Circula no Facebook uma publicação que compara a situação de Portugal em diversas áreas antes e depois do 25 de Abril com o intuito de mostrar que o país estava melhor em melhor em termos sociais e económicos antes de 1974 do que na atualidade. Duas das alegações são as de que, antes da Revolução, não havia iliteracia ou desemprego em Portugal. Será verdade? Os dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem que não.

Por altura dos 40 anos do 25 de Abril, celebrados em 2014, o INE publicou um estudo sobre “o caminho percorrido e as principais alterações registadas em Portugal” desde a Revolução. O estudo partia de dados recolhidos entre 1970 e 2011 e olhava para diversas áreas centrais, como a habitação, o emprego e salário, as condições de vida ou a saúde, concluindo que “globalmente” o “percurso feito” desde 1974 podia considerar-se “encorajador”.

A publicação do Facebook que mostram algumas das alegadas “mentiras” do 25 de Abril

Também na educação, outra das áreas analisadas pelo organismo, a evolução tinha-se mostrado positiva. Em 1970, a taxa de analfabetismo em Portugal era de 25,7%, mais 20,5% do que em 2011, data em que foram realizados os últimos Censos (que se repetem este ano). Esta afetava sobretudo a população feminina, com uma diferença de 11,3 pontos percentuais em relação à masculina. Segundo os dados disponíveis no site Pordata, o valor era já bem menor em 1981, rondando os 18%, continuando a descer nas décadas seguintes.

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Olhando para a escolaridade, antes do 25 de Abril, a grande maioria dos portugueses não tinha qualquer nível de ensino. Também aqui as mulheres eram as mais afetadas — em 1970, eram quase 60% os homens que não tinham qualquer escolaridade em Portugal; nas mulheres, o número aproximava-se dos 70%. Em números totais, em 1970, eram 5,2 milhões os portugueses que não tinham frequentado a escola, o que não significava que não soubessem ler ou escrever, uma vez que essa aprendizagem era muitas vezes feita em casa.

Também neste campo houve uma redução significativa, de 61,8% para ambos os sexos, face a 2011. Entre os portugueses que tinham estudado, a maioria tinha, em 1970, o terceiro ciclo do ensino básico ou o secundário. Seguiam-se o primeiro ciclo e depois o segundo ciclo, o ensino superior e o ensino médio.

Outro dado que mostra a diferença entre homens e mulheres na escolaridade é o dos alunos matriculados em 1970: nesse ano, havia 1.308.475 estudantes nos estabelecimentos de ensino portugueses e o número de indivíduos do sexo masculino era superior em todos os ciclos, com a diferença a acentuar-se à medida que se subia no nível de escolaridade. No terceiro ciclo e ensino secundário, por exemplo, dos 224,373 alunos inscritos, 52,1% eram homens e 47,9 eram mulheres. Já no ensino superior, 55,6% eram homens e 44,4% eram mulheres.

O estudo do INE é também útil para perceber o que aconteceu entre 1970 e 2011 em termos de empregabilidade. De acordo com o organismo, a taxa de desemprego em Portugal “agravou-se significativamente na década de 70, e com maior intensidade para as mulheres”. Em 1970, a taxa total era de 2,7%. O número de mulheres desempregadas era superior ao dos homens, embora com pouca diferença.

Em 1981, o valor total aproximava-se dos 7%, registando na década seguinte “um ligeiro decréscimo de 0,7%”, regressando “aos 6,8% novamente em 2001, para aumentar em seguida até 13,2%”. Atualmente, a taxa de desemprego encontra-se nos 6,9% (dados de abril).

Conclusão

Não é verdade que não havia iliteracia ou desemprego antes do 25 de Abril. O estudo comparativo feito pelo Instituto Nacional de Estatística a propósito dos 40 anos do 25 de Abril mostra precisamente o contrário: em 1970, a taxa de analfabetismo em Portugal era de 25,7%; a de desemprego era de 2,7%.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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