Está a circular nas redes sociais um vídeo em que se afirma que foi intercetada uma equipa responsável por esconder os boletins de votos depositados a favor de Marine Le Pen, candidata da União Nacional nas últimas presidenciais em França. A descoberta confirmaria assim uma “fraude eleitoral” a favor de Emmanuel Macron — com o aval da polícia —, que conquistou um segundo mandato na presidência do país.

O vídeo retrata uma manifestação junto à campanha da União Nacional.

Mas as imagens não mostram o transporte dos boletins de voto em Marine Le Pen para serem escondidos, nem um suposto crime eleitoral que teria contado com a colaboração da polícia francesa numa tentativa de manter a alegada fraude “longe dos holofotes”. Na verdade, as imagens são de agentes da polícia a travar uma manifestação conjunta da SOS Racismo e da União dos Estudantes Judeus de França junto à sede de campanha da candidata.

O vídeo utilizado nas publicações é um excerto de um conteúdo publicado originalmente pelo jornalista Remy Buisine, do Brut France, no Twitter a 19 de abril de 2019. Na verdade, os manifestantes estão a espalhar documentos falsos, que representavam notas de bancos russos, à frente da sede de campanha da União Nacional. O protesto, que foi alvo de “intervenção imediata da polícia”, tinha por objetivo “denunciar as ligações entre Le Pen e a Rússia”, explicou o jornalista no Twitter.

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Segundo a própria SOS Racismo francês, que publicou outro vídeo do mesmo momento também no Twitter, o objetivo da ação era expressar que não queria Vladimir Putin, Presidente da Rússia, a exercer qualquer influência nos Campos Elísios. A conta oficial da organização esclareceu que, com a ajuda da União dos Estudantes Judeus de França, depositou “nove milhões de rublos falsos” junto à sede de campanha da União Nacional, “o equivalente à dívida do partido com os bancos russos”: “Uma ação simbólica para denunciar os vínculos ideológicos e financeiros entre Marine Le Pen e Putin”.

Um terceiro vídeo, de um ponto de vista diferente desse mesmo protesto, foi publicado também pela União dos Estudantes Judeus de França. Na mensagem deixada no Twitter, os manifestantes admitem que “ativistas contra o racismo” de ambas as organizações “vieram para depositar simbolicamente a dívida de nove milhões de euros de Marine Le Pen com Putin”. “Para que a França não seja vassalo de um regime criminoso, vamos votar contra a União Nacional”, apelou.

Um outro tweet, este do repórter político Paul Larrouturou, que cobriu o protesto para o canal televisivo francês La Chaîne Info, permite observar de perto uma dessas notas simbólicas. No centro, é possível observar uma imagem de Marine Le Pen a apertar a mão a Vladimir Putin numa visita que fez a Moscovo em 2017. Ao fundo, em vez da sala onde os dois se reuniram nessa altura, pode ler-se a frase: “Dívida de 9 Milhões de Euros à Rússia”.

Do lado esquerdo da nota falsa, junto à imagem da candidata da União Nacional, foi impressa a bandeira de França com o símbolo do rublo; e um quadrado que diz: “9 Milhões”. Do outro lado da nota, próximo a Putin, além desse mesmo quadrado, aparece também a bandeira da Rússia com o símbolo do euro por cima. Em pano de fundo, a nota falsa foi ornamentada com padrões de linhas.

Mais uma vez, este jornalista confirma que tudo não passou de um protesto em que os ativistas “chegaram com um [camião] de rublos (falsos) em frente à sede de campanha de Marine Le Pen” para fazer uma denúncia: a candidata da União Nacional era “pró-Putin, financiada pelo banco russo de um ditador criminoso de guerra do qual ela será dependente”.

De facto, em 2014, a própria Marine Le Pen confirmou que tinha recebido um empréstimo no valor de nove milhões de euros, obtido no final de setembro desse mesmo ano, de um banco sediado em Moscovo. Mas a candidata da União Nacional recusa que isso signifique alguma proximidade com o Kremlin, considerando essas insinuações “ridículas”, “ultrajantes e ofensivas”. O assunto voltou a ser abordado nas presidenciais francesas deste ano.

Campanha de Marine Le Pen financiada por dinheiro russo

Conclusão

É falso que centenas de boletins de voto em Marine Le Pen tenham sido desviados para impedir a eleição da candidata da União Nacional e favorecer Emmanuel Macron. Os papéis são, na verdade, notas falsas que representam simbolicamente o empréstimo de nove milhões de euros recebido pelo partido de extrema direita a partir de um banco sediado em Moscovo.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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