Está a ser partilhado no Facebook a imagem de um tweet que refere que John Podesta, chefe da campanha presidencial de Hillary Clinton, foi condenado à pena de morte por pelotão de fuzilamento após ter sido julgado por um tribunal militar. Segundo a mesma publicação, a execução de Podesta aconteceu a 1 de junho, terça-feira, mas não existem quaisquer notícias sobre a alegada morte do consultor político, que trabalhou de perto com os presidentes Bill Clinton e Barack Obama.

O tweet, publicado a 29 de maio na conta do utilizador @SergenMajor33, não cita qualquer fonte, incluindo apenas, além da informação já referida, duas fotografias: um retrato do contra-almirante Darse Crandall Jr., vice-juiz advogado geral da Marinha norte-americana, e um retrato do suposto condenado, John Podesta. A publicação não indica também quais os crimes em causa, cuja extrema gravidade levaria o tribunal militar a decretar a morte de Podesta.

Uma pesquisa feita online através do motor de pesquisa do Google e na página do Departamento da Defesa dos Estados Unidos da América não permitiu encontrar qualquer informação sobre o alegado julgamento de Podesta ou sobre a sua suposta morte nesta terça-feira. O Center for American Progress, um instituto de pesquisa dedicado a melhorar a vida dos norte-americanos, fundado pelo conselheiro político, não revela também qualquer indício do suposto óbito de Podesta, que surge no site como membro do conselho de direção.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além das redes sociais, a condenação de John Podesta surge apenas em sites de fact check, como o Check Your Fact, que analisou o conteúdo da publicação e concluiu que a alegação terá tido origem num artigo do Real Raw News, de 8 de maio. Esta indica que, no terceiro dia do seu julgamento, Podesta teria sido considerado culpado de ter conspirado com Hillary Clinton e Donna Brazile, então presidente do Comité Nacional Democrata, o órgão do Partido Democrata responsável pelas candidaturas, para afastar Donald Trump das eleições presidenciais de 2016. Segundo o Real Raw News, o plano passava por raptar o filho mais novo de Trump, Barron, ameaçando o então candidato presidencial de que este lhe seria devolvido “aos pedaços”.

Um novo artigo de 1 de junho confirma a suposta morte de Podesta, às 8h desse dia, por um pelotão de fuzilamento composto por seis oficiais da Marinha norte-americana que se voluntariaram para a execução. Esta é atualmente uma das publicações mais populares do site lançado em 2020, que surge logo na página principal com a indicação “trending” (atribuída a conteúdos que a determinado momento são mais populares entre os leitores).

Curiosamente, o site, classificado pelo Media Bias / Fact Check como satírico, é também o responsável por um artigo que dá conta da suposta condenação de Hillary Clinton, também por fuzilamento, por uma série de crimes, como homicídio, conspiração para cometer homicídio, tráfico de menores e traição, entre outros. A informação foi desmentida pelo Departamento de Defesa norte-americano ao Lead Stories. Hillary, alegadamente condenada em meados de abril, foi entretanto vista em diversos eventos, nomeadamente numa conferência organizada pela Universidade de Belfast.

Esta não é a primeira vez que o Real Raw News, que se diz interessar por histórias que costumam receber pouca atenção, publica informações falsas relacionadas com Hillary Clinton, um dos principais alvos dos seguidores do QAnon, que acreditam na existência de uma rede de tráfico de menores dirigida por altos dirigentes democratas, canibais e satânicos. Segundo este grupo, Trump estaria a trabalhar a partir da Casa Branca para deter os criminosos e desmantelar a rede.

Conclusão

Não existe qualquer indício de que John Podesta tenha sido condenado à morte por um tribunal militar. Nem o conselheiro político parece estar morto, al contrário do que indica o Real Raw News, onde a informação terá tido origem — Podesta surge ainda como um dos membros do conselho de direção do Center for American Progress, um instituto de investigação por ele fundado.

O Media Bias / Fact Check, uma das mais completas fontes de páginas de notícias falsas na internet, classifica o Real Raw News como um site satírico, que usa “humor, ironia, exagero ou o ridículo para expor e criticar a estupidez das pessoas ou vícios, particularmente no contexto da política contemporânea”.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge