Uma galeria de três fotografias que alegadamente mostra “centenas de carros elétricos no município de Paris” a “apodrecerem” conta já com mais de 500 partilhas no Facebook. Nas imagens, é possível ver vários carros de três portas, aparentemente em decomposição e a “espalharem os seus produtos tóxicos para o solo”. O autor deste conteúdo explica que a situação não se resolve porque “as empresas de reciclagem não os aceitam até as baterias saírem primeiro”.
Numa crítica clara à indústria dos veículos elétricos, o texto acusa as empresas do setor de “não quererem lidar com a questão da bateria”, e termina com uma ironia: “Para que possamos sair lentamente do nosso conto de fadas verde.”
Numa pesquisa através de uma destas imagens no Google rapidamente chegamos a um artigo da Franceinfo que conta a história destes carros elétricos. Como é possível perceber em algumas das fotografias, fizeram parte da frota de uma empresa chamada Autolib. No capô pode ler-se uma frase muito usada por ambientalistas e defensores do fim dos combustíveis fósseis: “Vamos mudar o sistema, não o clima.”
A Autolib foi uma empresa de partilha de veículos que funcionava com base numa aplicação e que tinha como objetivo diminuir o número de carros nas cidades francesas onde operava: Paris, Léon e Bordéus. De forma simples, os utilizadores reservavam uma destas viaturas de três portas através do telemóvel, faziam a viagem e podiam deixá-la no local de destino.
Este serviço acabou por ser encerrado em 2018 porque a empresa não conseguiu afirmar o seu modelo de negócio e somou um “défice de 50 milhões de euros”. Nessa altura, foi preciso encontrar um destino para os mais de 4.000 carros e a solução foi vendê-los a outras duas empresas que são as responsáveis pelo aglomerado de carros que vemos nas imagens.
As fotografias partilhadas por este utilizador do Facebook são reais, mas a publicação acaba por veicular algumas falsidades. A primeira de todas está relacionada com a localização. Ao contrário do que está escrito, e em rigor, estes carros não estão estacionados no “município de Paris”, mas sim a mais de 200 quilómetros, na comuna francesa de Romorantin-Lanthenay.
Apesar de uma das empresas não ter acedido aos pedidos de esclarecimento da Franceinfo, o gerente da segunda nega a ideia de que estejam a “espalhar os seus produtos tóxicos para o solo”. Paul Aouizerate explica ainda que “todos os veículos estão devidamente armazenados, tendo as baterias sido retiradas e os conectores foram isolados”.
O terreno onde os veículos estão estacionados é propriedade da autarquia local, que também foi ouvida pelo órgão de comunicação social francês. O presidente, Jeanny Lorgeoux, explica que o novo dono dos carros está a pagar um aluguer e aquela utilização não lhe parece “chocante”. “Aquele era um terreno baldio numa zona industrial. Desde que pague a renda e cumpra as regras, o senhor Aouizerate pode fazer o que quiser”, desdramatiza.
As acusações sobre o “apodrecimento” dos veículos que parece visível em algumas imagens também é afastada. Paul Aouizerate explica que os danos nos veículos foram provocados pelos utilizadores da Autolib e explica que os carros estão a ser recondicionados para voltarem a entrar no mercado. Alguns estarão mesmo a ser vendidos por valores na ordem dos cinco mil euros.
Conclusão
Não é verdade que “centenas de carros elétricos” estejam a “apodrecer” no município de Paris. Também não é verdade que as baterias estejam a “espalhar os seus produtos tóxicos para o solo”. De acordo com uma reportagem de um órgão de comunicação social francês, os veículos em causa estão a mais de 200 quilómetros da capital francesa, sem baterias e a serem recondicionados para voltarem a entrar no mercado.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.