Publicações em várias redes sociais contam que uma atuação recente da artista norte-americana Beyoncé terá acabado mal: as versões variam, mas a cantora teria começado a cantar o chamado “hino negro” (a canção “Lift Every Voice and Sing”) e sido vaiada ou até expulsa do palco — que, segundo alguns relatos, seria o de um jogo da liga de futebol americano, a NFL.

A canção referida é, de facto, conhecida como um hino que simboliza a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. A NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, organização norte-americana cujo trabalho se foca nessa causa) conta que foi inicialmente pensada como um poema pelo líder da organização James Weldon Johnson, cujo irmão, John Rosamond Johnson, compôs depois a melodia.

“A letra capta de forma eloquente o apelo solene mas esperançoso pela liberdade dos americanos negros”, explica a organização, que depois “adotou” a canção e a usou como grito de protesto durante o movimento pelos direitos civis das décadas de 1950 e 1960.

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E Beyoncé já cantou a canção publicamente, mas não em eventos da NFL nem nada de semelhante: fê-lo durante a sua atuação no festival Coachella, na edição de 2018, gravada e transformada depois em filme. Nesse dia, foi aplaudida e nunca vaiada, muito menos expulsa do palco.

O que os artigos que estão na origem destas publicações nas redes sociais relatam é que “recentemente” a cantora cantou esta canção num “evento”, embora não haja qualquer registo ou notícia disso, e que isto gerou uma “controvérsia”. Alguns textos chegam a dizer que Beyoncé pareceu cantar de forma “gozona” e que “desapontou” o público, insatisfeito com a atuação e com o “pouco respeito” pelo significado histórico e cultural da música.

Existem outros textos, como o que está publicado no site SpaceXMania, que contam uma história semelhante, que teria acontecido durante um jogo da NFL e que teria valido vaias a Beyoncé, “ícone e símbolo de excelência negra”, além de “ativista de várias causas de justiça social”. As tais vaias, diz o texto, seriam um lembrete das “divisões profundas” que continuam a existir na sociedade norte-americana. Mas neste caso o texto está claramente marcado como “sátira”, o que esclarece as dúvidas sobre a veracidade do suposto episódio.

É também possível verificar que as fotografias da artista que acompanham artigos como este correspondem, na verdade, ao momento em que cantou de facto na final da liga, a Super Bowl, mas em 2004 (vídeo só disponível no Youtube). E nessa ocasião a artista cantou o hino norte-americano, “The Star-Spangled Banner”, e não “Lift Your Voice and Sing”.

Conclusão

Não há qualquer registo de que a cantora norte-americana tenha cantado esta canção, que homenageia a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, e sido vaiada ou expulsa do palco. Já o fez, mas num concerto em seu nome, e foi aplaudida. E em jogos desportivos só cantou o hino norte-americano.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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