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Vestidos, chapéus, carteiras: a tendência de alugar roupa e acessórios em vez de comprar

Uma forte aposta na economia circular e a necessidade de os consumidores não gastarem tanto a comprar novas peças fez com que nascesse uma nova oportunidade de negócio. E nem a realeza escapou.

Num mundo onde tudo acontece cada vez mais depressa, a moda acompanha a tendência e, por isso, todas as estações os modelos, os padrões, as cores e as texturas vão-se alterando. Se numa primavera são os tons fortes que dominam, estes rapidamente ficam ‘démodé’ e passam a ser os pastéis a liderar as escolhas dos consumidores. Outro bom exemplo são os padrões de animais – os conhecidos ‘animal print’ — que estiveram tão na moda no início da década passada e voltaram este ano em força, depois de um período em que muito poucos eram os que se atreviam a sair à rua com uma camisola com, por exemplo, um estampado de leopardo.

Acompanhar as tendências sem gastar muito em renovações constantes do guarda-roupa

Os sites e lojas de aluguer de roupa são uma solução que surgiu há alguns anos e que está a ganhar força. Cada vez são mais os consumidores que abraçam esta tendência e até a realeza aderiu. A rainha Letizia de Espanha já tinha sido uma das primeiras ‘royals’ a optar por repetir visuais, uma forma de tornar a moda sustentável e de simultaneamente reduzir os gastos com o guarda-roupa. Recentemente, decidiu dar mais um passo no seu compromisso com o ambiente e alugou um vestido.

Recentemente, a mulher de Felipe VI esteve em Lloret de Mar numa reunião com os membros da Fundação Princesa de Girona, um evento no qual apareceu com um vestido verde… que não é seu. Trata-se de uma peça midi de linho, com mangas curtas, decote redondo e ajustado na cintura, que foi alugado na loja online espanhola Lend the Label. O vestido em questão é da marca italiana Aje, modelo Hojae, e tem um preço original de 600 euros. No entanto, pode ser alugado por entre 110 e 130 euros, dependendo se o consumidor pretende ficar com a peça durante quatro ou oito dias. Há ainda a opção de alugar o vestido por seis dias, com um custo de 120 euros.

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Rainha Letizia de Espanha com vestido alugado

Europa Press via Getty Images

E Letizia já não é o primeiro elemento da família real espanhola a aparecer num evento com um vestido alugado. A 31 de outubro de 2023, no dia do 18.º aniversário da princesa Leonor, a infanta Sofia usou um elegante vestido curto branco com estampado de flores azuis e uma capa, uma peça que foi alugada no site da Borow. De acordo com a revista Hola!, que escreveu sobre o tema naquela altura, a peça pertence à marca inglesa Erdem e tem um custo original de 1770 euros, um valor bastante superior aos 268 euros que o aluguer do vestido custou para que a infanta o tivesse na sua posse durante quatro dias.

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Infanta Sofia de Espanha com vestido alugado

Getty Images

De Espanha viajamos diretamente até Boston, onde Kate Middleton já tinha mostrado há dois anos que a moda sustentável é uma boa aposta. Em 2022, a princesa de Gales acompanhou o marido, o príncipe William, aos Earthshot Prize Awards, um prémio criado pelo herdeiro da coroa britânica, direcionado para a preservação do meio ambiente, que pretende “descobrir e dimensionar soluções que irão reparar o nosso planeta nos próximos dez anos”.

Para a ocasião — e como seria de esperar — a princesa optou por uma escolha sustentável e alugou um vestido comprido verde claro, com os ombros descobertos, na plataforma HURR. A peça é da marca Solace London e esteve à venda por 350 libras (cerca de 417 euros), podendo ser alugada por 74 libras (perto de 88 euros).

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Kate Middleton com vestido alugado

WireImage

Das escolhas pontuais às subscrições: o funcionamento do aluguer de roupa

A ideia tem vindo a desenvolver-se e já existem diferentes opções, que vão desde alugar um vestido pontualmente até assinar uma subscrição que permita ir renovando o guarda-roupa mensalmente com peças de marcas mais dispendiosas sem gastar muito dinheiro. É este o caso da Rent the Runway, uma plataforma norte-americana lançada em 2009 por Jennifer Hymanand e Jennifer Fleiss, que permite ter subscrições mensais, além de ser ainda possível efetivamente comprar as peças de roupa. Funciona em três modalidades: por 89 dólares (cerca de 82 euros) no primeiro mês os consumidores podem escolher cinco peças de entre mais de nove mil opções, por 99 dólares (perto de 91 euros) têm direito a 10 peças por mês e por 169 dólares (em torno de 155 euros) a oferta aumenta para o dobro: 20 peças por mês, que podem ser escolhidas de entre um leque de mais de 10 mil opções.

E já não são só os vestidos de festa que podem ser alugados, há opções para todos os gostos, até mesmo para quem quer ir renovando as peças mais ‘casual’ ou usar acessórios diferentes. As principais vantagens? A grande maioria oferece, além de uma renovação mensal do guarda-roupa, o envio e a lavagem, pelo que o consumidor só tem que se preocupar em usar as peças que selecionou.

Outras exemplos de empresas internacionais são a Nuuly, a Armoire, a Tulerie, a Gwynnie Bee ou a Switch, entre muitas outras, que apostam no crescimento da economia circular e oferecem desde peças de marcas de Alta Costura a outras mais acessíveis, do dia a dia, sem esquecer os acessórios.

A crescente oferta em Portugal e a abertura do mercado aos acessórios

Por cá têm surgido inúmeras plataformas, como é o caso da Rent The Closet, que aluga desde vestidos para casamentos e eventos formais até vestidos de noiva. Além disso, funciona como marketplace, uma vez que oferece aos clientes a hipótese de rentabilizarem as suas próprias peças que estão paradas no armário.

A fundadora da Rent The Closet, Filipa Roque, afirma que “a ideia nasceu para dar resposta a um desafio pessoal — o que fazer com a roupa parada que tinha no guarda roupa — e do desafio de uma amiga, uma vez que ela já tinha tido a necessidade de alugar um vestido para um casamento”. Foi assim criado o Rent the Closet, que tem tido uma recetividade “muito positiva, principalmente por um público mais jovem”, conta. “A maior parte dos nossos alugueres foram feitos a jovens entre os 18 e 24 anos, para bailes de finalistas e casamentos. Também já tivemos alugueres para clientes na faixa etária dos 30 aos 37 anos, muito focado em casamentos”, continua, partilhando que nesta faixa etária “a principal procura não vem de portuguesas mas de clientes de outras nacionalidades que moram em Lisboa. São clientes que já estão familiarizadas com o conceito de aluguer ou que já tinham alugado anteriormente”.

Sobre a função de marketplace, a empresária refere que “a adesão tem sido grande” e que “o facto de terem um espaço para colocar a roupa que têm parada no seu guarda-fatos e terem com isso um rendimento é muito interessante para as clientes”.

A marca acredita que o aluguer de roupa “é o futuro, não só por uma questão ambiental mas também por uma utilização mais eficiente de roupa”. “Quando as pessoas sabem da sua existência procuram e, fazendo sentido, acabam por alugar e por colocar também a roupa na plataforma”, refere, dizendo ainda que já têm também procura por carteiras, algo que a marca ainda não tem disponível, mas que poderá ter em breve.

E como o aluguer de acessórios também tem tido procura, Margarida Brito Paes fundou a ALLU há cerca de dois meses, uma marca portuguesa que aluga chapéus, tocados, diademas e carteiras.

