O CEO da Moderna é acusado de ter vindo admitir publicamente que a produção de vacinas contra a Covid-19 já tinha começado mesmo antes da pandemia. A suposta notícia sobre essas afirmações atribuídas a Stéphane Bancel teve um elevado número de partilhas nas redes sociais, muitas vezes com considerações adicionais sobre a pandemia decretada em 2020 pela Organização Mundial de Saúde.

“Fraudemia explícita”, comenta este utilizador do Facebook que divulga duas linhas, com o alerta de “urgente”, dando conta de que “Stéphane Bancel, CEO da Moderna, admite que a farmacêutica produziu 100 mil doses de vacinas contra a Covid-19 em 2019, antes do início da pandemia”. Também é possível encontrar esta partilha noutras redes, como o Twitter, e com um vídeo associado onde surge a frase que está na origem destas publicações.

A partilha em causa não tem qualquer fonte associada, não sendo possível verificar, logo por aí, se é credível. Mas uma pesquisa sobre este assunto permite perceber que não foi feita tal afirmação pelo responsável da farmacêutica que fabricou uma das vacinas contra a Covid-19. A intervenção do CEO da Moderna que está na origem destas publicações aconteceu na conferência de Davos, reunião anual do Fórum Económico Mundial, em janeiro deste ano, num painel sobre o “Estado da Pandemia”.

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Quando questionado por quem estava a moderar o painel sobre o desenvolvimento de vacinas e a sua produção em respostas às várias variantes, Stéphane Bancel disse que “a grande novidade em relação a 2020 é que temos capacidade de produção” de vacinas. E contou um episódio para comparar a atual capacidade com a que existia antes da pandemia. “Quando a pandemia surgiu, a Moderna tinha feito 100 mil doses durante todo o ano de 2019. E lembro-me de entrar no escritório do meu produtor e dizer ‘que tal fazermos mil milhões de doses no próximo ano?’ E eles olharam para mim com ar divertido e disseram ‘o quê?’ E eu respondi: ‘Sim, precisamos de mil milhões de doses no próximo ano, vai haver uma pandemia'”.

Em nenhum momento o CEO da Moderna diz que aquelas 100 mil vacinas produzidas já eram contra a Covid-19. Não é, de resto, a primeira vez que usa essa referência para mostrar como a capacidade de produção de vacinas disparou depois da pandemia e com o fabrico de vacinas contra a Covid-19. Numa sessão promovida pela Associação Americana do Coração, o CEO da Moderna já tinha dito que “em 2019 a Moderna fabricava menos de 100 mil doses de qualquer vacina” e que, com a pandemia, passou a fabricar 800 milhões de doses. Estava a comparar a produção total pré-pandemia com o que aconteceu a partir de 2020, com o ritmo de produção que atingiu com as vacinas contra a Covid-19.

A porta-voz da Moderna fez declarações ao USA Today onde desmente que Bancel tenha dito que mesmo antes da pandemia a empresa já estava a produzir 100 mil doses de vacinas contra a Covid-19. “Está totalmente incorreto”, disse Kate Cronin sobre esta afirmação, garantindo que a farmacêutica não tinha a sequência genética da Covid-19 até 10 de janeiro de 2020, altura em que começou a desenvolver a vacina contra a doença usando a tecnologia mRNA — na qual já estava a trabalhar, genericamente, desde 2011.

Conclusão

É falso que o CEO da Moderna tenha dito que a farmacêutica já tinha fabricado 100 mil doses da vacina contra a Covid-19 em 2019, antes mesmo de a Organização Mundial de Saúde ter declarado a pandemia que ainda se mantém em 2023. O que Stéphane Bancel disse foi que antes de conseguir produzir a vacina contra a Covid, a capacidade de produção de vacinas no geral era muito mais baixa. Dá como exemplo disso o ano de 2019, em que a empresa num ano inteiro fabricou 100 mil vacinas de qualquer espécie. Em 2021, por exemplo, a Moderna projetou que só a sua produção de vacinas contra a Covid-19 iria ficar entre os 800 milhões e os 1.000 milhões de vacinas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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