Pink House
Quem olha para a fachada cor de rosa nunca adivinharia que aqui em tempos funcionou um estábulo. O edifício fechado e escuro deu lugar a uma guesthouse cheia de luz — a transformação foi tal que quem o vê de fora nem percebe que na verdade estamos a falar de duas casas, encaixadas uma na outra.
De um lado fica a moradia principal, com um primeiro andar em open space onde saltam à vista as vigas de madeira do teto e a cozinha de paredes amarelas, do outro um estúdio de 30 metros quadrados, completamente equipado e com direito a terraço.
A Pink House é um dos mais recentes alojamentos de São Miguel, nos Açores, e abriu no verão de 2017 depois de uma intervenção profunda do Mezzo Atelier, o gabinete de arquitetura de Giacomo Mezzadri e de Joana Garcia de Oliveira, proprietária do espaço. Foram os pais de Joana que herdaram o terreno de 1,6 hectares e são eles que tratam do dia a dia das guesthouses ao pormenor. Todas as manhãs, por exemplo, é a mãe que prepara as cestas do pequeno-almoço, deixadas à porta de cada casa, para não incomodar os hóspedes. Para além dos produtos frescos e locais, que vão dos queijos açoreanos às frutas da quinta, a cesta inclui sempre uma flor apanhada ali mesmo nos jardins.
Se o estúdio acomoda um casal sozinho ou com um filho, a casa-mãe é para um grupo maior, com dois quartos tão grandes que os proprietários até brincam e dizem que são “dois e meio”. Em ambos os casos, os hóspedes têm acesso direto à propriedade. Vale a pena passear pelas várias quintas, batizadas consoante as árvores de fruto cultivadas, e aproveitar a zona exterior onde antigamente funcionava a estufa e que agora está preparada para acender fogueiras no chão, ao ar livre.
Rua José Medeiros Cogumbreiro, 65, Fajã de Baixo (São Miguel, Açores). 296 642 836, 967 285 621. Estadia a partir de 80€ (mínimo três noites).
Duas Portas
Tem duas portas e três pilares: “a localização, a arquitetura e o serviço”. Quem põe as coisas desta forma é Luísa Moura, a proprietária. Em julho de 2017 abriu uma townhouse na Foz do Porto, uma zona “com um potencial enorme e muito mais tranquila do que a Baixa”, onde a ideia sempre foi juntar “o ambiente muito familiar de uma casa” com o conforto de um hotel onde há limpeza diária, pequeno-almoço e outros serviços como pedir um transfer.
Ao todo são oito quartos espalhados por três andares, quatro deles virados para o Douro, mais um salão aberto para o pátio interior. Não há espaços interditos aos hóspedes, que sem darem por isso já estão a levantar a louça suja do pequeno-almoço e a levarem-na para a copa, como se estivessem mesmo em casa (alguns até andam descalços).
O edifício terá sido construído entre o final do século XVIII e o princípio do século XIX, e foi todo restaurado pela mãe de Luísa — que é arquiteta e desenhou também a mobília –, com materiais e técnicas de construção “muito semelhantes aos que se usavam nas casas do Porto desta altura”, do mosaico hidráulico ao sistema de alvenaria em pedra.
Em vez de armários, os quartos têm uma estrutura aberta para pendurar a roupa e toda a restante decoração é minimal, o que talvez explique a preferência dos turistas nórdicos. Isso ou o bolo caseiro feito diariamente e colocado numa das salas de estar, ao lado do café e dos pastéis de nata.
Rua de Sobreiras, 516, Porto. 914 786 518. Estadia a partir de 120€.
O Lugar, Guesthouse
Coube ao neto concretizar o sonho do avô, aqui n’O Lugar de Porto Covo (como na música). O sonho era abrir uma residencial num terreno comprado junto à Praia dos Pescadores, sempre adiado por “impedimentos da vida”. Juntamente com a noiva Inês Madeira e depois de um primeiro empurrão do pai, Pedro Martins realizou o projeto de família e em fevereiro de 2017 começou a receber hóspedes nos seis quartos da casa. Para além da localização, a guesthouse destaca-se pela decoração luminosa, a cargo do Ark Studio (o mesmo que fez o restaurante Prado, em Lisboa). “Queríamos ir contra a restante oferta que há na vila, que são casas atafulhadas de móveis velhos e que já não se querem”, diz Pedro, referindo-se ao ambiente despojado que conseguiram criar.
O avô pode não ter aberto uma residencial em Porto Covo, mas abriu uma padaria e é daí que vem o pão fresco servido ao pequeno-almoço todos os dias. Isso e um batalhão de outros produtos da família, do mel do irmão de Pedro, apicultor, à geleia de marmelo da sogra.
Rua 25 de Abril, 7C, Porto Covo. 965 800 557. Estadia a partir de 70€.
myhomeinporto
A myhomeinporto leva o conceito de guesthouse à letra — é mesmo a casa de Juan de Mayoralgo. O espanhol de 43 anos mudou-se para o Porto na mesma altura em que mudou de vida e há dois anos deixou a decoração de interiores para começar a receber hóspedes. Os quartos são apenas três mas bastante amplos (com mais de 30 metros quadrados) e o edifício, datado dos anos 1930, corresponde à “típica casa burguesa do Porto”, com jardim nas traseiras, chão de tábua corrida e um pé direito tão alto que se deve ter inspirado na Torre dos Clérigos.
