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O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, durante uma visita de imprensa ao Mercado do Bolhão, que será reaberto ao público no próximo mês de setembro, Porto, 21 de julho de 2022. FERNANDO VELUDO/LUSA
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Rui Moreira está no seu último mandato à frente do Porto

FERNANDO VELUDO/LUSA

Rui Moreira está no seu último mandato à frente do Porto

FERNANDO VELUDO/LUSA

Vice de Moreira vai assumir movimento independente. Mas PSD cobiça herança e tenta seduzir autarca

Número dois de Moreira quer relançar movimento independente, mas aproximação entre Moreira e PSD antecipa possível aliança para a sucessão. Autarca visto como presidenciável. Rangel como aposta sólida

Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, vai ser candidato à presidência da Associação Cívica “Porto, o Nosso Movimento”, dando mais um passo num destino que muitos vão apontando como sendo natural, o de ser o sucessor de Rui Moreira. Mas o papel futuro pode passar por servir como elemento de continuidade do grupo de independentes numa eventual governação social-democrata e não necessariamente por uma candidatura própria à autarquia.

A informação foi avançada pelo próprio ao jornal “Público”, confirmando um rumor que vinha há muito ganhando força. “Esta candidatura é um projeto de continuidade, alicerçado numa gestão da cidade de Rui Moreira e o seu executivo. A associação soube ajudar à construção desse caminho, um caminho independente, com pensamento próprio, centrado no Porto, sem diretórios a condicionar e sempre em defesa do seu Porto”, explicou o número dois de Moreira ao mesmo jornal.

O sinal político dado é evidente: depois de muita especulação, Filipe Araújo é aquele que, dentro do movimento independente, reúne melhores condições para se apresentar como herdeiro natural de Rui Moreira. No entanto, mesmo entre os mais próximos do atual presidente da Câmara do Porto, há quem vá deixando um aviso à navegação: não há nada decidido sobre o futuro candidato à autarquia.

“O movimento existe e tem uma palavra a dizer sobre o futuro do Porto. Mas não há dois ‘Rui Moreira’. Se Filipe Araújo alimenta essa ambição, e é natural que alimente, precisa de ganhar músculo político”, salvaguarda um destacado membro do movimento independente em declarações ao Observador.

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De resto, e a esta distância, esse é mesmo o cenário mais improvável: dificilmente Filipe Araújo conseguirá protagonizar uma campanha vencedora nas próximas eleições autárquicas. É-lhe reconhecida a importância na dinâmica da autarquia e o potencial, mas há quem note, mesmo na associação cívica, que o número dois da Câmara não tem o lastro que tinha Moreira quando entrou na sua primeira campanha política, em 2013.

Pior: Araújo não goza sequer da mesma dinâmica política de que gozava o atual presidente da Câmara, que beneficiou de um PSD partido ao meio e do empurrão do então muito popular Rui Rio. “Ele [Filipe Araújo] perderia com Manuel Pizarro ou até com Matos Fernandes [ambos tidos como possíveis candidatos do PS, no futuro]. Se houvesse uma candidatura forte do PSD, então era ainda mais difícil e entregávamos de bandeja “, antecipa fonte próxima de Rui Moreira.

Uma solução “Costa-Medina”, em que Moreira deixaria a autarquia a meio do mandato, permitindo que Araújo ganhasse protagonismo, peso e fôlego político para enfrentar umas eleições já como incumbente, é também considerada improvável — e desaconselhável. “Essa solução não seria nada recomendável”, continua o elemento do movimento independente.

Filipe Araújo é vice da Câmara do Porto e vai ser candidato à liderança do movimento independente

© Pedro Granadeiro / Global Imagens

A dança entre Moreira e o PSD

Neste cenário, sobraria uma saída que permitisse ao movimento independente manter influência na autarquia no futuro pós-Moreira — e esta promoção de Filipe Araújo obedece, em parte, a essa estratégia. “O movimento tem estado morto. No último ano, andou politicamente desaparecido. É preciso haver um corpo institucional para dar seguimento às coisas, para dar espessura, para ter uma voz”, nota a mesma fonte.