“A marca foi criada em maio, mas já estava a ser preparada mais a sério há cerca de um ano. Sempre trabalhei na área de moda, acompanhei muito as tendências de consumo e o renting sempre foi algo que me fez muito sentido”, começou por contar a empresária, que explicou o que a motivou a criar a marca. “Há dez anos que tenho em média cinco ou seis casamentos por ano e, muitas vezes, dei por mim a querer usar um acessório especial, mas o que existia no mercado era muito caro para usar só uma vez, por isso acabava por escolher sempre a coisa mais simples, a que ia conseguir reutilizar mais vezes, a fim de justificar o investimento”. Assim, Margarida decidiu criar a ALLU, “um espaço onde as pessoas podem alugar um acessório realmente especial por um preço acessível”.

Quanto à recetividade por parte do público, a empresária garante que, apesar de o negócio estar ainda a dar os primeiros passos, a resposta tem sido positiva. “Mesmo quem ainda não teve um evento em que faça sentido levar um acessório especial tem mostrado muita vontade de usar este serviço assim que tiver oportunidade”, refere, dando destaque aos acessórios de cabeça, que considera que não teriam tanta procura se as clientes tivessem de os comprar em vez de alugar. “A procura é cada vez maior, também por influência dos casamentos espanhóis, franceses e ingleses, em que os tocados são muito comuns. Acho que as portuguesas começam a querer usar coisas diferentes, mas ainda há algum medo de arriscar”.

A ALLU disponibiliza peças próprias e também peças de outras marcas e, por enquanto, é com esta dualidade que a marca quer trabalhar. “Num futuro próximo quero continuar a ter uma mistura das duas coisas, até porque há marcas incríveis que gostaria de ter disponíveis. Vou continuar a criar peças próprias e espero que sejam cada vez mais, mas neste modelo de negócio acredito que há espaço para as duas coisas”, acrescentou, garantindo ainda que, apesar de ser uma marca recente, já está a preparar novos lançamentos.

“O departamento de acessórios de festa é um mundo e eu estou sempre a ter ideias novas. Já lançámos a nossa primeira capa e estou a preparar mais lançamentos desse tipo de produto, entre outras novidades”, revelou.

Com preços que variam entre os 10 e os 50 euros, além de uma caução, que é devolvida aos clientes quando os objetos retornam em bom estado, os alugueres têm a duração de quatro dias. Atualmente a marca só atua no Instagram, estando ainda o site em desenvolvimento.

Coleção ALLU

Algumas plataformas têm um showroom para que os clientes possam experimentar as peças. É este o caso da Rent The Closet, cujo showroom fica na Galeria Via Venetto, no Campo Pequeno, em Lisboa.

Coleção Rent the Closet

E é também o caso da Rent a Char, que nasceu há três anos pela mão de Carlota Loureiro. O showroom pode ser visitado perto das Amoreiras, em Lisboa, e este é um projeto que a fundadora da marca concilia com outro, que desempenha a tempo inteiro.

“Tirei Gestão e fiz um mestrado executivo em Inovação e Transformação Digital, ambos na Universidade Católica. Trabalho na Repsol há seis anos. Gosto muito do meu trabalho e o Rent a Char é para mim um hobby e uma paixão, que me complementa pessoal e profissionalmente e que giro no meu tempo livre, fora do trabalho”, começa por contar, sublinhando que conciliar as duas coisas “exige muito esforço, organização e disciplina”.

O Rent a Char surgiu a partir do “gosto e paixão” de Carlota pela moda, mas também de uma lacuna que a jovem encontrou no mercado, relacionado com “a dificuldade que é muitas vezes encontrar algo de que gostamos”, além de uma “vontade de querer incentivar a economia circular e sustentabilidade neste setor”, E como é que o projeto começou? “Tinha já uma vasta coleção de vestidos, o que ajudou no lançamento da marca, e depois fui comprando mais (nos mais diversos locais, incluindo muitos em viagens) e todas as semanas a marca tem peças novas. E assim foi crescendo”.

Atualmente, a empresária garante que o projeto tem tido bastante adesão e que “as pessoas estão cada vez mais recetivas à opção de alugar em vez de comprar”. “Aqui as clientes têm o conforto de ter o seu ‘problema’ resolvido — encontrar um vestido, incluindo acessórios -, com mais alternativas do que uma loja convencional e de forma muito mais sustentável”, acrescentou.

Sobre a ideia de ter outros showrooms espalhados pelo país, Carlota diz que essa não será por enquanto uma possibilidade, mas que isso não a impede de ter pedidos de clientes de norte a sul e até do estrangeiro. “Neste momento consigo chegar ao país todo, e até fora do país, através de envios que chegam em 24h. De todo o modo, Lisboa acaba por ser um ponto de passagem ou paragem, mais cedo ou mais tarde, para grande parte das clientes, que aproveitam esses momentos para experimentar e deixar [o artigo] reservado, tendo assim também uma experiência mais completa”.

A Rent a Char é voltada unicamente para o público feminino e para já assim continuará, mas a empresária não descarta totalmente a hipótese de, no futuro, apostar em ter alguns artigos voltados para o universo masculino.

“Neste momento a marca é claramente voltada para o público feminino, não só porque é o que sente mais o problema e precisa de mais diversidade, mas também porque é aquele com que me dá mais gosto trabalhar e onde posso realmente colocar um cunho mais pessoal, até porque todas as peças são escolhidas individualmente e com muito critério por mim”, contou. “Diria que neste momento esse será o foco, mas temos também algumas ideias pensadas para o futuro e que, eventualmente, podem abranger também o público masculino”.

Coleção Rent a Char

Smokings e fraques são as grandes opções para a moda masculina

Apesar de a maioria das ofertas ser direcionada para o público feminino, há também plataformas e lojas físicas que apresentam opções direcionadas ao público masculino. É este o caso da Diadema, em Alvalade, Lisboa, que aluga fraques e smokings. A Vou Casar também se dedica ao mesmo segmento, mas não é apenas direcionada ao público masculino, tendo também opções para noivas, vestidos de cerimónia, e roupa de festa para crianças, ou a Big Closet, que apesar de ser maioritariamente direcionada para o público feminino, tem também algumas opções de acessórios e calçado para homens. Criada por duas amigas licenciadas em Direito, Inês e Vânia, a Big Closet conta com duas lojas físicas, no Freeport Lisboa Fashion Outlet, em Alcochete, e no Vila do Conde Porto Fashion Outlet, em Vila do Conde.

Uma plataforma de aluguer de roupa em viagem que quase nasceu em Portugal

César Mourão esteve recentemente à conversa no podcast de Pedro Teixeira da Mota, watch.tm, onde falou de uma ideia que teve há alguns anos em conjunto com o cantautor Miguel Araújo, quando ambos conversavam sobre a bagagem que levavam para as férias e perceberam que o humorista se fazia sempre acompanhar por uma mala cheia de roupa, enquanto o cantor levava apenas o mínimo indispensável.

“Tivemos uma ideia e registámo-la. A nossa marca chamava-se ‘Bagless’ e é a possibilidade de viajar para qualquer parte do mundo sem mala”, referiu César Mourão. A ideia era a de que cada pessoa usasse uma aplicação e nela selecionasse o tipo de artigos de que necessitava. Quando chegasse ao destino da viagem tinha lá tudo o que alugou dentro de uma mala, que teria que devolver no fim da viagem exatamente como a encontrou.

A ideia de César e Miguel acabou por não ir para a frente, mas houve uma empresa japonesa que, alguns anos mais tarde, lançou uma proposta semelhante. Em 2018 nasceu a ‘Any Wear, Anywhere’, uma empresa que opera no Japão e que, associada à Japan Airlines, permite aos passageiros viajarem dentro do país sem bagagem, podendo alugar toda a roupa que vão usar no destino.

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