Os hóspedes têm acesso a praticamente tudo, incluindo a sala de estar e a biblioteca, e ao pequeno-almoço podem contar com sumos, pão e fruta fresca trazidos pessoalmente por Juan do Mercado do Bolhão (de onde vêm também a broa de Avintes e os ramos de flores). “Tento fazer tudo o mais caseiro possível e tomar conta dos meus hóspedes”, resume o anfitrião num português fluente. Veio para Portugal há quase 10 anos e, como também já tinha nacionalidade francesa, brinca e diz que agora tem três metades.
Rua de Ferreira Cardoso, 72, Porto, info@myhomeinporto.com. Estadia a partir de 110€ (mínimo duas noites).
Train Spot Guesthouse
Noutros tempos, seria possível apanhar o comboio e sair diretamente num dos quartos desta guesthouse. Isto porque a Train Spot fica na estação ferroviária de Marvão/Beirã, entretanto desativada e classificada como Património Arquitetónico. Ao todo cabem 24 pessoas a bordo, em quartos duplos (com ou sem casa de banho) e apartamentos para duas ou quatro pessoas, com cozinha equipada.
No antigo cais de embarque (agora convertido em bar) podem já não passar comboios, mas desde o outono é possível apanhar outro tipo de transporte: as rail-bikes, isto é, quadricíclos movidos a pedal que circulam entre a estação da guesthouse e a de Castelo de Vide, sempre em cima da linha férrea. Se tiver pedalada, há uma série de outras atividades que podem ser marcadas diretamente com o alojamento, desde escalar no Parque Natural da Serra de São Mamede, passear pelos trilhos do contrabando — ou não estivéssemos muito perto da fronteira com Espanha — ou até aprender a fazer pão alentejano em forno de lenha. Como dizem os responsáveis, “só tem de escolher entre férias a todo o vapor ou férias em marcha lenta”.
Estação ferroviária de Beirã/Marvão, Alto Alentejo. 963 340 221. Estadia a partir de 40€.
A Casa C’alma
A calma é tanta que não há televisão, apenas livros, revistas e os velhinhos jogos de tabuleiro. Numa cidade onde não faltam opções de alojamento local, a Casa C’Alma abriu para trazer algo de novo ao mercado: uma guesthouse enquadrada no conceito de slow living, em que “as pequenas coisas do dia a dia são para ser apreciadas e direcionadas aos viajantes que não gostam de sentir que estão numa corrida contra o tempo em que têm que ‘picar o ponto’ em todas as atrações turísticas”.
Localizada na bonita Praça das Flores, em Lisboa, a casa tem cinco quartos — com casa de banho privativa ou partilhada — e vários espaços comuns decorados de forma luminosa. Destaque para a sala de estar cheia de plantas, a “mesa comunitária” que tanto pode ser usada para servir refeições como para espaço de trabalho e a cozinha em tons de azul, onde são servidos os pequenos-almoços.
Para além de receber hóspedes, a Casa C’Alma está também aberta a colaborações e eventos, de workshops a lojas pop up. A regra é só uma: desacelerar e viver com calma.
Praça das Flores, 48, Lisboa. 919 430 494. Estadia a partir de 85€.
Dona Emília Guesthouse
Dona Emília, em Viana do Castelo, é o nome pelo qual é conhecida Emília Freitas, cozinheira e costureira de 90 anos afamada não só pelos petiscos que lhe saem das mãos mas também por alugar quartos e cantar fados. Desde o início de 2017 é também o nome de uma guesthouse alojada num edifício centenário da cidade, decorada com gosto (o que inclui várias peças restauradas) e aberta por Nuno Freitas, o neto.
Com três pisos e três frentes viradas para a Praça da República, o Museu do Traje e o Templo de Santa Luzia, a casa aposta num ambiente familiar onde até os animais de estimação são bem-vindos. Há três quartos e três suítes adaptáveis a cada reserva (individual, duplo, twin, triplo, quádruplo ou quíntuplo), mas também áreas comuns que incluem uma galeria de arte, uma cozinha e salão em open space, uma garagem de bicicletas e de bagagens, uma biblioteca e uma loja com artigos locais. Uma casa de família com uma agenda preenchida, com certeza.
Rua Manuel Espregueira, 6, Viana do Castelo. 917 811 392, 914 450 424. Estadia a partir de 50€.
A Bela Aurora
As manhãs começam com um pequeno-almoço saudável servido na cozinha de paredes em pedra, sem carne e feito à medida dos donos da casa, ambos vegetarianos. Mas a verdade é que nem só as manhãs valem a pena na Bela Aurora. Instalada num edifício do século XIX e recuperada pelo arquiteto Tiago Oudman, do Studio Kunchi, a guesthouse ocupa quatro andares rasgados por varandas e uma claraboia, com direito a jardim privado e cinco quartos espaçosos, alguns com mais de 40 metros quadrados.
Paula e Massimo, os donos, vêm da área da fotografia e da música e instalaram-se numa zona do Porto à medida: o Bairro das Artes. Quando os hóspedes chegam, são eles que se encarregam de dar dicas personalizadas, tendo em conta os gostos e a idade. “Essa é a grande mais-valia destes sítios pequenos”, resume Paula. “Sabemos exatamente quem está cá em casa e funcionamos como uma espécie de família alargada.”
Rua do Rosário, 227, Porto. 960 226 569. Estadia a partir de 137€ (mínimo duas noites).
Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº 2 (novembro de 2018).