A 1 junho de 2024, um grupo de Facebook anti-vacinação publicou um vídeo de uma palestra onde o orador faz uma relação direta entre o aumento da vacinação em crianças ao longo das últimas décadas e o aumento dos casos de autismo. Através da conta de Instagram que publicou originalmente o vídeo, o Observador conseguiu perceber que se trata de uma intervenção do cardiologista norte-americano Peter McCullough na conferência “The Art of War: Who is winning the war of information?”, que decorreu em maio deste ano, em Chattanooga, no Tennessee.

No vídeo partilhado, McCullough — que ganhou popularidade durante a pandemia de Covid-19 por assumir uma posição negacionista e disseminar desinformação — afirma que, de acordo com dados do CDC (Centro para Controlo de Doenças), entre a década de 1960 e os dias de hoje os casos de autismo passaram de 1 em 10 mil para 1 em 36. O cardiologista diz que estes números se justificam porque, durante este mesmo intervalo de período, as crianças passaram de três vacinas no plano de imunização para 108.

Afirmações como as que são feitas neste post não são novas e têm sido amplamente partilhadas em várias publicações semelhantes nos últimos anos. Contudo, e contrariamente ao que o post diz, não há dados que sustentem estas alegações.

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As primeiras ligações mais relevantes entre autismo e a administração de vacinas datam a 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um artigo na revista The Lancet que relacionava a administração da vacina contra o sarampo e a rubéola ao diagnóstico de casos de autismo. Contudo, em 2010 o estudo foi considerado fraudulento e retirado da revista por se ter provado que incluía dados falsificados, tendo o dr. Wakefield perdido a licença para exercer.

Uma vez que a principal fonte para justificar a ligação causa-efeito entre vacinação e autismo foi, na realidade, considerada falsa, não existe, até hoje, quaisquer dados que mostrem uma relação sólida entre os dois.

Quanto ao número de casos de autismo, os dados confirmam um aumento dos diagnósticos. Contudo, os especialistas dizem que esta realidade pode ser justificada não por um aumento do número de casos, mas sim porque ao longo de várias décadas não foi feito um diagnóstico correto. Um estudo realizado pela Universidade do Utah, em 2013, concluiu que a melhor compreensão e definição do que é o autismo, bem como os critérios para o diagnosticar, têm permitido que, atualmente, se faça um diagnóstico mais rigoroso.

Conclusão

Um post amplamente partilhado no Facebook mostra a intervenção de um médico norte-americano, numa palestra, a relacionar diretamente o aumento do número de vacinas administradas a crianças com o aumento de casos de autismo, citando dados do CDC, a agência pública de saúde dos Estados Unidos. Contudo, o Observador investigou e concluiu que não há, atualmente, qualquer dado que comprove que a vacinação em crianças é uma causa direta de autismo. Apesar de se verificar um aumento do número de casos nos últimos anos, os especialistas atribuem-no à melhoria da compreensão da doença e da capacidade de diagnóstico.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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