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Serviço de urgência do Hospital de São João, no Porto, 06 de maio de 2020. A retoma da atividade regular no hospital do Porto, onde a 02 de março foi detetado o primeiro caso da covid-19 em Portugal, introduziu rotinas novas como a medição de temperatura e circuitos de triagem que, desejam os responsáveis, perdurarão no pós-pandemia. (ACOMPANHA TEXTO DO DIA 08 DE MAIO DE 2020). ESTELA SILVA/LUSA
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ESTELA SILVA/LUSA

ESTELA SILVA/LUSA

Urgências de portas fechadas. Nove hospitais encerram serviços no fim de semana e problemas vão estender-se a Lisboa

Recusa dos médicos em realizar mais horas extra está a levar ao fecho de vários serviços de urgência. Contestação só pára com acordo entre a tutela e sindicatos. "Só acreditamos em papéis assinados."

Este fim de semana vai ser marcado por constrangimentos em vários serviços de urgência nos hospitais. Em causa está o avolumar do número de minutas de recusa a mais trabalho extra que os médicos têm entregado aos seus hospitais. Para já, os encerramentos devem afetar pelo menos nove hospitais das regiões norte e centro do país — a região de Lisboa tem vindo a escapar aos constrangimentos, mas essa situação pode mudar nas próximas semanas, quando as escusas começarem a ser preenchidas também aí.

Em todo o país, a situação deverá ficar cada vez mais complicada nas próximas semanas. O movimento Médicos em Luta garante ao Observador que a contestação não vai parar enquanto o Ministério da Saúde não chegar a um acordo com os dois sindicatos médicos. Este sábado, a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde vai reunir-se com as administrações dos hospitais do país, numa série de encontros que vão decorrer ao longo do dia para tentar encontrar uma solução para o caos que se vive nos serviços de urgências destas unidades e que poderá intensificar-se nas próximas semanas. A informação foi avançada por vários órgãos de comunicação social e confirmada pela Agência Lusa.

A “crise” das horas extraordinárias já está a fazer-se sentir na elaboração das escalas dos serviços de urgência, colocando em causa o funcionamento de vários desses serviços nas regiões Norte e Centro. Segundo as contas que a médica Helena Terleira, do movimento Médicos em Luta, partilhou com o Observador, cerca de 2.500 médicos já entregaram as minutas de escusa a mais trabalho suplementar.

De Viana a Santarém, várias urgências encerram

O Hospital de Viana do Castelo, um dos mais afetados e onde surgiu o movimento inorgânico que ameaça paralisar as urgências, tem a Urgência de Cirurgia encerrada desde as 20h desta sexta-feira e durante todo o fim de semana — até às 9h de segunda-feira —  devido à falta de médicos nas escalas. Um cenário que se vai repetir durante todos os fins de semana do mês de outubro, adiantou, ao Observador, Helena Terleira. Também a Medicina Interna, que assegura a parte não-cirúrgica da urgência geral, está a trabalhar com equipas reduzidas: apenas três internistas durante o dia e dois à noite, abaixo das recomendações da Ordem dos Médicos.

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“Situação sem precedentes” com recusa de médicos em fazer mais horas extra. Que urgências poderão entrar em colapso?

Em Barcelos, a Urgência Geral vai estar encerrada durante todos os fins de semana de outubro já a partir deste sábado, dia 7, uma vez que a maior parte (75%) dos internistas do hospital se recusam a continuar a fazer horas extras. Aos fins de semana, também não haverá atendimento cirúrgico de emergência, uma vez que todos os cirurgiões apresentaram as minutas de escusa.

Hospital Santa Luzia, em Viana do Castelo, 29 de Julho de 2008. FERNANDO MARTINS/LUSA

Em Viana do Castelo, urgência de Cirurgia vai estar encerrada durante todos os fins de semana de outubro

Fernando Martins/LUSA

Na Guarda, os constrangimentos envolvem a Urgência geral e a Urgência de Obstetrícia e Ginecologia. No primeiro caso, o hospital adianta à Lusa que o serviço “vai estar aberto 24 horas”, mas haverá constrangimentos devido à falta de especialistas de Medicina Interna durante o fim de semana. Segundo o movimento Médicos em Luta, mais de 90% dos internistas e seis dos nove cirurgiões que asseguram a urgência recusam-se a fazer mais horas extra. Também a maternidade e a Urgência de Obstetrícia e Ginecologia vão encerrar entre as 9h deste sábado e as 9h de domingo, por falta de obstetras nas escalas.

No Hospital de Braga, também a Urgência de Obstetrícia e o bloco de partos estão encerrados desde as 8h desta sexta-feira e assim se deverão manter até às 8h de segunda-feira, dia 9. As grávidas devem deslocar aos hospitais de Guimarães, Vila Nova de Famalicão ou Viana do Castelo. Em causa está o grande número de obstetras a apresentar escusa a mais trabalho extra.

Em Matosinhos, o Hospital Pedro Hispano não vai ter em funcionamento a Urgência de Cirurgia aos fins de semana até final de outubro, com o encerramento a começar já esta sexta-feira. Segundo as contas do Médicos em Luta, mais de 90% dos cirurgiões mostraram-se indisponíveis para realizar mais trabalho extra.

