro de que a Rússia precisa de mais munições, apesar de o regime de Putin ter dito que tinha reservas suficientes — o que se percebe agora que não corresponde à verdade. “A Coreia do Norte é conhecida como Estado eremita, o mais isolado do mundo. É uma ditadura totalitária, uma monarquia comunista. É difícil ter informação rigorosa” sobre o que existe e o que não existe no país, acrescentou aos microfones da Rádio Observador.
“A opinião da maior parte dos analistas é de que a Coreia do Norte tem capacidades significativas em termos de produção de munições de artilharia, obuses e mísseis de curto alcance”, acrescenta Cardoso Reis, e é disso que a Rússia mais precisa.
Ouça aqui o Gabinete de Guerra: Rússia precisa de munições
Embora não se saiba o que a Coreia do Norte tem armazenado, o mês de agosto foi aproveitado pelo Líder Supremo para visitar várias fábricas de armamento. A mensagem de Kim foi sempre a mesma: é preciso produzir, produzir, produzir.
“O nosso exército deve garantir um poder militar esmagador e uma prontidão sólida para lidar com qualquer guerra a qualquer momento, para que o inimigo não se atreva a usar a força e seja aniquilado se o fizer”, disse Kim, a 14 de agosto, dias antes de os Estados Unidos começarem os seus exercícios militares tripartidos com a Coreia do Sul e o Japão (de 21 a 31 de agosto). Qualquer guerra, neste caso, pode incluir o conflito russo-ucraniano.
O que Kim quer? Alimentos, tecnologia nuclear e um amigo nas Nações Unidas
Nos pratos desta balança comercial, não será só a Coreia do Norte a ter de depositar armas. Kim Jong-un também está interessado em melhorar o seu arsenal — neste caso, o nuclear — e há várias coisas que a Rússia poderá ter de oferecer ao país que vive uma dura crise económica para receber aquilo que Putin tanto procura. Desde logo, o apoio diplomático no Conselho de Segurança da ONU, onde Moscovo tem poder de veto, é fundamental.
Em maio de 2022, quando os Estados Unidos tentaram impor novas sanções contra a Coreia do Norte — depois de Kim ter ordenado novos testes com mísseis balísticos —, a China e a Rússia travaram a votação no Conselho de Segurança. Moscovo pediu mesmo à administração de Joe Biden para parar com a “atividade hostil” contra a Coreia do Norte e retomar o diálogo.
“No caso de Kim, ele beneficiará das transferências de energia e alimentos da Rússia, bem como do apoio no desenvolvimento do seu programa de mísseis e nuclear e da cobertura diplomática no Conselho de Segurança da ONU”, defende Ramon Pacheco Pardo, que dirige o departamento de estudos internacionais e europeus na King’s College London.
Mesmo que Moscovo não queira abrir mão de tecnologia que Pyongyang usaria para avançar no seu programa nuclear, além de vetar eventuais sanções económicas, a Rússia pode pagar munições com petróleo ou moeda estrangeira — e isso já daria um empurrão à economia norte-coreana, permitindo a Kim, indiretamente, aumentar o financiamento do seu programa nuclear com essa receita inesperada.
No Reino Unido, na Universidade de Sussex, outro professor de relações internacionais aponta nesse sentido. “A Rússia terá acesso a equipamento militar norte-coreano que poderá utilizar no campo de batalha na Ucrânia, enquanto a Coreia do Norte terá acesso a moeda estrangeira, bem como a formas de tecnologia potencialmente necessárias para o seu programa de armamento e defesa nacional”, diz Kevin Gray, que, nas últimas décadas, tem desenvolvido investigação sobre a economia política da Coreia do Norte e do Sul.
Porquê agora? Putin e Kim precisam desesperadamente um do outro
Antes de o encontro ser formalmente confirmado, os especialistas ouvidos pelo Observador apontavam todos no mesmo sentido: se Kim e Putin se reunirem, se houver um encontro ao mais alto nível, então é porque um acordo importante será selado, mesmo que não seja publicitado na íntegra. O secretismo faz parte do negócio na Coreia do Norte e Kevin Gray previu o que aconteceria: as autoridades só iriam anunciar a visita de Kim depois de a viagem ter tido início. E assim foi.
“O crescente alinhamento entre a Rússia e a Coreia do Norte (e a China) já está em curso há algum tempo, mas foi impulsionado pelo isolamento da Rússia após a invasão da Ucrânia e pelo fracasso da diplomacia da Coreia do Norte com os EUA durante os anos Trump”, explica o professor da Universidade de Sussex ao Observador.
“Em termos mais gerais, é um símbolo do aprofundamento da Guerra Fria e um meio pelo qual a Coreia do Norte consegue ultrapassar o seu isolamento e os prejuízos económicos causados pelas sanções”, conclui Kevin Gray.
As sanções das Nações Unidas serão as primeiras a sofrer um golpe se a Rússia se dispuser a entregar tecnologia que ajude a Coreia do Norte a avançar no programa nuclear. Kevin Gray reconhece que poderia haver, de facto, um enfraquecimento, mas acredita que ele seria apenas parcial: os dois países mantêm-se isolados do grosso da economia mundial e do seu sistema financeiro.
