São apenas cinco segundos de um vídeo que mostra um homem, num mercado, (aparentemente) a espirrar propositadamente perto de uma banca de fruta. O homem, de camisa bordeaux, parece estar em movimento, como se estivesse numa discussão. Vira-se para trás, espirra e, quando olha em frente, aparece um segundo homem e agride-o, deitando-o ao chão.

Como legenda desse vídeo, que está há pelo menos duas semanas a ser amplamente divulgado em redes sociais como o Facebook  — numa altura em que a pandemia da Covid-19 obriga a uma série de comportamentos que previnem o contágio — aparece a informação: “Na Itália, um Chinês espirrou de propósito no mercadinho e foi avisado uma única vez, que não pode fazer isso…”.

A publicação que sugere que o vídeo foi filmado e disponibilizado agora e que é de 2018, no mínimo

No entanto, este vídeo não é seguramente referente a este período de pandemia, até porque já tinha sido divulgado em 2018 por um site holandês com a legenda: “No supermercado espanhol, um árabe insulta uma mulher e cospe no chão, a resposta não tarda muito”.

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A qualidade da imagem não permite perceber a nacionalidade do homem em causa. Percebe-se que traz um saco na mão e que é agredido por um homem de avental, que poderá ser funcionário no mercado.

Os primeiros casos de infetados pelo novo coronavírus foram identificados na China, com um ponto de contacto comum: o mercado de Wuhan, ainda em dezembro. A 22 de fevereiro, seria registado o primeiro caso na Europa, mais concretamente em Itália. Portugal registaria o primeiro caso a 2 de março. Segundo o balanço de 12 de abril, o vírus já matou 112.510 pessoas em todo o mundo e infetou mais de 1.800.000.

Ou seja, se o vídeo já existia em 2018, é impossível que esteja relacionado com a pandemia da nova estirpe do coronavírus.

Conclusão

O vídeo que mostra um homem identificado como sendo um cidadão “chinês”, que cospe para o chão num “mercadinho” em Itália e que é agredido nessa sequência, está a ser divulgado numa altura em que a pandemia da Covid-19 obriga a cuidados para evitar a propagação da doença. Acresce que, no vídeo, parece que o homem o faz propositadamente, levando a que os utilizadores concluam que o fez para, eventualmente, disseminar o vírus. No entanto, este vídeo já tinha sido divulgado em 2018 como sendo o de um árabe num mercado espanhol. Desconhecendo-se, na verdade, quem são os seus verdadeiros intervenientes e o contexto em que foi gravado. Uma coisa é certa: não é de 2020 e não está relacionado com a pandemia de Covid-19.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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