Um conteúdo publicado na página “Informação Incorrecta” sugere que os assintomáticos da Covid-19 — as pessoas que, estando infetadas pelo novo coronavírus, não têm sintomas da doença — não transmitem o vírus SARS-CoV-2 a terceiros. Mas não é verdade: os assintomáticos da Covid-19 podem mesmo transmitir o vírus a outras pessoas.

O texto sustenta esta afirmação num estudo que descreve o caso de uma paciente da Covid-19, supostamente assintomática, que não terá transmitido o vírus a nenhum dos 455 contactos acompanhados pelos médicos. De acordo com o relatório, “todos os 455 contactos foram excluídos da hipótese de infeção por SARS-CoV-2”.

À conta deste episódio, os autores concluíram que “a infecciosidade de alguns portadores do SARS-CoV-2 assintomáticos pode ser fraca”. No entanto, o estudo nunca afirma que os assintomáticos “não contagiam”, como indicado na página em causa. Na verdade, apenas coloca uma hipótese em cima da mesa: a de que alguns assintomáticos (não todos) podem (mas sem certezas) ter menos capacidade de infetar terceiros.

Imagem da publicação que tem estado a circular

Todo o estudo em causa tem por base um único caso e, por isso, a análise que faz não pode ser generalizada nem retirar conclusões sobre todos os assintomáticos da Covid-19. Aliás, há outro estudo a indicar que a carga viral de um assintomático é semelhante à verificada em doentes com sintomas, negando o que está descrito na publicação deste site. De resto, a Organização Mundial de Saúde já alertou que “existem poucos relatos de casos confirmados em laboratório que são verdadeiramente assintomáticos e, até agora, não houve transmissão assintomática documentada”.

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Este até pode ser o caso da mulher abordada no estudo indicado pelo site “Informação Incorrecta”. De acordo com o estudo, a mulher de 22 anos já tinha um historial de cardiopatia congénita, “queixava-se de falta de ar há 16 anos  e os sintomas pioraram durante um mês”. Quando chegou ao hospital, tinha “dores no peito sem tosse, produção de expetoração e febre”, o que podiam ser sintomas da doença.

Como é que se justifica que, com ou sem sintomas, a mulher não pareça ter transmitido o vírus a nenhuma das 455 pessoas testadas para o novo coronavírus? Esse é, na verdade, um tópico discutido no estudo: como “a transmissão pessoa a pessoa através de gotículas respiratórias é a principal via de transmissão da Covid-19” e a mulher não tinha tosse, é possível que não tenha havido contágio.

O estudo termina admitindo que é uma “limitação que haja apenas um caso e falta de informação detalhada sobre os familiares postos em quarentena localmente”: “São precisos estudos multicêntricos em grande escala para verificar as nossas conclusões”, admitem os autores, apesar de afirmarem que o documento é “representativo até certo ponto”.

Conclusão

Não é verdade que os doentes assintomáticos da Covid-19 não transmitem o novo coronavírus a terceiros. Como o vírus se transmite através de gotículas emitidas pela boca ou nariz, e visto que os assintomáticos parecem ter cargas virais semelhantes à de infetados com sintomas, os assintomáticos podem mesmo transmitir o SARS-CoV-2.

O texto limita-se a citar um estudo que não conclui perentoriamente que os assintomáticos não contagiam os outras. O documento limita-se a indicar que há uma possibilidade de os infetados sem sintomas terem menos capacidade de infetar terceiros do que as pessoas com sintomas. Mas a análise tem algumas limitações, tal como admitido pelos autores.

Em suma, não há evidência científica de que os assintomáticos não transmitam o vírus; e, por outro lado, há evidência científica que indica o contrário. Por esse motivo, o distanciamento social e a utilização de equipamentos de proteção individual não são uma “total futilidade”, mas antes fatores essenciais para travar a transmissão do novo coronavírus.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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