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Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

Bloomberg via Getty Images

Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

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Um paradoxo, olhos em Sintra e as vozes na cabeça de Lagarde. Próximo corte de juros do BCE pode vir só no outono

Depois de primeiro corte de juros, esta 5ª feira, nova descida em julho parece estar fora de questão. Discurso de Lagarde leva analistas a prever que nem mesmo em setembro é provável que juros desçam.

O próximo corte da taxa de juro, depois daquele que foi anunciado nesta quinta-feira, pode chegar apenas em outubro – muito mais tarde do que se previa. Esta é a previsão que se consolidou nos mercados financeiros depois do discurso de Christine Lagarde, em Frankfurt. O BCE cumpriu com a descida de 25 pontos-base (que tinha sido amplamente “pré-anunciada” nas últimas semanas) mas fê-lo ao mesmo tempo que revia em alta as projeções para a inflação dos próximos anos, o que basicamente anulou quaisquer expectativas de que possa haver uma nova descida em julho. E, também, tornou menos provável que os juros voltem a descer logo após as férias de verão.

A probabilidade de um corte em julho, embora não descartada pelos analistas antes da reunião do BCE desta quinta-feira, já não era vista como muito elevada. Mas atribuía-se uma probabilidade de 95% de que a segunda descida de juros neste ciclo viria em setembro. Depois da revisão em alta das projeções de inflação e do discurso da presidente Christine Lagarde, o cenário mudou: os mercados passaram a atribuir a essa hipótese (um corte de juros em setembro) uma probabilidade bem menor, em torno de 50%.

Este é o dado essencial que sai de uma reunião do BCE que, apesar de tudo, foi histórica pelo facto de ter sido feita a primeira descida das taxas de juro desde o recente “super-ciclo” de subidas. Entre julho de 2022 e setembro de 2023, as taxas subiram de um valor negativo (-0,5%) para 4%. Agora, a principal taxa da política monetária – a chamada “taxa dos depósitos” – foi fixada em 3,75%. E, tornando-se menos provável que os juros voltem a descer tão cedo, isso impulsionou as ações dos bancos europeus e, em menor medida, suportou a cotação do euro face ao dólar.

Paradoxo? BCE baixa juros ao mesmo tempo que prevê mais inflação

A decisão de baixar os juros não foi unânime. Houve um governador que discordou, embora Christine Lagarde não tenha dito quem era – “deixo à vossa sagacidade participar quem foi“, disse a francesa aos jornalistas. A presidente do BCE também não esclareceu se foi um governador que queria uma descida maior (por exemplo, 50 pontos-base) ou se foi alguém que não queria qualquer mexida, para já.

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O mais provável, tendo em conta que houve uma revisão em alta (embora ligeira) das projeções de inflação, é que tenha sido um dos “falcões” – como o governador austríaco ou alemão – a defender que os juros não baixassem. Vários analistas apontaram, de imediato, que era paradoxal ver um banco central (preocupado com os preços) a baixar juros ao mesmo tempo que subia as previsões de inflação.

Inflação de 2% só em 2026, prevê o BCE

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Este dia de reunião do Conselho do BCE coincidiu com a divulgação de novas projeções macroeconómicas para a zona euro (que são atualizadas trimestralmente pelo staff de economistas do BCE).

As novas previsões acerca da inflação (principal e subjacente) foram revistas em alta para 2024 e 2025 em comparação com as projeções de março. O staff de economistas passou a estimar uma taxa de inflação (principal) numa média de 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.

Para a inflação excluindo energia e alimentos, o BCE projeta uma média de 2,8% em 2024, 2,2% em 2025 e 2,0% em 2026. Já o crescimento económico deve acelerar para 0,9% em 2024, 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026.

Lagarde estava preparada para responder às questões sobre este aparente paradoxo. E a explicação pode resumir-se da seguinte forma: é verdade que se passou a prever uma inflação um pouco mais elevada, porém, o BCE está, agora, “mais confiante” em relação à solidez das projeções que estão em cima da mesa. Ou seja, a inflação pode ser mais alta do que se previa, mas o BCE considera haver menos risco de que a realidade supere muito as previsões (como aconteceu no surto inflacionista de 2022).

Mas, mesmo com essa maior confiança, as previsões podem falhar, avisou Lagarde. “Haverá solavancos nesta estrada, que podem surpreender-nos”, acautelou a presidente do BCE, repetindo que o BCE terá uma abordagem “dependente dos dados” e cada decisão será tomada “em cada reunião, com a totalidade dos dados disponíveis”. Recuperando a velha frase de Jean-Claude Trichet, presidente do BCE até 2011, o comunicado do BCE divulgado esta quinta-feira indica que a autoridade monetária “não se compromete antecipadamente” com uma trajetória para os juros.

“Ciclo de redução de taxas será mais lento do que se previa”

A conclusão dos analistas, que coincide com o impacto que a decisão teve nos mercados, é que “o ciclo de redução de taxas será mais lento do que se previa“, diz Filipe Garcia, economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros. Concordando que “a grande novidade” desta quinta-feira foi a revisão em alta das previsões de inflação para 2024 e para 2025, Filipe Garcia sustenta que “agora vamos esperar, se calhar, algum tempo até termos o próximo corte”.

Ao Observador, o economista salienta que “não vamos ter descidas no mesmo ritmo das subidas” e, à luz daquilo que foi dito por Lagarde, “o que o mercado está a descontar é que poderá haver uma descida em setembro, mas mais provavelmente só em outubro”.

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“Se há uma coisa que aprendi neste cargo é a importância de ser persistente e determinado", disse Christine Lagarde.

dpa/picture alliance via Getty I

Apesar disso, a maior parte dos analistas ainda acredita que setembro é a data mais provável para a próxima descida, sobretudo pelo facto de, nessa altura, saírem novas projeções económicas (que o staff de economistas do BCE produz a cada três meses). À primeira vista, as decisões “dependentes dos dados” que o BCE promete tomar têm maior probabilidade de surgir quando, de facto, existe uma atualização global das previsões de inflação e crescimento económico – o que vai acontecer, novamente, em setembro. Mas Lagarde indicou que pode não ser assim.

“Não diria que decidiremos apenas em momentos de divulgação de dados trimestrais, mas é claro que temos mais dados nesses momentos”, afirmou a francesa, alimentando as apostas de que o próximo corte pode surgir apenas em outubro. Igualmente com probabilidade de cerca de 50% tem, nesta altura, a hipótese de haver uma terceira redução dos juros em dezembro (dia 12, poucos dias antes do Natal).

É à luz destas expectativas que os mercados de futuros de taxas de juro, sempre voláteis, estão a indicar que as taxas Euribor – atualmente a rondar os 3,7% – podem terminar o ano de 2024 com uma “queda muito ligeira”, diz Filipe Garcia: para um nível em torno dos 3,30% ou 3,35%.

Por exemplo, um cliente com um empréstimo no valor de 150 mil euros, a 30 anos, indexado à Euribor a seis meses e com um spread de 1%, passou a partir de junho a pagar 785,82 euros, o que significa menos 25,38 euros do que os 811,20 euros que pagava desde dezembro. Se a Euribor cair, mesmo, para 3,3% até dezembro de 2024, nessa altura a revisão pode levar a que a prestação desça para cerca de 752,75 euros por mês.

Lagarde recusa falta de empenho no controlo da inflação

As atenções vão virar-se, imediatamente, para o discurso que Christine Lagarde irá fazer em Sintra no Fórum anual do BCE, marcado para o início de julho. Para já, nesta conferência de imprensa em Frankfurt, a francesa evitou a todo o custo comprometer-se com futuras decisões nas taxas de juro – embora tenha deixado escapar a indicação de que “há uma forte probabilidade” de que estejamos já numa fase de descida dos juros (embora a velocidade das descidas não seja conhecida neste momento).

“Já passámos duas fases bem sucedidas”, afirmou Lagarde: “a primeira fase foi de aperto monetário muito rápido e robusto”, entre julho de 2022 e setembro de 2023. “Depois tivemos uma fase de manutenção, entre setembro de 2023 e agora, e no início de cada fase tínhamos cortado para metade a inflação”. Ou seja, “em outubro de 2022 tínhamos 10,6% de inflação. Em setembro de 2023 tínhamos 5,2%. Agora estamos com 2,6%. Fomos sempre descendo a inflação para metade”, salientou Christine Lagarde.

“Se há uma coisa que aprendi neste cargo é a importância de ser persistente e determinado”, afirmou a francesa, respondendo a uma pergunta de um jornalista alemão sobre se o BCE estava a fraquejar no combate à inflação – inflação que, como Lagarde já sublinhou várias vezes, prejudica sobretudo os cidadãos com menos recursos. “Que não haja dúvidas sobre o nosso compromisso” para com o controlo da inflação, asseverou a francesa, confessando que nas suas “noites sem sono, há uma voz que diz continua, continua”.

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