Se conseguisse passar por cima desses bloqueios económicos, é sabido o que Pyongyang faria de imediato. Entre os desejos (e promessas) de Kim, garantir que o seu país tem um satélite espião operacional está no topo das prioridades.
Coreia do Norte promete insistir no lançamento de satélite espião
Em julho, a Coreia do Norte tentou lançar um satélite espião, mas fracassou. Apesar disso, as autoridades prometeram continuar a insistir nos testes. Não poderiam ter escolhido outro caminho: Kim prometeu publicamente conseguir este sistema para responder à hostilidade dos EUA. A lista não fica por aqui e o Líder Supremo quer também um submarino nuclear, um míssil com várias ogivas, um míssil balístico intercontinental de propulsão sólida e um míssil hipersónico.
Sobre a disposição de Putin de entregar tecnologia nuclear à Coreia do Norte, Kevin Gray é cauteloso, lembrando que o país é uma potência nuclear há já algum tempo, e que o resultado de qualquer cooperação tecnológica seria a melhoria dos sistemas já existentes. “Não creio que seja necessariamente um fator de mudança, uma vez que o programa nuclear norte-coreano já está bastante avançado. Não sei se Moscovo estaria disposta a ceder este tipo de tecnologia.”
Ramon Pacheco Pardo também acredita que o impacto não seria significativo, mas isso não significa que Moscovo não esteja disposta a dar a mão a Pyongyang: “A União Soviética, primeiro, e a Rússia, depois, têm vindo a apoiar o desenvolvimento do programa nuclear da Coreia do Norte há décadas, incluindo transferências de tecnologia e conhecimentos especializados. Presumo que a Rússia continuará a prestar esse apoio.”
Mais armas para a Rússia versus mais nuclear para a Coreia do Norte. O que é mais perigoso?
No final de julho, quase como antecipação do encontro dos líderes, Sergei Shoigu esteve em Pyongyang. O ministro da Defesa russo não foi sozinho. Uma comitiva chinesa esteve presente no 70.º aniversário do armistício da Guerra da Coreia (oficialmente, Norte e Sul continuam em guerra), mas o destaque foi para o enviado de Putin.
Kim Jong-un visitou uma exposição de armamento com Shoigu e o ministro russo terá sugerido a realização de exercícios militares entre os dois países, alargando-se essa cooperação à China. O comércio de armas também foi negociado e a resposta dos EUA chegou no mês seguinte. Em agosto, o Departamento do Tesouro norte-americano sancionou três entidades ligadas ao que considera ser uma rede de contorno de sanções para apoiar o comércio de armas entre Rússia e Coreia do Norte.
Estas armas de Pyongyang servem mesmo os interesses de Moscovo? Luís Tomé, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa, acredita que sim. “Ao contrário dos países ocidentais, a Coreia do Norte nunca desmantelou a sua capacidade industrial e manteve a produção de munições que têm o mesmo calibre das armas soviéticas e russas”, explica o professor.
Ouça aqui o Gabinete de Guerra: sinais contraditórios de Pyongyang
Já o major-general Arnaut Moreira lembra ao Observador que o regime de Kim não foi o primeiro a ser contactado. “A Federação Russa atravessa uma fase complicada da guerra, que se prolongou muito para lá daquilo que era expectável. Não há solução à vista.”
Isto significa que o esforço de guerra terá de continuar durante muito tempo. Neste cenário, Moscovo tem conversado com alianças antigas, que existem desde a União Soviética. Há muitos países em África, recorda o militar na reserva, que receberam equipamento soviético. “Houve uma sondagem junto desses países, no sentido de averiguar se estariam disponíveis para reenviar estes equipamentos para Moscovo. O episódio com a África do Sul é o mais conhecido, porque seria aquele que teria maiores quantidades de equipamento para fornecer.” Como não deu resultados, frisa Arnaut Moreira, e como “a China continua a manter-se, pelo menos oficialmente, bastante firme na posição de não entregar equipamento militar” a Putin, a Coreia do Norte foi o alvo seguinte.
“A Federação Russa não via inicialmente a Coreia do Norte como o seu grande parceiro estratégico: é um parceiro menor, é mal visto, e as ligações à Coreia do Norte são sempre alvo de reparos. Mas a necessidade fala mais alto do que todas estas considerações de natureza moral e ética e é neste sentido que surge a visita de Shoigu à Coreia do Norte.” Para o major-general, tratou-se de uma visita de prospeção.
Outro dado importante é que, como na Península da Coreia nunca foi assinado um tratado de paz, o regime de Kim manteve-se preparado para voltar a defrontar uma guerra. Para ceder armamento, a Coreia do Norte quer contrapartidas muito específicas, acredita o militar: o reforço da sua capacidade de investigação e de desenvolvimento nuclear, os programas de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) e a exploração espacial, ou seja, a possibilidade de ter satélites espiões.
