O vídeo, captado por uma câmara colocada na farda de um agente da polícia, mostra o momento em que uma mulher é surpreendida pela polícia e detida por alegadamente matar e comer um gato.

Aconteceu no passado dia 16 de agosto, em Canton, cidade no estado americano do Ohio, e tem sido partilhado nas redes sociais como uma espécie de prova material de que Donald Trump tinha razão quando, no debate com Kamala Harris, acusou os imigrantes haitianos no país de andarem por aí a comer animais de estimação.

“Em Springfield, estão a comer cães. As pessoas que chegaram, estão a comer gatos. Estão a comer os animais de estimação das pessoas que lá vivem”, disse o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.

JD Vance, o seu candidato a vice, senador justamente do Ohio, onde também se localiza esta Springfield, já tinha feito afirmações idênticas, mais concretas até, apontando o dedo à comunidade de migrantes de origem haitiana a viver na cidade.

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O vídeo da mulher detida depois de comer um gato, diz quem o partilha nas redes sociais, é a prova de que Trump e Vance tinham razão.

Mas, na realidade, não é. A mulher detida chama-se Allexis Telia Ferrell, tem 27 anos, e pode até ter matado um gato, com o objetivo de o comer, mas é cidadã de Canton há anos. E não tem ligação nenhuma ao Haiti. Nasceu no Ohio e graduou-se em 2015 no liceu McKinley, na cidade onde ainda hoje vive e foi detida.

“A suspeita neste caso não é uma imigrante haitiana, é uma residente de longa data de Canton”, garantiu Dennis Garren, porta-voz da polícia de Canton, citado pela Reuters.

Ferrell foi entretanto acusada de crueldade contra animais de companhia e aguarda julgamento. Enquanto isso, uma série de outras fontes oficiais têm desmentido que, em Springfield, Canton ou qualquer outra cidade do Ohio, exista um problema com a comunidade de imigrantes haitianos e animais de estimação.

Um porta-voz do município de Springfield, já tinha assegurado publicamente: “Não há relatos confiáveis ou alegações específicas de animais de estimação que estejam a ser prejudicados, feridos ou abusados por indivíduos dentro da comunidade imigrante”. Entretanto, o próprio presidente da câmara, Rob Rue, já reforçou que as alegações de que gansos ou patos foram retirados dos parques da cidade, mortos e comidos não têm qualquer fundamento.

JD Vance, que foi um dos principais veículos da falsa informação, já veio reconhecer, na rede social X, que talvez a história não seja bem assim.

“Nas últimas semanas, o meu gabinete recebeu muitos pedidos de informação de residentes de Springfield que afirmaram que os animais de estimação dos vizinhos ou animais selvagens locais foram raptados por imigrantes haitianos. É possível, claro, que todos estes rumores se revelem falsos”, escreveu o candidato a vice-presidente de Donald Trump. Que, ainda assim, não deixou cair os ataques à comunidade haitiana — serão entre 12 e 15 mil os imigrantes do país a residir atualmente no condado de Clark, a que Springfield pertence.

“Sabem o que é que está confirmado? Que uma criança foi assassinada por um migrante haitiano que não tinha o direito de estar aqui. Que os serviços de saúde locais estão sobrecarregados. Que as doenças transmissíveis — como a tuberculose e o HIV — têm vindo a aumentar. Que as escolas locais têm tido dificuldade em acompanhar os recém-chegados que não sabem inglês. Que as rendas aumentaram tão rapidamente que muitas famílias de Springfield não conseguem ter um teto para viver.”

Conclusão

Não é verdade que o vídeo filmado pela polícia de Canton, em agosto, prove o argumento de que os imigrantes do Haiti no Ohio comem “gatos, cães e animais de estimação”, como acusou Donald Trump.

A mulher detida pelas autoridades depois de alegadamente ter matado e comido um gato não tem qualquer relação com aquele país. Chama-se Allexis Telia Ferrel e é uma “residente de longa data de Canton”, garante a polícia local.

Várias fontes oficiais, incluindo o presidente da câmara de Springfield, também no Ohio, já desmentiram publicamente as alegações de que exista qualquer problema envolvendo imigrantes haitianos e animais de estimação.  O Presidente da Comissão do Condado de Clark foi mais um deles: “Não há absolutamente nenhuma prova de que isso esteja a acontecer”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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