Uma publicação partilhada nas redes sociais refere que os “japoneses encontram nanopartículas de mRNA no cérebro, coração, fígado, ovários e testículos” de pessoas vacinadas com a vacina da Pfizer contra a Covid-19, alegando tem capacidade para alterações reprodutivas, podendo causar infertilidade. Contudo, o estudo a que a publicação se refere não foi feito em humanos que foram vacinados, mas sim em células in vitro, reproduzidas em laboratório, e em animais, nomeadamente em ratos. Além disso, o estudo foi realizado ainda antes dos ensaios clínicos terem começado e antes de ter havido pessoas a receber a vacina.
O estudo partilhado nas redes sociais existe, mas nem sequer é possível comprovar que foi realizado simplesmente no Japão. Está na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas os dados estão também presentes no site da Agência do Medicamento Europeia (EMA), tendo o estudo servido analisar o comportamento das componentes da vacina e sendo falsa a associação a humanos, que sugere a possibilidade de infertilidade e de nanopartículas de mRNA espalhadas pelo organismo de pessoas.
No relatório de avaliação da EMA sobre a Pfizer é citada a pesquisa também usada pelos japoneses, que foi realizada em ratos, conduzida pela Pfizer e onde se pode ler que “não foram detetados quaisquer efeitos relativos à fertilidade”, não tendo sido encontrada qualquer presença de toxicidade nos ovários que provocasse infertilidade. Além deste documento estar na página da EMA, nenhuma outra agência regulatória confirmou, até ao momento, qualquer uma das questões levantada pela publicação japonesa.
Em resposta ao Observador, a Pfizer explicou que a vacina “atua ao preparar o organismo para se defender contra a Covid-19 e contém uma molécula denominada RNA mensageiro (mRNA) que tem instruções para produzir a proteína S (“Spike”)”. Trata-se de “uma proteína da superfície do vírus SARS-CoV-2 e de que o vírus necessita para entrar nas células do organismo”.
Assim, quando a mesma é administrada a uma pessoa, algumas das células “irão ler as instruções do mRNA e produzir temporariamente a proteína S (“spike”)” e o sistema imunitário da pessoa irá “reconhecer esta proteína como estranha e produzir anticorpos”. Neste seguimento irão ser “ativadas as células T para atacá-la”. “Se, mais tarde, a pessoa entrar em contacto com o vírus SARS-CoV-2, o seu sistema imunitário irá reconhecê-lo e estará pronto para defender o organismo”, acrescenta a empresa. Contudo, assegura a farmacêutica, “o mRNA da vacina não permanece no organismo, sendo decomposto pouco tempo após a vacinação”. Além da vacina Pfizer/BioNTech, também a vacina da Moderna utiliza esta tecnologia.
No mesmo sentido, e num Fact Check anteriormente verificado pelo Observador, também se apontava que as vacinas de mRNA podiam alterar o ADN do ser humano. Apesar de ser a primeira vez que este tipo de vacinas está a ser testada em humanos, o mRNA não é sinónimo de alteração do ADN humano, trata-se do recurso a uma tecnologia não usada até aqui em pessoas, mas o código que é modificado é o de uma molécula da bactéria e não do ser humano.
Conclusão
Não é verdade que um estudo feito no Japão comprove a presença de nanopartículas de mRNA da vacina Pfizer espalhadas no organismo do ser humano. A pesquisa citada, que é também abordada pela Agência do Medicamento Europeia (EMA), fala do tema da fertilidade e assegura que “não foram detetados quaisquer efeitos”.
No mesmo sentido, a Pfizer também revelou ao Observador que “o mRNA da vacina não permanece no organismo, sendo decomposto pouco tempo após a vacinação”. Por fim, o estudo não pode ser considerado verdadeiro porque foi feito em células in vitro e em animais e a publicação em causa traduz os resultados para seres humanos, uma sugestão não comprovada cientificamente.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.