O Reino Unido é dos países do mundo que mais rapidamente está a vacinar a sua população. Graças a esse feito, está próximo de dar início ao processo de desconfinamento geral, que teve de ser adiado devido à alta incidência da variante Delta no país. Ora, tal como qualquer primeiro-ministro, especialmente depois de o novo coronavírus se ter alastrado por vários países, também Boris Johnson sofreu e sofre com críticas na praça pública.

Desta vez, surgiu um vídeo nas redes sociais, no passado dia 10 de junho, com o primeiro-ministro a ser vaiado à porta de casa por dezenas de pessoas, muitas delas de bicicleta. Justificação suficiente para dizer que “o povo está a acordar”, numa alusão a uma suposta revolta popular contra as medidas sanitárias para estancar a pandemia da Covid-19. Porém, ninguém estava a usar máscara, nem o próprio Boris Johnson. Sinais de que podemos estar, também por isso, perante uma publicação enganadora.

Publicação viral manipula imagens de 2016 para defender que “o povo está acordar”.

Ora, ao pesquisar pela origem destas imagens, utilizando um frame específico, através de ferramentas como o Google Images, percebe-se que o vídeo é, na verdade, de 2016. Esse protesto à frente da casa do agora primeiro-ministro ocorreu a 24 de junho daquele ano, depois de a campanha a favor da saída do Reino Unido da União Europeia ter vencido, com cerca de 52% dos britânicos a concordarem que estava na hora de se despedirem do espaço europeu partilhado pelos 27 estados-membros.

Recorde-se que o também antigo mayor de Londres tinha feito campanha pelo “sim”, que também acabou por ditar a saída de David Cameron do número 10 de Downing Street. Esse momento quente em que Boris Johnson se encontrava foi registado por vários órgãos de comunicação social, quer nacionais como internacionais, tal como o Daily Mirror, a AFP, o The Guardian entre outras publicações.

Este último jornal registou outro momento semelhante, um mês depois, quando Boris Johnson foi questionado, num ambiente claramente hostil, por uma pessoa sobre o Brexit. Os jornalistas também acompanharam o atual chefe do executivo britânico durante o percurso em que foi abordado. Não é a primeira vez que os britânicos decidem contestar a atividade política de Boris Johnson. Aconteceu em 2016, 2019 e, novamente, em 2020.

Por outro lado, olhando melhor para as imagens, percebe-se que nenhuma medida sanitária está a ser tomada: nem o uso de máscara nem o distanciamento social. Quer pelos manifestantes quer pelo primeiro-ministro britânico ou pelas autoridades que estavam a controlar a manifestação. Um dado que reforça a conclusão de que se trata de um evento que não decorreu nos últimos meses.

Cinco anos depois, já como líder do Partido Conservador e à frente dos destinos dos britânicos, Boris Johnson foi responsável por concluir o processo do Brexit, após Theresa May ter renunciado ao cargo, em maio de 2019. Em relação à pandemia, o país é dos mais avançados na vacinação mas também regista, a par de Portugal, um crescente número de casos de Covid-19.

Conclusão

Uma publicação viral partilhou imagens verdadeiras de um protesto contra o primeiro-ministro Boris Johnson para dizer que “o povo está acordar” contra a Covid-19 e as medidas impostas para conter o alastrar da pandemia.

No entanto, após uma pesquisa por ferramentas de identificação de imagens como a Google Images, percebe-se que o vídeo pertence a um protesto de junho de 2016 à frente da casa do agora chefe do executivo britânico. Nessa altura, os manifestantes contestaram a campanha que Boris Johnson fez a favor do Brexit, que acabou mesmo por acontecer naquele mês, com uma clara vitória do sim.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: