A menos de um mês das eleições presidenciais dos Estados Unidos, duas citações atribuídas por utilizadores aos democratas Kamala Harris e a Tim Walz estavam a ser amplamente divulgadas nas redes sociais.

As publicações, que são acompanhadas pela bandeira da Venezuela, alegam que os líderes da candidatura do partido democrata à Casa Branca querem acabar com a Segunda Emenda da constituição norte-americana — um texto que diz: “Uma milícia bem regulada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito do povo de manter e portar armas, não será infringido.”

A alegação que está a circular nas redes sociais já foi desmentida várias vezes pela própria Kamala Harris, mas a revelação foi feita no debate presidencial de 10 de setembro. Em resposta ao candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, que acusou a candidata democrata de “querer confiscar armas”, Harris respondeu: “Tim Walz e eu somos proprietários de armas. Não vamos tirar as armas de ninguém. Então pare de mentir sobre esse assunto.”

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A frase foi repetida no dia 20 de setembro. Numa ação de campanha que contou com a participação de Oprah Winfrey, a candidata do Partido Democrata ao cargo de Presidente dos Estados Unidos da América repetiu que tanto ela como o candidato da lista democrata à vice-presidência, Tim Walz, eram donos de armas. De forma descontraída, Kamala Harris acrescenta: “Se alguém invadir a minha casa, vai levar um tiro.” E depois até admite: “Não devia ter dito isto, os meus funcionários depois lidam com isto.”

Mas não é a primeira vez que Kamala Harris fala sobre ser dona de uma arma. Em 2019, a então senadora já tinha admitido: “Sou dona de uma arma, e possuo uma arma provavelmente pelo mesmo motivo que muitas pessoas — para segurança pessoal”. E lembrou ser “procuradora de carreira”. A candidata presidencial à Casa Branca já foi procuradora distrital de são Francisco e procuradora-geral da Califórnia, por exemplo.

Sobre as características da arma detida por Harris, em 2019 uma assessora da campanha avançou à CNN que se trata de uma pistola que está sempre trancada e que foi comprada há anos.

Apesar de ter uma arma, enquanto vice-presidente dos Estados Unidos da América Kamala Harris defendeu leis de segurança de armas inteligentes e uma proibição de posse de armas de assalto, que a democrata considera terem sido “projetadas para serem uma ferramenta da guerra”.

“A administração Biden-Harris continuará a tomar medidas para garantir que as nossas escolas e as nossas comunidades estejam protegidas da violência armada. Ao mesmo tempo, o Presidente Biden e o Vice-Presidente Harris apelam ao Congresso para que aprove verificações universais de antecedentes, uma lei nacional de bandeira vermelha, uma proibição de armas de assalto e uma lei de armazenamento seguro; revogar a Lei de Proteção ao Comércio Legal de Armas, que concede aos revendedores e fabricantes de armas imunidade especial de certa responsabilidade por seus produtos; e aumentar as dotações para apoiar estratégias de saúde mental dos jovens e de prevenção da violência”, é o que consta do site da Casa Branca num Fact Sheet publicado a 23 de março.

No dia 27 de setembro, Joe Biden e Kamala Harris anunciaram uma nova ordem executiva com o objetivo de combater a violência armada. A medida estabelece uma “task force urgente contra ameaças de armas de fogo” que pretende reprimir dispositivos de conversão de metralhadoras e armas impressas em 3D; mas faz também um apelo para serem criadas orientações para as escolas sobre cenários de tiro ativo para mitigar potenciais danos psicológicos aos alunos.

E Tim Walz?

Em várias ações de campanha, o segundo da lista democrata à Casa Branca vai repetindo a ideia: “Acredito na segunda emenda” (a alínea da Constituição norte-americana que dá a todos os cidadãos o direito a ter uma arma). Mas vai repetindo uma ressalva: “Também acredito que a nossa principal responsabilidade é manter as nossas crianças seguras.”

Num comício de 3 outubro Tim Walz voltou a esclarecer: “Nós protegemos a Segunda Emenda, mas a nossa responsabilidade é para com as nossas crianças.”

No debate entre os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos da América, Tim Walz assumiu que o filho testemunhou um tiroteio no ano passado. “Devemos aos nossos filhos encontrar uma solução. São coisas que não deviam ser difíceis, é possível manter as armas e fazer uma diferença”, disse ainda. Para além disto, o candidato democrata acrescentou também que “como membro do Congresso”, reuniu-se no seu gabinete “rodeado por dezenas de pais de vítimas de Sandy Hook”, em referência a um tiroteio que fez 26 vítimas mortais, 20 das quais crianças. “E eles olhavam para a fotografia do meu filho de sete anos na parede. Os filhos de sete anos deles estavam mortos e eles estavam a pedir para fazermos alguma coisa.”

Neste frente a frente com o candidato republicano à vice-presidência, JD Vance, o candidato democrata ao segundo lugar da Casa Branca citou ainda duas leis de controlo de armas que aprovou enquanto governador do Minnesota: “Verificações universais de antecedentes e uma lei de alerta que permite que as autoridades intervenham quando alguém corre alto risco de ferir a si mesmo ou a outras pessoas com uma arma de fogo”.

Conclusão

Nem Kamala Harris nem Tim Walz defendem acabar com a segunda emenda. Tanto a candidata à presidência dos Estados Unidos da América, como o candidato à vice-presidência do país defendem um maior controlo da posse de arma, de forma a que diminuam fenómenos como tiroteios em escolas norte-americanas. Os dois democratas já desmentiram quererem tornar ilegal a posse de arma nos Estados Unidos e a própria Kamala Harris diz “Tim Walz e eu somos proprietários de armas. Não vamos tirar as armas de ninguém”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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