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O que é a depressão pós-parto?

“É qualquer episódio depressivo diagnosticado que ocorra nos meses seguintes ao nascimento de uma criança”, explica a médica psiquiatra Sónia Oliveira. “Geralmente, entre duas semanas até três meses após o parto.”

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Quais são os sintomas?

Tristeza, perda de prazer e interesse, irritabilidade, alteração do apetite e do sono, agitação, lentidão a executar tarefas, fadiga, sentimentos de inutilidade, dificuldade de concentração ou de tomada de decisões e pensamentos de morte (podendo até ocorrer suicídios) são os sintomas mais frequentes. Afeta entre 10% e 20% das recém-mães.

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É diferente das outras depressões?

A depressão pós-parto tem — ou pode ter — algumas particularidades em relação a uma depressão fora deste período da vida. Desde logo, a nível dos sintomas que podem surgir com queixas menos evidentes:

  • sentimento de incapacidade face aos cuidados do bebé;
  • afastamento do recém-nascido com delegação dos cuidados a outros por falta de ligação afetiva imediata;
  • preocupações excessivas face à segurança e cuidados de saúde da criança, sentindo culpa e inadequação ao papel de mãe.

Por outro lado, demora habitualmente mais tempo a diagnosticar. Ou porque as queixas são atípicas ou porque os sintomas são mais normalizados, pela fase da vida em que a mulher se encontra. Quando partilham o que sentem, diz Sónia Oliveira, “a resposta que as mulheres recebem frequentemente (…) é que ‘é normal’ ou ‘faz parte’”.

Além disso, este é um tipo de depressão que “tem menor incidência de suicídio” do que as restantes, mas “mais probabilidade de ser acompanhada de sintomas ansiosos e obsessivo-compulsivos”. Por vezes, os medicamentos demoram mais tempo a fazer efeito e pode ser necessário mais do que um para os sintomas desaparecerem.

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A depressão pós-parto é a mesma coisa que o baby blues?

Não, são quadros diferentes. O baby blues é menos grave e mais frequente. “Pode surgir em 50% a 85% das mulheres que tiveram bebé, caracterizando-se por sintomas mais ligeiros e transitórios”, explica Sónia Oliveira. Por norma, tem início logo nos primeiros dias após o parto, atinge o pico no quarto ou quinto dia e desaparece de forma espontânea em duas semanas.

Os sintomas incluem choro fácil, grandes oscilações emocionais — podendo haver tanto explosões de raiva como episódios de euforia —, irritabilidade excessiva e, frequentemente, comportamento hostil com a família.

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Quais são as causas da depressão pós-parto?

O pós-parto é uma fase exigente da vida de uma mulher, com muitas mudanças em simultâneo que a deixam vulnerável ao início ou agravamento de doença psiquiátrica.

Estas questões são muito relevantes neste período e podem contribuir para a doença:

  • alterações hormonais inerentes ao período pós-parto;
  • mudanças psicológicas e sociais associadas à transição para a maternidade;
  • necessidade de reorganização social e adaptação a um novo papel, com um súbito aumento de responsabilidade;
  • privação de sono, isolamento social e diferentes pressões familiares e sociais a que está sujeita;
  • necessidade de reestruturar a sexualidade, a imagem corporal e a identidade feminina, o que pode levar a baixa autoestima.
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Há fatores de risco anteriores que podem conduzir mais facilmente a uma depressão pós-parto ?

Os fatores de risco mais evidentes são história pessoal de depressão, uma depressão pós-parto ou episódio de baby blues anterior e história familiar de doença psiquiátrica.

Mas há outros: um contexto de vida ou gravidez com eventos negativos, uma relação de casal com conflitos, um parto prematuro ou traumático ou uma gravidez indesejada.

As expectativas demasiado elevadas ou desajustadas também podem ser um fator de risco. “As mulher veem-se confrontadas com ideias erradas de que a maternidade é um estado de felicidade constante, onde a tarefa de prestar cuidados ao bebé é um instinto natural e esperado de todas”, explica a psiquiatra Sónia Oliveira. Estas crenças — que estão longe da realidade — contribuem para um sentimento de incapacidade que pode ser muito prejudicial.

Por outro lado, são considerados fatores protetores: boa autoestima, boa relação conjugal, bom suporte social e familiar e boa preparação física e psicológica para as mudanças que a gravidez, o parto e o nascimento do bebé trazem.

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Como é feito o tratamento?

O tratamento inicial recomendado para uma depressão pós-parto é a medicação. Há antidepressivos que permitem manter o aleitamento materno, pelo que a mulher não deve evitar recorrer a ajuda psiquiátrica por receio de ter de parar de amamentar.

A psicoterapia também está indicada, como complemento à medicação.

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Quais são os riscos do diagnóstico tardio ou da ausência de tratamento?

Ter uma depressão acarreta um risco aumentado de novos episódios depressivos no futuro. A depressão pós-parto  não é exceção. Segundo a psiquiatra Sónia Oliveira, “este risco está aumentado particularmente se o episódio atual não for tratado”.

Além disso, a doença tem, na maioria das vezes, consequências na qualidade de vida, relação familiar e na interação mãe-bebé. “Mães deprimidas podem lidar com os filhos de forma insegura e pouco afetuosa”, diz a médica. As crianças que mamam são muito vulneráveis ao impacto da depressão materna, “porque dependem muito da qualidade dos cuidados e da resposta emocional da mãe, e quanto mais grave e persistente for a depressão pós-parto, maior a probabilidade de prejuízo na relação mãe-bebé e de repercussões no desenvolvimento futuro da criança”.