910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, intervém durante uma conferência de imprensa sobre a aprovação, pela Comissão Europeia, do plano de Reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) nacional, Oeiras, 22 de setembro de 2023. CARLOS M. ALMEIDA/LUSA
i

CARLOS M. ALMEIDA/LUSA

CARLOS M. ALMEIDA/LUSA

"Wokismo" e "apoucamento quase criminoso" da bandeira. As críticas após Governo criar nova identidade visual

Governo diz que novo símbolo, sem castelos conquistados aos mouros e sem a esfera armilar, é mais inclusivo e até mais "ecológico". Direita conservadora fala em "wokismo" e em ato "quase criminoso".

Dois retângulos, um verde e outro vermelho e uma bola amarela ao centro — é assim a nova imagem da marca do Governo em Portugal. Da interpretação minimal desapareceram sete castelos, as cinco quinas e a esfera armilar. O Executivo de António Costa — que pagou 74 mil euros pelo design — pretendia ter um logótipo mais “inclusivo, plural e laico”, mas acabou por provocar desaprovação dos partidos mais à direita, que consideram o redesenho do símbolo como uma manobra “wokismo” ou até mesmo um ato quase criminoso.

O líder do CDS, em declarações ao Observador, considera “ridículo e um apoucamento quase criminoso” transformar o escudo das armas — “o mais permanente símbolo de Portugal em todas as bandeiras e a esfera armilar, que traduz o trajeto de Portugal no mundo” — num mero elemento circular amarelo. Nuno Melo critica a tomada de decisão de alteração de um símbolo não tendo em consideração que “a Nação transcende um executivo transitório”. E acrescenta: “Na simbologia não está em causa um governo, mas sim a Nação, não está em causa uma maioria, mas todo um povo”.

A nova representação do Governo pretende, segundo se destaca no manual de utilização do símbolo, “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital e dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”. O principal argumento para a alteração, garante o poder executivo, é o da simplificação de uma “configuração visualmente densa, otimizando-se o desempenho em ecrã”, tornado a imagem “mais operativa, ao mesmo tempo que reserva e preserva a bandeira nacional enquanto símbolo de Portugal”. Para o Governo trata-se de uma nova imagem que se afirma “também inclusiva, plural e laica“.

A justificação não colhe junto da direita conservadora. O deputado e ideólogo do Chega, Diogo Pacheco de Amorim, desconfia da justificação dada pelo Governo e denuncia uma intenção clara de “colocar a filosofia woke no próprio cerne dos nossos símbolos nacionais.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pacheco de Amorim considera a ação do Governo “rigorosamente inaceitável” e critica severamente a remoção da esfera armilar que “dá o sentido da universalidade e das descobertas e da tão decantada questão da colonização”. E acusa: “Querem reduzir toda a história da nossa expansão.” Sobre a menção à “consciência ecológica”, revela não entender sequer a referência.

Governo diz que imagem anterior tinha “várias fragilidades”

No manual de aplicação de identidade visual do novo símbolo da “República Portuguesa” — a marca do Governo Português — é explicado que a “referência matricial” do símbolo é a bandeira nacional “nas suas cores dominantes e na sua geometria elementar”. Assim, os elementos visuais identitários são articulados de “forma mais sintética, diferenciada e adaptável às condições da comunicação digital”. E é feita a ressalva: “O que se propõe não constitui o redesenho da bandeira, instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910 e devidamente consagrada na Constituição da República Portuguesa como símbolo de soberania, independência, unidade e integridade”.

Ao Observador, fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro responde às críticas e defende que a nova identidade visual do Governo veio “substituir uma imagem criada há 12 anos, que apresentava várias fragilidades, especialmente na aplicação em plataformas digitais”e que a “complexidade do modelo antigo, vertida na soma de muitas cores e detalhes simbólicos, representava uma tendência estética da década anterior, que nos dias de hoje criava vários problemas práticos”. Assinala também a “falta de legibilidade em formatos impressos mais pequenos” como a razão de maior importância para a alteração, mas não deixa de destacar a anterior limitação de acesso às “possibilidades de animação e movimento que caracterizam o meio digital dos dias de hoje”.