Ter voz servirá para aguentar, pelo menos, uma posição de força negocial até 2025, ano de autárquicas. E é aqui que entram os sociais-democratas. Recentemente, em entrevista ao Nascer do Sol, Sérgio Humberto, presidente da Câmara da Trofa e candidato único à poderosa distrital do PSD/Porto, deixou um sinal inequívoco: além de se ter desdobrado em elogios ao presidente da Câmara do Porto, o social-democrata disse uma e outra vez que Moreira é “um quadro que o PSD deverá aproveitar no futuro“.

Não é segredo para ninguém que esteja atento aos bastidores políticos do Porto que Moreira e o PSD de Luís Montenegro têm feito um esforço de reaproximação, tentando superar as feridas de guerra da era Rui Rio – esforço materializado no acordo de governação desenhado entre Moreira e PSD para a governação da autarquia.

Aliás, durante a campanha interna contra Jorge Moreira da Silva, Luís Montenegro fez questão de se deslocar ao Porto para uma reunião institucional com o autarca, com direito a fotografia de família e tudo.

Depois disso, os dois já se voltaram a encontrar, com o autarca a deixar elogios rasgados ao novo líder social-democrata. “Fico muito satisfeito com a liderança de Luís Montenegro. Em primeiro lugar, porque sou amigo dele e, depois, porque tenho uma enorme consideração por ele”, reforçou Moreira.

Nos últimos tempos, os contactos têm-se aprofundado e ninguém, quer no movimento independente quer no PSD, exclui que venha a nascer, num futuro próximo, uma plataforma de entendimento entre o movimento independente e sociais-democratas. Objetivo: garantir uma transição de poder suave nas próximas autárquicas.

Filipe Araújo, vice desde 2017, antigo deputado do PSD na Assembleia Municipal do Porto (2005-2009), seria o fio condutor entre as duas forças nessa equação. Entre os dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo Observador, a hipótese de ter Araújo como número dois de uma futura candidatura autárquica ao Porto não é enjeitada – muito pelo contrário.

Também no movimento independente que apoia Moreira, a solução, meramente teórica neste momento, é vista como tendo utilidade e potencial estratégico. “Ter uma candidatura conjunta, em que o espírito do movimento fosse respeitado, poderia ser útil”, reconhece-se.

Moreira e Montenegro são próximos e têm feito um esforço de reaproximação institucional

Moreira é presidenciável

Resta saber o que fará Rui Moreira depois de deixar a autarquia, desfecho inevitável uma vez que atinge o limite de mandatos. Durante muito tempo, o autarca alimentou ambições de vir a suceder a Pinto da Costa na direção do FC Porto. No entanto, o próprio já terá confessado aos mais próximos que terá abdicado desse sonho.

A esse propósito, não passou despercebida a entrevista de Rui Moreira ao semanário “O Novo” em que descartou a corrida à presidência e chegou mesmo a lançar as candidaturas de Vítor Baía e André Villas Boas. Esse capítulo parece, definitivamente, encerrado.

Desde a eleição de Luís Montenegro como novo presidente do PSD que a hipótese de o PSD apresentar Rui Moreira como cabeça de lista às próximas eleições europeias vem ganhando força. O Observador contava isso mesmo no arranque de junho.

“Sabemos que, se quisermos ganhar, temos de ter um nome não só forte, mas que roube eleitorado ao PS e a outros. Só o facto de o candidato ser independente aumenta a hipótese de o PSD ser mais catch all. E Rui Moreira encaixa claramente nesse perfil“, explicava então um destacado apoiante de Luís Montenegro.

Mais recentemente, durante a Universidade de Verão do PSD, foi Luís Marques Mendes a antecipar uma possível saída de Rui Moreira antes de 2025 – o que permitiria ao autarca abraçar a aventura europeia em 2024. Curiosamente, o cargo que mais apontam a Moreira é outro e é também cobiçado por Luís Marques Mendes: o de Presidente da República.

