- O que é a perturbação borderline?
- É uma doença que provoca muito sofrimento?
- Quais são os principais sintomas?
- Porque são tão difíceis as relações para alguém borderline?
- Quais são as causas?
- Como se faz o diagnóstico?
- Quais são as opções de tratamento?
- Como apoiar uma pessoa com esta doença?
Explicador
- O que é a perturbação borderline?
- É uma doença que provoca muito sofrimento?
- Quais são os principais sintomas?
- Porque são tão difíceis as relações para alguém borderline?
- Quais são as causas?
- Como se faz o diagnóstico?
- Quais são as opções de tratamento?
- Como apoiar uma pessoa com esta doença?
Explicador
O que é a perturbação borderline?
É uma doença que provoca alterações na forma como a pessoa pensa, sente e se relaciona com os outros. Os doentes apresentam alterações de humor, pensamentos distorcidos, comportamentos impulsivos e relações intensas mas tumultuosas com os outros.
É uma doença que provoca muito sofrimento?
Sim. Porque envolve vários sentimentos típicos. “As pessoas afetadas por perturbação da personalidade borderline (PPB) são muito sensíveis, entram facilmente em profundo sofrimento, com medos intensos de rejeição, abandono e separação”, diz o psiquiatra e psicoterapeuta João Carlos Melo, assistente graduado do Hospital Fernando Fonseca e autor de Reféns das Próprias Emoções (ed. Bertrand, 2021), sobre pessoas com personalidade borderline. “Quando isto acontece, as emoções ficam desreguladas, o que provoca angústia, desespero, descontrolo e raiva.”
Estima-se que afete mais de duzentos mil portugueses, sendo uma doença grave, já que “cerca de 75% dos doentes fazem tentativas de suicídio”. Estas tentativas, frisa, “não são ‘chamadas de atenção’ — são a manifestação de um profundo e insuportável sofrimento. “Dez por cento destas pessoas acaba por morrer por suicídio”, explica o psiquiatra.
Quais são os principais sintomas?
Há períodos em que os doentes se sentem bem, mas, na maioria do tempo, estão ansiosos, deprimidos e em sofrimento. Os sintomas dividem-se em dois grandes grupos:
- Sintomas mais agudos. Grande instabilidade afetiva (mudanças frequentes e muitas vezes bruscas e imprevisíveis de humor), emoções muito dolorosas (medo, vergonha e sentimentos de culpa), crises de descontrolo e raiva ou apatia e perda de energia, alterações cognitivas (como dificuldade de atenção ou de memória ou falta de iniciativa), comportamentos impulsivos, autodestrutivos e autolesivos, que podem levar a tentativas de suicídio.
- Sintomas mais prolongados. Vazio interior, sentimentos prolongados de desespero e autocrítica, dificuldades nas relações (sobretudo as mais íntimas) com os outros, pensamentos frequentes sobre morte e suicídio.
Porque são tão difíceis as relações para alguém borderline?
Porque é nas relações que se manifestam as angústias características destas pessoas: medo da separação, rejeição e abandono, ao mesmo tempo que há uma grande necessidade de proximidade com o outro. “O medo de perder a outra pessoa ou o seu amor pode levar a atitudes de exigência e controlo”, diz o psiquiatra. Mas é isso que acaba por levar, muitas vezes, ao efetivo afastamento da outra pessoa, o que agrava a angústia e provoca mais relacionamentos instáveis e conflituosos.
Ainda assim, nem todos os quadros de perturbação borderline são iguais e há pessoas nas quais estes sintomas são menos visíveis. “São as ‘quiet borderline’ [borderline silenciosas]. Neste caso, o sofrimento também está lá, mas a pessoa sofre em silêncio, mutila-se e agride-se em privado e está presa na sua solidão.”
Quais são as causas?
A doença surge das experiências traumáticas e da ligação destas à predisposição hereditária e genética.
Entre as experiências de vida traumáticas estão “as perdas, as separações precoces e prolongadas, a falta de envolvimento afetivo por parte dos pais, o abuso verbal, emocional, físico ou sexual e a negligência física e emocional”.
A predisposição para a doença é um tipo de temperamento a que os psiquiatras chamam “hiperbólico”, que associa uma grande hipersensibilidade a um comportamento crítico, acusatório e exigente com os outros.
Estes eventos que servem de desencadeantes podem acontecer em qualquer idade, por isso o início da perturbação borderline pode ser na infância, adolescência ou idade adulta.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico baseia-se nos relatos do paciente (e dos familiares) e nas observações dos médicos. Como pode ser complexo diferenciar esta doença de outras perturbações, é muitas vezes subdiagnosticada ou mal diagnosticada.
As pessoas com perturbação borderline são muitas vezes “diagnosticadas com depressão, ansiedade ou doença bipolar”. A outras dizem simplesmente que têm “mau feitio” ou “mau caráter”.
Para fazer o diagnóstico, o psiquiatra deve identificar as principais características da doença, embora em alguns casos possa haver associação a outros problemas, como depressão, ansiedade, perturbação bipolar, perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) e perturbação obsessivo-compulsiva.
Quais são as opções de tratamento?
Por ser uma perturbação da personalidade — e não do humor, como a depressão —, a PPB pode ser difícil de tratar. “A medicação é fundamental em muitos casos, para aliviar o sofrimento, controlar a impulsividade e ajudar a regular o humor e as emoções”, frisa João Carlos Melo.
A psicoterapia é igualmente importante, para que a pessoa possa entender-se melhor e aprender a controlar os impulsos e comportamentos.
Além da psicoterapia individual, podem ser também recomendadas sessões de grupo — onde a pessoa põe em prática estratégias na relação com os outros — e terapia com a família, para ajudar a compreender a doença e a lidar melhor com as pessoas próximas.
“Os sintomas mais agudos melhoram relativamente bem com os tratamentos adequados, ao ponto de a pessoa poder deixar de preencher os critérios que caracterizam a doença”, explica o médico. “Já os sintomas prolongados tendem a estender-se no tempo e a serem mais difíceis de tratar, requerendo intervenções psicoterapêuticas mais prolongadas.”
Como apoiar uma pessoa com esta doença?
A família e os amigos podem ter uma importância enorme na recuperação.
“A atitude mais eficaz é a compreensão do sofrimento da pessoa e a aceitação de que o seu comportamento é uma manifestação direta do disso, por muito agressivo que pareça”, diz o psiquiatra. “E é fundamental não abandonar a pessoa, apoiá-la, estar presente e aceitá-la tal como ela é, com as suas forças e as suas fraquezas.”