A publicação é vaga, tem erros ortográficos e não cita qualquer fonte credível. Tudo isto denuncia a falsidade da informação que pretende passar: a de que a cloroquina estaria a ser distribuída de forma gratuita na Europa. Esta ideia está errada, já que, por um lado, a maioria dos países europeus proibiu ou desaconselha o uso do medicamento e, por outro, o fármaco só deve ser administrado num ensaio clínico ou com acompanhamento hospitalar.
Um estudo publicado na revista científica “The Lancet” a 22 de maio deu início à polémica com a cloroquina e a hidroxicloroquina, consideradas ineficazes e, em alguns casos, prejudiciais no tratamento do novo coronavírus. Entretanto, a publicação voltou atrás nas suas afirmações, por conter dados pouco credíveis, mas o medicamento continua a ser evitado ou proibido em muitos países.
Em Portugal, a posição mais recente da DGS é “cautelosa”. “A Direção-Geral da Saúde e o Infarmed estão a acompanhar a situação e por enquanto vamos ser cautelosos e não vamos fazer a recomendação da utilização em Portugal. Vamos acompanhar os ensaios e o que se passa nos outros países”, explicou Graça Freitas, diretora-geral da Saúde na conferência de imprensa de 4 de junho, noticiada pela SIC Notícias.
Ainda assim, a página oficial do Ministério da Saúde esclarece que a recomendação “diz apenas respeito ao uso na Covid-19”. “Os doentes que estavam a ser tratados com hidroxicloroquina para outras patologias, doenças autoimunes (…] não devem interromper o seu tratamento, que nestas situações se mantém seguro, desde que devidamente acompanhado pelo médico assistente”, explica ainda o documento.
A Organização Mundial da Saúde tinha suspendido um ensaio clínico com cloroquina e hidroxicloroquina depois de ter sido publicado o artigo de “The Lancet”. Com este último descredibilizado, os testes foram retomados a 6 de junho. Porém, a 17 do mesmo mês houve nova reviravolta: tudo voltou a parar, uma vez que os investigadores consideraram que o medicamento não estava a ter os efeitos desejados.
A Agência Europeia de Medicamentos (AEM) é da mesma opinião e defende que a eficácia destes medicamentos no tratamento do novo coronavírus não está “cientificamente comprovada”. Por isso, tal como Portugal, a Bélgica desaconselhou o uso destes fármacos, em França os tratamentos foram suspensos e o mesmo aconteceu em Itália. Espanha foi dos poucos países que decidiu não seguir a tendência. Segundo o jornal “El País”, a cloroquina foi utilizada em 85% dos pacientes com Covid-19.
A expressão “distribuição gratuita” presente no post viral dá a entender que o medicamento pode ser tomado em casa, sem grande controlo. Essa ideia é errada e perigosa. “A Agência Europeia de Medicamentos orienta apenas em ensaios clínicos ou em situações de emergência em pacientes hospitalizados, sob supervisão próxima. A distribuição dá-se somente por indicação médica, como indicado nos principais protocolos de Covid-19 desses países”. explicou ao jornal “G1” Guilherme Werneck, professor adjunto do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Conclusão
Não é verdade que a cloroquina esteja a ser distribuída gratuitamente na Europa. Na verdade, grande parte dos países europeus proibiu ou desaconselha o uso do medicamento no tratamento da Covid-19, como é o caso de Portugal. Não está comprovada a sua eficácia nesta doença.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.