“A Federação Russa domina qualquer uma destas áreas. Será que o grau de necessidade é tão grande que irá tão longe na concessão de tecnologia? Esta é uma questão que ainda não conseguimos compreender”, defende o major-general. Mesmo sem ter essa certeza, Arnaut Moreira acredita que se Kim e Putin vão reunir-se é porque querem sinalizar um acordo grandioso. “Não me parece que para pequenas trocas haja necessidade de um encontro desta magnitude, até porque estamos a falar de dois líderes que são bastante paranoicos com a sua segurança.”
Assim, se o entendimento entre os dois países fosse menor, Arnaut Moreira acredita que tudo seria feito da forma mais secreta possível. “Se isto for uma colaboração de alto nível, com potencialidade de ser alargada até a outros domínios, os dois líderes terão interesse, do ponto de vista público, de aparecerem juntos e fazerem juras de amor, como costumamos dizer.”
De resto, não acredita que as munições que a Rússia possa ir buscar ao país vizinho possam mudar o curso da guerra, já que, olhando para o que Pyongyang pode ceder, trata-se de uma questão de quantidade e não de qualidade.
Se o envio de granadas de artilharia não deve deixar o mundo preocupado, o mesmo não se pode dizer daquilo que Moscovo poderia entregar em termos de armamento nuclear, tecnologia, know-how. “Isso deve deixar-nos preocupados. Mas não me parece, tenho alguma dificuldade em ver a Federação Russa trocar granadas de artilharia por tecnologia muito sofisticada. A Coreia do Norte precisa de tudo e aceitará de bom grado toda a ajuda que Moscovo lhe der.”
Em vez de preocupado, o major-general prefere recomendar ao Ocidente que fique atento, sem desprezar o encontro. No imediato, pouco haverá a fazer, já que o nível de sanções aplicadas à Coreia do Norte é elevado.
Kevin Gray foca-se na preocupação que outros Estados daquela zona do globo podem sentir, mais do que os ocidentais. O aumento da cooperação entre os dois países “poderá aumentar a perceção de ameaça da Coreia do Sul, do Japão e, por extensão, dos EUA”, diz o especialista em assuntos coreanos. No entanto, frisa Kevin Gray, poder-se-ia argumentar que isto já está a acontecer, como é evidente nas recentes iniciativas de cooperação trilateral daqueles três países. “O impacto líquido é um maior aprofundamento da concorrência geopolítica e da militarização na região da Ásia Oriental.”
É na Península da Coreia que Ramon Pacheco Pardo concentra a sua atenção. “A Coreia do Sul é o país que mais perde com o estreitamento das relações entre a Coreia do Norte e a Rússia”, argumenta o professor. “Este facto ajudará Pyongyang a desenvolver ainda mais os seus programas de mísseis e nuclear, que constituem uma ameaça para Seul. No entanto, a Coreia do Sul tem sido um dos poucos países fora da NATO a dar todo o seu apoio à Ucrânia. Penso que o governo sul-coreano compreende que o apoio à Ucrânia trará algumas consequências negativas para a sua própria segurança.”
Além da instabilidade na região, o movimento de Pyongyang e Moscovo, dependendo dos contornos finais, é quase auto-destrutivo, acredita Kevin Gray. “É certo que criará contra-ataques por parte dos EUA e dos seus aliados. Mas penso que, tanto na Rússia como na Coreia do Norte, o reforço das suas próprias forças armadas e da sua segurança será considerado mais importante.” Também se poderia argumentar o contrário, sublinha Kevin Gray, que “o reforço da cooperação trilateral entre os EUA, o Japão e a Coreia do Sul é contraproducente porque aprofunda o alinhamento entre a Rússia, a Coreia do Norte e a China”.
Essa é a lógica da competição geopolítica militarizada, conclui o professor da Universidade de Sussex.
Poderá a China, parceiro da Rússia e o principal sustento da Coreia do Norte, fazer alguma diferença no desenrolar da situação? Na perspetiva de Kevin Gray, Pequim não terá nada a dizer nas relações bilaterais, nem terá capacidade para impedir o que se passa entre Pyongyang e Moscovo.
Luís Tomé tem outra interpretação e lembra que a Coreia do Norte é um caso muito raro que sempre foi mantendo uma aliança simultânea com a China e com a União Soviética. “O equilíbrio era: nem só chineses, nem só soviéticos”, diz o especialista em assuntos internacionais, embora a aproximação a Pequim fosse maior, enquanto o regime de Moscovo foi muito criticado por ter abandonado o socialismo.
“Nos últimos anos, a Rússia começou a aproximar-se da Coreia do Norte, sempre em articulação com a China — que quer manter o patronato, digamos assim, da Coreia do Norte e é suspeita de estar por trás do programa nuclear norte-coreano. A Rússia não quer fazer nada que possa ser mal interpretado pelo regime chinês e, naquilo que for fazendo, a China tem que estar envolvida”, argumenta o professor da Autónoma. Por isso acredita que, no final do dia, se Pequim traçar uma linha vermelha sobre aquilo que Vladimir Putin pode ceder a Kim Jong-un, o Presidente russo não a pisará.