“É um bom candidato presidencial, sem dúvida”, assume ao Observador um destacado dirigente social-democrata. “É uma hipótese séria para o futuro pós-Porto”, concede ao Observador um elemento do movimento independente que apoia Moreira. “Tal como seria uma hipótese vir a ser ministro de Estado de um futuro Governo PSD”, completa. As duas fontes, aliás, concordam: o perfil político e a importância que dá à vida pessoal e familiar deixam Moreira mais longe do que perto das próximas eleições europeias.

Se um dia quiser, de facto, entrar na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, Moreira teria sempre dois obstáculos. Os mais fortes e sérios candidatos à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa são Paulo Portas e Luís Marques Mendes. Um ou outro (no limite, ambos) poderá apresentar-se a votos quando o momento chegar. Mas há uma figura que, em querendo, terá via aberta para entrar na corrida: Pedro Passos Coelho.

Como explicava aqui o Observador, ainda antes da entrada em cena do antigo primeiro-ministro na Festa do Pontal, em agosto, o sentimento dominante na direção social-democrata é um: se Pedro Passos Coelho quiser avançar, terá todo o apoio do PSD. Daí para cá, os suspiros por Passos só aumentaram de intensidade.

Se tal solução não se concretizar, Montenegro já deu todos os sinais de que abençoará uma candidatura de Marques Mendes caso esta se venha a concretizar. E ainda há que contar com a vontade de Paulo Portas e Gouveia e Melo, que poderá querer dar um ar da sua graça. Tudo somado, a via de Moreira para Belém não está desimpedida. Pelo contrário.

Nos últimos tempos, os contactos têm-se aprofundado e ninguém, quer no movimento independente quer no PSD, exclui que venha a nascer, num futuro próximo, uma plataforma de entendimento entre o movimento independente e sociais-democratas. Objetivo: garantir uma transição de poder suave nas próximas autárquicas.

Rangel pode ser abre-latas

Seja qual for o futuro político de Rui Moreira, qualquer acordo que venha a existir entre o movimento independente e o PSD dependerá sempre da solução que os sociais-democratas venham a encontrar para entrar na corrida eleitoral autárquica. E há um nome que, mais uma vez, está na cabeça de todos: Paulo Rangel.

Em tese, uma candidatura do atual eurodeputado seria do agrado das estruturas do PSD no Porto. Alberto Machado, que se prepara para deixar a distrital para liderar a concelhia, fez questão de publicitar que Rangel é um dos nomes que vai fazer parte da lista para liderar o Conselho Consultivo e que o ajudará a desenhar a estratégia do partido no concelho – o que foi interpretado como mais um sinal de incentivo para uma futura candidatura à autarquia.

Rangel ainda não decidiu o que quer fazer em relação ao futuro. A continuidade em Bruxelas não está colocada de parte, ainda que a hipótese de ser novamente cabeça de lista pelo PSD seja vista como improvável – a atual direção social-democrata terá vontade de apostar num novo rosto e haverá margem para negociar com Rangel um lugar de destaque nessa candidatura.

Qualquer decisão só será tomada depois de Rangel e Montenegro falarem sobre isso – e ainda é muito cedo para fechar ou abrir portas. No Porto, no entanto, as certezas são maiores do que as dúvidas: “Se Rangel fizesse uma ‘coligação’ com movimento de Rui Moreira ganhava facilmente as eleições autárquicas”, sentencia um apoiante próximo do atual presidente da Câmara do Porto.

Em tempos, os dois, Moreira e Rangel, que chegaram a ser muito próximos, acabaram de costas voltadas. Nos últimos anos, houve uma reaproximação entre ambos e a relação está normalizada, vai dizendo quem os conhece bem. No futuro, não é absolutamente improvável que Rangel receba a bênção de Moreira para assumir o seu legado. Assim o queira e assim as negociações cheguem a bom porto. O futuro já começou a ser desenhado.

CONGRESSO PSD: Luís Montenegro, líder do PSD e Paulo Rangel, no 40º Congresso Nacional do Partido Social Democrata (PSD), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. 2 de Julho de 2022 Pavilhão Rosa Mota, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Rangel ainda não decidiu o que quer fazer em relação ao futuro. É desejado no Porto, mas pode continuar em Bruxelas

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