A nova marca da República Portuguesa, garante o Governo, “não pretende ser uma representação fidedigna da bandeira ou de qualquer símbolo nacional”, mas sim uma “estilização visual de elementos identificadores”. Além disso, assegura que a nova imagem será “justaposta com frequência” à da bandeira nacional original.

Segundo a mesma fonte, a nova marca “cumpre escrupulosamente os requisitos estabelecidos no caderno de encargos do projeto que, entre outras coisas, “pedia que fosse capaz de identificar inequivocamente o emissor – Governo –, através da utilização de elementos inspirados nos símbolos da República: bandeira nacional, esfera armilar ou busto da República”.

A transição digital também pesou nas contas do Executivo, que afirma ter projetado a nova identidade de raiz “para ser mais dinâmica e operativa em ambiente digital e assim ajudar o Governo a concretizar este eixo programático”. Além disso, responde à dúvida da relação entre o novo design e o benefício ecológico: “Esta mudança serve de incentivo a centrar toda a comunicação do Governo num ambiente desmaterializado, para evitar a impressão desnecessária de todo o tipo de documentos, estacionário, cartões de visita, entre outros.” Ou seja: o Governo diz que o novo símbolo é mais ecológico porque promove uma menor impressão dos documentos.

Designer contratado criou a marca “Porto.”

Para a criação do novo logótipo, o Governo realizou um contrato de “aquisição de serviços de comunicação e design para o desenvolvimento de identidade visual”, no valor de 74 mil euros, publicado no Base a 23 de novembro de 2022 e apresentada em maio de 2023. A entidade contratada foi a Studio Eduardo Aires, S.A. O prestador de serviços obrigou-se a criar uma nova identidade visual, “utilizando os conhecimentos técnicos, a diligência, o zelo e a pontualidade próprios das melhores práticas, sob a direção e fiscalização da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (SGPCM), sem prejuízo da sua autonomia técnica”.

O estúdio do designer Eduardo Aires criou a marca Porto., que revolucionou a imagem da Câmara Municipal do Porto e conquistou prémios internacionais por este e outros projetos em que segue uma linha de design estilizada, caso da campanha para o combate à Covid- 19 no município do Porto.

Ao Observador, fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro informa que a contratação resultou de um procedimento concursal, com a consulta a três entidades, todas igualmente prestigiadas: Studio Eduardo Aires, Silvadesigners e HTL Publicidade e Comunicação. “O atelier Studio Eduardo Aires apresentou o preço mais baixo, a equipa mais qualificada, integrando especialistas reconhecidos em várias áreas da comunicação visual, e um portefólio de trabalhos notáveis”, aponta.

Costa não queria marca herdada de Passos e substituiu o “Governo de Portugal” pela “República Portuguesa”

Três meses depois de tomar posse como primeiro-ministro, em março de 2016, António Costa impulsionou a mudança de nome da marca do poder executivo em Portugal. Manteve, no entanto, a imagem da bandeira de Portugal estilizada criada pelo anterior executivo, que se manteve como símbolo governamental até maio deste ano.

Em 2011, o Executivo de Passos Coelho anunciou a criação da marca “Governo de Portugal” e o respetivo logótipo, com o objetivo de “identificar, unificar e organizar a comunicação visual do Governo”. Numa nota do Conselho de Ministros, o XIX Governo Constitucional assinalava a mudança como “parte de um processo de reorganização e racionalização dos suportes de comunicação de todo o Governo, constituindo por isso uma medida de eficiência”.

PEDRO NUNES/EPA

Acabados de chegar ao poder, em 2016, os socialistas queriam uma designação mais “abragente” e optaram pela “República Portuguesa”, como justificou na altura o gabinete da então secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro, Mariana Vieira da Silva. O design, bem mais próximo da bandeira portuguesa original, foi mantido e, tal como se garantia, não acarretou custos. O mesmo não sucedeu, agora, com a criação do novo símbolo.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.