Hospital de Matosinhos sem cirurgia nas urgências aos fins de semana em outubro

Na segunda maior urgência da região Norte, a do Hospital de Penafiel, o mês também está a ser marcado por muitos constrangimentos na elaboração das escalas de Cirurgia. Ao Observador, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (que abarca o Hospital de Penafiel) confirma que, “atendendo ao facto de não ser possível garantir o número mínimo de médicos especialistas de cirurgia geral para o atendimento de urgência, foi necessário solicitar o desvio dos doentes provenientes de urgência externa”. Desde terça-feira que esta unidade não tem urgência de Cirurgia, uma vez que mais de 90% dos especialistas entregaram as minutas de escusa, e não se sabe quando poderá ser reposta a normalidade.

Em Braga, a urgência de Obstetrícia estará encerrada até segunda-feira de manhã por falta de médicos nas escalas

Agência Lusa

Em Chaves, o hospital local tem a urgência de Pediatria encerrada desde segunda-feira, situação que se deve manter até à próxima segunda-feira, dia 9 de outubro.

Hospital de Leiria sem resposta na Cirurgia, Cardiologia e Obstetrícia neste fim de semana

Os problemas de elaboração de escalas estendem-se igualmente à zona Centro, com os hospitais de Leiria e  de Santarém entre as unidades mais afetadas. Em Leiria, serão três os serviços de urgência encerrados este fim de semana. A Urgência de Cirurgia encerrou na quinta-feira às 20h e só deve reabrir às 8h da próxima segunda-feira. Já a Urgência de Cardiologia vai fechar este sábado às 8h e reabre apenas na segunda também às 8h, segundo adiantou à Lusa a médica Sandra Hilária, da FNAM. Estes constrangimentos devem repetir-se durante todos os fins de semana de outubro, uma vez que a maior parte dos cirurgiões e 75% dos cardiologistas preencheram as minutas de escusa a mais trabalho suplementar. Também durante este fim de semana, as grávidas que precisem de recorrer à urgência obstétrica terão de dirigir a Leiria, uma vez que o serviço estará encerrado por falta de obstetras nas escalas.

Urgência obstétrica e via verde coronária de Leiria encerradas no fim de semana

Em Santarém, as falhas estendem-se à Urgência de Ortopedia. Fonte oficial do Hospital Distrital de Santarém confirmou ao Observador que já esta sexta-feira encerraram as Urgência de Cirurgia e de Ortopedia, com praticamente todos os especialistas a entregarem as minutas de escusa. Ao que o Observador apurou, o fecho deve estender-se ao fim de semana, com os doentes a serem reencaminhados para os hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo.

Em Gaia, mais de 100 médicos já se mostraram indisponíveis para realizar mais trabalho extraordinário, entre os quais 70% dos anestesistas, 90% dos intensivistas e 15 dos 24 cirurgiões. Ainda assim, ao Observador, fonte oficial do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, garante que, para já, as escusas “não estão a ter impacto na atividade e as escalas das urgência não têm apresentado problemas”. A situação, reforça a mesma fonte, está a ser acompanhada diariamente pelo Conselho de Administração.

Hospitais de Lisboa vão começar a sofrer efeitos das escusas nas próximas semanas

Embora os constrangimentos estejam a afetar com maior intensidade os hospitais das zonas norte e centro, a recusa em ultrapassar as 150 horas extra anuais a que os médicos estão legalmente obrigados está a alastrar à região de Lisboa e Vale do Tejo, onde os efeitos se começarão a fazer sentir nas próximas semanas, caso não haja acordo entre o Ministério da Saúde e os sindicatos, a condição imposta pelo movimento Médicos em Luta para travar a contestação.

No Hospital de Santa Maria, a escala da Urgência de Cirurgia só está garantida até meio de outubro. No Garcia de Orta e no Amadora-Sintra, problemas começam dentro de duas semanas

No Hospital de Santa Maria, a escala da Urgência de Cirurgia só está garantida até meio de outubro: 10 dos 14 cirurgiões já entregaram as minutas de escusa a mais trabalho extra, a que se juntam todos os internos de Cirurgia. No Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, o mesmo cenário: pelo menos 10 cirurgiões estão indisponíveis para trabalharem para lá do horário normal, segundo fonte do Médicos em Luta. No Hospital Fernando da Fonseca (um dos maiores do país), o cenário tem vindo a agravar-se: um número indefinido de médicos internistas já entregaram as escusas, num movimento que começou em julho, dificultando a elaboração das escalas da urgência geral. Ao Observador, fonte do Amadora-Sintra alerta que muitas das minutas produzem efeitos a partir de novembro, o que vai dificultar a resposta. Já no Garcia de Orta, em Almada, “as minutas entregues produzem efeitos a partir de 20 de outubro, no Serviço de Urgência Geral, e do mês de novembro, no caso da Cirurgia Geral, da Pediatria e da Neurologia”. No Beatriz Ângelo, em Loures, todos os cirurgiões já avisaram que não farão mais horas extra a partir de 1 de novembro.

Hospital de Santa Maria fecha urgência a doentes não urgentes de fora da área por falta de capacidade de resposta

Com a aproximação do inverno, a região de Lisboa, que, numa situação normal, já enfrenta um problema crónico de falta de médicos nas urgências, pode vir a deparar-se com uma incapacidade sem precedentes de resposta aos doentes que procuram as urgências. Helena Terleira garante, no entanto, que está na mãos do Ministério da Saúde evitar a escalada da contestação e da crise nas urgências.

Contestação só pára com acordo entre a tutela e os dois sindicatos

“O movimento Médicos em Luta pára no momento em que haja acordo entre os sindicatos e o ministro da Saúde. É fundamental que a reunião seja marcada e que os dois sindicatos cheguem a acordo com o Ministério”, frisa a médica, em declarações ao Observador. “É preciso que o ministro vá com intenção de negociar e não com a postura com que tem ido até agora, com promessas que depois não se concretizam. Neste momento, já não acreditamos em promessas, só acreditamos em papéis assinados“, sublinha Helena Terleira.

O gabinete de Manuel Pizarro já contactou os dois sindicatos médicos com vista a retomar as negociações. No entanto, ainda não há data marcada para as reuniões. Ao Observador, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, adianta que o mais provável é que os sindicatos sejam recebidos na Avenida João Crisóstomo (em Lisboa) na terceira semana de outubro, depois da reunião do Fórum Médico, que se vai reunir a 12 de outubro em Coimbra.

Médicos manifestam-se durante a concentração frente ao Ministério da Saúde, no inicio da greve nacional de dois dias, convocada pelos sindicatos dos médicos do Norte, da Zona Centro e da Zona Sul, estruturas que integram a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), "em resposta à falta de compromisso, por parte do Ministério da Saúde, em negociar as grelhas salariais e na falta de medidas para salvar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)", em Lisboa, 08 de março de 2023. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

A Federação Nacional dos Médicos exige uma "proposta escrita" para voltar à mesa das negociações

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) diz que só volta à mesa das negociações quando a tutela apresentar uma “proposta escrita com medidas que visem resolver a situação limite a que chegou o SNS”, diz ao Observador a vice-presidente da FNAM, Vitória Martins. A responsável justifica a exigência com o facto de, durante 16 meses — o tempo que durou a negociação entre o Ministério e os sindicatos, encerrada sem acordo –, a FNAM “ter apontado para um conjunto de soluções que depois não foram vertidas em nenhum documento escrito”. Vitória Martins realça que “não tomar medidas emergentes é confiar na sorte para evitar tragédias”.

Para chegar a um entendimento com o governo, a FNAM não abdica de um “aumento transversal para um salário que seja digno para todos os médicos”, de 30%, que, diz o sindicato, servirá para compensar a perda de poder de compra com que os médicos se foram deparando nos últimos anos e que está muito longe do aumento de 3,3% proposto pelo Governo. O aumento de 30% é uma exigência que o movimento Médicos em Luta considera que “não é irrealista”.”Acho que é possível uma aproximação, e uma negociação justa e clara, sem subterfúgios e agendas escondidas”, realça Helena Terleira.

A responsável avisa, no entanto, que “um acordo apenas com o Sindicato Independente dos Médicos não serve” para desmobilizar a contestação. “Este é um movimento transversal a colegas de ambos os sindicatos. Já temos 5.200 médicos inscritos na plataforma. Os dois sindicatos têm de se entender e apresentar ao ministro uma proposta comum: exigimos ao Ministério um acordo e exigimos aos sindicatos um acordo entre eles. Este é um momento da responsabilidade de todos”, defende.

"O ministro das Finanças tem de perceber que investir agora é poupar no futuro"
Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos

Outra linha vermelha para a FNAM é aquilo a que Vitória Martins classifica como “perdas de direitos, consignados no acordo coletivo de trabalho”. Um dos pontos que motiva a contestação dos sindicatos é o aumento previsto de 150 para 250 horas extra de trabalho suplementar por ano. “Sabemos que o problema das horas extraordinárias não vai ser resolvido de um dia para o outro, mas temos de fixar os médicos no SNS”, refere a vice-presidente da FNAM. Outra reivindicação é o horário base de 35 horas para todos os médicos — neste ponto, e segundo informou o bastonário dos Médicos à saída da reunião com Manuel Pizarro, na última quarta-feira, há abertura da tutela para ir ao encontro das pretensões dos médicos.

“Acredito que será possível que o Ministério da Saúde perceba que a sua atitude terá de mudar”, realça Jorge Roque da Cunha, acrescentando que Manuel Pizarro “tem de encarar o problema de uma forma séria”. O líder do Sindicato Independente dos Médicos diz ainda que “o ministro das Finanças tem de perceber que investir agora é poupar no futuro”, mas mostra-se cético relativamente a uma eventual aproximação de posições que possa conduzir a um acordo. Para o SIM, é importante que a grelha salarial dos médicos seja revista, que o SNS seja reforçado com equipamentos mais avançados e que seja dada a possibilidade aos profissionais de trabalharem com horários flexíveis, que permitam conciliar a vida profissional com a familiar.

 
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